sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A “bolha” do consumo :: Roberto Freire

Desde que a crise financeira instalou-se nos EUA, em outubro de 2008, com a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, arrastando consigo toda a Europa com graves repercussões no financiamento da produção e da comercialização em todo o planeta, a esmagadora maioria dos economistas e especialistas em comércio sabiam que estavam diante de uma crise inédita, não apenas por sua amplitude, mas fundamentalmente por sua profundidade. No Brasil, o tsunâmi que varria a economia global foi chamado de “marolinha” pelo ex-presidente Lula, argumentando que a economia brasileira era sólida e não sofreria com os danos causados no comércio mundial, por ser um importante exportador de commodities e ter na China seu principal consumidor. Além de o sistema financeiro brasileiro não ter sido contagiado com a “praga dos derivativos”, por conta de uma série de normas técnicas executadas pelo Banco Central, herdadas do governo FHC.

Para fazer frente à queda nas vendas dos produtos industrializados, sobretudo, o governo Lula buscou ampliar linhas de crédito para as populações de baixa renda, diminuir os custos setoriais de alguns ramos de manufatura, principalmente a “linha branca”, e garantir um certo nível de consumo para além das possibilidades reais dessas famílias. As consequências desse tipo de “política econômica”, de claro viés populista, visando exclusivamente a eleição de sua sucessora começamos a perceber agora com muito mais clareza, quando a crise financeira internacional recrudesce tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, afetando a própria China com a possibilidade de uma diminuição continuada de seu PIB, atingindo diretamente nosso país com a queda do preço das commodities, fruto da queda do consumo global.

Internamente, o que denuncia o grave problema estrutural que tem se estabelecido silenciosamente na esteira dessa farra de crédito, que continua no governo Dilma, é o consistente crescimento da inadimplência, e, mais grave, o endividamento das famílias, mormente as de baixa renda, como já notado pela área técnica de nosso Banco Central.Desde a crise de 2008, a dívida total dos brasileiros saltou 80,7% e o valor das parcelas pagas mensalmente cresceu 60%.

Enquanto isso, o salário aumentou bem menos: 33,3%. Essa defasagem configura a existência de uma “bolha” que só faz crescer.A par disso, o endividamento das famílias está no nível mais alto da história: pessoas físicas devem cerca de R$ 715,19 bilhões aos bancos, desde o microcrédito e o cheque especial, até financiamentos mais longos, como o imobiliário e de veículos, passando pelo cartão de crédito. Todos com juros altíssimos, indecentes.

Pelos dados do BC, cada brasileiro deve atualmente 41,8% da soma dos salários de um ano inteiro, um recorde. Há pouco mais de três anos, os brasileiros deviam o correspondente a 32,2% de sua renda de 12 meses. Esse crescimento em tão pouco tempo, dado o ambiente de crise, e a paulatina queda na oferta de emprego, numa economia que sofre grave processo de desindustrialização e um Estado cada vez mais irresponsável com sua política fiscal, aponta um horizonte de grandes dificuldades.

Ao que parece, da caixa de mágica do populismo econômico só saem “bolhas” consistentes como as de sabão.

Roberto Freire, deputado federal e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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