sábado, 31 de dezembro de 2011

Bolsas perdem US$ 6,3 tri com a crise

Com o agravamento da crise europeia, US$ 6,290 trilhões desapareceram das bolsas de valores no mundo em 2011, segundo dados da Bloomberg. As perdas em valor de mercado das ações das empresas em bolsas de 116 países equivalem ao PIB da China.

Uma China a menos nas bolsas

Crise apaga US$6,290 trilhões dos mercados globais, o equivalente ao PIB chinês

Vinicius Neder

A turbulência global nos mercados financeiros, causada principalmente pelo agravamento da crise das dívidas soberanas na Europa, fez desaparecer US$6,290 trilhões das bolsas de valores de todo o mundo em 2011. Este número leva em conta o valor de mercado total das companhias de capital aberto - medida do quanto vale uma empresa na Bolsa. As perdas, na esteira da desvalorização das ações mundo afora, equivalem ao Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos num país) da China, a segunda maior economia do mundo, de acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 2008, quando a quebra do banco americano Lehman Brothers estourou a crise, o montante perdido nas bolsas globais foi maior: US$27,920 trilhões

As contas, feitas na base de dados da agência Bloomberg News, consideram as cotações de quinta-feira, último dado disponível, quando o valor de mercado total das empresas abertas listadas em bolsas de 116 países somava US$45,698 trilhões. No último dia de 2010, o montante era de US$51,988 trilhões - a queda foi de 12,1%.

O último pregão do ano, ontem, alterou pouco o quadro. As bolsas da Europa tiveram altas moderadas: subiram Londres (0,10%), Paris (1,03%), Frankfurt (0,85%) e Milão (1,22%). Nos Estados Unidos, o dia foi de queda nos índices Dow Jones (0,57%), S&P 500 (0,43%) e Nasdaq (0,33%).

Mesmo sem ruptura, crise traz incerteza

O ano foi tão ruim para as bolsas que, entre os 91 principais índices de ações, acompanhados pela Bloomberg News, apenas nove registraram alta anual. Em 2008, apenas um desses índices fechou em alta. Mesmo assim, em 2011, entre as altas anuais, só o Dow Jones (5,5%) é relevante.

Segundo analistas, a crise na zona do euro foi o grande problema do ano, trazendo incertezas sobre o crescimento da economia mundial. A falta de solução para a situação da Grécia e a derrocada de Portugal e Irlanda, também obrigados a pedir ajuda por causa das dívidas, seria o início de um temor que chegaria à Itália e à Espanha.

A disputa política em torno da elevação do teto do endividamento público dos EUA também provocou danos. O rebaixamento do rating americano pela agência de risco Standard & Poor"s (S&P), em 5 de agosto, causou surpresa, mas, diferentemente de 2008, 2011 não viu um evento extremo.

- Este ano não teve ruptura, a crise foi aos poucos. Quando parecia que a coisa entornaria, surgia alguma medida para trazer alívio - analisa o estrategista de varejo da corretora Ágora, José Francisco Cataldo.

Os mercados emergentes se destacam entre as perdas, seja porque suas bolsas estão cada vez maiores - e, portanto, têm perdas igualmente grandes -, seja porque as cotações derreteram neste ano. As bolsas da China lideram o tombo no valor, perdendo US$688 bilhões. O principal índice da Bolsa de Xangai recuou 18,11% em dólar, mas a queda no valor das empresas é grande também pelo peso do mercado chinês, que encerrou o ano com valor de US$3,075 trilhões, mais do que o PIB do Brasil.

Na Europa, o maior mercado é o do Reino Unido, mas o destaque em perdas ficou com a França, onde evaporaram US$361 bilhões do mercado.

No Brasil, segundo a Bloomberg News, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) perdeu US$251,6 bilhões em 2011. Estudo da consultoria Economatica, feito em reais e com cotações do último dia 26, calculou a perda na Bovespa em R$213,6 bilhões, o equivalente ao valor da Vale, segunda empresa mais valiosa da Bolsa.

Mesmo o foco da crise sendo os países desenvolvidos, investidores globais sacam seus recursos dos mercados emergentes. A tsunami no Japão e os levantes populares no Oriente Médio e no Norte da África foram outros eventos negativos de 2011.

- Mas o grande fator negativo foi a crise na zona do euro e a inação das autoridades europeias em resolver o problema - diz o diretor de varejo da Ativa Corretora, Álvaro Bandeira.

Essa inação é classificada por Bandeira e outros analistas de mercado como "risco político", que assusta investidores por causa de sua imprevisibilidade. Embora o temor em relação à atuação dos políticos seguirá no radar em 2012 - haverá eleições na França e nos EUA -, o cenário pode não ser tão ruim para as bolsas.

Na avaliação do economista-chefe da corretora Gradual Investimentos, André Perfeito, as medidas de ajuste na Europa começarão a surtir efeito nos mercados, pois os países não querem "esfacelar sua união monetária".

Segundo o economista, o processo de saída da crise poderá levar anos, provocando até mesmo uma "década perdida" na Europa, mas um plano factível poderá diminuir a instabilidade. O desafio será restaurar a confiança dos investidores.

FONTE: O GLOBO

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