terça-feira, 15 de março de 2011

Reflexão do dia – Luiz Werneck Vianna

Partidos de extração moderna, como o PSDB e o PT, originariamente contestadores do patrimonialismo e de suas práticas a fim de realizar suas aspirações de poder, se associam à personagens do atraso político e social em nome de ampliar suas coalizões e da governabilidade. Nessa batida, o pragmatismo arrisca se desprender dos limites de uma ética de responsabilidade para se acanhar em uma política que sequer cogita da sua justificação, uma vez que adotou como seu o rumo que lhe é indicado pelo regime dos ventos. Sem a animação que os partidos poderiam emprestar à política, afora a cenografia dedicada à contemplação dos que se encontram à margem dos círculos do poder, ela se curva, diante de uma sociedade imobilizada politicamente, ao domínio da razão tecnocrática e ao pragmatismo instrumental.

WERNECK VIANNA, Luiz. A política e seus sinais. Valor Econômico, 14/3/2011.

Cuidado com a contrarreforma :: José Serra

Pouco tempo depois de promulgada a Constituição de 1988, que se desenhou num ambiente francamente favorável ao parlamentarismo e acabou, por vicissitudes várias, presidencialista, teve início o debate da reforma política. Eu mesmo, na liderança do PSDB na Câmara Federal, contribuí para dar impulso ao assunto. Volta e meia, com mais ênfase nos meses que se seguem à eleição presidencial, o tema ganha o noticiário, e, então, prometem as lideranças dos mais diversos partidos: "Agora vai; faremos a reforma." E a promessa acaba sempre desmoralizada pelos fatos. Trata-se de uma tarefa bem mais complexa do que parece, e a situação se mostra ideal para o exercício da facilidade na dificuldade - ou, como queria o jornalista americano H. L. Mencken, apresentam-se soluções simples e erradas para problemas complexos.

Desde logo, devemos nos perguntar: "Reforma política para quê?" Ou bem estabelecemos o seu objetivo, ou a proposta se perde numa espécie de fetichismo da mudança: "Temos de mudar porque temos de mudar." Esse certamente é um mau caminho.

Entendo que uma reforma política deva atender a três demandas principais, que concorrem para o aprimoramento da democracia: 1) é preciso tornar as eleições mais baratas; 2) é preciso fortalecer os partidos políticos; 3) é preciso aproximar o eleitor do eleito, reforçando a representatividade. Infelizmente, o chamado sistema proporcional, que temos hoje, eleva o custo da disputa a níveis estratosféricos, permite que aventuras personalistas se sobreponham à identidade partidária e obstaculiza a necessária proximidade entre representante e representado. Estou, pois, entre os que consideram que a mudança é necessária, mas, como se nota, ela há de ter propósitos muito definidos.

Entre as propostas em exame, a pior de todas é o chamado "distritão": os estados seriam considerados grandes distritos em que se elegeriam os parlamentares com mais votos, sem levar em consideração o quociente eleitoral obtido pelos partidos. Ora, essa alternativa concentraria todos os vícios do modelo que temos hoje, eliminando a sua única virtude:

- O custo das eleições aumentaria ainda mais, pois o candidato continuaria a disputar votos numa base territorial imensa e não contaria com os votos da sua legenda;

- Haveria uma espécie de "celebrização" do processo político; mais do que hoje, pessoas sem qualquer vivência partidária poderiam usar a sua popularidade como trampolim para a política;

- Os votos seriam dos candidatos, não dos partidos, enfraquecendo, pois, as legendas;

- O divórcio entre representante e representado, a que assistimos hoje, se manteria inalterado;

- A maior virtude do sistema proporcional, que distribui as cadeiras segundo o peso de cada partido, se perderia.

O distritão, pois, significaria, na verdade uma contrarreforma eleitoral; em vez de o sistema político progredir, ele regrediria. Trata-se de uma proposta reacionária, que faz a democracia andar para trás. E é preciso avançar. Mas como?

Se a reforma política pecou até agora pela inação, não será a precipitação a melhor conselheira. Podemos fazer desse debate e do processo de mudança um instrumento de educação política. Estou convicto, e há exemplos mundo afora que endossam essa percepção, de que o voto distrital realizaria todos os propósitos virtuosos de uma reforma. Com ele, saberíamos, então, por que mudar, com que propósito: os parlamentares disputariam votos numa base territorial definida, bem menor do que aquela do atual sistema, e isso baratearia a eleição; os candidatos de cada distrito seriam definidos pelos partidos, o que concorreria para fortalecer as legendas; os eleitores de cada distrito eleitoral saberiam o nome do "seu" parlamentar, mantendo com ele uma proximidade hoje inexistente.

Não quero eu também ficar aqui a oferecer facilidades para problemas difíceis. Sei que a introdução do voto distrital significaria uma mudança de cultura política que não se faz da noite para o dia, daí, então, o sentido desta proposta, que apela ao processo de educação política. Haverá eleições municipais no ano que vem. Temos a chance de introduzir o voto distrital para a escolha de vereadores nos 80 municípios brasileiros com mais de 200 mil eleitores. Essas cidades somam hoje, aproximadamente, 47 milhões de eleitores - algo em torno de 38% do eleitorado brasileiro. Seriam verdadeiros agentes de uma nova política.

Essas cidades seriam divididas em distritos; os partidos apresentariam seus candidatos a vereador; naquela área restrita em que buscarão votos, travarão uma espécie de minidisputa majoritária, estreitando os laços entre representante e representado. Distritos eleitorais seriam definidos levando-se em conta, claro, o peso do eleitorado.

Não se trata de uma mudança fácil, mas de uma mudança correta, que tem o claro propósito de aprimorar a representação e o processo democrático. Na eleição municipal de 2012 seria introduzida uma espécie de vírus benigno, que levaria a uma transformação virtuosa do processo eleitoral nos estados e na Federação, em pleitos futuros. A reforma eleitoral ganharia, assim, a característica de um processo de educação política, até se realizar com a plena consolidação do voto distrital no Brasil.

Não precisamos mudar por mudar. A reforma política, se vier, há de atender aos primados da democracia, não às conveniências dessas ou daquelas forças políticas circunstancialmente majoritárias. Afinal, queremos um país que, em vez de referendar os erros do passado, responda às demandas do futuro.

JOSÉ SERRA foi deputado federal, senador, prefeito e governador do Estado de São Paulo, pelo PSDB.
FONTE: O GLOBO

Começar de novo:: Merval Pereira

A nova Executiva do Democratas que deve ser eleita hoje por aclamação, acomodando todos os setores do partido, pode ser um estímulo para que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, a principal estrela política do partido, permaneça nele, desistindo do projeto de criar um novo partido a partir de seu grupo político paulista.

Há esperança por parte da cúpula partidária, e há uma cautela por parte de Kassab, que decide seu destino amanhã em conversa com liderança do DEM.

São todos amigos, o desconforto que Kassab sentia já foi pelo menos reduzido com a saída da presidência de Rodrigo Maia e a escolha do senador Agripino Maia como candidato de consenso para substituí-lo.

- Não é fácil ficar- comenta Kassab - mas sempre foram meus conselheiros, meus amigos, e acertaram comigo muito mais do que erraram.

Talvez até Kassab esteja presente na reunião da Executiva, hoje em Brasília. Ele garante que, se sair, será para fazer um partido novo, e não um trampolim para uma fusão com o PSB ou outro partido qualquer, embora essa possibilidade não seja descartada.

A questão é como sair do partido oposicionista para integrar a base governista assim, da noite para o dia, sem uma explicação de fundo. O senador Agripino Maia pretende mantê-lo no partido com um discurso que deixará bem claro que o único partido liberal deste país é o Democratas, "que é um partido de oposição. E ninguém fica na oposição por interesse, fica por posição, por discurso. Se tiver convicção, sobrevive e até cresce na oposição".

Agripino Maia acha que "já que conseguimos colocar na Executiva as diversas correntes do partido, o que interessa agora é evitar que alguns saiam, como o Kassab, e essa chance ainda existe".

Afif Domingos o acompanhará, mas não quer sair; Claudio Lembo não quer sair e pode não acompanhar; o deputado Rodrigo Garcia já decidiu não sair.

Impasses regionais serão superados, aposta Agripino Maia. Ele desenvolve um raciocínio com que o qual pretende desestimular a saída do prefeito de São Paulo: a classe média paulista é muito forte e, quando o paulista elegeu Kassab, ele não era conhecido. Quem votou nele votou contra o PT, contra Marta Suplicy, votou naquele nicho que José Serra ocupava e que lhe transferiu. Na hora em que Kassab se travestir de governista, não terá os votos majoritários de um lado nem de outro.

Maia hoje proporá ao partido fazer de suas convicções seu carro-chefe. "Quanta gente no Brasil não quer um Estado inchado, não quer ver a infraestrutura feita, e aceita que seja com capital privado, para ter aeroporto, estrada, porto, como muitos países fizeram. Brigar contra a alta carga tributária é brigar pela competitividade do país".

Ele rejeita a idéia de que o partido seja de direita, mas o classifica, sim, de "um partido moderno", e cita países da América do Sul que são dirigidos por partidos semelhantes, como Chile, Peru e Colômbia.

Ele pretende fazer diretórios em todos os municípios do Brasil, apresentar candidatos a prefeito na maior parte deles, fazer a massificação das ideias liberais do partido, não apenas durante as campanhas eleitorais. "Temos que colocar em prática nossas ideias".

Na avaliação da cúpula do DEM, a união do PSB com o provável PDB (Partido da Democracia Brasileira) de Kassab já está incomodando tanto o PT quanto o PMDB.

E não vai esvaziar tanto o DEM quanto se temia, pois, por essa avaliação, a debandada foi evitada no momento em que foi feito o acordo da Executiva.

Kassab se recusa a ver um eventual partido que crie como uma janela para os políticos insatisfeitos em seus partidos, como PV, PP, PMN, PR e PTB, que podem sofrer sangrias com o surgimento desse novo partido.

No entanto, a imagem política do prefeito poderá sofrer com uma mudança brusca da oposição para a base governista, o que o estaria fazendo avaliar melhor seu próximo passo.

De qualquer maneira, um primeiro embate foi pelo menos adiado, com a decisão de não ocorrer a fusão partidária imediata. O deputado federal Gabriel Chalita, o segundo mais votado de São Paulo - atrás apenas do Tiririca - continuará no PSB enquanto não for formalizada a fusão, e lutará dentro do diretório, caso o PSB nacional queira fazer uma coligação com o PDB para as eleições municipais.

Chalita, que é um potencial candidato à prefeitura, só decidirá sair do PSB caso haja uma intervenção no diretório municipal para entregá-lo ao grupo político de Kassab.

Nesse caso, sua tendência e a de Erundina seria ir para o PMDB.

O Democratas tenta se reerguer dos escombros de uma derrota eleitoral séria para assumir o papel com que seus dirigentes sonham, mas não conseguem transformar em realidade: ser um grande partido liberal, próximo especialmente da classe média, trabalhando questões que afetam seu dia a dia, como meio ambiente, altos impostos, desemprego, apagão aéreo e insegurança pública.

A refundação programática do partido, numa posição que Bornhausen classifica de "centro humanista e reformador", não foi seguida da reformulação das bases partidárias, e os chamados cartórios eleitorais continuaram em vários estados. Essa tarefa o senador Agripino Maia assumirá hoje como seu principal objetivo.

A mudança programática já se desenhava desde uma reunião da Internacional Democrática de Centro (IDC) realizada no Rio, em 2005. A IDC se contrapõe à Internacional Socialista, que reúne os partidos de esquerda e social-democratas no mundo.

O que os Democratas defendem é que está na hora de uma verdadeira experiência liberal, com uma reforma do pacto federativo para diminuir o tamanho do Estado para conseguir também uma redução de impostos.

FONTE: O GLOBO

Em petição de miséria:: Dora Kramer

O partido já foi influente e essencial: dividiu o poder com todos os governos da ditadura até a eleição de Lula e teve papel decisivo para a redemocratização, quando abandonou a candidatura presidencial apoiada pelo regime militar e se aliou à oposição para eleger Tancredo Neves no colégio eleitoral de 1985.

De Arena mudou para PDS, tornando-se Frente Liberal (PFL) ao se juntar com o MDB de Ulysses Guimarães. Virou Democratas em 2007 com o plano de se modernizar e livrar-se do estigma da ditadura, mas deu errado. Hoje o partido se reúne em convenção extraordinária para juntar os cacos e tentar sobreviver à derrocada total.

O DEM que nesta terça-feira elege presidente o senador José Agripino Maia é um partido em petição de miséria: bancada minguante no Congresso, quantidade decrescente de interessados em se candidatar pela legenda, destituído de base social, sem perspectiva eleitoral para 2012, desprovido de seu tradicional combustível (o poder) e com a imagem marcada pela cena de sua última aposta política de fôlego - José Roberto Arruda - recebendo dinheiro ilícito exibida em rede nacional.

Uma trajetória ladeira abaixo para adversário nenhum pôr defeito. Uma situação que não encontra semelhança em nenhuma outra agremiação do atual quadro partidário: o PMDB reinventou-se depois da Nova República e sobreviveu; o PSDB manteve presença nos grandes centros e mal ou bem sobreviveu à perda da Presidência da República.

Mesmo o PT, que em determinado momento pareceu soçobrar sob os escombros de um escândalo mais detalhado e abrangente que o vídeo que detonou Arruda, sobreviveu, reelegeu um presidente e elegeu a sucessora.

O que houve, então, com o DEM? Uma série de coisas. Um partido não tem morte súbita, definha.

No segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, o ainda PFL rompeu com o governo. Na eleição presidencial seguinte lançou candidatura própria, fulminada pela exibição de fotos do dinheiro de origem (até hoje) não explicada encontrado pela Polícia Federal na empresa Lunus, de propriedade da candidata Roseana Sarney.

O partido, sempre exímio na arte de compor e articular, brigou feio com o ex-parceiro PSDB. Afastou-se de seu eixo habitual.

Antes disso havia sofrido o revés da morte do deputado Luís Eduardo Magalhães, a aposta do PFL para o futuro.

Em 2001, começa a derrocada de Antonio Carlos Magalhães, o grande morubixaba do pefelê. Em 2002, Lula se elege e a partir daí o partido inicia um processo de perda dos grotões para o PT. O PFL sempre atuou com força em Estados mais dependentes dos instrumentos de governo.

Ao passar a ser oposição, perdeu os meios. Com eles, o eleitorado e um público até então relativamente cativo, o grande empresariado, que se associa ao governo do PT.

Sem poder, com as lideranças abaladas e carente de sustentação social, em 2007 o partido tenta se reinventar.

O então presidente, Jorge Bornhausen, escolheu para substituí-lo o deputado Rodrigo Maia: jovem, filho do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, representaria a renovação e ainda poderia reforçar a posição do partido, já de nome novo (Democratas), no Sudeste.

Além disso, Rodrigo nascera no Chile durante o exílio do pai - ninguém poderia jamais associá-lo à ditadura, um fator que segundo o entendimento de Bornhausen pesava de forma crucial contra o partido.

Na concepção dele, Gilberto Kassab em São Paulo poderia representar a consolidação nas duas maiores cidades do País.

Para não nos alongarmos em detalhes, o resumo do fim da ópera: o PMDB tomou conta do Rio, por meio de Sérgio Cabral, Kassab foge da massa falida preocupado com o próprio futuro e Rodrigo Maia revelou-se um dirigente imaturo.

Arrumou mais brigas que alianças, tirando o partido de vez de seu eixo original. Além disso, sua principal aposta no cenário nacional era José Roberto Arruda, o responsável pelo golpe fatal e a perda total do rumo e do prumo.

A entrega do DEM a Agripino Maia, representante da antiga geração, significa que o partido dá um passo atrás para tentar retomar a caminhada e, sobretudo, o senso de direção.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Liberais de fachada:: Fernando de Barros e Silva

Não há mais partidos "liberais" no Brasil. Reportagem de Uirá Machado e Mauricio Puls, na Folha de ontem, mostrou que a partir da redemocratização, em 1985, das oito legendas que usaram a expressão "liberal" no nome só resta o nanico PSL, "social liberal".

O PL se fundiu com o Prona e virou PR em 2006; o PFL resolveu ser Democratas em 2007. O primeiro cresceu à sombra dos governos Lula e Dilma. O segundo mingua porque não consegue sobreviver na oposição. Ambos são partidos de direita. E nenhum dos dois nunca foi, a rigor, "liberal". São variações do clientelismo brasileiro.

"Liberal" é uma marca em desuso. Em termos substantivos, o liberalismo por aqui nunca passou de fantasia retórica, mais ou menos conveniente às elites dirigentes, conforme o período histórico.

Já fomos escravocratas na prática e "liberais" no discurso; ainda hoje somos, em grande medida, reféns do patrimonialismo, apesar dos ares modernizadores depois de quase duas décadas de hegemonia política de PSDB e PT. Em parte, ambos foram assimilados pelas forças do atraso, com as quais convivem em relativa harmonia, sempre em nome da "governabilidade".

O fato é que ainda somos bastante conservadores, embora nosso último partido "conservador" tenha morrido com a República Velha. O atual "consenso social-democrata" que se formou no país com FHC e Lula merecerá mesmo esse nome?

Não, se pensarmos no Estado de Bem-Estar Social e na universalização de direitos básicos que ele pressupõe. Nossas escolas públicas não ensinam, nossos hospitais públicos ainda maltratam seus doentes. Um programa de exceção, como o Bolsa Família, que serve de paliativo para aplacar a miséria extrema, se tornou a grande vitrine social do lulismo. Social-democracia, isso?

Temos, se tanto, um Estado de Mal-Estar Social. Parece, ainda, um problema bem mais sério que os muxoxos dos liberais de fachada à procura da identidade perdida.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A força do mensalão no governo Dilma :: Raymundo Costa

O ministro Joaquim Barbosa (STF) sinalizou aos réus do processo do mensalão que deve deixar para apresentar seu parecer apenas em 2012. Trata-se de péssima notícia para os acusados. O adiamento leva o julgamento para o olho do furacão de um ano eleitoral, quando os ânimos estão exacerbados e as paixões políticas, em geral, a flor da pele. Politicamente, o julgamento agora pode alterar a relação de forças no governo. Juridicamente, o ideal seria mesmo 2011.

É um ano de intervalo eleitoral, portanto, sem a pressão do calendário da eleição municipal de 2012 sobre a mídia e o próprio Judiciário. Mesmo que se trate de uma eleição para prefeito e vereadores, o ideal para os acusados e seus advogados o melhor era que o julgamento ocorresse este ano, no segundo semestre, por volta de setembro, como era previsto. Ou então deixado definitivamente para 2013.

Interessa a todos que o julgamento seja realizado distante das pressões eleitorais. Isso dará maior segurança de justiça feita, seja na condenação ou em eventuais absolvições, graça sinceramente esperada por alguns réus. O que não deve é pairar dúvida sobre os procedimentos no processo. A recente quebra do sigilo fiscal dos réus, entre outras medidas determinada por Barbosa, por exemplo, cheira queimado.

Julgamento em 2012 altera relação de poder

Pedida pelo procurador-geral Roberto Gurgel a pouco mais de dois meses do fim de seu mandato, foi acatada pelo relator Joaquim Barbosa sob a justificativa de ser medida necessária para calcular possíveis multas, em casos de condenação. O fato é que esses sigilos já estão nos autos. A movimentação fiscal, bancária e telefônica dos réus foi virada do avesso nas CPIs do Congresso e na denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal.

Alguns dos acusados vão além e avaliam que Joaquim Barbosa, ao aceitar a argumentação de Roberto Gurgel, deu a entender estar mesmo predisposto a condenar, mandar pagar multas e aplicar eventuais penas de restrição de liberdade.

Em resumo, assim como à mulher de César não basta ser honesta, a Justiça também precisa parecer que é imparcial. Se o processo dos assim chamados "mensaleiros" ficar para 2012, o julgamento ocorrerá provavelmente alguns meses antes da eleição do ministro Barbosa para a presidência do STF, no segundo semestre, o que não deixará de ser um constrangimento para seus colegas.

O adiamento é um golpe nos planos dos acusados de integrar o mensalão que tentam se recolocar no cenário político. O mais importante, entre eles, é o ex-ministro José Dirceu. Ele é um dos que não têm dúvidas de que o julgamento em 2012 será eleitoral. Dirceu esperava ser um dos primeiros a ser julgados e... absolvido. É fundamental para José Dirceu, que mantém influência no PT, retornar plenamente ao jogo do poder e encurtar a distância política que Antonio Palocci (Casa Civil) abre de vantagem a cada dia que ele passa na condição de suposto "chefe de quadrilha".

Movimentos feitos no Palácio do Planalto intrigam os acusados de operar o esquema do mensalão. Não que a presidente Dilma Rousseff e auxiliares tenham ficado contrários, mas distantes, em atitude prudente, em relação às tentativas de retorno desencadeadas por alguns deles. Por exemplo: não se envolveu na eleição de João Paulo Cunha (PT-SP) para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ). Argumento: era um problema da Câmara, o PT da Câmara resolveria. Ou seja, também não ajudou.

O reingresso do Delúbio Soares no PT também não provocou qualquer reação no Palácio do Planalto Talvez não devesse mesmo, mas os acusados de integrar o esquema registraram. A ida do ex-deputado José Genoino para o Ministério da Defesa também entrou na conta do ministro Nelson Jobim, amigo de 40 anos do ex-presidente petista.

Do ponto de vista "mensaleiro", o ministro Jobim tomou a iniciativa e o Palácio do Planalto gostou, mas ficou quieto. Delúbio Soares e José Genoino, além de João Paulo e José Dirceu, todos dependem do veredito do STF para tentar ou não um retorno à cena política e eleitoral.

Isso sem falar de outros poderosos do primeiro governo Lula, como Luiz Gushiken, ou dos não petistas como Roberto Jefferson (PTB), cujas denúncias desencadearam o processo do mensalão.
Além de intrigar, o comportamento dos palacianos causa desapontamento no grupo petista do mensalão. Por um motivo: quando Palocci foi acusado de quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, houve um esforço concentrado do antigo governo - que em grande medida é o mesmo de agora - para que a situação fosse logo resolvida. O fato é que Palocci nem chegou a ser denunciado pelo Ministério Público Federal e pode ser absorvido sem problemas pela campanha de Dilma, onde se tornou um de seus mais influentes assessores. No governo virou chefe da poderosa Casa Civil.

Dirceu e os demais réus petistas jamais reconhecerão fora dos círculos companheiros, mas acham que ninguém no governo está empenhado em ajudar a apressar o julgamento do mensalão. Nos momentos de maior depressão, integrantes desse grupo dizem que o desinteresse palaciano só pode ter um significado: ninguém no governo está interessado em que eles voltem.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Risco nuclear:: Celso Ming

Pode haver algum excesso de emoção na afirmação feita ontem pelo comissário da União Europeia para Energia, Gunther Oettinger. Ele observou que "o acidente nuclear no Japão mudou o mundo". E advertiu que uma rigorosa revisão dos padrões de segurança dos reatores nucleares europeus poderá fechar certo número de usinas.

Pode afinal não ter mudado o mundo tanto quanto Oettinger pareceu afirmar, mas alguma consequência importante parece inevitável, mesmo levando-se em conta que é prematuro qualquer balanço dos estragos e de suas causas. Os dois últimos grandes acidentes nucleares (Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979, e o de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986) também paralisaram ou adiaram grande número de projetos de construção de usinas termonucleares.

Ontem, os governos da Alemanha e da Suíça suspenderam ou pospuseram seus programas de expansão nuclear. E na Inglaterra, onde se prevê a construção de 11 novas usinas, o governo pediu reestudo imediato ao seu chefe da Inspetoria Nuclear, Mike Weightman. Os Estados Unidos, também vulneráveis a terremotos e a tsunamis, na costa Oeste, ou a furacões, tão destruidores como o Katrina, na costa Leste, contam hoje com 104 usinas nucleares, muitas delas construídas sob os mesmos padrões de segurança que prevaleciam em Fukushima e que, agora, falharam deploravelmente.

Os engenheiros nucleares se orgulhavam da eficiência dos seus sistemas redundantes de segurança. Agora viram que foi necessário que esses não fossem nem o mais forte terremoto nem o mais sério tsunami ocorrido no mundo para derreter esse orgulho numa tarde.

A catástrofe nuclear de Fukushima só não foi mais séria porque aparentemente a fusão dos núcleos dos reatores foi contida a tempo e porque a população adjacente às usinas, muito bem treinada para enfrentar adversidades desse tipo, foi evacuada a tempo. Esse certamente será o argumento que as indústrias produtoras de equipamentos nucleares repetirão diante das autoridades para garantir o futuro do seu negócio.

Em todo caso, não há como contestar que os atuais padrões de segurança não são tão confiáveis como se imaginava e que alguns anos mais serão necessários para desenvolver blindagens contra riscos de catástrofes naturais e eventuais ataques terroristas. Apesar do forte aumento dos custos de construção de centrais nucleares, as autoridades do mundo inteiro serão levadas agora a reconsiderar procedimentos.

Enquanto não houver confiança, será inevitável o aumento da pressão tanto sobre fontes alternativas de energia como sobre as convencionais, especialmente sobre petróleo e gás natural.
Num primeiro momento, as cotações do petróleo deverão sofrer o impacto da relativa desorganização do sistema produtivo do Japão, que precisará agora de tempo para ser reativado. Enquanto isso, a demanda por energia será mais baixa. Mas parece inevitável o novo aumento da importância do petróleo e do gás natural na formação da matriz energética global (veja gráfico).

Em 2008, a produção mundial de petróleo foi de 86 milhões de barris (de 159 litros) diários, praticamente equivalente ao consumo. Em 2030, conforme cálculos de consultorias especializadas, a demanda saltará para a altura dos 106 milhões de barris diários. Aos atuais níveis de reposição de reservas, faltarão cerca de 75 milhões de barris para garantir o suprimento.

Esse déficit terá de ser coberto ou com novas descobertas de petróleo e gás e/ou com fontes alternativas de energia e/ou maior eficiência na produção e no consumo.

Os acontecimentos do Japão mostram agora que a principal dessas fontes alternativas de energia (a nuclear) acaba de receber um golpe poderoso, o que exigirá mais pesquisas, mais investimentos e sabe-se lá quanto tempo mais de maturação.

As condições privilegiadas em recursos hídricos, petróleo, gás natural, bioenergia e potencial eólico beneficiam o Brasil. Mas são de doer a fragilidade dos marcos regulatórios aqui vigentes, a incompetência das nossas autoridades - que nem causas de apagões são capazes de identificar - e o desperdício de recursos públicos em cada projeto de produção de energia.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Efeito Japão :: Míriam Leitão

O mundo assiste em tempo real aos desdobramentos da tragédia que abalou o Japão e torce para que a situação não ganhe contornos ainda mais dramáticos, já que a toda hora surgem novas notícias sobre tremores e o risco de um acidente nuclear de grandes proporções não está afastado. Mas a catástrofe japonesa não abalou os mercados, nem deve mudar os rumos da economia mundial.

A bolsa de Tóquio fechou ontem com forte queda, de 6,18%, refletindo os prejuízos da tragédia para a economia local. Uma parte do país praticamente sumiu do mapa e a reconstrução custará caro, mas a reação dos demais mercados foi amena. As bolsas asiáticas fecharam com pequenas altas ou pequenas quedas, assim como a Nasdaq e as bolsas europeias.

No Brasil, a Bovespa fechou em alta de 0,73%, com forte destaque para a Usiminas, que viu suas ações subirem mais de 9%. A crise no Japão pode diminuir a oferta de aço mundial e favorecer a indústria siderúrgica brasileira.

Para analistas, a reação dos mercados reflete o peso do Japão na economia mundial. A terceira economia do mundo há tempos não é mais o motor do crescimento econômico. E o Brasil estaria em uma posição ainda mais segura, como exportador de matérias-primas, como o minério de ferro e o aço, cuja demanda deve aumentar fortemente no processo de reconstrução do país asiático.

Na visão do economista Gustavo Loyola, ex -presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, o Brasil não tem motivos para grandes preocupações, já que a crise japonesa não deve afetar nenhuma variável econômica que nos diga respeito, como preços de commodities ou oferta de alimentos, por exemplo. Se o desastre fosse na China, o efeito seria muito maior:

- Não vejo o Japão alterando de forma expressiva as perspectivas internacionais. Me preocupa mais a crise no Oriente Médio.

O economista Cristiano Souza, do Santander, tem avaliação parecida. Acredita que a crise no Japão também não deve prejudicar os investimentos no Brasil.

- Os possíveis canais de contágio são muito pequenos. Ninguém vai desmanchar uma fábrica. Não muda o panorama de demanda do país - afirma.

Essa percepção é reforçada pela manifestação da Jetro, agência de comércio exterior ligada ao Ministério da Economia japonês, que promove, além do comércio, investimentos mútuos entre o Japão e o resto do mundo.

Segundo a Jetro, mais de 90% dos empresários que têm procurado os serviços do escritório em São Paulo estão baseados na região de Tóquio ou na região oeste do Japão, áreas que não foram muito afetadas pelo terremoto e pela tsunami. Portanto, considera pouco provável que haja uma queda nos investimentos japoneses no Brasil em decorrência dos desastres.

Ressalva

Para José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o impacto da tragédia japonesa sobre nossas exportações não pode ser desconsiderado. Ele prevê atrasos e filas no desembarque de produtos, já que o terremoto danificou portos importantes do país. O Japão é o sexto principal parceiro comercial do Brasil. A corrente de comércio entre os dois países atingiu US$14,1 bilhões em 2010, recorde histórico.

Dia seguinte

Já Francisco Turra, da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), conta que no primeiro dia de negócios com os japoneses, após a tragédia, não houve cancelamento de pedidos. O Japão é o segundo maior comprador de frangos do Brasil e a expectativa da Ubabef é de crescimento de 5% a 10% no volume exportado para o país este ano, totalizando US$1 bilhão em vendas.

- Este é o momento de o Brasil fazer o máximo para ajudar os japoneses, porque eles devem priorizar a compra de alimentos. É um mercado importante para nós, porque vendemos muito frango processado, de maior valor agregado - disse.

Fora de foco

Os possíveis efeitos da crise japonesa sobre a economia brasileira foram mencionados de forma rápida e genérica nas reuniões de economistas e analistas de mercado com o Banco Central, ontem, em São Paulo. Ninguém mostrou grande apreensão com esse fato novo no cenário externo. O que predominou foi a preocupação com a inflação em alta e com a rigidez dos preços dos alimentos e serviços, que não são diretamente afetados pela política monetária e fiscal. O efeito do reajuste do salário mínimo em 2012 sobre a inflação de serviços foi um dos problemas levantados.

Muitas dúvidas sobre as tais medidas macroprudenciais, mencionadas na última ata do Copom, que, pelo tom da ata, já seriam favas contadas para o mercado. Mas ninguém sabe exatamente o que a equipe econômica planeja e isso traz ainda mais insegurança, segundo um analista.

Em comum nas análises, a percepção de que a economia está desacelerando, enquanto a grande dúvida é o ritmo dessa desaceleração, já que os sinais são contraditórios, com a demanda por crédito ainda aquecida e o mercado de trabalho sem sinais claros de desaquecimento.

As reuniões do Banco Central com representantes do mercado, de grandes empresas e de consultorias servem de subsídio para a elaboração do relatório de inflação, mas o BC não se manifesta nesses encontros, é só ouvidos.

FONTE O GLOBO

A importância de ser prudente:: Vinícius Torres Freire

"Macroprudencial", essa palavra horrenda, foi o jargão econômico da coleção de verão 2010-2011.

A expressão causou ainda mais sensação logo após a Quarta-Feira de Cinzas, quando saiu a ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central, em que se lia que uma nova rodada de "macroprudenciais" poderia evitar novas altas de juros.

Neste início de Quaresma, alimenta discussões na equipe econômica e discretos arranca-rabos entre a direção do BC e economistas de bancos e de consultorias. O debate deve durar até o Carnaval de 2012.

"Medidas macroprudenciais" são decisões do BC que afetam a oferta de crédito e, assim, a taxa de juros para o tomador final. Em tese, tais medidas têm como objetivo evitar que o sistema financeiro se exceda, empreste demais a quem não tem como pagar. Mas, por reduzirem a oferta de crédito, também contêm consumo e inflação.

Os economistas de Dilma Rousseff debatem se é preciso tomar medidas a fim de conter a torrente de dólares que entra no Brasil, e não só devido à valorização do real.

A torrente de dinheiro barato no mundo anima bancos e empresas brasileiras a tomar empréstimos. Bancos ficam, pois, com mais dinheiro para emprestar num momento em que a autoridade econômica quer desacelerar a economia.

Além do mais, empresas podem ficar expostas demais a flutuações nas taxas de câmbio e de juros. A partir de junho, começa a aumentar o risco de que os juros subam nos EUA. Isto é, aumentam assim os riscos de alterações maiores no fluxo de dinheiro, em sua intensidade e direção. Variações no câmbio e nos juros sempre acabam pegando alguém de calças-curtas (endividado demais, sem "seguros" e proteções, hedge, contra variações no preço dos ativos financeiros etc.).

Enfim, novas medidas "macroprudenciais" continuam na cartucheira do BC, munição possível contra a inflação, alternativa à alta ainda maior da taxa básica de juros. O zum-zum-zum em Brasília é que, ainda neste mês, poderiam ser baixadas mais "macroprudenciais".

Os economistas de bancos e consultorias, de certo modo porta-vozes do "mercado", estão tiriricas com essa história de evitar altas dos juros por meio de decisões administrativas do BC (as "medidas macroprudenciais"): não é um método ortodoxo, convencional, não é um método bem testado nem bem conhecido de contenção do ritmo da atividade econômica e, pois, da inflação.

Ontem, houve uma das reuniões habituais entre BC e "mercado", nas quais a autoridade monetária toma o pulso e checa o humor da praça, ouve análises de conjuntura, discute tais opiniões e dá uma ou outra dica sobre o que pretende fazer.

O BC pôde perceber o mau humor dos povos do mercado. Na prática, foi mais ou menos inquirido a dizer com base em quais informações optou por dar tanta importância às "macroprudenciais"; se não está tranquilo demais com a inflação em alta e a economia ainda aquecida além da conta (embora nem no mercado tal opinião seja unânime).

O pessoal do BC (o presidente, Alexandre Tombini, e três diretores) fechou a cara, não deu satisfações e disse que estava lá mais para ouvir.

Em suma, o "mercado" não gosta de novidade. Tende a gostar de juros altos. E vai demorar até se saber se a nova linha do BC funciona.

FONTE FOLHA DE S. PAULO

Deputada usa tese do mensalão e alega que dinheiro era de caixa 2

Procurador-geral diz que depoimentos indicam que parlamentar recebeu outros repasses além do que foi gravado em vídeo

Leandro Colon

Acusada e pressionada a renunciar, a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) encontrou uma defesa para o dinheiro recebido das mãos de Durval Barbosa, delator do esquema de corrupção no Distrito Federal. Em nota divulgada ontem, ela afirmou que os recursos são caixa 2 de campanha eleitoral.

A tese, porém, deve ser combatida pelo Ministério Público Federal. Na avaliação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o que importa é a origem do dinheiro, fruto de desvios dos cofres públicos do DF.

A defesa de Jaqueline é semelhante ao discurso adotado pelo comando do PT à época do escândalo do mensalão petista. Então tesoureiro do partido, Delúbio Soares disse na época que se tratava de "recursos não contabilizados" o dinheiro repassado aos parlamentares. A afirmação foi uma maneira de afastar acusações de corrupção e de desvios dos cofres públicos.

Na opinião de Gurgel, o Ministério Público tem poucas dúvidas sobre a origem do montante repassado por Durval Barbosa a Jaqueline Roriz no vídeo, revelado pelo portal do Estado no dia 4 de março. "Tudo aponta no sentido de que seja ilícita (a origem)", afirmou.

De acordo com o procurador, o Ministério Público já identificou o crime de peculato, mas pode acrescentar outros durante a investigação. Ainda segundo Gurgel, Jaqueline Roriz teria recebido outros repasses de Durval Barbosa, além do dinheiro que aparece no vídeo.

Detalhes. Gurgel afirmou ainda que, em depoimento, Durval disse que os recursos entregues a Jaqueline não ficaram restritos apenas aos que aparecem nas imagens. "Ele (Durval) se referia àquelas imagens e faz referências de que teria havido outros pagamentos", explicou o procurador, acrescentando que o relato de Durval sobre Jaqueline "não é rico em detalhes". Por isso, salientou, será necessário aprofundar as investigações.

Na nota divulgada ontem, Jaqueline Roriz afirmou que foi Durval quem a convidou para entregar o dinheiro. "Durante a campanha eleitoral de 2006 estive algumas vezes no escritório do senhor Durval Barbosa, a pedido dele, para receber recursos financeiros para a campanha distrital, que não foram devidamente contabilizados na prestação de contas da campanha", afirmou a deputada.

Jaqueline anunciou ainda que vai tirar uma licença médica de cinco dias da Câmara dos Deputados. A deputada apresentou um atestado médico, emitido um uma clínica localizada no Rio de Janeiro, para justificar a licença de cinco dias e seu afastamento do Congresso.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PSB desiste de fusão com futuro partido de Kassab

PSB descarta fusão com ""partido do Kassab"" antes de 2012 e esfria acordo

Líderes do Partido Socialista Brasileiro agora querem apenas se coligar com o PDB, sigla a ser fundada pelo prefeito, que também avalia, com seus aliados, o ônus de criar uma legenda só para ser incorporada e para viabilizar candidatura ao governo de SP

Julia Duailibi

A cúpula do PSB começou a defender a coligação, e não mais uma fusão, como saída para o partido se aliar ao PDB (Partido da Democracia Brasileira), sigla a ser criada pelo prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM). Integrantes da executiva nacional e líderes do PSB no Congresso pretendem postergar qualquer discussão sobre a fusão para depois da eleição municipal de 2012.

Em jantar na casa do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, há cerca de 15 dias, a ideia foi lançada pelas principais lideranças do PSB como a alternativa "mais sensata" no momento. A proposta enfraquece os planos de Kassab de lançar neste ano uma terceira força partidária, que faria um contraponto à polarização entre PSDB e PT nas próximas eleições.

"Não há necessidade de discutir a incorporação ou a fusão neste momento", afirmou Casagrande, para quem a discussão após 2012 "é mais madura". "Não vamos antecipar o debate, mas vamos nos manter próximos", completou o governador.

"Ano que vem tem eleição. Dá-se impressão de que essa é uma tática ou estratégia para burlar a Justiça. No momento, preferimos que Kassab crie o partido e, lá na frente, se for conveniente, vamos sentar e conversar", disse Antonio Carlos Valadares (SE), líder do PSB no Senado.

A nova legenda é uma saída política para que o prefeito e aliados possam deixar o DEM, ou outros partidos, sem terem o mandato questionado na Justiça por infidelidade partidária. A lei permite a troca de sigla em caso de migração para uma nova legenda. A ideia inicial era criar um partido e depois promover a fusão com PSB, que é da da base do governo federal.

Pecha. Mas, apesar de ter sido o plano número 1 de Kassab, a tese da fusão tem perdido força. "Criou-se uma pecha muito grande de que seria um partido ponte", afirmou um aliado do prefeito. Ficar na nova legenda seria uma solução positiva para o vice-governador Guilherme Afif Domingos (DEM). Integrante do primeiro escalão do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), Afif poderia acompanhar Kassab sem migrar para um partido aliado do governo federal.

Para os advogados envolvidos na criação do PDB, a coligação é, no momento, a melhor saída, justamente por não dar o caráter de que foi uma estratégia criada para se burlar a Justiça.

Apesar do debate da fusão ter esfriado, a cúpula do PSB é a favor da vinda de Kassab, principalmente por avaliar que a chegada do prefeito fortalece a legenda no Sudeste. Para pessebistas, no entanto, o efeito colateral seria uma descaracterização do partido ao incorporar o prefeito e aliados - Kassab poderia levar até 27 deputados que não teriam ligação com a formação socialista da sigla. No PSB, também há dúvidas sobre o desgaste de se aliar a um projeto que, na avaliação das lideranças, já nasce com a marca de "partido da janela".

"Levantou-se a possibilidade de fazermos agora um acordo nacional de coligação e, depois da eleição de 2012, fazermos a incorporação", afirmou o primeiro-vice-presidente do partido, Roberto Amaral. Para o senador Rodrigo Rollemberg (DF), a "incorporação" só deve ser discutida depois de o prefeito viabilizar o novo partido. "Primeiro, Kassab tem uma lição de casa a ser cumprida, que é a criação do novo partido. A partir daí, vamos discutir. Fala-se em aliança para 2012 e, depois, incorporação."

O adiamento da discussão sobre a fusão não significa veto para a entrada de Kassab no PSB. "Se Kassab quiser vir para o PSB agora, será muito bem-vindo. Mas fazermos a fusão neste momento, desta maneira, não é boa solução", disse um líder da sigla.

O ZIGUE-ZAGUE DO PREFEITO

Derrota

Após o fracasso de José Serra , na eleição de 2010 e a vitória de Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa pelo governo paulista, Kassab inicia negociações para deixar o DEM, aliado dos tucanos.

Resta um

Kassab quer disputar o governo paulista em 2014, quando Alckmin deverá concorrer à reeleição. O prefeito, então, avaliou que deveria migrar para a base de Dilma e procurou o PMDB.

Adeus, oposição

Rodrigo Maia e Agripino Maia, do DEM, tentaram manter Kassab no partido, mas, mesmo após não ter se entendido com o PMDB, o prefeito de São Paulo manteve seus planos de sair.

Nova sigla

Kassab acertou com o governador Eduardo Campos (PE) o ingresso no PSB, aliado de Dilma, mas, para evitar problemas com a lei, decidiu criar um novo partido, o PDB.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

DEM troca comando, e Kassab discute futuro

Acordo é eleger José Agripino; Kassab conversa com integrantes do partido sobre possível saída

Gerson Camarotti e Flávio Freire


BRASÍLIA e SÃO PAULO. Depois de meses de disputa entre os grupos do ex-senador e ex-presidente da legenda Jorge Bornhausen (SC) e do atual presidente, deputado Rodrigo Maia (RJ), o DEM conseguiu evitar a implosão da sigla, com o acordo para a convenção de hoje. Mas integrantes do DEM reconhecem que essa é a crise mais grave já enfrentada pelo partido desde que o PDS rachou e foi criado o PFL, no início dos anos 80. Uma das estrelas do partido, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, não decidiu se participará da convenção, mas vai se reunir com integrantes do DEM para discutir seu futuro político - a possível criação de um novo partido.

Mesmo com o acordo interno para a eleição, hoje, do senador José Agripino Maia (RN) como o novo presidente, o DEM ainda tem um longo caminho para reafirmar sua identidade como partido de oposição. Houve grande esforço para a construção de uma chapa única da nova Executiva Nacional e para evitar disputa na convenção extraordinária que acontece hoje. Mas o partido continua rachado e com expectativas negativas por causa da provável debandada liderada pelo prefeito de São Paulo.

O principal desafio do DEM é tentar manter suas bancadas na Câmara e no Senado. O grupo liderado por Kassab busca uma solução jurídica para abandonar do DEM e fundar uma nova legenda com o menor risco possível para a perda de mandatos por infidelidade. O DEM teme uma saída em massa, mas aposta nas dificuldades de Kassab para legitimar um novo partido.

- Não se cria um partido da noite para o dia. Kassab terá muitos problemas para operacionalizar esse projeto. Isso deixará sequelas no DEM. Mas Agripino assume com o objetivo de buscar uma conciliação - afirma o presidente do Instituto Tancredo Neves, o ex-deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).

Sequer oficializada, a criação do novo partido de Kassab já cria divergências entre futuros possíveis integrantes da sigla. O vice-governador paulista, Guilherme Afif Domingos (DEM), disse ontem que está disposto a integrá-la, desde que não vire um caminho para "desvios eleitorais":

- A tese de um partido novo é justamente para que todos possam participar. Todo mundo fala de 2014, mas 2012 está aí. Se é partido novo, é um partido para disputar eleições, e não apenas para fazer desvio eleitoral.

O novo partido teria sido a forma encontrada por Kassab para driblar regras que impõem fidelidade partidária.

Afif afirma que a nova legenda tem encontrado resistência dos que, como ele, têm perfil de candidato.

FONTE: O GLOBO

A irritação de Itamar no Senado

Ezequiel Fagundes

Em discurso no plenário, o senador Itamar Franco (PPS-MG) criticou ontem duramente o teor da informação de um ato publicado pela Diretoria-Geral do Senado no boletim administrativo. Um dia depois de ter tomado posse, Itamar fez um pedido de esclarecimentos sobre a legalidade de acumular salário e aposentadoria do Senado.

Antes de virar presidente da República, em função do impeachment de Fernando Collor, Itamar cumpriu 16 anos de mandato de senador. De volta ao Congresso, ele acumulou dois contracheques. Informado pela Advocacia-Geral do Senado sobre a impossibilidade de receber dois salários, o ex-presidente mandou suspender a aposentadoria.

Apesar do pedido, ele foi surpreendido. De acordo com boletim administrativo publicado em 24 de fevereiro, o senador deixaria de receber R$ 13.027,53 a título de aposentadoria. Itamar, no entanto, afirma que ganha R$ 6.477,81, em valor líquido.

“Descuido, erro, negligência, má-fé... a mim nem importa tanto qual foi a causa”, reclamou.

Indignado com a falha, o ex-presidente continuou as queixas.

“Não advogo, claro, que se escamoteiem dados, especialmente os que apontem o destino de recursos do erário. Importam-me, sim, sob pena de sermos injustos, eu diria até levianos, a clareza, a justeza que devem pautar a divulgação dessas informações, reduzindo biografias e nivelando, pelo piso, o nível ético que deve pautar a conduta do homem público.” Itamar também pediu explicação formal da Mesa Diretora sobre o episódio.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Economistas voltam a elevar previsão de inflação

Após BC deixar claro que não vai acelerar alta dos juros, analistas pioram projeções para o IPCA para 5,82% este ano

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. O mercado já começou a ajustar suas projeções após a publicação da última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), na quinta-feira. De acordo com a pesquisa Focus do Banco Central (BC), divulgada ontem e com dados coletados até sexta-feira, os economistas pioraram as contas sobre a inflação este ano, de 5,78% para 5,82% pelo IPCA, depois de tê-las reduzido na semana anterior. Para 2012, no entanto, as estimativas foram mantidas em 4,80%, embora ainda acima do centro da meta do governo, que é de 4,5%.

Por enquanto, o mercado manteve os cálculos sobre a taxa básica de juros, a Selic - hoje em 11,75% ao ano -, em 12,50% no fim de 2010, com mais uma alta de meio ponto em abril e outra de 0,25 ponto percentual em junho, quando o Copom volta a se reunir. Para 2012, as projeções continuaram em 11,25%.

Mas esses números podem mudar, porque a ata do Copom deixou claro que o BC não deve acelerar o passo da política monetária por meio de novas doses de juros, mas sim com outras medidas macroprudenciais. Em dezembro passado, por exemplo, o BC encareceu e limitou o crédito de longo prazo voltado para consumo de bens duráveis, o que ajuda a reduzir a demanda e, consequentemente, a pressão sobre os preços.

Especialistas já esperam só mais uma elevação da Selic

Por isso, já existem especialistas que preveem apenas mais uma alta de 0,5 ponto na taxa, em abril, repetindo os movimentos de janeiro e de março. Para o economista do banco Santander Cristiano Souza, ainda há uma série de pressões sobre a inflação, como alimentos e demanda aquecida. Assim, estima que o IPCA, deste e do próximo ano, deverá ficar na casa de 6%, com base nos sinais emitidos pelo BC para a condução da política monetária.

- A inflação somente voltará a convergir para o centro da meta em 2013 - afirmou Souza.

O BC, no entanto, avalia que os preços continuarão elevados, com o IPCA girando perto de 6% até o terceiro trimestre deste ano. A partir daí, a inflação começa a perder força e volta a caminhar para o objetivo central de 4,5%. Isso porque a autoridade monetária entende que os efeitos das medidas já tomadas - que começaram em meados de 2010, com a alta acumulada de dois pontos percentuais da Selic - já estarão totalmente incorporados.

Mercado espera expansão menor do país em 2012

Ainda pela pesquisa Focus de ontem, o mercado projeta que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) este ano será de 4,10%, abaixo dos 4,29% vistos até então. E, pela primeira vez em 51 semanas, o mercado reduziu suas contas sobre a atividade econômica em 2012: passou de uma expansão de 4,50% para 4,45%.

Ontem, o presidente do BC, Alexandre Tombini, teve os encontros bimestrais com economistas, em São Paulo, e falou muito pouco. Ouviu cenários diversos, mas quase não se discutiu questões fiscais, segundo relatos de participantes. Alguns criticaram, mesmo que de forma velada, a posição do BC sobre a política monetária, de ajuste paulatino.

FONTE: O GLOBO

Obama vai falar a ''todos os brasileiros''

Consulado americano confirma discurso do presidente americano na Cinelândia, praça no centro do Rio célebre por atos políticos

Wilson Tosta

Em seu pronunciamento dirigido a "todos os brasileiros", o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, discursará no domingo para uma Cinelândia isolada por fortes medidas de segurança - bem diferente da tradição do local, principal palco de manifestações políticas na cidade.

A embaixada americana confirmou que o pronunciamento ocorrerá na praça, à qual só terá acesso quem carregar nada além de documento de identidade e carteira de dinheiro. Bolsas, sacolas e pacotes estão vetados. A restrição é parte das providências para proteger o visitante - que incluirão mudanças no trânsito e forte policiamento. Ontem, no fim da manhã, houve nova visita ao Teatro Municipal para checagem de segurança.

"O evento, que acontecerá no período da tarde, será gratuito, aberto ao público e é direcionado a todos os brasileiros. Haverá tradução. Mais informações serão divulgadas em breve", afirmou em nota o Consulado dos EUA. O discurso deve começar às 15h, mas o acesso do público à Praça Floriano - nome oficial da Cinelândia - será permitido a partir das 11h30.

O presidente americano deve discursar em uma sacada do teatro, mas sua exata posição ainda não foi divulgada. Antes, ele visita o Corcovado às 9h30, seguindo de lá para a Cidade de Deus, na zona oeste. Obama chegará ao Rio na noite de sábado e passará duas noites na cidade antes de viajar para o Chile.

Segurança. As medidas de segurança se estenderão aos outros pontos do programa. A ida do casal presidencial americano ao Corcovado é vista como programa "familiar" e deve ter acesso restrito até para a imprensa.

Em todos os eventos, a segurança do presidente será feita por agentes americanos, mas o Batalhão de Operações Especiais e o Batalhão de Polícia de Choque ficarão responsáveis pelo entorno dos locais visitados.

Detalhes da programação de Obama foram discutidos ontem pelo embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, com o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) e o prefeito Eduardo Paes (PMDB), no Palácio Guanabara. Após o encontro, o governo e a prefeitura divulgaram notas oficiais praticamente idênticas à da embaixada, confirmando o discurso na Cinelândia.

Chuva e helicóptero. Um dos problemas enfrentados pela equipe que prepara a vinda de Obama é o tempo - uma chuva forte poderia esvaziar a praça. Outro problema é o helicóptero presidencial. A aeronave, por ser muito grande, não pode pousar no campo da Coordenadoria Adjunta de Operações Aéreas, na Lagoa Rodrigo de Freitas, principal heliponto da zona sul.

A alternativa será o campo do Flamengo. Em sua visita à Cidade de Deus, o aparelho deverá utilizar o Aeroporto de Jacarepaguá ou o autódromo, de onde Obama se deslocará até a favela em carro blindado, trazido dos Estados Unidos.

Apesar de ainda ter tráfico ativo, a Cidade de Deus atraiu a atenção da segurança presidencial por ser plana e ter ruas um pouco mais largas, características que facilitam as manobras de veículos, diferentemente de favelas na zona sul da cidade.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Sentimento do mundo::Carlos Drumonnd de Andrade

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.