sábado, 3 de dezembro de 2011

PT dividido sobre resoluções com crítica a FH

Sigla encerra reunião do Diretório Nacional sem lançar documento, que na versão original chamava PSDB de "nau sem rumo"

Tatiana Farah

BELO HORIZONTE. Sem consenso, o PT encerrou ontem sua reunião do Diretório Nacional sem lançar o tradicional documento com resoluções do partido. O texto, que fala da conjuntura nacional e da crise internacional, deverá ser reeditado e aprovado só no próximo encontro da Executiva, no dia 12, em São Paulo. O destaque dado ao PSDB, a quem chamou de "nau sem rumo" no documento preliminar, foi um dos motivos de polêmica. Um grupo queria que o documento tivesse início com críticas ao ex-presidente Fernando Henrique, mas outros queriam que começasse com a análise da conjuntura econômica.

O vazamento do texto preliminar irritou o presidente do PT, deputado Rui Falcão (SP), que ontem reclamou com os dirigentes. No documento preliminar, o PT abria sua análise de conjuntura, logo no primeiro parágrafo, citando Fernando Henrique, com sua declaração feita durante uma palestra na Argentina de que o futuro tucano é uma incógnita.

"Ao reconhecer com sinceridade proverbial que é mais fácil falar do futuro do euro do que do PSDB, o guru dos tucanos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, diagnosticou uma parte visível da crise mundial do sistema capitalista e, ao mesmo tempo, jogou ao mar a nau sem rumo em que se converteu o principal partido conservador de oposição", dizia o texto petista.

Fontes ouvidas pelo GLOBO informaram que o destaque dado à declaração foi contestado por alguns dirigentes, e que o texto final seria refeito também com outras mudanças, que tratam da análise sobre as medidas econômicas brasileiras, em contraposição ao que foi adotado na Europa. Os petistas querem deixar claro que apoiam as decisões tomadas pelo governo na área, como a diminuição da taxa de juros e as medidas de estímulo ao consumo e à produção.

Outro ponto que deverá constar no documento ainda a ser finalizado é a crítica à política e à economia internacionais, notadamente a europeia. O PT deve dizer que a origem da crise está na desregulação do sistema financeiro, e que isso foi agravado porque os governos europeus mantiveram a "política neoliberal".

Pontuada nos discursos, a crise com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), não deverá estar nas resoluções do partido. O documento deve voltar a falar em "novo marco regulatório" da mídia, mas, desta vez, na linha que os petistas têm adotado recentemente, de defender a medida para regular o ingresso das teles no setor.

Realizado na cidade onde o PT tem seu maior dilema para 2012, o encontro do Diretório Nacional tratou do mapa das eleições municipais. O partido já traçou um esboço da disputa em 118 cidades (entre capitais e municípios com mais de 150 mil eleitores) e quer adiantar a política de alianças, definindo os quadros até 15 de janeiro. A medida afeta diretamente Belo Horizonte, onde o vice-prefeito petista, Roberto Carvalho, está rompido com o prefeito Márcio Lacerda (PSB) e quer lançar candidatura própria.

Falcão reuniu-se ontem de manhã com Lacerda. Os dirigentes petistas querem reeditar a coligação de 2008, que teve o apoio informal do PSDB, mas agora ampliando com o PMDB. Lacerda admitiu que há possibilidade de diálogo com os peemedebistas, mas disse que não abrirá mão do apoio formal do PSDB. Segundo o prefeito, os tucanos foram convidados diretamente pelo presidente do partido, o governador Eduardo Campos (PE).

Vice-prefeito irredutível sobre candidatura própria

Diferentemente do que ocorreu no encontro do diretório no Rio, onde se fechou a aliança em torno do prefeito Eduardo Paes (PMDB), o PT deixou Belo Horizonte com mais problemas do que soluções. Embora sem o apoio das lideranças nacionais, o vice-prefeito Carvalho se mostra irredutível na decisão de uma candidatura própria. Por sua vez, os apoiadores da coligação, que têm se mantido em silêncio, foram criticados pelos dirigentes nacionais e estão sendo pressionados a apresentar a proposta de aliança com o PSB até o mês que vem.

FONTE: O GLOBO

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