segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Volta a pressão pela valorização do real

Com a euforia nos mercados após o pacote contra a crise na zona do euro, o dólar perdeu valor ao redor do mundo. O real foi trocado pela moeda americana a R$ 1,6840 e há bancos que acreditam que ele vá encerrar o ano valendo ainda mais.

Um sinal importante de que essa direção pode ser a mais provável no curto prazo é a posição dos investidores estrangeiros no mercado de dólar futuro, que voltou a ficar "vendida" - aposta na valorização do real. A exposição líquida desses investidores chegou a US$ 2,75 bilhões na quinta-feira, incluindo contratos de dólar e cupom cambial. Segundo operadores de mercado, essa posição deve ter subido cerca de US$ 1 bilhão na sexta, tamanha a movimentação nas mesas internacionais.

Sob especulação, real volta a subir

Fernando Travaglini

SÃO PAULO - A euforia que tomou conta dos mercados após o anúncio do pacote de socorro à Grécia e aos bancos europeus teve efeito direto no dólar, que perdeu valor ao redor do mundo, incluindo o Brasil. A tendência no curto prazo deve se manter nessa direção, segundo especialistas. A explicação é o cenário internacional mais positivo, com a redução do risco de ruptura no sistema financeiro, além da volta do fluxo de recursos para o país, intenso nos últimos dias.

A expectativa é de que a reestruturação da dívida grega e a intenção de recapitalização dos bancos evitem a contaminação de outros países da região, como a Itália e a Espanha. Nesse caso, o dólar ainda deve perder valor em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde os fatores externos estão entre os principais determinantes da moeda brasileira, explica Cristiano Souza, economista do Santander.

Souza ainda acredita em momentos de nervosismo nos mercados, com a moeda americana atingindo uma cotação perto de R$ 1,75 no fim do ano. Mas o patamar deve cair para R$ 1,65 já em 2012. "A solução apresentada na Europa ainda precisa ser testada, mas se o pacote evitar o contágio, a tendência do dólar é de apreciação", diz.

Há bancos que acreditam que o dólar possa encerrar o ano em um patamar ainda mais baixo do que o atual. "Esperamos uma acomodação ao redor de R$ 1,65", diz André Hübner, diretor de Global Markets do HSBC. O nível seria o mesmo no fim de 2012, completa.

Um sinal importante de que essa direção deve mesmo ser a mais provável no curto prazo é o posicionamento dos investidores estrangeiros no mercado de dólar futuro da BM&F. Os fundos internacionais voltaram a apostar contra o dólar na bolsa brasileira desde o início da semana passada.

A posição passou a ser novamente "vendida" - aposta na valorização do real - mesmo sujeita à IOF. A exposição líquida desses investidores chegou a US$ 2,75 bilhões, pelos dados da bolsa da quinta-feira - incluindo contratos de dólar e cupom cambial. Segundo operadores de mercado, essa posição deve ter subido cerca de US$ 1 bilhão na sexta-feira, tamanha a movimentação nas mesas internacionais.

Outra fonte de pressão tem sido a volta do fluxo real de divisas para o Brasil, reflexo tanto da redução da aversão ao risco, que trouxe de volta parte dos aplicadores internacionais, quanto da internalização de recursos captados por empresas brasileiras no exterior recentemente. A Eletrobras fez uma emissão em dólares de US$ 1,75 bilhão e a OSX fechou um empréstimo sindicalizado de US$ 850 milhões.

O fluxo ainda pode se manter nas próxima semanas. Há outras grandes companhias esperando uma janela para buscar mais dinheiro lá fora, como Petrobras, Banco do Brasil e JBS. Mas vale lembrar da sazonalidade da economia brasileira, com grandes remessas de lucros e dividendos das multinacionais todo o fim de ano, diz Hübner, do HSBC.

Como consequência da melhora global e da volta do fluxo de dólares, a moeda brasileira teve forte apreciação sobre a americana, de expressivos 4,5% em apenas dois dias, com o dólar fechando abaixo do piso psicológico de R$ 1,70, cotado a R$ 1,684.

"Até a virada do ano, a chance é de melhora dos mercados", avalia Jayro Rezende, operador de câmbio da corretora Banif. Segundo ele, o problema de ruptura na zona do euro foi mitigado e os ativos sofreram uma correção muito grande, diz. "Mas se a solução vai ser efetiva ou duradoura ninguém sabe", pondera Rezende.

Na própria sexta, a Itália viu uma elevação dos custos de captação, o que ligou o sinal de alerta dos investidores. O euro voltou a perder valor no fim do dia em relação ao dólar, depois de ter chegado à máxima de quase dois meses, mostrando que novos momentos de volatilidade devem surgir ao longo do processo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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