sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Grécia decide hoje o seu futuro na União Europeia

O premier grego, George Papandreou, cedeu à pressão dos líderes europeus e desistiu de convocar referendo popular sobre o pacote de socorro financeiro do resto da Europa. A decisão fez os mercados respirarem aliviados e as bolsas subiram no mundo. Hoje, o Parlamento avalia o voto de confiança no governo, passo importante para definir o futuro político e econômico do país na União Europeia (UE). Papandreou enfrenta a resistência da oposição, que quer novas eleições em seis semanas, mas ele pode renunciar antes. Em Cannes, na reunião de cúpula do G-20, o clima era de que é fundamental prosseguir com o euro, com ou sem a Grécia. O país terá que aprofundar seu programa de austeridade e acelerar privatizações para fazer jus a um segundo pacote de ajuda da UE e do Fundo Monetário Internacional, no valor de € 130 bilhões

Um passo atrás, por favor

Após sacudir mercados e a UE, premier grego desiste de referendo sobre socorro ao país e pode renunciar

ATENAS - O premier grego, George Papandreou, acabou cedendo às pressões e desistiu ontem de convocar um referendo popular sobre o pacote de resgate, que despertou a ira dos líderes europeus, enquanto tenta garantir que seu governo sobreviva a um voto de confiança hoje no Parlamento. Mas isso pode custar a carreira política de Papandreou: fontes disseram à agência de notícias Reuters que ele teria feito um acordo com seus ministros para renunciar e entregar o poder a um governo de coalizão se estes o ajudarem a obter o voto de confiança. Segundo as fontes, os ministros eram liderados pelo titular da pasta de Finanças, Evangelos Venizelos.

- Disseram ao premier que ele precisa sair de maneira calma de modo a salvar seu partido - disse uma fonte à Reuters. - Ele concordou. Foi muito civilizado.

Líder da oposição quer eleições

Segundo essa fonte, Papandreou admitiu ter cometido um erro ao propor um referendo, na última segunda-feira. O premier acabou convocado à cúpula do G-20 (grupo das principais economias do mundo), em Cannes, para dar explicações sobre o referendo - e acabou ouvindo a ameaça de que a sexta parcela do pacote de ajuda não seria liberada antes da realização do referendo. Fontes do governo disseram à agência AP que há recursos suficientes para honrar os compromissos até meados de dezembro. Depois, sem a parcela de 8 bilhões, a Grécia pode quebrar.

- Venizelos lhe disse que ele precisa sair de forma elegante, tanto por seu bem quanto pelo do partido (o socialista Pasok), e que os ministros o ajudariam - afirmou a fonte. - Isso desde que ele sobreviva ao voto de confiança, o que não é certo.

Essa decisão também seria uma maneira de obter o apoio do principal partido de oposição, o conservador Nova Democracia, para as medidas de austeridade. Desde segunda-feira o líder da oposição, Antonis Samaras, vem pedindo a renúncia do governo e a antecipação das eleições.

Fontes do Nova Democracia disseram querer um governo apolítico, com duração de quatro a seis semanas, até novas eleições. Já o Pasok defenderia um governo provisório entre três e seis meses.

- Não estou agarrado a meu cargo - disse Papandreou durante debate no Parlamento ontem à noite, em um sinal de que estaria disposto a renunciar. - Nós do Pasok assumimos a tarefa e o custo político de evitar o risco de falência.

Segundo o jornal grego "Kathimerini", o premier disse ainda que está determinado a reformar a Grécia e tirá-la da crise. Mas ele enfrenta um racha em seu próprio partido. Um de seus correligionários, Dimitris Lintzeris, disse que votaria "não" na moção financeira a não ser que Papandreou assuma claramente que está disposto a formar um governo de coalizão.

O voto de confiança está previsto para começar hoje à meia-noite em Atenas (20h pelo horário de Brasília).

Venizelos teve um papel importante nessa rebelião do Pasok. Como todos os líderes do euro, ele foi pego de surpresa pela proposta do referendo, mas num primeiro momento apoiou Papandreou. No entanto, depois de acompanhar o premier a Cannes na quarta-feira, comandou ontem a revolta dos socialistas. Venizelos afirmou que, com o apoio da oposição ao pacote de austeridade, o referendo era desnecessário.

Ministro: "Euro é conquista histórica"

Em nota, o ministro afirmou que a prioridade era permanecer na zona do euro para proteger a economia e as instituições financeiras gregas. "O lugar da Grécia no euro é uma conquista histórica que não pode ser questionada. Esse direito estabelecido do povo grego não pode ser colocado sob escrutínio em um referendo", afirmou Venizelos.

Mas a população alemã parece discordar de Venizelos. Em pesquisa divulgada ontem pela emissora ARD, 82% dos entrevistados disseram que a Grécia deveria deixar o euro no caso de rejeitar o pacote de socorro. E 84% acreditam que a Alemanha terá de gastar mais dinheiro para socorrer os gregos.

A Grécia precisa manter seu programa de austeridade e acelerar as privatizações para fazer jus a um novo pacote de socorro. Este seria de 130 bilhões e se somaria aos 110 bilhões acertados no ano passado por União Europeia (UE) e Fundo Monetário Internacional (FMI). Além disso, seus credores privados terão de amargar uma perda de 50% no valor dos papéis, o que reduziria o endividamento do país.

Em seu comunicado, Venizelos afirmou que, para proteger a Grécia, é preciso implementar as decisões acertadas com os líderes da UE no mês passado.

FONTE: O GLOBO

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