terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Crise europeia ameaça rebaixar até Alemanha

Poucas horas após o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, terem anunciado que chegaram a um acordo para "salvar o euro", a agência de classificação de risco Standard & Poor"s ignorou a decisão e ameaçou rebaixar 15 países do bloco, até A1emanha e França. A S&P, que em agosto rebaixara os EUA, pôs em perspectiva negativa, para possível rebaixamento, a classificação "AAA" das principais potências da região. A agência alegou que aumentou "o estresse sistêmico na zona do euro", devido à contração do crédito, ao elevado endividamento e ao risco de recessão em 2012. Merkel e Sarkozy defenderam um novo tratado para a União Europeia até março, com punições aos países que não cumprirem o equilíbrio das contas públicas. A mudança no tratado poderá incluir os 27 países do bloco ou só os 17 integrantes da área do euro, com os demais aderindo voluntariamente. Também haverá reuniões mensais dos chefes de Estado e de governo durante a crise. Na Itália, o premier Mario Monti defendeu o pacote de € 30 bilhões, chamado "Salve a Itália". Ele alertou que, se nada for feito, o país pode sofrer colapso semelhante ao da Grécia, ameaçando a existência do euro

Risco em alta na zona do euro

Standard & Poor"s diz que pode rebaixar nota de 15 países da região. Alemanha e França podem perder "AAA"

Bruno Villas Bôas*

Às vésperas de uma cúpula que visa a atacar na raiz os problemas da crise da dívida, a agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P) colocou em perspectiva negativa, para um possível reabaixamento, a nota de 15 países do bloco - inclusive os "AAA", como Alemanha, França e Holanda. Só ficaram fora a Grécia, que tem a pior nota na região, e Chipre, que já estava sob revisão para rebaixamento. A nota é usada para orientar investidores sobre o grau de risco de títulos postos à venda no mercado. Quanto mais baixa a nota, mais altos os juros exigidos pelos investidores para comprar os papéis. O anúncio foi feito horas depois de o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, informarem que chegaram a um acordo para o novo tratado para a União Europeia (UE) e salvar o euro.

O comunicado da S&P afirma que a decisão se deveu à observação de que "o estresse sistêmico na zona do euro aumentou nas últimas semanas". Segundo a agência, esse estresse se deve ao aperto do crédito na região; à alta do retorno sobre os bônus soberanos (inversamente proporcional à procura dos investidores); à falta de acordo entre os líderes europeus sobre medidas contra a crise; ao elevado endividamento dos países da região; e ao elevado risco de uma recessão na zona do euro em 2012. A S&P disse que a revisão terminará depois da reunião de cúpula da União Europeia (UE) na sexta-feira. E informou que o rating de Alemanha, Áustria, Bélgica, Finlândia, Holanda e Luxemburgo pode ser reduzido em um grau. O dos demais países, em dois.

Depois da divulgação do comunicado da S&P, Alemanha e França soltaram uma nota conjunta reforçando que tomarão "todas as medidas necessárias, junto a seus parceiros e às instituições europeias, para assegurar a estabilidade da zona do euro".

França diz que não haverá 3º pacote

A mesma S&P foi responsável pelo histórico rebaixamento dos Estados Unidos, em agosto deste ano, de "AAA" para "AA+". A possibilidade de as grandes economias da zona do euro terem a nota reduzida fez o colunista James Mackintosh, do "Financial Times", afirmar que o "AA+" é o novo "pretinho básico". "Para os investidores, isso (o rebaixamento) será uma declaração do óbvio: não há mais qualquer ativo livre de risco na zona do euro".

A França já vinha enfrentando rumores de que perderia sua classificação "AAA". No início de novembro, um erro interno da S&P fez circular a informação de que o país teria sido rebaixado, o que foi rapidamente corrigido. E outra agência de classificação, a Moody"s, alertou no mês passado que o país pode ser colocado em revisão devido a seu elevado endividamento.

Mas o ministro de Finanças francês, François Baroin, disse ao canal France 3 que o alerta da S&P não levará o governo a decretar um terceiro plano de austeridade.

- Temos margem para uma eventual desaceleração econômica - afirmou Baroin. - Tudo foi feito para proteger os franceses e suas economias. Tudo foi feito para permitir que os bancos mantenham a irrigação da atividade econômica.

Já a Bélgica, que fora rebaixada no mês passado devido a seu impasse político - o país ficou quase 19 meses sem governo - nomeou ontem Elio di Rupo como novo primeiro-ministro.

A notícia, só divulgada oficialmente após o fechamento do mercado americano, foi antecipada pelo jornal britânico "Financial Times", que afirmou em seu site, citando fontes, que a S&P pretendia revisar a nota de seis países da zona do euro com rating "AAA". Com isso, acabou pesando no fim dos negócios na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e em Wall Street. O impacto, porém, foi limitado, já que ainda não havia confirmação oficial.

O Ibovespa, índice de referência do mercado brasileiro, fechou em alta de 1,77%, aos 58.910 pontos, após chegar a avançar 2,35% no fim da tarde. O dólar comercial, que caminhava para uma leve queda no pregão, fechou em alta de 0,22%, a R$1,792, interrompendo uma sequência de seis quedas seguidas.

Analista alerta para semana volátil

Em Wall Street, o Dow Jones fechou em alta de 0,65%, após chegar a subir 1,39% antes da publicação da notícia pelo "Financial Times". O Nasdaq encerrou em alta de 1,10%, também abaixo da máxima do dia.

- A S&P pode assustar os mercados, mas não acredito que veremos alguma ação política apenas por causa da opinião de uma agência de rating - disse à Bloomberg News Guy LeBas, diretor de Estratégia da corretora Janney Montgomery Scott, antes do anúncio da S&P.

Segundo analistas, os mercados abriram em alta no mundo inteiro após a divulgação do plano de austeridade de 30 bilhões do primeiro-ministro italiano, Mario Monti. Os ganhos se aceleraram no meio da tarde, com a reunião entre Merkel e Sarkoky, sobre o novo tratado para a zona do euro até março. Nesse clima, os mercados europeus fecharam em alta: Londres (0,28%), Paris (1,12%), Frankfurt (0,42%) e Madri (1,72%). O maior avanço, de 2,91%, foi registrado na Bolsa de Milão.

Segundo Álvaro Bandeira, diretor de Varejo da Ativa Corretora, a reação dos mercados ao encontro dos dois líderes mostra a importância da cúpula europeia para o mercado internacional.

- Vai ser uma semana de muita volatilidade e crucial, com muitas notícias importantes para o mercado na Europa - disse Bandeira.

Dos 68 papéis que compõem o Ibovespa, apenas oito fecharam em baixa ontem. O destaque ficou novamente para as ações da LLX Logística, empresa do grupo EBX, de Eike Batista. As ações avançaram 10,06%, cotadas a R$3,61, após a empresa anunciar um acordo com a americana InterMoor para instalação de um centro de apoio e prestação de serviços à indústria de óleo e gás no Porto do Açu (RJ).

Os ganhos do pregão foram sustentados, no entanto, principalmente por ações da Petrobras e da Vale, que têm importante peso no Ibovespa. Os papéis Vale PNA (preferenciais, sem voto) fecharam em alta de 1,48%, a R$40,50. As ações Petrobras PN subiram 1,95%, a R$22,97.

(*) Com agências internacionais

FONTE: O GLOBO

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