sábado, 22 de outubro de 2011

Lula manda PCdoB resirtir e Dilma mantém ministro

No mesmo dia, procurador-geral pede ao STF que investigue Orlando

O ex-presidente Lula recomendou ao PCdoB que resistisse e não entregasse o Ministério do Esporte nem o cargo do ministro à presidente Dilma Rousseff, em meio a denúncias de desvio de verbas da pasta para campanhas eleitorais do partido. Após uma hora e meia de conversa com Dilma no Planalto, o próprio Orlando Silva anunciou que fica no cargo e que a presidente lhe recomendara "serenidade e paciência". Pesou na decisão o fato de não ter sido apresentada prova de que o ministro teria recebido propina. Também ontem, a Procuradoria Geral da república pediu ao STF abertura de inquérito sobre o ministro e o governador do DF, Agnelo Queiroz. Em encontro do PCdoB, no Rio, o presidente do partido, Renato Rabelo, contou ter recebido ligação de Lula, recomendando: "Vocês tem que resistir, o ministro tem que resistir".

Anita Prestes, filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário, enviou carta à direção do PCdoB, dizendo-se indignada com a "utilização indébita" da imagem dos pais no programa do partido na TV, informa Ancelmo Gois.

Orlando Silva ganha um terceiro tempo

PCdoB resistiu e convenceu Dilma, apesar de pedido de inquérito no STF

Luiza Damé, Chico de Gois, Gerson Camarotti e Maria Lima

Usando o fato de ser o mais fiel e histórico aliado do PT, o PCdoB venceu o primeiro round e, estimulado pelo ex-presidente Lula, conseguiu manter Orlando Silva como ministro do Esporte. Após quase uma hora e meia de reunião com a presidente Dilma Rousseff, o ministro foi confirmado no cargo no mesmo dia em que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal para investigar o ministro e o governador do Distrito Federal e ex-titular do Esporte, Agnelo Queiroz (PT), por crime de responsabilidade, nas supostas irregularidades no programa Segundo Tempo, que atende crianças e adolescentes de baixa renda.

Integrantes do PCdoB, porém, reconheciam que a luta não terminou, que "a disputa política pela queda de Orlando" continuará. Pesou na decisão de Dilma, ainda, a favor do ministro, o fato de seguir sem provas a denúncia específica feita contra ele pelo policial militar João Dias Ferreira, de que ele recebeu dinheiro desviado do programa. Embora a Controladoria Geral da União (CGU) já tenha confirmado desvios - foram detectadas irregularidades em 676 convênios no valor de R$49 milhões -, Dilma decidiu não jogar o ministro na lama e aguardar novos pareceres jurídicos sobre a situação da pasta. Enquanto isso, ganha tempo para negociar com o PCdoB um eventual substituto para Orlando.

Em nota divulgada pelo Blog do Planalto, à noite, a presidente Dilma repetiu o discurso dos últimos dias: "O governo não condena ninguém sem provas e parte do princípio civilizatório da presunção da inocência. Não lutamos inutilmente para acabar com o arbítrio e não vamos aceitar que alguém seja condenado sumariamente".

Antes de deixar o Palácio do Planalto, Orlando disse ter relatado à presidente as providências adotadas para apuração das denúncias e contenção das irregularidades. Dilma, segundo o ministro, orientou-o a continuar trabalhando, mas aconselhou-o a ter paciência e serenidade.

- É inaceitável para mim conviver com qualquer tipo de suspeição. Manifestei para a presidente minha indignação, minha revolta diante destes fatos, e ela me sugeriu serenidade, paciência, muita paciência, mas reafirmou a confiança que tem no nosso trabalho - disse o ministro.

Orlando disse ainda que, na conversa, esclareceu as acusações feitas pelo policial João Dias Ferreira de que Orlando teria montado no Ministério do Esporte um esquema para financiar o PCdoB, por meio de desvio de dinheiro do Segundo Tempo.

- Rejeitei a afirmação de que havia qualquer tipo de esquema político no Ministério do Esporte e desmascarei cada uma das afirmações caluniosas que tenho sofrido ao longo desses dias. Informei que uma verdadeira devassa foi feita no ministério e nós, felizmente, podemos provar a atitude correta, adequada na condução que temos no Ministério do Esporte - disse o ministro.

"Nunca houve, não há e não haverá provas"

Cercado por assessores do Planalto e do Ministério do Esporte, Orlando repetiu que as acusações do policial não passam de mentira, calúnia e farsa. Ele negou ter recebido dinheiro desviado do Segundo Tempo e afirmou que as denúncias são resultados de uma ação do ministério que identificou irregularidades na aplicação das verbas do programa e cobrou a devolução do montante aos cofres públicos.

- Desmascarei, diante da presidente, todas as mentiras que foram perpetradas contra mim, todas as acusações que sofri. Informei que uma revista publicou que eu havia recebido dinheiro público desviado de um convênio, não apresentou provas, porque nunca houve, não há e não haverá provas porque simplesmente se trata de uma mentira. É uma calúnia, uma farsa - afirmou o ministro, que, no fim da entrevista, recebeu um caloroso abraço do assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, o petista Marco Aurélio Garcia.

O ministro Orlando Silva disse ainda que defenderá o PCdoB:

- Nosso partido se sentiu ferido diante de tamanhas acusações. São 90 anos de história de luta a favor do povo do Brasil, do nosso país, mas nós não vamos hesitar em fazer a defesa também do nosso partido.

Durante a conversa, o ministro contou à presidente que pediu ao Ministério Público a apuração da denúncia e abriu seus sigilos bancário e fiscal. Afirmou ainda que está preparando a resposta para a Comissão de Ética Pública da Presidência, que pediu explicações sobre as acusações.

- Ela fez recomendações para que nós continuássemos a trabalhar, continuássemos cumprindo os compromissos do ministério, a agenda do ministério. Foi esse o conteúdo da reunião com a presidente da República - afirmou, citando compromissos que terá na próxima semana.

Antes do encontro com Orlando, a presidente quis se municiar de todas as informações sobre as denúncias envolvendo a pasta. A determinação foi dada na noite de quinta-feira em reunião com ministros e reforçada na manhã de ontem, em novas conversas no Palácio da Alvorada.

- Não vou decidir as coisas a reboque da imprensa - avisou Dilma para um auxiliar.

A decisão da presidente Dilma Rousseff de manter o ministro Orlando Silva no cargo, por enquanto, não deu ao PCdoB a tranquilidade de respirar aliviado. O líder do PCdoB na Câmara, Osmar Júnior (PI), disse que não há ainda o que comemorar:

- Foi um teste de confiança da presidente Dilma. A questão de ele ser ministro independe de ter denúncia ou não. O que pesou nesse processo foi a confiança manifestada pela presidente. Não há o que comemorar porque continuamos onde nós estávamos. Vamos comemorar quando tudo estiver esclarecido - disse o líder comunista.

O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) foi na mesma linha e disse que o partido vai continuar unido e lutando porque sabe que a disputa política vai continuar:

- Ela deu um voto de confiança ao ministro, e isso é muito importante para a defesa que terá de fazer daqui para a frente diante de denúncias insustentáveis.

Na noite de quinta-feira, Dilma se viu numa saia-justa. Apesar do consenso no Planalto de que era insustentável politicamente manter Orlando Silva no governo, a presidente foi comunicada de que o PCdoB resistia fortemente, o que teria surpreendido a presidente. Diante disso, foi construída uma saída honrosa e, dentro dessa linha, manter o PCdoB com a pasta.

FONTE: O GLOBO

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