domingo, 20 de novembro de 2011

Outubro frio e recessões:: Vinicius Torres Freire

Outubro foi tão ruim quanto o de 2003 para emprego formal; indústria de São Paulo emprega menos

Foi o pior outubro para o emprego formal desde a crise de 2008, a gente ouvia ou lia na sexta-feira dos noticiários "em tempo real", em rádios e em TVs, baseados em números absolutos e na narrativa oficial.

Mas o crescimento de outubro de 2011 foi o menor em quase uma década, em termos relativos, praticamente tão ruim quanto o outubro do ano de estagnação de 2003.

Como de costume o emprego formal estaciona em novembro e despenca em dezembro, o ano terminou para o trabalho com carteira assinada. Ou melhor, para o saldo de novos empregos (contratações menos demissões).

Um mês sozinho de estatística não faz um verão nem um inverno recessivo. O resultado do mês passado, ainda assim, equivale à chegada de uma intensa frente fria.

Parece um exagero chamar a atenção para o péssimo resultado da criação de empregos formais de outubro quando a taxa de desemprego brasileira (na verdade, para meia dúzia de regiões metropolitanas) é a mais baixa provavelmente em mais de 20 anos.

"Provavelmente", explique-se, porque não é possível comparar de modo preciso a taxa de desemprego medida a partir de 2002 com dados anteriores (a metodologia mudou).

Mas se esqueça a história e se considere a "a margem": os dados mais recentes. O mergulho foi rápido. O efeito da política econômica mais restritiva do início do ano somada ao choque de confiança derivado da crise europeia é mais intenso do que o previsto.

Observe-se a situação da indústria. Apanhava devido ao câmbio (ao real forte) desde 2010; sofreu mais com o aperto no crédito. De janeiro a setembro, a produção industrial subiu apenas 1,1% (ante o mesmo período de 2010). Mais ou menos um terço do crescimento do conjunto da economia.

As indústrias de São Paulo e de Minas Gerais estão em recessão, digamos, pois encolheram no segundo e terceiro trimestres do ano. A do Rio de Janeiro encolheu no primeiro semestre do ano e cresceu pouco no trimestre passado.

Está um massacre nas indústrias gráfica, de papel, calçados, couro, madeira e vestuário, nas quais o número de empregos diminui. Nas indústrias têxtil, química, de borracha e plásticos, há estagnação.

Em São Paulo, com um terço da indústria nacional, caiu o número de empregos industriais neste ano. São Paulo, aliás, ajudou e bem a afundar o crescimento do emprego formal no país, em outubro.

Agosto, setembro e outubro são meses de reforço no pessoal da indústria, que mira a produção para as vendas de festas de fim de ano. Faltam os dados oficiais de outubro ainda, mas as estimativas são de estagnação nesse período.

Não é, claro, o caso de dizer que o país escorrega para uma crise típica dos anos 1990, digamos, ou para uma rateada como a vista em 2008, devida à explosão da crise americana.

No mínimo, como remédio de curto prazo, há muita taxa de juros para cortar, e as contas públicas e externas estão em certa ordem, precária e remendada, mas em ordem.

Porém, daqui até meados de 2012, o clima vai ser frio como esta primavera deste ano aqui no sul do país. 

Ou pior, se a recessão for glacial na Europa.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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