quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

PIB estagnado - Consumo de famílias cai e economia para de crescer

Bancos e consultorias reduzem estimativa de expansão brasileira este ano

A economia brasileira teve crescimento zero - ficou estagnada de julho a setembro em relação ao segundo trimestre. O desempenho pífio do Produto Interno Bruto (PIB) foi puxado pela queda na indústria e em serviços. Só a agropecuária se expandiu. Pela primeira vez desde o fim de 2008, no auge da crise global, o consumo das famílias recuou. Os gastos de governo e investimento encolheram. Para os analistas, o PIB fraco é resultado da alta de juros e das medidas de restrição ao consumo adotadas até o início deste ano, quando o governo tentava segurar a inflação na meta. Com a gravidade da crise, foi preciso mudar o enfoque e fazer o país pisar no acelerador com o pacote lançado semana passada. O Brasil cresceu menos que outros emergentes, como China, Índia, Rússia e África do Sul. Bancos e consultorias reduziram previsões e apostam que o PIB crescerá menos de 3% em 2011.

O dia em que o PIB parou

Economia ficou estagnada com o consumo das famílias e serviços em queda

Fabiana Ribeiro, Mariana Durão, Clarice Spitz e Henrique Gomes Batista

A economia brasileira parou no terceiro trimestre deste ano. De julho a setembro, a variação do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) foi zero, ante os três meses imediatamente anteriores - o pior resultado desde o primeiro trimestre de 2009 (-1,7%). A parada brusca veio como consequência das medidas para conter crédito implementadas em fins de 2010 e da política de juros altos para desaquecer a economia e combater a inflação - que vinha com projeções acima do teto da meta (de 6,5%). Esses fatores, somados ao agravamento da crise global, esfriaram a economia brasileira e analistas já estão reduzindo as estimativas para o PIB em 2011, ficando abaixo de 3%. Caíram os investimentos, os gastos do governo e até o consumo da famílias - até agora o principal motor da atividade. Com isso, o resultado acumulado no ano é de 3,2% e ainda se manteve em alta quando se compara com o terceiro trimestre de 2010: 2,1%. O PIB brasileiro somou R$1,047 trilhão no período. No início de dezembro, o governo soltou um pacote de medidas para voltar a aquecer a atividade.

- A economia toda desacelerou com as medidas do governo e juros altos. O PIB só não ficou negativo pelo crescimento líquido das exportações - disse Rebeca Palis, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, referindo-se às exportações que subiram 1,8% enquanto as importações caíram 0,4%.

A conta da crise pode não ter chegado às exportações - mas atingiu os investimentos. Segundo Armando Castelar, economista da FGV, o cenário internacional piorou as expectativas do empresariado, o que afetou a disposição de investir. Além disso, afirmou, a crise já afeta linhas de crédito no exterior, encarecendo o financiamento para as empresas. A taxa de investimento saiu de 20,5% para 20% do PIB.

Segundo Rebeca, houve uma mudança no comportamento da economia, que vinha sendo sustentada pelos serviços e consumo:

- Comércio e transportes (no setor de serviços) foram influenciados pela queda na indústria de transformação e cresceram abaixo da média. Pela parte da demanda, os investimentos e consumo estavam crescendo, agora caem.

Sem exportações, PIB seria negativo

Pela ótica da demanda, o consumo da famílias recuou 0,1% ante o segundo trimestre, num movimento que não acontecia desde o quarto trimestre de 2008 (-1,9%) - quando a crise financeira global chegou com força ao Brasil. Contudo, esses gastos ainda estão 2,8% acima do que se viu em igual período de 2010, registrando o 32º crescimento trimestral consecutivo. Além do crédito mais limitado, as famílias tiveram seus salários corroídos pela inflação mais alta e menor crescimento do emprego nos últimos meses. A massa salarial se elevou 2,6% no terceiro trimestre, desacelerando frente aos 6,5% de abril a junho.

- A economia rodaria a 7% se não fossem as medidas do governo e isso geraria pressões inflacionárias ainda mais fortes. A crise deu o tom de incerteza - disse Carlos Thadeu de Freitas, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

A retração do consumo observada pelo IBGE se nota no orçamento de Mariana Vazquez. A profissional de RH já não consome como antes, e sua palavra de ordem é economizar para ter a casa própria:

- Roupas, celular, acessórios, nada mais. Cortei os gastos. Só compro mesmo o essencial - disse.

Com o recuo das despesas do governo (-0,7%) e do investimento (-0,2%), a demanda doméstica contribuiu negativamente com 0,23% para o PIB, o pior resultado desde os -0,8% do primeiro trimestre de 2009. Já o setor externo contribuiu com 0,25% para o PIB, com as exportações superando as importações de julho a setembro. Ou seja, se não fossem as exportações mais fortes, o PIB teria caído 0,2%.

A agropecuária, pela ótica da produção, foi a única atividade que avançou, de 3,2% em relação ao segundo trimestre. Já a indústria recuou 0,9% e acabou afetando o resultado dos serviços, que recuou 0,3%.

Apesar do resultado dentro das expectativas, as consultorias estão revisando para baixo as projeções, diante do fraco desemprego da demanda doméstica. Para fechar o ano crescendo os 3,8% até então ambicionados pelo governo, o país teria que crescer 4% no último trimestre frente ao anterior, calcula Luis Otavio Leal, economista do banco ABC Brasil. Ele avalia que o terceiro trimestre foi o fundo do poço.

Em 2012, as projeções são de que a economia crescerá em torno de 3,5%, com mais força no segundo semestre. É nessa época que o pacote de estímulos e as reduções da Selic iniciadas em agosto de 2011 surtirão efeito maior.

Eduardo Velho, da Prosper Corretora, diz que o resultado dá mais fôlego a maiores reduções da taxa Selic:

- O PIB pode repercutir nas apostas de maior flexibilização monetária em 2012, com taxa de 9% ao ano.

O IBGE divulgou uma série de revisões, como sempre ocorre com os dados do terceiro trimestre. O PIB do segundo trimestre cresceu 0,7% e não 0,8% em relação ao trimestre ao anterior. De janeiro a março de 2011, a alta passou de 1,2% para 0,8%. O PIB de 2010 foi mantido em 7,5%.

FONTE: O GLOBO

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