sábado, 1 de outubro de 2011

Gasto com juros deve passar de R$200 bi este ano

Cifra é a maior da História. Já relação dívida/PIB deve cair

Gabriela Valente

BRASÍLIA. Pela primeira vez na História, o Brasil deve ultrapassar a cifra de R$200 bilhões no pagamento de juros acumulado em 12 meses, ao fim de 2011. Segundo o Banco Central (BC), nos oito primeiros meses do ano a despesa com juros atingiu o recorde de R$160 bilhões. No entanto, a relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) será menor que a prevista, porque o dólar mais alto deve ajudar. A previsão do BC para 2011 baixou de 39% para 38,5%.

A nova projeção, anunciada ontem, reflete a seguinte realidade: enquanto o dólar em alta agita o mercado, o governo vê - sem precisar fazer esforço - o país ficar mais forte nas contas públicas. Como o Brasil tem mais reservas que dívida externa, a alta da moeda americana faz a relação dívida/PIB cair.

- Tudo sempre tem o lado bom e o ruim. A alta do dólar pode trazer mais inflação, mas também deixa o país mais solvente. Só que é um efeito muito volátil, tudo muda se o dólar voltar a cair - disse o economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall.

A relação dívida/PIB caiu 0,02 ponto percentual e chegou a 39,2% do PIB. O BC já avisou que, depois da reviravolta na cotação do dólar, esse percentual cairá em setembro para 37,6%.

Estatais não passaram tantos dividendos em agosto

Em agosto, o Brasil economizou R$4,5 bilhões para pagar juros da dívida. Foi o pior superávit primário para o mês desde 2003. Por mais que os estados tenham batido o recorde no aperto fiscal, os municípios não contribuíram nada e as empresas estatais não repassaram tantos dividendos como antes. Segundo Kawall, esse número caiu de R$6,8 bilhões em agosto de 2010 para R$900 milhões em agosto.

- Já que estamos indo bem em relação à meta para o ano, é comum as estatais não repassarem tanto recurso para o Tesouro.

Para o BC, o Brasil vai bem na economia e deve cumprir a meta para o ano. Até agora, já há um superávit de R$96,5 bilhões: 75,5% do objetivo do ano inteiro, que é de R$127,9 bilhões.

-É uma trajetória positiva de um quadro fiscal favorável para o cumprimento integral da meta este ano - alega o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.

Para o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas, o Brasil conseguiu fazer mais um "seguro" contra as turbulências:

- É uma melhora considerável em relação ao ano passado. Agora, é preciso saber o que vai acontecer daqui para frente, já que há vários gastos grandes previstos para o ano que vem, como o aumento do salário mínimo e reajuste de servidores.

Nos últimos 12 meses, o superávit foi positivo em R$149,4 bilhões ou 3,78% do PIB.

FONTE: O GLOBO

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