terça-feira, 29 de novembro de 2011

Exportação de industrializados é irreal

Pelo critério adotado pela OMC (Organização Mundial do Comércio), o Brasil superestima o peso dessa categoria

Pela classificação da entidade, o Brasil exportou 60,4% de produtos básicos em outubro, e não 49,3%

Maeli Prado

BRASÍLIA - Pelo critério da OMC (Organização Mundial do Comércio), o Brasil superestima o peso dos produtos industrializados nas exportações.

No mês passado, 49,3% das exportações brasileiras foram de produtos básicos, segundo o Ministério do Desenvolvimento. Para a OMC, o percentual é de 60,4%.

É o que mostra levantamento feito pela Folha, com base nos padrões seguidos pela OMC, nos produtos exportados que constam da balança comercial divulgada pelo ministério.

Esses critérios são usados unicamente para elaboração de estatísticas, mas são importantes porque refletem o valor tecnológico que cada país consegue adicionar às suas vendas.

O Brasil, que sofreu críticas à participação excessiva de commodities nas exportações, adota desde os anos 1960 um padrão que valoriza o peso dos manufaturados.

Há uma lista de pelo menos 15 produtos que o governo brasileiro classifica como industrializados (divididos entre manufaturados e semimanufaturados), mas que, para a entidade internacional, são básicos.

O que mais chama a atenção, pelo peso que possui na pauta exportadora, é o açúcar "em bruto", ou seja, aquele que passou pela primeira etapa de refino.

O US$ 1,2 bilhão exportado do produto pelo Brasil em outubro, com 5,38% de participação nas vendas externas totais do país, é contabilizado na categoria "semimanufaturados".

A OMC também adota uma subcategoria com esse nome, mas os produtos que a compõem são manufaturados de couro, borracha, cortiça e madeira, fios e tecidos e partes de alumínio e de ferro.

SUCOS

Já da versão brasileira fazem parte produtos como ouro para uso não monetário, borracha sintética, manteiga e sucos e extratos vegetais. Com exceção do ouro, que entra em um grupo à parte, todos são básicos para a OMC.

"A categoria semimanufaturados como a conhecemos foi criada há décadas, quando o governo queria estimular um maior grau de beneficiamento nos produtos exportados", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).

"Até hoje é assim, apesar de sabermos que os semimanufaturados são commodities com um pequeno grau de beneficiamento."

Pelo critério da OMC, a participação dos semimanufaturados no total das exportações cairia de 13,6% para 6,4% e a dos manufaturados, de 34,7% para 30,7%, pelos dados de outubro.

"Do mesmo jeito que a nossa categoria semimanufaturados é enganosa, muitos produtos classificados como manufaturados também são", afirma o economista Fernando Sarti, da Unicamp.

"O celular, por exemplo, é um produto de elevada tecnologia, mas grande parte é apenas montada no Brasil. Isso não é agregar valor."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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