quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ameaça grega de recusar plano de ajuda abala Europa

Anúncio de que adesão ao pacote passará por referendo derruba bolsas; líderes tentam convencer Atenas a recuar

O anúncio de que a Grécia quer fazer um referendo para decidir se adere ou não ao pacote de socorro aprovado pela União Europeia abalou as bolsas pelo mundo. Houve queda acentuada em Londres (2,21%), Frankfurt (5%), Paris (5,38%) e Milão (6,8%), além de São Paulo (l,74%) e Nova York (2,4%). A decisão do premiê grego, George Papandreou, de convocar a consulta surpreendeu até seu ministro de Finanças e aprofundou a crise política no país - Papandreou será submetido a um voto de desconfiança na sexta-feira e seu governo pode cair. Enquanto isso, líderes como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, buscavam contornar a atitude de Papandreou. Se o eventual referendo recusar o plano da UE, que prevê um calote de 50% das dívidas, a Grécia caminhará para a bancarrota.

Plano de referendo grego derruba bolsas

Líderes europeus tentam fazer o primeiro-ministro da Grécia voltar atrás na proposta de convocar a população a se manifestar sobre acordo

Andrei Netto

CANNES - O anúncio de que o governo da Grécia vai fazer um referendo para decidir a adoção ou não do pacote de socorro aprovado há uma semana em Bruxelas teve o efeito de um terremoto ontem na Europa.

Enquanto os mercados financeiros desabavam, líderes políticos como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, buscavam contornar a atitude do primeiro-ministro grego, George Papandreou. Hoje, em Cannes, ambos pressionarão o governo de Atenas, que pode cair a qualquer momento.

A decisão de Papandreou de convocar o referendo, informada na segunda-feira, surpreendeu até o ministro de Finanças do país, Evangelos Venizelos, e provocou um novo dia de perdas nas bolsas na Europa.

Desde a abertura, os mercados financeiros passaram ao vermelho. No fim do dia, o índice FTSE, de Londres, havia perdido 2,21%. Em Frankfurt, o DAX caiu 5%, desempenho pouco melhor que o CAC40, de Paris, que recuou 5,38%. Entre os países na mira dos mercados, o desempenho foi ainda pior: em Milão, o MIB recuou a 6,8%, enquanto em Atenas o ASE caiu 6,92%.

Diante da crise política em Atenas e das evidências de pânico nas bolsas, Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro de Luxemburgo e coordenador do fórum de ministros de Economia da zona do euro (Ecofin), reconheceu que a Grécia enfrenta a possibilidade iminente de bancarrota. "A Grécia corre o risco de falência", resumiu.

A incerteza provocou uma mobilização emergencial dos principais líderes do bloco. Em Paris, Sarkozy convocou uma reunião extraordinária com o primeiro-ministro, François Fillon, e o ministro da Economia, François Baroin. Em sinal da gravidade da situação, o presidente francês fez um pronunciamento extraordinário. "A França lembra que o plano adotado na quinta-feira por unanimidade pelos 17 membros da zona do euro é a única solução possível para resolver a crise grega", disse Sarkozy.

Na prática, Sarkozy e Merkel recusam a proposta de referendo - que só seria realizado em janeiro de 2012 - e enviaram um recado aos mercados, dando um ultimato à Grécia: ou aceita as condições do plano de socorro, que prevê nova linha de empréstimos de € 145 bilhões ao país, além de um calote de 50% nas dívidas soberanas, ou medidas drásticas poderão vir a ser adotadas. Nenhum dos líderes, porém, se manifestou oficialmente sobre quais medidas vêm sendo estudadas nas últimas horas.
Hoje, na véspera da abertura da reunião de cúpula do G-20 em Cannes, Sarkozy, Merkel, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, além de representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central Europeu (BCE), se reunirão com Papandreou e Venizelos para buscar uma saída para o novo impasse.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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