terça-feira, 22 de novembro de 2011

Egípcios voltam às ruas, e governo pede para sair

O governo provisório do Egito, nomeado pela junta militar que dirige o país, renunciou ontem, após três dias de protestos que deixaram entre 24 e 33 mortos. Até a noite, não eram conhecidas as razões das demissões nem se foram aceitas.
Em fevereiro, após 18 dias de protestos, os egípcios conseguiram derrubar a ditadura de Hosni Mubarak

Protestos levam governo egípcio à renúncia

Gabinete provisório entrega cargos a junta militar após atos que deixaram 24 mortos; não está claro se saída foi aceita

Clima de instabilidade ameaça a realização de eleições parlamentares; 10 mil manifestantes ocupam a praça Tahrir

O governo provisório do Egito renunciou ontem após três dias de manifestações no Cairo contra a junta militar que comanda o país desde a renúncia do ditador Hosni Mubarak (1981-2011), em fevereiro. Ao menos 24 manifestantes já morreram, mas o número pode passar de 30.

Até a noite de ontem não estava claro se o Conselho Supremo das Forças Armadas aceitou a renúncia do gabinete do premiê Essam Sharaf.

O clima de violência e instabilidade coloca em risco as eleições parlamentares marcadas para segunda-feira que vem. Alguns candidatos já anunciaram a suspensão de suas campanhas.

A notícia da queda do gabinete não acalmou os ânimos dos 10 mil manifestantes que ocupam a praça Tahrir desde a última sexta-feira. Eles encaram o governo de Sharaf como uma fachada da junta militar, incapaz de fazer reformas democráticas.

Os protestos começaram, sob influência da Irmandade Muçulmana, depois que o conselho militar divulgou uma carta de princípios para a nova Constituição.

O documento garante certas liberdades individuais, mas também dá poder quase ilimitado aos militares e os isenta de controle civil.

A junta militar assumiu o poder em fevereiro prometendo passá-lo a um governo civil em seis meses. Porém, hoje afirma que a passagem de poder só acontecerá após uma eleição presidencial que pode ocorrer em 2012 ou 2013.

Na semana passada, os manifestantes exigiam que os militares marcassem a data da passagem de poder.

Porém, após a escalada da violência no fim de semana -quando forças de segurança passaram a atacar hospitais improvisados pelos manifestantes- a exigência passou a ser a queda imediata do governo militar.

A estimativa de vítimas varia entre 24 e 33 mortos. Os feridos nos confrontos chegam a 1.750. Também houve choques nas cidades de Alexandria e Ismailia.

"O povo quer a queda do marechal de campo", gritavam os manifestantes em referência a Hussein Tantawi, o líder do conselho militar.

"Não sairemos da praça até que seja formado um governo de salvação nacional que seja representativo e acumule toda responsabilidade", disse o ativista Rami Shaat.

Ontem os EUA afirmaram que "a erupção da violência no Egito não deve atrapalhar as eleições e uma rápida transição para a democracia".

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que a junta garanta os direitos humanos e a liberdade do povo protestar pacificamente.

FOLHA DE S. PAULO

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