segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Espanha dá poder absoluto ao PP

Eleito por ampla margem, Mariano Rajoy diz que não há milagres para tirar país da recessão

Priscila Guilayn

MADRI - A crise econômica foi a protagonista da campanha eleitoral e a responsável por iniciar, ontem na Espanha, um novo ciclo político, dando maioria absoluta aos centro-direitistas do Partido Popular (PP) no Parlamento — e levando os socialistas a uma derrota histórica após sete anos de governo. Liderado por Mariano Rajoy, o PP governará com a maior margem da centro-direita desde a redemocratização. Rajoy tomará posse provavelmente na véspera do Natal, mas ainda não se sabe que política econômica adotará. A despeito de toda a incerteza que paira sobre o futuro de um país asfixiado economicamente, a vitória do PP foi festejada por milhares de partidários nas ruas.

As palavras mais repetidas e mais temidas nos últimos três anos — desemprego, dívida pública, déficit e arrocho — acompanharam os eleitores. Rajoy comemorou a vitória adotando o conhecido tom contido:

— Não haverá milagres. Eu não prometi milagres. Para mim, não haverá inimigos maiores do que o desemprego, a dívida e o déficit — advertiu Rajoy, durante seu discurso, acrescentando, num tom mais otimista: — A voz da Espanha precisa voltar a ser ouvida em Bruxelas, vamos deixar de ser parte do problema e nos tornaremos parte da solução.

O candidato socialista, Alfredo Pérez Rubalcaba, por sua vez, reconheceu o golpe:

— O Partido Socialista não teve um bom resultado. Perdemos claramente. Os cidadãos decidiram que lideremos a oposição e assim será.

Com o desafio de lidar com cinco milhões de desempregados e a necessidade imperiosa de apertar muito os cintos para reduzir ao máximo o orçamento de 21 bilhões para 2012, o Partido Popular triunfou nestas eleições: garantiu 186 deputados na casa de 350 assentos (32 a mais que nesta última legislatura), com a apuração de 98% dos votos.

Socialistas perdem redutos tradicionais

O Partido Popular sai deste pleito com o maior poder institucional desde a redemocratização: governa quase a metade (3.811) das prefeituras do país e 11 das 17 comunidades autônomas. E agora poderá aprovar o que quiser sem necessidade de pactos com nenhuma outra força política.

— Parte do problema é que o PP não precisou explicar suas propostas porque já se dava por vencedor — opinou o especialista em economia espanhola da Universidade de Barcelona, Raul Ramos. — O que se imagina é que sua política será muito parecida aos últimos meses do Governo (José Luis Rodríguez) Zapatero, de austeridade marcada pelas políticas impostas pela União Europeia de redução do déficit público.

O Partido Socialista sai destes sete anos de Governo bastante enfraquecido. Sua participação caiu de 169 deputados para 111 deputados. Mesmo nos mais fiéis redutos socialistas, como Catalunha e Andaluzia, a vitória foi dos nacionalistas e do PP, respectivamente. Segundo analistas, os espanhóis perderam a confiança em Zapatero por sua demora em reconhecer as dimensões da crise econômica. Desde então, com o desemprego alcançando a maior taxa da Europa (supera 21%) e sem a menor perspectiva de melhora, perdeu ainda mais popularidade ao empreender medidas severas de cortes sociais (como reduzir salário dos funcionários público e congelar aposentadorias).

— O grande problema de Zapatero foi não assumir o desafio de gerenciar a crise e tentar reduzir o máximo possível seu impacto negativo desde o princípio — afirmou o cientista político Josep Paría Reniu. — Agiu como uma família que está sem trabalho e com dificuldades financeiras, mas, em vez de reduzir seus gastos, começa vendendo todas as jóias. Quando as joias acabam percebem que estão em crise e que já não há mais nada para vender.

Além do próprio PP, os partidos minoritários foram também beneficiados pela dispersão do voto socialista. O Esquerda Unida (IU), que é a terceira força política nacional, mas tinha apenas dois assentos, sai deste pleito com 11 deputados. União Pregresso e Democracia (UPyD), fundado pela ex-socialista Rosa Díez, teve um resultado bem mais positivo do que se esperava: saltou de 1 para 5 cadeiras no Congresso.

Outro sinal do desencanto da população foi o aumento da abstenção de 26,5% para 29,14%. Aumentou também o percentual de votos em branco (um total de 1,41%) e nulos, um total de 1,25%.

Nesta primeira eleição sem a violência do grupo separatista basco ETA, a coalizão Amaiur (de nacionalistas bascos independentistas), que se apresentou pela primeira vez, obteve 7 deputados, enquanto o Partido Nacionalista Basco (nacionalistas conservadores) perdeu uma cadeira.

Neste clima de decepção e desesperança, Zapatero, que votou, às 11h, acompanhado da mulher, foi recebido em sua zona eleitoral com vaias e insultos.

— O voto é o melhor caminho para enfrentar os problemas que o nosso país tem — disse, logo depois de votar. — O futuro, hoje, mais que nunca está nas mãos dos cidadãos.

FONTE: O GLOBO

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