sábado, 8 de outubro de 2011

Greves: Impacto de ganho real dos salários divide especialistas

Ronaldo D'Ercole

SÃO PAULO - A disposição de bancários e funcionários dos Correios de brigar por ganhos reais de salários, com greves que se arrastam há semanas, divide economistas quanto aos efeitos que reajustes muito elevados para grandes categorias podem ter sobre a inflação. Se tiverem êxito, as duas categorias se juntarão aos metalúrgicos de montadoras, que, no mês passado, obtiveram correções entre 10% e 11% nos salários.

- Esses reajustes alimentam a inflação por meio de dois canais: o da demanda, resultante da renda maior, e pela alta dos custos das empresas - diz Thiago Curado, da consultoria Tendências.

José Dari Krein, coordenador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho da Unicamp, reconhece que a alta do salário eleva poder de compra. Mas esse ganho é relativo num ambiente de economia em queda e inflação ainda alta, como ocorre agora. Na outra ponta, os salários são parte dos custos e seu impacto depende da evolução da produtividade dos diferentes setores.

- É preciso atenuar a tese de que os salários são o problema (da inflação). Primeiro, porque em bens mais sofisticados, como eletroletrônicos, a mão de obra tem peso pequeno no preço final do bem. Outro aspecto é a produtividade, se a alta do salário for menor que o ganho de produtividade, não há impacto nos preços - diz Dari.

A política do governo de correção do salário mínimo, combinando reposição da inflação com a variação do PIB (que resultará numa alta de 14% no mínimo em 2012), concordam os especialistas, influencia a determinação dos sindicatos em obter ganhos reais. Mas um outro componente pode trazer alívio a eventuais pressões da recuperação da renda sobre os preços ano que vem.

FONTE: O GLOBO

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