quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

DEM e PPS tentam coser com as próprias linhas:: Raquel Ulhôa

A quase três anos das eleições presidenciais, é cedo para que os partidos assumam seus lugares na disputa. Mas não custa nada prestar atenção na movimentação atual.

Nesta semana, na terça-feira, convenção nacional do Democratas reelegeu o senador José Agripino (RN) para presidir o partido até dezembro de 2014. E praticamente lançou o líder no Senado, Demóstenes Torres (GO), pré-candidato ao Palácio do Planalto.

Nesse fim de semana, a partir de sexta-feira, o PPS vai realizar seu 17º congresso, em São Paulo. Uma das propostas submetidas pelo comando da sigla à deliberação é que o partido se prepare para apresentar uma alternativa à Presidência da República em 2014.

Siglas de oposição em fase de autoafirmação

A despeito das diferenças de tamanho e postura política, DEM e PPS avaliam se o melhor caminho para a sobrevivência é deixar de ser escada para o PSDB nas campanhas eleitorais.

"Não sei o que os outros partidos de oposição estão pensando. Nós estamos pensando em nos cosermos com as nossas próprias linhas. Nós temos que construir o nosso projeto. Temos afinidades, mas só caminharemos juntos se tivermos conveniências político-partidárias. Senão, eles fazem o caminho deles e nós fazemos o nosso", diz Agripino.

O DEM foi o partido que perdeu mais filiados para o PSD do prefeito Gilberto Kassab (São Paulo): um dos dois governadores - o de Santa Catarina, Raimundo Colombo -, a senadora Kátia Abreu (TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), e 17 dos 44 deputados federais.

O processo causou fissuras na relação com o PSDB, porque os integrantes do Democratas acreditam que governadores tucanos, principalmente Marconi Perillo (GO) e Beto Richa (PR), nada fizeram para impedir (ou até mesmo estimularam) a ida de deputados do DEM para o PSD. Os integrantes do partido se ressentem do papel secundário que sempre tiveram na aliança com os tucanos, que vem desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso para presidente, com Marco Maciel (que continua no partido) como vice.

"O Democratas está mais independente do PSDB, em função das lições deixadas pelo processo de migração de parlamentares nossos nos diversos Estados", afirma o presidente do DEM. Segundo ele, o momento é de "fortalecimento individual" da sigla.

Se o desempenho da legenda em 2012 for pífio, há quem aposte na extinção. A tendência, dizem, é que parte dos integrantes do DEM iria para o PSDB e outra, para o PMDB. Atualmente, o DEM não tem prefeito de capital. O único candidato do partido com chances reais de vitória, em capitais, é João Alves, em Aracaju. Agripino diz que a legenda vai eleger mais de um prefeito de capital e "vários" de cidades importantes.

Hoje o nome do DEM mais citado para uma eventual candidatura presidencial em 2014 é o líder no Senado, Demóstenes Torres (GO). Nas palavras de representantes da juventude do partido, ele seria uma espécie de "Marina da direita", numa referência à ex-ministra Marina Silva, que obteve 19% dos votos na eleição presidencial de 2010.

Demóstenes prega a tese da candidatura própria. "Somos o partido mais liberal e conservador do Brasil. Devemos nos preparar para ter candidato próprio a presidente, governadores e prefeitos nas próximas eleições", disse no encontro do partido.

No caso do PPS, o presidente nacional, deputado Roberto Freire (PE), defende que o partido retome uma certa tradição de apresentar candidato próprio ao Planalto, desde os tempos de PCB. Em 1989, o próprio Freire disputou. Em 1994, o PPS acabou apoiando Luiz Inácio Lula da Silva. Em 1998 e 2002, o candidato do PPS foi Ciro Gomes.

Em 2006, a legenda apoiou Geraldo Alckmin (PSDB), mas sem coligação formal. Em 2010, a aliança foi com José Serra (PSDB), muito mais pelo projeto do candidato - então considerado pelo PPS como a melhor opção para o país -, do que pelo PSDB.

Apesar de sua ligação com Serra, Freire nega que a discussão de candidatura própria tenha relação com o fato de até agora o favorito no PSDB ser o senador Aécio Neves (MG). Ao contrário. O dirigente do PPS acha que o mineiro hoje "talvez seja o mais forte no campo da oposição, por conta da trajetória pessoal e do próprio PSDB". Apesar disso, ele defende que o PPS se prepare para ser uma "alternativa política" em 2014.

Para os tucanos, uma eventual candidatura de Demóstenes, ou outro integrante do Democratas, no primeiro turno das eleições presidenciais teria um lado positivo. O nome do DEM é que seria visto como o candidato de direita e não o do PSDB. E no segundo turno, todos estariam juntos.

A maior preocupação, no entanto, seria a perda do tempo de televisão do aliado, já que, em termos de base eleitoral, o DEM não teria tanto a acrescentar, dependendo do resultado das urnas em 2012. Especialmente se o governo do PT estiver forte e sua base unida em torno de um nome, a candidatura das oposições precisará de maior tempo no rádio e na televisão para sua campanha.

"É provável que os dois partidos tenham candidato à Presidência da República, mas é muito cedo para trabalhar com essa hipótese. Até lá, no meio do tempo, tem as eleições municipais. Ninguém sabe o tamanho e a forma que vai ficar a base do governo", diz o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).

O cenário partidário pós 2012 poderá reunir as siglas da oposição no mesmo balaio, em torno de uma candidatura tucana. Mas, para recompor a corda de caranguejo, os aliados esperam que o PSDB apresente um projeto eleitoral que lhes dê expectativa de poder. Até lá, cada um por si. Enquanto isso, a aliança continuará na ação parlamentar de oposição ao governo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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