quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Monopólio aumenta reeleição de prefeitos, diz Lavareda

Cristian Klein

SÃO PAULO - O cientista político Antonio Lavareda é considerado um guru dos tucanos, mas seu novo trabalho não tem a ver com pesquisa encomendada pelo PSDB ou qualquer campanha de candidato do partido. Lavareda, ao lado da colega Helcimara Telles, professora da UFMG, lança hoje em São Paulo (na Livraria Martins Fontes, às 18h30), um livro que pretende lançar luzes sobre uma disputa que, afirma, ainda é pouco estudada: a eleição municipal.

O volume reúne uma série de artigos de pesquisadores que analisam a escolha para prefeito em 12 capitais, na última eleição de 2008. Entre os principais achados de "Como o eleitor escolhe seu prefeito" (Editora FGV) está a explicação para o alto número de reeleições, que, no conjunto de tentativas de recondução, é de 67%, mas chega a 95% nas cidades centrais dos Estados. Em 2008, 20 prefeitos de capitais tentaram um segundo mandato e apenas 19 alcançaram o objetivo.

A principal razão, segundo Lavareda, é o monopólio dos prefeitos quando o assunto são os spots - os comerciais curtos veiculados na programação normal das TVs.

Enquanto nas eleições gerais os candidatos majoritários (a presidente e a governador) compartilham o tempo dos spots com os candidatos legislativos (deputados estaduais, federais e senadores), os prefeitos, em virtude da legislação, não dividem a propaganda com os candidatos a vereador. "É um latifúndio de tempo de TV", diz Lavareda, que defende os spots como propaganda mais eficiente que o tradicional horário eleitoral gratuito.

A lógica é que os prefeitos que buscam reeleição teriam condições mais favoráveis de se beneficiar do vasto horário de que dispõem nos spots. "Os adversários também contam com mais tempo, mas a oposição vai mostrar apenas seus programas de governo ou realizações de um passado remoto. O prefeito exibe suas obras imediatas, concretas, cujo poder de convencimento é maior", afirma.

O cientista político cita o caso de Belém, onde o prefeito Duciomar Costa (PTB) pavimentou 1,3 mil ruas nos seis meses anteriores à eleição.

A utilização dos spots explicaria, por exemplo, a reeleição de prefeitos que apresentavam menos de 30% de avaliação positiva - patamar considerado insuficiente como um indicador para se renovar o mandato. Era o caso dos prefeitos João Henrique (então no PMDB, hoje PP), em Salvador; José Fogaça (PMDB), em Porto Alegre; e Duciomar Costa - além de Serafim Corrêa (PSB), em Manaus, o único em 20 a não se reeleger.

Lavareda destaca a persistência de três marcas que atravessaram as eleições em todo o país: a continuidade, a economia e a parceria.

O traço da continuidade se apoiaria na enorme vantagem competitiva do prefeito em ter um corpo profissional de técnicos com grande conhecimento sobre a cidade.

O bom momento da economia, que cresceu 6% no primeiro semestre de 2008, é outro fator. "O caixa dos municípios havia aumentado 52,4%, bem mais que os da União e dos Estados, em torno dos 40%. É uma situação que não se repetirá em 2012", acredita Lavareda.

A terceira marca foi a parceria com o governo federal. A popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já chegava perto dos 75% e até candidatos da oposição prometiam desenvolver projetos com a União. Foi o que aconteceu com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (então no DEM, hoje PSD), lembra o cientista político. O mesmo ocorreu no Rio de Janeiro, com Eduardo Paes (PMDB), e em Belo Horizonte, com Márcio Lacerda (PSB).

Isso não significa que as eleições municipais estejam mais suscetíveis à nacionalização do debate, defende o pesquisador. Lavareda cita a disputa de 1988 como o auge da federalização, quando o PMDB foi expulso do governo das capitais, devido ao fracasso da Presidência de José Sarney.

A força do governo federal no debate de questões locais seria limitado. É por esta razão que o cientista político minimiza o potencial de transferência de votos de Lula ou da presidente Dilma Rousseff para o ministro da Educação, Fernando Haddad, pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo. Ele lembra que Marta Suplicy não se elegeu em 2008 apesar do apoio de Lula.

"Para não ficar só no Lula, e continuar em São Paulo, o Fernando Henrique [Cardoso, ex-presidente] tinha, em 1996, um alto patamar de avaliação positiva e o seu candidato, José Serra, não chegou ao segundo turno", ressalta Lavareda.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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