quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Parecer aponta omissão da Caixa em fraude

Relatório sobre apagão, que pode gerar perda de R$ 1 bi, acirra disputa entre PT e PMDB no comando do banco

Investigação interna aponta que problema no sistema perdurou por mais de um ano por culpa de área do PMDB

Natuza Nery, Dimmi Amora e Rubens Valente

BRASÍLIA - O relatório de investigação interna da Caixa Econômica Federal para apurar as causas de um apagão entre 2008 e 2009 em seu sistema apontou falhas gerenciais e "conduta omissiva" no banco.

As conclusões dessa apuração foram o estopim para azedar de vez o clima entre as alas do PT e do PMDB que estão no comando da Caixa.

O apagão, como a Folha revelou no domingo, permitiu que uma empresa do Rio vendesse contratos de baixo ou nenhum valor por valores acima dos de mercado.

À Caixa cabia zelar pelo registro de dívidas que esses papéis mantinham junto à União. Mas os papéis acabaram vendidos sem as dívidas, o que projeta um dano aos cofres públicos porque é o governo que os garante.

O problema nos computadores atingiu R$ 1 bilhão em papéis, segundo a auditoria interna feita pela Caixa entre julho e outubro de 2011.

A reportagem teve acesso ao relatório e a comunicações posteriores à conclusão da investigação, que foi pedida pelo presidente da Caixa, Jorge Hereda, indicado pelo PT.

O resultado da auditoria opôs o PT de Hereda ao PMDB do vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias do banco, Fábio Cleto, e do atual ministro Moreira Franco (Assuntos Estratégicos), que, à época do problema, era o titular de Loterias da Caixa.

Culpa no PMDB

A investigação apontou que a culpa maior pelo problema foi de uma empresa terceirizada, mas também atribui papel relevante, embora "com atenuantes", à área de gestão do banco.

O relatório descreveu um erro "culposo" (sem intenção) da terceirizada TI Stefanini. A companhia fora contratada pela Vice-Presidência de Tecnologia da Informação da Caixa, à época comandada por um grupo do PT.

Mas a auditoria relatou que o problema perdurou porque a Gerência de Fundos de Governo não tinha controle sobre o que era produzido.

O documento disse que a Caixa não tinha "ferramentas de controle gerencial confiáveis". A gerência é área sob controle do PMDB.

Sobre os gestores, que não foram nomeados, o relatório interno afirmou que "houve falha no controle e na conferência dos dados", o que "concorreu para que o sistema fosse processado por quase um ano sem que o problema fosse detectado".

Culpa no PT

Depois de receber os resultados, Fábio Cleto contestou as conclusões. Ou seja, no entender de setores do PMDB, a auditoria responsabilizou mais a área peemedebista do que um setor loteado ao PT.

Ao ler o relatório, Cleto classificou-o de "limitado" e apontou seis deficiências no trabalho, segundo um informe assinado por ele.

O vice-presidente de Loterias reclamou que a apuração tenha silenciado sobre a comunicação feita pela Postalis, também sob controle do PMDB -foi o fundo de pensão dos Correios que notificou a Caixa dos problemas no sistema.

Para Cleto, a comissão de apuração não poderia ter dito que o erro da terceirizada não fora intencional.

Defesa 

As críticas ao relatório geraram uma resposta do comando da Caixa, que defendeu o resultado.

O banco afirmou que outros aspectos do caso já estavam sendo investigados pela Polícia Federal e pela própria área sob o comando de Cleto, cobrando-lhe, inclusive, rapidez na conclusão.

A revelação do caso pela Folha levou o Palácio do Planalto a tentar apaziguar a crise, temendo um racha entre os dois principais partidos de sua base aliada e a instalação de uma CPI no Congresso.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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