sábado, 19 de novembro de 2011

Presidente do BCE cobra ação dos governos europeus contra a crise

Nova intervenção ajuda bônus de Espanha e Itália. Bolsa de SP recua 0,45%

FRANKFURT, NOVA YORK, RIO e SALVADOR. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, rejeitou os apelos dos governos da zona do euro por uma intervenção da autoridade monetária e afirmou que eles é que são responsáveis pela resolução da crise da dívida. Draghi ainda criticou os líderes da região pela demora em fazer reformas na economia e implantar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef).

Draghi lembrou que as discussões sobre o Feef começaram há mais de um ano e meio, e há quatro meses os líderes da União Europeia concordaram em alavancar recursos do fundo:

- Onde está a implementação das decisões? Não devemos esperar mais.

Draghi, recém-empossado no BCE, vem sofrendo pressões para intensificar a compra de bônus dos governos endividados - suas intervenções no mercado, nunca declaradas oficialmente, têm ajudado a segurar os títulos. Mas ele disse que isso não pode prejudicar a principal missão do BCE, que é combater a inflação, sob o risco de a instituição perder sua credibilidade.

Dólar registra valorização de 0,17%, a R$1,783

A compra de bônus de Espanha e Itália pelo BCE ontem, somada a rumores de uma parceria com o Fundo Monetário Internacional (FMI), puxou o euro e aliviou a pressão sobre os títulos da dívida. A moeda única europeia avançou 0,4% frente ao dólar, a US$1,3516.

O retorno sobre os títulos de dez anos da Itália recuou 0,21 ponto percentual, para 6,63%. Quanto menor o retorno, maior a demanda dos investidores. O novo governo do premier Mario Monti recebeu ontem o voto de confiança da Câmara, depois de tê-lo obtido no Senado. Já o retorno dos bônus espanhóis caiu 0,11 ponto, para 6,38%. O título alemão, referência do mercado, ficou em 1,96%.

As bolsas de Londres, Paris e Frankfurt caíram 1,11%, 0,44% e 0,85%, respectivamente, enquanto Madri e Milão avançaram 0,48% e 0,23%.

A preocupação com a Europa afetou os papéis do setor financeiro no Brasil. Itaú Unibanco PN (preferencial, sem voto) recuou 1,52%, enquanto Bradesco PN e Banco do Brasil ON (ordinária, com voto) caíram 1,83% e 1,64%, respectivamente. Santander perdeu 3,24%.

- A crise na Europa atinge diretamente a liquidez do sistema financeiro, por isso as ações desse setor reagem fortemente às incertezas - diz João Augusto Salles, analista do setor financeiro da consultoria Lopes Filho.

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), caiu 0,45%, aos 56.731 pontos. Na semana, recuou 3,1%. Já o dólar comercial avançou 0,17%, a R$1,783, fechando a semana com valorização de 2,24%.

Além da Europa, pesaram a queda nos preços de imóveis na China - que afetou exportadoras de matérias-primas - e os os dados sobre geração de emprego no Brasil, que vieram piores do que o esperado. Vale PNA caiu 0,24%, e Gerdau PN, 1,45%. Segundo o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno, o emprego afetou papéis ligados à demanda doméstica. Lojas Americanas PN recuou 2,48%, e Redecard ON caiu 3,19%.

A Petrobras impediu um recuo maior da Bolsa. As ações PN subiram 1,07%, e as ON, 0,85%.

Em Wall Street, houve algum otimismo com a alta de 0,9% do índice do Conference Board que aponta a atividade econômica futura. O Dow Jones teve alta de 0,22%, mas o S&P acabou recuando 0,04%. Nasdaq caiu 0,60%.

Dilma: países ricos têm perspectiva de recessão

A presidente Dilma Rousseff voltou a defender ontem os investimentos para enfrentar a crise. Ao lançar em Salvador o PAC 2 - Mobilidade Grandes Cidades, ela afirmou que "o investimento público é que vai criar a maior blindagem contra a crise econômica".

- Percebemos que os países desenvolvidos passam por uma grave crise, cuja característica maior é o fato de ela levar sistematicamente a um processo recessivo, que eles não contam com perspectivas de crescimento econômico, mas sim de recessão, desemprego e perda de direitos sociais - disse Dilma, garantindo que no Brasil a situação é diferente e que o governo vai continuar "ampliando as políticas sociais".

FONTE: O GLOBO

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