sábado, 19 de novembro de 2011

2014: PPS para presidente já!:: Raul Jungmann *

Partidos existem para reunir forças sociais, políticas e econômicas, visando assumir o poder e, lá chegando, tocar o seu programa.

Nós, do PPS, estamos longe disso e temos pela frente dois caminhos. Um, para reverter essa situação; outro, para seguirmos paralisados.

O segundo é o de continuarmos como sócios menores do projeto nacional do PSDB, sem sermos ouvidos ou considerados para quase nada. O outro, para sairmos da paralisia, é o de retomarmos nossa caminhada de 1989, 1998 e 2002, rumo a um projeto autônomo e próprio de poder.

Da minha parte, fico com a segunda opção pelos motivos a seguir expostos, iniciando pelos resultados dos pleitos recentes.

Em 1998 tivemos 870 mil votos, entre nominais e de legenda, para o Congresso Nacional. Em 2002, foram 2.648 milhões, o triplo da votação anterior, que se tornarão 3.535 milhões em 2006, para refluírem a 2.536 mi em 2010, numa queda de 28% dos votos apurados.

O que explica esse sobe e desce no período em questão? Simples: em 98 e 2002 tivemos candidato a presidente da República, angariando apoios e conquistando lideranças regionais Brasil afora.

Já o nosso crescimento em 2006, mesmo não disputando, se dá pela colheita dos votos das estruturas estaduais que, atraídas pelo nosso projeto presidencial, permaneceram conosco por algum tempo após deixarmos o governo Lula, no fim de 2004.

Fruto disso, nossa bancada federal, de apenas 3 membros em 98, salta para 22 em 2006, para regredir a 12 em 2010.

Portanto, resta claro que o crescimento partidário, em âmbito nacional, associa-se à disputa pelo poder central e à expectativa daí derivada. Ergo, se queremos de fato expandir as nossas forças, temos que nos preparar para a disputa de 2014 desde já.

Os argumentos contrários a essa afirmação são basicamente dois. Vejamos quais são eles.

O primeiro, parte da nossa fragilidade, nossa módica representação e estrutura, para negar a razoabilidade de entrarmos numa disputa dessas. Ao que perguntamos: acaso em 89 com Roberto Freire em 98 e 2002 com Ciro Gomes éramos grandes ou tínhamos a dimensão e o tamanho que temos hoje? E o PV em 2010 com Marina? E qual foi o resultado, em termos eleitorais e partidários para ambos? Claramente positivo, ainda que, por diferentes (des)caminhos, tenhamos subseqüentemente malversado os ativos conquistados.

A verdade é que o sucesso ou fracasso político em uma disputa presidencial não resulta exclusivamente do tamanho de quem a postula. Mas sim de outros fatores como consistência, articulação, ousadia e originalidade. E isso, creio eu, nós temos bastante para oferecer.

A segunda das questões contrapostas, remete às nossas caras tradições aliancistas. Desde sempre atuamos em frentes políticas, seja no dia a dia da política, seja nas disputas eleitorais.

Saindo sozinhos, afirmam os contrários, nos isolaremos e deixaremos para trás o nosso papel de demiurgos de coalizões políticas que permitiram avanços democráticos e sociais históricos.

Como exemplo, cita-se a anistia, constituinte, diretas já, etc. Por essa ótica, fomos nós os grandes articuladores, quando não os formuladores, desses magnos momentos da nossa história política. O que não nos garantiu, a posteriori, um lugar ou espaço condizentes com nossa contribuição e esforço.

Ao contrário, alguns que pouco fizeram, ou mesmo foram contrários, estão muito bem, vide o PT. Enquanto nós, plenos de nobreza, intenções e generosidade, quais mendigos barrados do baile, narramos nossas glórias na calçada da amargura...

Aliás, sempre que ouço nossos líderes recitarem que não se pode contar a história do nosso país sem referir-se aos nossos feitos, da industrialização ao retorno a democracia, pergunto-me: por que nunca conseguimos surfar nos nossos sucessos ou deles tirar proveito para sermos grandes?...

Ter candidato próprio a presidente da República não significa deixar o campo da oposição ao qual pertencemos. Tão pouco romper a unidade e as alianças políticas que temos, seja com o PSDB ou com o DEM.

Ter candidato próprio significa competirmos eleitoralmente com nossos aliados e adversários para melhorarmos nossa posição relativa, explorando todas as possibilidades que a oportunidade do pleito nacionalmente nos oferece. E sem contra indicações.

Em 2006, quando ensaiamos uma candidatura presidencial, tínhamos contra nós a verticalização. Esta poderia comprometer a formação de bancadas federais e estaduais. Daí a enorme resistência encontrada por Roberto Freire ao seu projeto de disputar o poder central. Agora não: Inexistem verticalização e riscos para nossa representação parlamentar.

Ao contrário, a candidatura presidencial deverá atuar como motor dos nossos candidatos ao parlamento. Além do que, disputado em dois turnos, o pleito de 2014 nos oferecerá a chance de, num provável segundo turno, nos agregarmos a um dos projetos em disputa e com o qual maior seja nossa identificação, em caso de insucesso nosso na primeira volta. Portanto, não temos nada a perder e tudo a ganhar.

Dentre os ganhos, o maior de todos será a afirmação e massificação da nossa identidade partidária e projeto para o país. Não por acaso, as teses do XVII Congresso Nacional destacam a indistinção com que somos percebidos pela opinião pública e eleitorado, como nossa maior debilidade. Isto é, nos faz falta uma “face”, uma marca que nos distinga dos demais partidos.

Daí se deduz que só a participação reiterada em todos os pleitos possíveis, em especial o presidencial, é o mais poderoso antídoto que temos ao nosso dispor para superarmos esse problema.

Inversamente, secundarmos o projeto do PSDB já no primeiro turno nos negará essa conquista em troca de parcos ganhos.

A verdade é que não somos considerados, sequer respeitados, pelos tucanos. Exemplo disso é de que foi com o DEM que eles constituíram uma comissão eleitoral nacional para dividir as capitais e cidades de grande e médio porte entre si. Mas esse é apenas um exemplo do desdém que nos vota o PSDB.

Mais importante é assinalar que nem tucanos nem demistas estão aptos a concluir a transição para uma plena democracia, realizar as reformas que são necessárias, inclusive a do Estado, e a universalização de serviços da saúde e educação com qualidade.

Pergunto: alguém mais que se dispõe a romper radicalmente com o predomínio da corrupção sobre a política, que vemos pipocar diariamente na forma de escândalos recorrentes?

Quem pode propor isso em sua amplitude, urgência e responsabilidade para com a nação somos nós.

Sem dúvida, o nosso desafio imediato é a disputa de 2012. Entretanto, é agora que tomaremos ou não a decisão de disputarmos 2014 ou será tarde demais. Lembrando que faz toda a diferença entrarmos na disputa de prefeituras e câmaras municipais em nome de projetos locais de poder ou em nome de um projeto nacional próprio.

Pressinto que há espaço para nos colocarmos nacionalmente e sermos ouvidos. Ainda que 2014 não nos reserve a vitória, nosso compromisso com o Brasil nos obriga a nos dirigirmos aos brasileiros com uma programa de reformas indelegável.

Adiante, talvez em 2018, colheremos a semente plantada pelo nosso gesto, ousadia e compromisso. E é no nosso XVII Congresso Nacional que se dará o momento e a oportunidade da sua semeadura.

Raul Jungmann é presidente do PPS em Pernambuco. Foi ministro do Desenvolvimento Agrário e deputado federal.

FONTE: PORTAL DO PPS

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