terça-feira, 11 de outubro de 2011

PSD vira fiel da balança na Câmara:: Raymundo Costa

O fato relevante da política, na primeira semana de outubro, é a consolidação do PSD como a terceira força congressual. A filiação de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, deu maior estatura à nova sigla, que deixa de ser um agrupamento de deputados pouco conhecidos do baixo clero. Perde o PMDB, porque o PSD zera o jogo político na Câmara, duramente costurado pelo deputado Henrique Eduardo Alves com vistas à eleição da Mesa, em fevereiro de 2013. O vice-presidente da República, Michel Temer, também botou as barbas de molho: o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), mostra que entra com apetite na disputa de 2014. Ele pode ser candidato a presidente ou a vice de Lula ou Dilma.

A semana que passou poderia ser apropriada politicamente pelo senador Aécio Neves (MG), mas o tucano desperdiçou uma longa entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" com bravatas do tipo que será candidato a presidente, em 2014, independentemente de quem for o nome do PT: Lula ou Dilma. Aécio poderia ter se apresentado como um projeto alternativo de poder, mas ele se limitou a falar do legado de Fernando Henrique Cardoso, coisas de nove anos atrás. A propósito, quem "limou" FHC e o PSDB foi Lula, quando pregou no tucano a pecha da "herança maldita". O PSDB no máximo pode ser acusado de ter se omitido em relação aos ataques de Lula. É possível que Aécio tenha falado para tentar conter o esvaziamento do PSDB - o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o mentor do PSD, fez uma razia nas bases dos tucanos. Mas já se começa a perder a conta dos "lançamentos" da candidatura presidencial de Aécio Neves.

Partido de Kassab estabelece nova correlação de forças

Com a chegada do PSD, o que muda é a relação de forças estabelecida na Câmara. Durante o primeiro mandato de Lula, o presidente e o PT sempre trabalharam com os partidos menores, inclusive o PSB de Eduardo Campos. Já no final do segundo mandato, Lula - e agora Dilma - permitiu que o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, comandasse o show na Câmara dos Deputados. É dessa época o acordo entre os dois partidos, PT e PMDB, de revezamento na presidência da Casa. Nesse contexto é que Henrique Eduardo, durante a formação do ministério Dilma, sugeriu que os partidos ficassem com os ministérios de que já dispunham no governo passado. O desenho do novo governo ficou inteiramente desproporcional em relação às forças partidárias no Congresso - o PMDB, na realidade, perdeu espaço. É algo de que Dilma já se deu conta e "pode" se refletir numa anunciada reforma do ministério no fim do ano. Pode porque nem o próprio PMDB acredita.

Reforma, aliás, é modo de dizer, pois na prática ela já foi feita com a substituição de sete ministros, sendo que cinco deixaram o governo (Casa Civil, Transportes, Agricultura, Defesa e Turismo) e outros dois trocaram de posição - Ideli Salvatti deixou a Pesca e foi para o Ministério das Relações Institucionais, antes ocupado pelo deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), atual titular da Pesca.

É nesse quadro que entra o PSD como terceira força, "casadinho" com o PSB de Eduardo Campos. Se os dois partidos fizerem um bloco parlamentar, se transformarão, de fato, na segunda potência. Os dirigentes pessedistas afirmam não querer formalizar um bloco, pois isso significaria adesão ao governo, e a legenda planeja uma atuação "independente". O cubo mágico que Henrique Alves montou com certa sofreguidão e às custas do PMDB está novamente com as cores misturadas: o PSD se tornou o "fiel da balança" na Câmara dos Deputados. Pode ser bom também para Dilma, que passa a depender menos das pequenas siglas e das chantagens de setores conhecidos do PMDB. E ela tem boa interlocução com Kassab.

Há um novo quadro político-parlamentar na Câmara e "a tábua está limpa", como avalia-se na cúpula de partidos aliados de Dilma. Além de Kassab, ganha Eduardo Campos, que apostou no empreendimento do prefeito de São Paulo ainda na planta. A sinalização de uma aliança com o PSB, feita pelo governador de Pernambuco, encorajou quem mais tinha a perder ao trocar de legenda, como o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, que estava no DEM, uma sigla decadente mas tradicional e com tempo de televisão assegurado. E Campos deu uma demonstração recente do que é capaz de fazer para concretizar seus planos na gigantesca operação que desencadeou para eleger a mãe, a deputada Ana Arraes, ministra do Tribunal de Contas da União.

O outro nome que emerge é o do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Como se filiou no prazo final para quem quer concorrer a prefeito, no próximo ano, é possível que tenha recebido alguma garantia de Kassab. O objeto do desejo do PSD é o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, mas ele insiste que não é e nem será candidato à cadeira do prefeito. Mas também não é tão simples assim, segundo os bons entendedores da cabeça de Kassab: uma aliança com o PSDB é onde o prefeito mais quer chegar e isso talvez somente seja possível com o nome de Afif Domingos (José Serra também não é candidato à prefeitura). Faz parte do jogo líderes tucanos reivindicarem a cabeça de chapa, para ganhar força quando os dois partidos sentarem para conversar.

Meirelles é uma carta a mais na manga de Kassab. É um nome de peso que junto com o prefeito e Afif dão uma aura liberal ao PSD, o que o partido não tinha quando era apenas uma massa disforme do baixo clero. Antes da escolha de Dilma como candidata, Meirelles foi sondado pelo PIB paulista, em mais de uma conversa ou jantar, para ser candidato a presidente da República. Quando Dilma se consolidou e foi ungida candidata, mudou o foco para a Vice-Presidência da República.

Nesse trajeto foi sondado por pelo menos duas outras siglas interessadas em que ele se candidatasse por elas a presidente - PP e, mais efusivamente, o PTB de Roberto Jefferson. A conselho de Lula, filiou-se ao PMDB. Depois concluiria que havia cometido um erro - quando o PMDB impôs o nome de Michel Temer, o ex-presidente do Banco Central ficou sem muitas alternativas (Iris Rezende o convidou para ser candidato ao governo de Goiás, mas Meirelles ficou reticente - disputaria contra um amigo, o atual governador Marconi Perillo (PSDB).

Resta saber como efetivamente o pêndulo PSD se moverá no Congresso, o que só a prática parlamentar vai revelar.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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