segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Casamento PSB e PT: uma união instável

Movimentações de Eduardo Campos pelo país afora fazem líderes petistas acenderem o sinal de alerta. Presidente socialista e governador de Pernambuco, ele mostra desenvoltura tanto na costura com legendas aliadas a Dilma quanto com as de oposição

Denise Rothenbug

Em recente reunião de petistas em São Paulo, o ex-ministro da Casa Civil e ex-presidente do PT José Dirceu fez soar o alarme. "Temos que ficar de olho nos movimentos do PSB. Mais dia, menos dia, eles vão buscar um projeto próprio", comentou, segundo petistas presentes. A seus amigos no PT, Dirceu tem dito que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, está dedicado a preparar esse projeto. O PT ficou preocupado e, em conversas reservadas, a cúpula do partido já se mostra atenta ao crescimento político de seu aliado histórico.

Dirceu fez essa análise com base nas alianças que o PSB prepara em várias capitais do país (leia quadro). Citou especificamente o Paraná, onde os socialistas são aliados do governador, Beto Richa (PSDB), de quem herdaram a prefeitura de Curitiba. Mencionou também o fato de o ministro da Integracão Nacional, Fernando Bezerra Coelho, ter transferido o título eleitoral para Recife, não só de forma a preparar uma candidatura ao governo do estado em 2014, como também para servir de ameaça ao PT, na hipótese de o partido de Lula não se entender para lançar um candidato a prefeito no ano que vem.

Nem é preciso ir muito longe de Brasília para averiguar a carreira solo do PSB e o esforço para se colocar como uma alternativa ao centro, entre o PSDB e o PT. Hoje, o partido de Eduardo Campos transita mais na política do que qualquer outro. O governador de Goiás, Marconi Perillo, esteve há alguns dias em Recife, visitando Eduardo Campos e preparando uma aliança para as eleições municipais em cidades goianas.

Metralhadora

Em Minas Gerais, a proximidade dos dois partidos também existe. O partido integra a equipe do governador, Antonio Anastasia (PSDB), embora parte dos socialistas veja o senador Aécio Neves (PSDB-MG) como adversário — caso, por exemplo, do ex-ministro Ciro Gomes.

]Em entrevista ao site Uol na última quinta-feira, Ciro revelou desejo de ser candidato, mais uma vez, a presidente da República e não poupou críticas ao PT, a Aécio e até a Eduardo Campos, a quem coloca como comandante do PSB por herança e não por talento.

A metralhadora giratória de Ciro, entretanto, preocupa menos o PT do que os movimentos silenciosos de Eduardo Campos. A proximidade com o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, é uma delas. O governador pernambucano estimulou a formação do partido de Kassab e é hoje um aliado do prefeito.

Os petistas apostam que o PSB ficará com o prefeito na eleição municipal, se Kassab decidir lançar a candidatura de Guilherme Afif Domingos ou mesmo a do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que entrou no PSD paulistano, mas continua recolhido.

De público, entretanto, os petistas são comedidos ao se referir aos movimentos de Eduardo Campos: "O governador Eduardo Campos sempre foi da maior lealdade com o ex-presidente Lula e a presidente Dilma. Não vejo esse perigo. Ele estará conosco em 2014", afirma o líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Fadiga

Da parte dos socialistas, Campos apenas deu de ombros quando soube das preocupações dos petistas externadas por Dirceu. "Não é a primeira, nem será a última vez em que discordo dele", afirmou. Mas, a amigos, Campos vai além. Diz que querer crescer não é crime e que a aliança nacional com o PT vai muito bem, obrigado. Entretanto, nas conversas mais reservadas entre os integrantes do PSB, a aposta na fadiga de material do PT está grande e o futuro da relação entre os dois partidos é como um casamento, na visão do poeta: será infinita enquanto durar.

Situação nas capitais

São Paulo

O partido está próximo tanto do PSDB do governador Geraldo Alckmin quanto do PSD do prefeito Gilberto Kassab, e longe do PT. Não será surpresa se apoiar um candidato como Guilherme Afif Domingos, por exemplo.

Belo Horizonte

O PSB apostará na reeleição do prefeito Márcio Lacerda. Aguarda a definição do PT, mas a relação com o senador Aécio Neves, do PSDB mineiro, continua melhor do que com os petistas, divididos.

Rio de Janeiro

O PSB ainda não definiu o que fará. O deputado Romário insiste em ser candidato a prefeito.

Curitiba

O acordo é com o PSDB, do governador Beto Richa.

Porto Alegre

O PSB vai apoiar a candidatura da deputada Manuela D"Ávila (PCdoB-RS).

Recife

O plano A é apoiar o PT, mas se os petistas continuarem divididos, o PSB lançará candidato próprio.

Salvador

Não há planos de apoiar o PT, do governador Jaques Wagner.

Fortaleza

PSB planeja lançar candidato próprio.

Goiânia

PSB conversa com o PSDB, do governador Marconi Perillo.

FONTE CORREIO BRAZILIENSE

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