quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ocupe Wall Street não traz "agitação revolucionária"

Historiador diz que cerne do movimento é "inquietação profunda" da classe média

Robert Darnton vê, no entanto, chance de que bandeiras dos ativistas conduzam a uma "nova onda de tipo populista"

Verena Fornetti

NOVA YORK - O movimento Ocupe Wall Street, que começou com um acampamento próximo ao centro financeiro de Nova York e se espalhou por várias cidades do país, é sinal de que a inquietação social chegou à classe média americana.

A avaliação é do historiador especializado em Revolução Francesa Robert Darnton. Americano, ele leciona na Universidade de Harvad e é autor de "O Grande Massacre dos Gatos", entre outros.

"Os protestos devem ser levados a sério. Não como uma ameaça de qualquer tipo de agitação revolucionária, mas como um sinal de inquietação profunda", disse à Folha.

Para Darnton, a crescente distância entre ricos e pobres no país a partir dos anos 1990 ainda não havia mobilizado essa fatia da população, que passou a se posicionar contra os altos salários do mercado financeiro. "Eles escolheram um bom alvo", avalia.

Mas, para o historiador, a proposta de taxar milionários, encampada pelos manifestantes, não soluciona os problemas econômicos do país. A ideia de aumentar impostos para os mais ricos acentuou a disputa entre republicanos e democratas.

Congressistas republicanos têm atacado o projeto de taxar milionários nos EUA. O tema acirrou a disputa partidária -entre republicanos e democratas- nos últimos dias. Uma das propostas em debate é lançar uma sobretaxa de mais de 5% sobre rendas anuais. A decisão recente de bancos americanos de cobrar pelo uso do cartão de débito como forma de pagamento em lojas também irritou a classe média dos EUA.

DIREÇÃO POLÍTICA

O historiador de Harvard afirma que a possibilidade de conduzir politicamente o movimento Ocupe Wall Street em direção a demandas mais claras ainda está indefinida.

"A fúria dos manifestantes, que não têm líderes nem um programa claro, ecoa pelo país e poderia ser sintomática de uma nova onda de tipo populista", afirmou.

Para ele, se "alguém será capaz de aproveitá-la e transformá-la com sentido útil, para quebrar o impasse político em Washington e conseguir algum grau de justiça social" é uma questão aberta.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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