sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Medidas trazem alívio à inflação a curto prazo, dizem economistas

Mas analistas alertam para o aquecimento excessivo no próximo ano

Bruno Rosa

As medidas anunciadas ontem pelo governo podem trazer alívio à inflação a curto prazo, dizem economistas. Porém, a previsão é que, com o aquecimento do consumo influenciado pela redução tributária, pode haver pressão nos preços já no primeiro trimestre de 2012.

Segundo Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a tendência parece ser de repasse imediato das quedas para os preços, já que a demanda não está tão forte e há certa ociosidade na indústria. Além disso, o impacto da queda nos preços dos eletrodomésticos com menos impostos será ainda maior. Os bens duráveis ganharam peso no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, que é referência para a meta de inflação do governo.:

- Mas ao longo de 2012, dependendo da retomada da economia, pode começar a ter alguma reversão (nos preços). As medidas estão de acordo com um momento de crise profunda, como em 2008. Ainda não estamos nessa situação. A decisão mostra uma preocupação muito clara do governo em manter o crescimento elevado no ano que vem de qualquer maneira.

Samy Dana, professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), tem a mesma avaliação de Vale. Ele acredita que, apesar do alívio a curto prazo, os preços vão subir no início de 2012:

- O que me preocupa é a falta de investimento em capacidade produtiva e em infraestrutura. Hoje, o uso da capacidade está na faixa dos 80%. A indústria tem de ter essa margem.

Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-RJ, lembra que ainda é cedo para saber qual será o reflexo exato na inflação. Segundo ele, como são poucos itens, não se pode esperar alterações significativas no índice.

- O mais importante é observar que a medida do governo é um sinal claro de preocupação com a atividade do país.

Para economista, pressão na inflação será maior em 2013

Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências, lembra que, apesar da redução do IPI e do PIS/Cofins, a inflação já tem pressão suficiente.

- Com o aquecimento do consumo, através dessas ações de estímulo, aumentam os riscos de o governo não conseguir atingir o centro da meta da inflação em 2012, de 4,5%. Em janeiro, entra em vigor o novo salário mínimo (alta de 14,26%), que dará impulso ao consumo .

João Sicsú, professor do Instituto de Economia da UFRJ, acredita que a alta do salário mínimo não terá efeito na inflação. Ele lembra que os preços permaneceram sob controle mesmo com a valorização real de quase 60% do mínimo nos últimos oito anos. Já Sergio Vale, da MB Associados, diz que a inflação vai avançar em 2013:

- A ideia que me parece é que se exagerou nas medidas para desacelerar a economia no início do ano, e agora vem uma crise forte. Então, seria hora de reestimular a economia. Novamente o governo se antecipa a uma crise que ainda não aconteceu. E, se acontecer, a recessão será profunda. De um jeito ou de outro o governo está montando um 2013 explosivo, com expansão forte e inflação elevada.

FONTE: O GLOBO

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