sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Aécio Neves: "Coalizão não precisa ser sinônimo de corrupção"

Entrevista Aécio Neves Senador (PSDB-MG)

Fabiano Costa

BRASÍLIA - Considerado o trunfo da oposição para tentar romper a hegemonia do PT no cenário nacional, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tenta assumir o comando de uma frente sem foco e enfraquecida.

Após circular ao longo de 10 meses com pouco brilho no Senado, o tucano substituiu as frases conciliadoras por um discurso contundente contra o governo federal.

Afirmando que "o ciclo do PT vai se exaurir", ele dá nota zero para a condução ética no governo Dilma Rousseff. Aécio, porém, não se limita ao embate com o Planalto. Luta também para marcar espaço dentro de sua legenda. Se esforça para escantear as pretensões do ex-governador José Serra (PSDB-SP) de disputar pela terceira vez a Presidência.

Na véspera de desembarcar no Rio Grande do Sul para emprestar seu prestígio ao PSDB gaúcho, Aécio conversou com Zero Hora ontem em Brasília. O senador chega hoje a Porto Alegre. Ao meio-dia, participa de almoço com correligionários no Clube do Comércio e, à noite, vai a Gramado para palestrar em um congresso de dirigentes lojistas.

Zero Hora – O senhor está pronto para se tornar o líder da oposição e candidato à Presidência em 2014?

Aécio – Ninguém se autoproclama líder. Meu avô (Tancredo Neves) ensinava que Presidência é destino, não depende de projeto pessoal. Sei do meu papel neste processo e vou cumprir com minhas responsabilidades. Durante os oito anos em que estive à frente do governo mineiro, mostrei que política e ética não são incompatíveis. Coalizão não precisa ser sinônimo de corrupção e aparelhamento da máquina pública.

ZH – Mas o senhor pretende lutar para ser candidato ao Planalto?

Aécio – Se couber a mim essa responsabilidade, estarei pronto. O candidato do PSDB em 2014 não será o que mais quiser, e sim aquele que, com mais naturalidade, encarnar e expressar o sentimento da sociedade, que está cansada do atual modelo. Em algum momento, esse ciclo do PT vai se exaurir. O que move os petistas é a manutenção do poder.

ZH – Quem o senhor prefere enfrentar nas urnas em 2014: Lula ou Dilma?

Aécio – Não me dou ao luxo de escolher adversários. Se eu for o candidato do PSDB, estarei pronto, independentemente do adversário. Qualquer uma dessas candidaturas representa o mesmo modelo. No entanto, considero improvável que Dilma não dispute a reeleição. Essa abdicação seria um atestado de fracasso.

ZH – A aproximação entre Fernando Henrique e Dilma pode causar prejuízos políticos ao PSDB?

Aécio – Ao contrário. Eu aplaudo essa relação republicana. As pessoas não precisam ser inimigas porque estão em lados políticos opostos. Não vejo somente defeitos nos meus adversários, assim como não acredito que todos os meus companheiros têm virtudes. Sempre mantive uma relação republicana com Lula, a exemplo da que mantenho com Dilma. Mas isso não elimina minha responsabilidade de apontar os equívocos do atual governo.

ZH – Como o senhor encara as críticas de que estaria apagado no Congresso?

Aécio – A oposição no Senado tem dificuldade para somar 15 votos entre os 81 senadores. O meu esforço agora é para reestruturar o partido e dar visibilidade às nossas propostas. Só existe governo forte com uma oposição forte. Quero ajudar o PSDB a reunir ideias e se reorganizar nos Estados nos quais estamos fragilizados. Até as eleições municipais do ano que vem, temos de definir quais são nossas principais bandeiras e fazer o contraponto ao governo federal.

ZH – O governo perdeu cinco ministros por suspeitas de corrupção, mas continua com uma alta aprovação. Isso é consequência do bom momento econômico do país ou da fragilidade da oposição?

Aécio – Ninguém apoia um presidente por deixar de gostar da oposição. Do ponto de vista econômico, há uma sequência de êxitos que se iniciam lá no Plano Real. Não acho que o governo do PT só tenha falhas. Porém, eles perderam o melhor momento da economia e da política brasileira para fazer reformas para o país poder crescer por muito tempo, de maneira sólida.

ZH – Que nota o senhor daria para o governo Dilma?

Aécio – Na questão ética, zero. Na seara econômica, seis. Fica uma média três. Os malfeitos para o governo do PT só viram tal quando se tornam escândalos. O Planalto só reage de forma reativa. Nenhuma das denúncias que levaram à queda de ministros partiu de dentro do governo.

ZH – A doença de Lula pode blindar o Planalto?

Aécio – Não posso fazer essa relação. Desejo que o ex-presidente se recupere o mais rápido possível. É importante saber separar as questões pessoais, e a saúde em especial, das questões políticas. Qualquer pessoa que fizer previsões de cenários futuros a partir da doença de Lula age de forma equivocada.

ZH – Qual sua opinião sobre a onda de agressões na internet ao ex-presidente logo após ele revelar que estava com câncer?

Aécio – Talvez eu tenha sido uma das primeiras pessoas a se manifestar publicamente condenando esse comportamento. O drama de saúde de Lula afeta sua família, seus amigos e todo o Brasil.

ZH – A conturbada gestão da ex-governadora Yeda Crusius desgastou a imagem do PSDB no Rio Grande do Sul?

Aécio – Do ponto de vista administrativo e gerencial, o governo Yeda obteve muito sucesso. Mas houve um combate político muito forte que atingiu o partido. O resultado da última eleição estadual mostrou isso. O PSDB, não só no Rio Grande do Sul, precisa voltar a falar para a sociedade, para os eleitores que estão desencantados com a política. O PSDB tem de renovar seu discurso e sua cara.

ZH – O partido vai ter candidato próprio na eleição para prefeito em Porto Alegre?

Aécio – Pessoalmente, defendo que temos de ter candidatura própria nos municípios nos quais houver possibilidade de divulgar nossas propostas e projetos. É um espaço para marcar o contraponto ao governo federal.

ZH – Sua fama de galã e namorador o incomoda?

Aécio – Pelo contrário. Sou um homem do meu tempo, com minhas virtudes e meus defeitos. Não que eu considere essas características um defeito, mas o homem público tem de ser julgado é por suas ações na vida pública.

ZH – Em abril, o senhor se recusou a fazer o teste do bafômetro em uma blitz no Rio. O senhor é a favor da lei aprovada na última quarta-feira no Senado que tornou crime dirigir após ingerir qualquer quantidade de álcool?

Aécio – A medida é extremamente correta e foi aprovada com o meu voto.

FONTE: ZERO HORA (RS)

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