sábado, 19 de março de 2011

Reflexão do dia – Nelson Werneck Sodré

A defesa do regime democrático, no processo da Revolução Brasileira, não se prende, assim, ao supersticioso respeito a uma legalidade formal, mas na compreensão de que a democracia é o caminho apropriado ao seu desenvolvimento. Não interessa ao nosso povo, evidentemente, uma legalidade qualquer, e uma democracia qualquer, mas o regime democrático efetivo cujo conteúdo esteja intimamente ligado ao desenvolvimento de alterações econômicas, políticas e sociais capazes de afetar profundamente o país e corresponder ao avanço das forças produtivas que impõem modificações radicais nas relações de produção.

WERNECK SODRÉ, Nelson. Formação Histórica do Brasil, pág. 404. Editora Brasiliense, São Paulo, 1962

O negro, a mulher e o circo :: Guilherme Fiuza

Os intelectuais de esquerda estão confusos. Com a visita do presidente dos Estados Unidos ao Brasil, está difícil escolher o tema do manifesto contra alguma coisa. Obama é negro e yankee. E agora? Com Bush a vida era muito mais fácil. Bastava copiar um dos panfletos do cineasta Michael Moore, maldizer o poder dos brancos, corpulentos e egoístas, e sair para o abraço no Teatro Casa Grande. Mas esse imperialista negro e magro é uma dor de cabeça para os indignados. O dicionário dos progressistas entrou em curto. Isso só pode ser coisa da CIA.

O governo do PT estava tranquilo até outro dia, fazendo carinho em Kadafi para libertar o mundo das garras yankees. Aí veio a realidade - essa entidade alienada - atrapalhar o conto de fadas revolucionário. No mesmo momento em que exaltar o ditador líbio se tornou uma coisa, por assim dizer, meio cafona, o presidente americano resolve baixar no Brasil. Para bagunçar ainda mais os estereótipos, Obama tem origem árabe - o que na cartilha da esquerda é sinônimo de bonzinho. Que palavra de ordem gritar para um monstro do bem?

A militância petista decidiu, por via das dúvidas, vaiá-lo. Afinal, acima das atenuantes politicamente corretas, o homem é o chefe da Casa Branca. Não dá para ser condescendente com um inimigo do companheiro Fidel. Mas essa decisão provocou um racha no partido. O governo popular já tinha decidido que, em lugar do velho rosnado terceiro-mundista, seria melhor seguir a linha da apoteose do oprimido: o encontro triunfal da primeira presidente mulher com o primeiro presidente negro.

Aí as vaias de partidários de Dilma a Obama iam estragar o enredo. Mas as bases do PT no Rio de Janeiro sustentaram que não dava para ver um presidente americano passar sem protestar. A direção do partido então resolveu a parada. Deixou de lado a conversa de liberdade para as minorias e, enchendo o companheiro Fidel de orgulho, baixou a censura de opinião para todos os filiados. Mais democrático do que isso, só se mandasse os dissidentes passarem o fim de semana em Teerã, para um workshop com o camarada Ahmadinejad sobre radioatividade.

Tudo pela tolerância - desde que com as coisas certas. Recentemente, um grupo de negros protestou nas ruas do Rio contra um bloco carnavalesco que homenageava Monteiro Lobato. Isso é tolerável. As "Caçadas de Pedrinho" não estão protegidas por lei, podem ser avacalhadas à vontade. Mas se alguém reagir a quem as está avacalhando pode ir preso. Reduzir um clássico da literatura a uma pinimba ideológica não é crime. Segundo os valores do Brasil de hoje, o que cada um faz ou pensa pode não ser tão importante quanto a cor da sua pele. Cuidado com quem você vaia.

O presidente da nação mais poderosa do mundo é, antes de tudo, um negro - pelo menos segundo a moderna ditadura dos estereótipos progressistas. E o grande projeto do novo governo brasileiro é ser chefiado por uma "presidenta", ordenhando essa panaceia sexista até a última gota. Ninguém sabe direito o que faz ou pensa Dilma Rousseff, mas na era do slogan o que importa é a excitação do imaginário. Talvez por isso, um governo prestes a completar três meses de vida sem um único projeto relevante gaste os tubos com proselitismo feminista.

No Dia Internacional da Mulher - a data mais machista do calendário mundial -, o governo federal veiculou na TV uma propaganda diferente. Mostrava uma menina mulata em variadas situações de brincadeiras infantis. E uma locutora dizendo que, no Brasil de hoje - o da "presidenta", bem entendido -, ela poderá ser o que quiser quando crescer. Espera-se que possa mesmo. De preferência, tendo ideias próprias, e não carregada na carona de algum padrinho populista.

Duas mulheres foram escaladas para receber Obama, o negro, em sua chegada a Brasília. As duas diplomatas infelizmente não são negras, mas o respeitável público há de perdoar essa gafe. Se elas declararem que não gostam de Monteiro Lobato, fica tudo certo. Como se vê, a cota de criatividade das "ações afirmativas" na recepção brasileira ao presidente americano não tem limites. Mulheres e negros jamais serão os mesmos depois de todo esse folclore politicamente correto. Espera-se que não gastem todas essas esmolas morais em cachaça. Melhor psicanálise.

No aquecimento para o grande circo das minorias, Dilma recebeu a cantora Shakira. Fez pose com o violão que ganhou da colombiana para combater a pobreza. O feminismo não poderia prescindir dessa imagem. Mas se o negócio é vender símbolos, está faltando uma foto com a Bruna Surfistinha. Ela não é militante, nem engajada, mas pelo menos é sincera.

E não ganha a vida com slogans.

Guilherme Fiuza é escritor.

FONTE: O GLOBO

O Brasil e a ONU: Merval Pereira

Além do próprio sentido político da visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que começa hoje por Brasília, de retomada de relacionamento em novos termos, "de igual para igual" na definição da diplomacia brasileira, e das questões econômicas que terão encaminhamento nos acordos a serem firmados, especialmente na área de energia, a participação do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU é um tema que tem o poder de galvanizar as opiniões num país que espera por isso desde a criação da ONU, em 1945, quando por pouco não foi aceito como o sexto membro.

O objetivo, que sempre esteve presente na nossa política externa com maior ou menor intensidade, ganhou ares de prioridade absoluta durante os oito anos do governo Lula, na gestão do chanceler Celso Amorim.

Hoje, o assunto é tratado com perfil mais baixo, acompanhando a mudança de tom na política externa brasileira na gestão Dilma Rousseff, mas sem dúvida continua sendo tema sensível, a ponto de o ex-presidente Lula, que um dia já foi "o cara", ter recusado o convite para almoçar com Obama em Brasília, em atitude radicalizada que exemplifica como estavam nossas relações bilaterais.

É pouco provável que o presidente Barack Obama faça no Brasil o mesmo que fez na Índia recentemente, apoiando abertamente a entrada daquele país como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

Ainda está vivo na diplomacia americana, e sobretudo no presidente Obama, o desapontamento com o voto contrário do Brasil às sanções do Conselho ao Irã devido ao seu programa nuclear não submetido aos organismos internacionais.

Não foi à toa que o ex-chanceler Celso Amorim escreveu na recente edição da revista "Foreign Policy" um artigo, intitulado " Deixe-nos entrar", em que afirma que será um "desapontamento" se o presidente Obama não fizer em sua visita ao Brasil o mesmo que fez na Índia.

E, diz Amorim, isso acontecerá "não apenas porque o Brasil merece uma cadeira, mas porque a legitimação do conselho depende da inclusão de poderes emergentes".

O ex-chanceler diz que a realidade do poder global de hoje não está refletida na composição do atual conselho e é "vitalmente importante" que economias em desenvolvimento façam parte dessa corporação global, e é natural que o Brasil, hoje a oitava economia do mundo, esteja incluído nela.

Se a economia brasileira já é tão grande quanto as da Inglaterra ou da França, e a nossa tem espaço para crescer, e as outras, não, por que eles podem estar lá, e nós, não?, questiona Amorim.

Ou a Índia, que tem mais de um bilhão de habitantes? E por que não um único país africano?

Para Celso Amorim, a reforma não é uma questão de ambição deste ou daquele país, mas uma necessidade para que o Conselho de Segurança seja representativo da comunidade internacional.

Além dos aspectos objetivos do lugar que o país ocupa hoje na nova ordem mundial, há um aspecto histórico pouco conhecido e que reforça a aspiração brasileira.

O Brasil foi o único país da América Latina que lutou na Segunda Guerra Mundial, momento decisivo da História da Humanidade no século XX, ao lado das forças dos Aliados, e essa situação fez com que o próprio presidente Roosevelt, dos Estados Unidos, defendesse na ocasião a participação do Brasil no conselho.

Essa história está relatada com rigores de detalhe na tese de Eugênio Vargas Garcia, membro da delegação brasileira na ONU em Nova York, aprovada com louvor no Instituto Rio Branco e que se transformará em livro.

Com o título "O sexto membro permanente - O Brasil e a criação da ONU", conta como o Brasil reivindicou pela primeira vez sua inclusão como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, que estava para ser criado de acordo com minuta aprovada na Conferência de Dumbarton Oaks, em 1944, "Propostas para o estabelecimento de uma organização Internacional geral".

Essas propostas foram enviadas para a consideração do governo brasileiro, e o presidente Getulio Vargas instruiu o chanceler Leão Velloso a convocar comissão de notáveis para estudá-las.

Na resposta encaminhada ao Departamento de Estado, o governo brasileiro considerou "satisfatório" o projeto apresentado. Considerava que "o pacto a subscrever-se, entretanto, não devia ser estático, e sim suscetível de aperfeiçoamentos, de modo que todos os Estados-membros viessem a ter futuramente "participação maior em suas decisões".

As atribuições da Assembleia Geral eram consideradas "reduzidas" e, na opinião do governo brasileiro, deveriam alargar-se com o tempo.

Já então o governo brasileiro alertava que o Conselho de Segurança precisava refletir "as correntes de opinião e de interesses de todo o mundo civilizado", e, sendo assim, resultava "indispensável" que se atribuísse à América Latina um lugar permanente.

O presidente Roosevelt instruiu sua delegação em Dumbarton Oaks a sugerir que o Brasil fosse considerado como o sexto membro permanente, possibilidade que ajudaria a "reforçar a posição do Brasil" na América do Sul.

Mas a proposta encontrou resistências da Grã-Bretanha e da URSS. O trabalho do diplomata Eugênio Vargas Garcia relata que a própria delegação americana, após reunião interna para debater o assunto, recomendou que Roosevelt desistisse da ideia.

Vários argumentos foram usados como justificativa, incluindo o fato de que os EUA seriam vistos como "responsáveis" pelo desempenho do Brasil se patrocinassem a entrada do país no conselho.

Tanto britânicos quanto soviéticos, embora cada um com seus próprios motivos, eram refratários a aumento no número de assentos permanentes além dos cinco já definidos - EUA, Rússia, China, França e Reino Unido -, alegando que, se fosse expandido, o conselho poderia ver sua eficácia comprometida.

Churchill e Stalin tampouco veriam com simpatia a hipótese de permitir o ingresso de mais um "voto certo" para os EUA.

(Amanhã: "O sexto membro permanente")

FONTE: O GLOBO

A covarde omissão do Brasil:: Clóvis Rossi

Foi covarde a atitude da diplomacia brasileira de abster-se na votação da zona de exclusão aérea na Líbia.

As explicações dadas depois pelo chanceler Antonio Patriota e por seu porta-voz, Tovar Nunes, tornaram ainda mais patética a covardia de não dizer nem sim nem não.

Comecemos com um pouco de história sobre a posição brasileira: assenta-se na tese de que a força não é o melhor instrumento nas relações internacionais.

Se fosse um debate acadêmico, eu aplaudiria de pé.

Mas, na vida real e na situação da Líbia neste momento, torna-se um argumento sem nexo.

O que está havendo na Líbia é o uso desmedido da força bruta por um tirano ensandecido que, de resto, a utiliza contra seu próprio povo faz 42 anos e que, em certa época, utilizou-a também contra terceiros (atentados contra um avião da PanAm sobre os céus da Escócia e contra uma discoteca de Berlim).

Qualquer pessoa dotada de um mínimo de senso comum saberia que um governante desse calibre só entende a linguagem da força.

No entanto, Patriota prefere fechar os olhos e os ouvidos e dizer que o Brasil não descarta "um esforço de diálogo com Gaddafi".

Além de completamente desconectada da realidade, a declaração é inconsistente com os votos do Brasil em sessões recentes de órgãos da ONU. Votou, no Conselho de Segurança, pela imposição de duras sanções ao governo líbio, descartando, portanto, "um esforço de diálogo". Votou também pela suspensão da Líbia do Conselho de Direitos Humanos da instituição, igualmente sem diálogo.

Tovar Nunes explicou que o Brasil "não tem interesse em ação militar que redunde numa contrarreação que piore a situação dos cidadãos".

Ah, meu caro Tovar, a contrarreação já ocorreu por meio da ofensiva que Gaddafi empreendeu contra os rebeldes, bombardeando cidades que eles ocupavam, blindando Trípoli contra manifestações pacíficas (o que viola as liberdades públicas que o Brasil diz defender) e ameaçando uma caçada aos rebeldes casa a casa.

Fica ainda mais patética a posição brasileira diante do efeito prático imediato da decisão do Conselho de Segurança: o tirano anunciou um cessar-fogo. Não se pode confiar em ditadores, é verdade, mas fica a sensação de que o diálogo que o Brasil tanto diz defender só se tornou potencialmente viável a partir da ameaça de uso da força, a única linguagem que tiranos entendem.

Há ainda na abstenção brasileira um desmentido às reiteradas afirmações da presidente Dilma Rousseff de que os direitos humanos estariam no centro de sua agenda de governo.

Ao contrário de intervenções militares anteriores (Iraque, Afeganistão, por exemplo), destinadas a caçar o tirano local de turno, a ação do Conselho de Segurança agora visa precisamente a preservar o mais básico direito humano, que é o direito à vida.

Não obstante, o Brasil de Dilma Rousseff omitiu-se covarde e vergonhosamente.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Antes tarde do que nunca:: Wilson Figueiredo

Um dia, antes tarde do que nunca, teria de acontecer e, quanto mais cedo, melhor para todos, em especial os interessados no voto do cidadão que se preocupa com as idéias liberais que não mais encontram espaço.Teria chegado a vez de se retraírem ao confronto das idéias? Ou será apenas para o liberalismo de barbas brancas pagar a conta? Os liberais são a minoria declinante que compete com o uso da gravata para ver quem será o último a dar o fora. Talvez seja a maneira prática (e não teórica) de se aferir pela aparência (ou idéias) um liberal. Se bem que ainda se esbarre, eventualmente, com aquela frase de Líbero Badaró que, ao se despedir, declarou que morria um liberal, mas não a liberdade. O princípio continua de pé e as frases duram mais do que os homens.

Segundo os repórteres da Folha - Uirá Machado e Maurício Puls, que levantaram a questão subjacente no pluripartidarismo brasileiro - das legendas eleitorais portadoras do adjetivo liberal, surgidas desde o fim da última ditadura, sobrou para o PFL (Partido da Frente Liberal) a entrega das chaves ao novo inquilino da herança, o DEM, e nem assim o pseudônimo foi capaz de dar conta da missão. Mesmo correndo por fora, não foi suficiente. As outras legendas que se deram mal ao se declararem liberais desistiram enquanto era tempo de mudar sem chamar a atenção. O adjetivo não se compromete com o substantivo que as tendências políticas dizem representar. As últimas tentativas debandaram.

Depois que o Estado Novo fez reserva de mercado eleitoralmente rentável no social, as dificuldades para os partidos que apostaram as ultimas fichas no liberalismo mostraram que - independente de ditadura ou democracia - os governos não abririam mão do privilégio de administrar responsabilidades sociais. E, para arrematar a questão, Lula passou como um furacão e equalizou por baixo a maneira brasileira de mostrar que a teoria continua diferente na prática. Poucos foram capazes de separar o que é direita do que seja esquerda e, sem esta distinção, não é pertinente a consideração ideológica do que se passou (e ainda não acabou de passar) desde o último recomeço democrático há mais de vinte anos.

Liberais, velhos ou moços, entenderam afinal que o liberalismo dá sinais de eleitoralmente esgotado como crédito político, e tratam de aproveitar a oportunidade para continuarem em cena. Reduziram-se a uma única legenda e as demais se compuseram da melhor maneira de simular o que são com aparência do que não são.

A outra maneira menos vulgar de contornar a situação está sem saída depois que Lula passou por aqui e, à direita e à esquerda, enganou mais do que podia e o eleitorado facilitava . Em pesquisas de opinião, no ano passado, mais de metade dos brasileiros ouvidos nada sabia nem percebia das diferenças entre esquerda e direita, ao passo que Lula se serviu e robusteceu a tese de que não existe mais uma nem a outra: é a preliminar que o Brasil não resolveu a tempo e tem embutido um sobre-preço de risco.

O dia em que não houver mais esquerda nem direita, o mundo perderá o rumo.

O ex-presidente enganou o mais que podia nas circunstâncias em que deu as cartas, e é provável que ele próprio não soubesse onde pisava, nem aonde iria levá-lo a barafunda ideológica em que se meteu. Há uma direita aparente e outra que se disfarça de esquerda, por ter traços genéticos que a ascensão do fascismo mostrou por onde passou, enquanto vamos perdendo tempo na ilusão de ganhá-lo.

Trata-se de um filão valioso, com indícios que estão aflorando de maneira reincidente, mas ainda há tempo de se aprender a distingui-los: a história não se repete em proveito dos que não aprendem com seu curso natural. E a água dos rios não passa duas vezes pelo mesmo lugar.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

A primavera dos partidos:: Fernando Rodrigues

Será mesmo criado o novo PSD (Partido Social Democrático). A operação é capitaneada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (no momento, no DEM).

Assim como o universo, o número de partidos no Brasil está sempre em expansão. Essa tem sido a lógica nos últimos anos. O político fica descontente com sua legenda, faz as malas e monta outra sigla.

No caso do PSD de Kassab, é cedo para afirmar se haverá sucesso mais adiante. Mas é inegável o estado de esfacelamento do DEM. Como os kassabistas dizem, agora o partido novo pode ter um número moderado de apoios; já o Democratas não terá nenhuma adesão num futuro próximo -ao contrário, perderá um punhado de quadros.

Se o PSD conseguir vocalizar os anseios de parte significativa da sociedade, ganha a democracia -embora, ressalte-se, é cedo para fazer previsões. Só haverá prejuízo se essa legenda se transformar em mais um nanico na atual sopa de letrinhas chancelada pelo TSE.

O Brasil tem hoje 27 partidos registrados. Muitos são inexpressivos. Não têm conexão com o eleitor. Vivem de favor do Estado -que oferece dinheiro do fundo partidário e acesso ao rádio e à TV.

O PRTB, o partido do aerotrem, por exemplo, teve 318 mil votos para deputado federal no Brasil inteiro em 2010. Mas só neste ano já recebeu R$ 239,8 mil. Embolsará perto de R$ 1 milhão até dezembro. Vive à custa dos pagadores de impostos. Tem também o direito (sic) de aparecer a cada seis meses interrompendo os telejornais da noite.

Siglas como o PRTB não devem ser proibidas de existir. O despautério é terem um acesso desproporcional ao dinheiro público quando se observa o apoio quase nulo que recebem nas urnas.

O PSD de Kassab nasce como um PRTB. Se crescer, preencherá uma lacuna no espectro político nacional -a centro-direita. Se fracassar, será mais um zumbi vivendo com verbas do Estado.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Cenários desfeitos:: Míriam Leitão

Para um ano que nem encerrou seu terceiro mês, 2011 já teve uma dose exagerada de surpresas. Boas ou terríveis, elas aumentaram a incerteza econômica e mudaram cenários. A crise japonesa está derrubando preços de commodities. O epicentro do problema é no Japão, mas é o iene que sobe, exigindo ação conjunta do G-7 no mercado de câmbio.

Como num jogo de xadrez, cada peça mexida altera o tabuleiro. A onda de rebeliões no Norte da África e Oriente Médio trouxe a boa notícia da mudança no Egito, mas trouxe a aflição líbia. As manifestações contra governos que pareciam sólidos são um evento ainda em aberto. Está se desenrolando com consequências na política e na economia. Veja-se o caso da Arábia Saudita: ela invadiu o Bahrein porque sabe que a queda de uma monarquia - e sunita ainda por cima - pode colocar em dúvida a solidez da própria monarquia saudita. É para defender seu governo que a realeza absolutista do país do petróleo passou pela ponte com seus tanques para reprimir a população xiita do vizinho. Aposta sobretudo na impunidade com que sempre cometeu seus crimes. E ontem o rei fez declarações que desanimaram os reformistas.

O trágico caso da Líbia expõe vários problemas ao mesmo tempo. Que os crimes de Muamar Kadafi não têm limites já se sabia, mas foi de novo espantoso ver como ele atacou seu próprio povo, como acumulou riqueza pessoal, como não cede a qualquer apelo. Quando ele ameaçou parar o trânsito pelo Mediterrâneo, mostrou também como o mundo é refém de alguns loucos.

Para nós, exibiu mais uma vez a cara hesitante da diplomacia. A embaixadora Maria Luiza Viotti disse que a zona de exclusão aérea iria provocar mais efeitos danosos. E o que dizer da ameaça de Kadafi de atacar a população "sem piedade"? O Brasil acha mesmo que não tendo opinião diante de uma tragédia dessas será respeitado? Pra que serve mesmo uma cadeira na ONU, para se sentar e não votar? O direito de voto para se abster como em tantas vezes em que o mundo tem diante de si escolhas trágicas? Não há saída boa quando um país está em guerra civil, mas a zona de exclusão aérea reduzirá o poder bélico do tirano que ameaça atacar sem piedade sua população. E o Brasil diante desse dilema tem a dizer que não é contra, nem a favor, muito antes pelo contrário. Nosso único argumento foi que outros quatro também se abstiveram, entre eles, a Alemanha.

As mudanças no mundo árabe elevaram o preço do petróleo para o nível de US$100 e exibem mais uma vez a inconsistência da política de preços de derivados de petróleo. Sobe o nafta, sobe o querosene de aviação, sobem todos os derivados que não são vendidos diretamente ao público, mas não sobe o preço da gasolina. Nenhum consumidor quer aumento de preços, evidentemente. Mas política de preços que eleva o preço não visível e congela o que tem publicidade é manipulação.

Já a crise no Japão produziu nestes primeiros dias queda nos preços de várias commodities, o que ajuda no combate à inflação, mas aumenta o nosso rombo da conta corrente e pode aumentar o dólar, que eleva a inflação. Os economistas estão confusos em suas previsões: uns achando que a crise do Japão terá efeitos deflacionistas, outros prevendo mais inflação. O que há de comum nas previsões é que todos acham que a taxa brasileira em algum momento este ano ficará acima da meta e no final reduzirá um pouco o ritmo, apesar de ficar bem acima do centro de 4,5%.

O iene subiu fortemente nos primeiros dias quando deveria cair, já que a economia japonesa se enfraqueceu. Segundo Jorge Knauer, da Prosper Corretora, bancos e empresas estão vendendo dólar e comprando ienes que serão demandados no período de recuperação. Antes, o movimento no mercado financeiro global era de pegar empréstimos no Japão, que tem juros zeros há muito tempo, e investir em outros países com taxas de retorno mais altas. Mas a alta do iene pode prejudicar a economia japonesa, dificultando exportações, e por isso o G-7 decidiu numa ação conjunta evitar a valorização da moeda japonesa.

O economista Carlos Geraldo Langoni acha que não haverá dificuldade para financiar a recuperação do Japão porque o nível de poupança é muito alto, mas a valorização do iene é mais uma pressão deflacionista numa economia que já vive com esse problema: a deflação. Pode parecer estranho para nós que nunca nos livramos completamente do problema oposto, mas a deflação é uma doença econômica também com perversas consequências.

As commodities ligadas a energia estão em alta, mas há outras que caíram nos últimos dias, ainda que seja apenas uma redução do exagero de alta que aconteceu nos últimos meses. Fábio Silveira, da RC Consultores, calcula que o açúcar teve queda de 10% nos primeiros quatro dias após o terremoto no Japão, e de 20% desde meados de fevereiro. O milho caiu 6% em três dias e 14% em um mês. A soja caiu 3% em três dias e 8% em um mês. Alumínio e cobre também caíram. Minério de ferro no mercado spot também teve queda forte nos últimos dias. A queda desses produtos é notícia boa e ruim para o Brasil ao mesmo tempo, dado que reduz a pressão inflacionária, mas expõe mais o déficit em conta corrente.

Na área diplomática, a jogada de ontem do coronel Muamar Kadafi foi paralisante. Ao decretar um cessar-fogo, ele neutralizou a decisão da ONU porque qualquer ação agora contra ele pareceria muito agressiva. Se, por um lado, mostrou que o Conselho de Segurança estava certo, por outro lado, a única boa saída seria sua deposição, e ele se fortaleceu conquistando territórios agindo na indecisão da ONU. Os cenários geopolítico e econômico estão instáveis. Um ano que começou muito difícil.

FONTE: O GLOBO

Lá vem o Patto!::Urbano Patto

É muito dignificante para a humanidade ver como o povo japonês se porta perante a catástrofe que se abateu sobre o país nessas últimas semanas. Não é um elogio fácil de ser feito, visto que há muita morte e desolação, e que ainda irá gerar muita tristeza, perdas e trabalho.

E mais, não há a mínima dúvida de que essas dignidade e grandeza demonstradas são decorrentes de algo que deve inspirar os demais povos do mundo: a Educação.

Diferentemente disso, o que vemos nas crises, nas tragédias e nas guerras civis em crescimento do norte da África retratadas nas imagens e nas notícias que nos chocam diariamente é a prevalência da ignorância.

Não se trata aqui de comparar a Educação e a ignorância tendo como parâmetros a simples disponibilidade escolarização ou de investimentos financeiros no setor. É mais que isso, transparece no Japão que Educação carrega junto os conceitos de civilização, cidadania, de solidariedade, de elogio da ciência e de perspectiva de futuro e que a ignorância no norte da África exala o mau cheiro da barbárie, do autoritarismo, da superstição e do medo do novo.

As duas situações merecem do mundo, e de suas organizações multilaterais, uma atitude ativa. Num caso estimulando a apoiando a superação das mazelas e a reconstrução do país e no outro intervindo para impedir o aprofundamento da tirania e da deturpação do que se possa entender como civilização.

Não é fácil para um pacifista convicto dizer isso e até pode parecer contraditório, mas há casos que a força, militar se necessária, tem de ser usada para coibir crimes contra a humanidade e a preservação dos valores e direitos fundamentais da pessoa humana, que alicerçam a idéia de um mundo unido onde a democracia, o diálogo e o entendimento sejam as formas de solução dos conflitos.

Urbano Patto é Arquiteto Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional e membro do Conselho de Ética do Partido Popular Socialista - PPS - do Estado de São Paulo. Críticas e sugestões: urbanopatto@hotmail.com

FONTE: JORNAL DA CIDADE (PINDAMONHANGABA/SP)

As musas de Lenine:: Michel Zaidan Filho

Segundo declaração do ex-secretário de Turismo da Prefeitura do Recife, Alfredo Bertini, o principal produto turístico a ser oferecido aos visitantes estrangeiros e nacionais que procuram a capital pernambucana para se distrair é o Carnaval do Recife. Daí a concentração de recursos, mídia, planejamento, logística e pessoal na organização e divulgação dos festejos momescos entre nós. Feito que teria levado, este ano, a rua 1.700.000 foliões para acompanhar o desfile da "maior troça do mundo", o Galo da Madrugada. O Carnaval recifense já tem a sua marca registrada sob o emblema do "multiculturalismo" e os diversos (7) "pólos de animação". Pela primeira vez, os órgãos de comunicação de massa do país destacaram, com programas jornalísticos especiais, a diversidade do carnaval pernambucano para um a audiência internacional, como fêz a Rede Globo de Televisão. Até aí, tudo bem.

O que não se entende é o critério que orientou a decisão da secretária de Turismo de conceder carta branca ao cantor e compositor Lênine para convidar várias "divas" da música popular brasileira: Zélia Duncan, Maria Gadu, Marina Lima, mariana, Karina Becker, Pato fú...e uma repórter da TV Globo, para o show de abertura do carnaval do Recife, na praça do Marco Zero.

O que em comum essas cantoras e intérpretes com a folia pernambucana e o carnaval multicultural de Recife e Olinda? - Nada. Ou então, a figura do próprio compositor e cantor, que mora no Rio de janeiro, é casado com uma executiva da rede Globo, já escreveu roteiros para a tv carioca e, originalmente, nunca foi entusiasta de nossa música regional, como disse um crítico do Jornal do Comércio, em sua bem documentada história da evolução musical de Pernambuco. Fica-se com uma forte impressão do velho e conhecido clientelismo cultural reinante em nossas plagas: a troca de favores. Eu convido vocês, vocês me convidam. E todos nós vamos nos dando bem, às custas do carnaval (e do erário público e a paciência dos foliões).

Quem viu o show deve ter-se confundido e achado que era no vale do Anhangabaú, ou na praia de Copacabana ou em algum estádio de Brasília. Não se cantou frevo ou música carnavalesca, o público não "frevou", não houve emoção e tudo acabou como uma consagração apoteótica do próprio Lenine, pelos convidadas, é claro.

Está mais do que na hora de repensar a organização do carnaval de Pernambuco e o uso dos recursos públicos neste tipo de "produto turístico-cultural". A começar pelas declarações publicadas no Caderno do C, do compositor e pesquisador Antonio Carlos Nóbrega sobre o arcaísmo do frevo e a própria organização do Carnaval. porque não se faz como na Bahia onde há uma autêntica reserva de mercado para a cultura musical e artística baiana? Aqui, qualquer um pode se apresentar e se promover, às custas de nossos festejos, mesmo que venha dizer em alto e bom som (Luis Caldas) que sua contribuição musical foi acabar com o frevo no carnaval do Bahia, com a criação do AXE-music. Pode, uma coisa dessas?

Sejamos cosmopolitas, multiculturais, regionalistas abertos, mas - pelo amor de Deus - tenhamos auto-estima, orgulho de nossas raízes culturais. O que não pode e não deve ser feito é utilizar o espaço dos festejos populares - de maior audiência de público e concentração de recursos - para servir de mera plataforma de lançamento de pseudos notabilidades musicais.

Michel Zaidan Filho é professor da Universidade Federal de Pernambuco

Lula não vai a almoço; FH, sim

O ex-presidente Lula, que foi chamado de "o cara" por Barack Obama, recusou o convite para o almoço de hoje, no Itamaraty, com o chefe de Estado americano. Fernando Henrique, Collor, Sarney e Itamar confirmaram presença.

"O cara" recusa almoço com Obama

Ex-presidentes são convidados; Lula não vai, mas FH, sim

Tatiana Farah e Maria Lima

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Chamado de "o cara" pelo presidente Barack Obama durante um encontro de líderes do G-20 em 2009, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou o convite para o almoço de boas-vindas ao americano, hoje, no Palácio do Itamaraty, em Brasília. Todos os ex-presidentes foram convidados. Fernando Henrique Cardoso confirmou presença, segundo o Ministério das Relações Exteriores. Os senadores Itamar Franco (PMDB-MG), Fernando Collor (PTB-AL) e José Sarney (PMDB-AP) também são esperados.

A assessoria de Lula informou que o ex-presidente não viajará a Brasília nem ao Rio, onde o presidente americano completa sua agenda brasileira, amanhã. Ela não informou qual a agenda de Lula para a ocasião.

Os convites para o almoço foram disputadíssimos. Primeiramente pensado para 350 convidados entre governadores, ministros, líderes e presidentes de partidos, além de dirigentes sindicais, o cerimonial do Itamaraty e a presidente Dilma Rousseff tiveram que fazer um corte na lista inicial, reduzindo-a para 180 convidados - deixando uma legião de descontentes.

Dilma manteve o convite para os presidentes das centrais sindicais, com quem trabalha para melhorar o relacionamento, assim como para líderes da oposição, representantes da Igreja, embaixadores e governadores e ministros de maior representação.

Os governadores Jaques Wagner (BA), Marcelo Déda (SE) e Antonio Anastasia (MG) confirmaram presença no almoço de hoje. Já o ministro do Turismo, Pedro Novais, não foi convidado.

- Foi problema do tamanho - disse um integrante do governo ao tentar explicar a exclusão.

- Do tamanho do ministro?

- Não! Do tamanho do espaço, que só comporta cerca de 200 convidados. Nem as esposas poderão ir - completou.

A banqueteira Renata La Porta foi contratada para cuidar da mesa do casal Obama e convidados. No almoço do Itamaraty ela vai mesclar receitas da cozinha "vegan" com cozinha brasileira. Para a primeira dama Michelle, vegetariana, manter a forma, feijoada com tofu defumado e espaguete de pupunha. Para Obama e convidados, picanha e baião de dois.

Colaborou: Isabel Braga

Cessar-fogo não convence e Obama dá ultimato a Kadafi

Somente a retirada de tropas de cidades rebeldes evitaria um ataque à Líbia

O cessar-fogo anunciado pelo ditador Muamar Kadafi não convenceu a comunidade internacional, um dia após a ONU ter aprovado uma zona de exclusão aérea na Líbia. EUA, Reino Unido e França deram um ultimato a Kadafi, alegando que seu regime deve pôr fim ao avanço das tropas em Benghazi, retirar soldados das cidades recuperadas e restabelecer o abastecimento de água, gás e eletricidade. Somente a implementação dessas condições evitaria um ataque aéreo, prometido para "as próximas horas", segundo o chanceler francês. O ultimato foi reforçado pelo presidente Barack Obama: "Isto tudo não é negociável", disse, ressaltando que a operação será conjunta com os aliados e que os EUA não mandarão soldados para a Líbia.

Prontos para um ataque

EUA, França e Reino Unido dão ultimato a Kadafi e ameaçam com ação militar iminente

Paris e Washington - A comunidade internacional encarou com ceticismo a declaração do cessar-fogo do regime de Muamar Kadafi, feita um dia depois de o Conselho de Segurança da ONU decidir implantar uma zona de exclusão aérea no país. Depois de rebeldes afirmarem que os combates continuavam, Estados Unidos, Reino Unido e França deram um ultimato a Kadafi, dizendo que seu regime deve implantar imediatamente o cessar-fogo; pôr fim ao avanço das tropas em direção a Benghazi; retirar soldados de Ajdabiya, Misurata e Zawiya; e restabelecer o abastecimento de água, gás e eletricidade às cidades cercadas. Caso contrário, "sofrerá as consequências", diz o comunicado divulgado em Paris e reforçado pelo presidente americano, Barack Obama.

Somente o cumprimento dessas condições evitaria uma ação militar - que segundo a TV árabe al-Arabiya começará hoje - para implantar uma zona de exclusão aérea. A Chancelaria francesa afirmou que tudo já está pronto para a operação militar e que ela poderia começar em horas. À noite, aviões de França, Reino Unido e dos Emirados Árabes Unidos já convergiam para as bases italianas.

A intervenção - da qual devem fazer parte também EUA, Noruega e Qatar, entre outros países - proíbe aviões militares de sobrevoarem o espaço aéreo líbio, mas não voos comerciais ou humanitários, e prevê a destruição de baterias antiaéreas e pistas de pouso de bases. A comunidade internacional espera, assim, evitar bombardeios a áreas civis. Itália e Espanha, por sua vez, contribuirão oferecendo suas bases militares para a operação.

Mas antes mesmo do início da ação, aviões franceses e britânicos deverão sobrevoar a Líbia, não para atacar, mas para "enviar uma mensagem política", informou uma fonte diplomática. Esta tarde, convocados pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, a União Europeia, a Liga Árabe, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, discutirão a crise.

Obama: sem pisar em solo líbio

Minutos antes do comunicado conjunto, o presidente dos EUA, Barack Obama, antecipou o último movimento para evitar o ataque. Assombrado pelas guerras no Afeganistão e no Iraque, Obama destacou que atuará junto com a comunidade internacional e que nenhum soldado americano pisará o solo líbio.

- Quero que isto fique claro - disse por duas vezes. - A operação será junto com nossos aliados do Reino Unido, França e países árabes. Kadafi deve cumprir com a resolução da ONU ou enfrentar uma ação militar.

Ao apresentar uma lista de exigências a Kadafi - como o fim do ataque a civis e a permissão da entrada de ajuda humanitária a áreas cercadas - Obama destacou:

- Isto não é negociável.

A declaração do presidente foi feita horas antes de embarcar para o Brasil, e parecia querer tranquilizar os americanos, estabelecendo limites para a participação do país. O pronunciamento trazia também uma mensagem aos árabes. Ele destacou que o futuro do Oriente Médio está nas mãos de seus cidadãos e que nenhuma potência estrangeira pode promover a liberdade e a democracia na região.

O dia começara com um pronunciamento do chanceler líbio, Moussa Koussa, de que o país decidira estabelecer "um cessar-fogo imediato e suspender todas as operações militares". Ele pediu ainda que a China, Malta, Turquia e Alemanha supervisionem o cessar-fogo. Mas os relatos de que os combates prosseguiam e de que as tropas se aproximavam de Benghazi minaram a declaração líbia. O premier britânico, David Cameron, reagiu dizendo que Kadafi seria julgado "por suas ações e não palavras", enquanto Hillary afirmava que as tropas deveriam recuar do leste líbio.

- Kadafi está começando a se assustar - disse o porta-voz da Chancelaria francesa, Bernard Valero.

Paralelamente, os governos de França e Reino Unido - os países que mais pressionaram por uma zona de exclusão aérea - realizavam reuniões de emergência com a Organização do Tratado do Atlântico Norte, que "concluía os planos como parte de um amplo esforço internacional". Os EUA têm uma variedade de embarcações e aviões na região, incluindo submarinos e destróieres, além de 400 fuzileiros navais, mas o Pentágono não informou quais forças participarão.

O empenho de franceses e britânicos não deixou todos os europeus contentes. A Alemanha se absteve de votar na ONU e não participará da ação militar. A Itália, dependente do petróleo líbio, relutantemente cedeu as bases. No lado árabe, embora a Liga apoie uma zona de exclusão aérea, Egito, Tunísia e Jordânia disseram que não participarão de ações militares.

Embora tudo esteja pronto, a ação militar ainda poderia ser detida. Apesar de Hillary ter afirmado que o resultado final da resolução da ONU seria a saída de Kadafi, uma fonte no governo disse à CNN que a intervenção pode ser cancelada se a violência parar.

- O propósito é evitar a perda de vidas. Se a violência parar, não se poderá dizer que a ação militar continuará até que ele parta - disse a fonte se referindo a Kadafi.

FONTE: O GLOBO

Rio: Ato contra Obama deixa 2 feridos e 13 presos

Bombas caseiras foram atiradas no prédio do consulado americano no Rio; protesto teve participação de petistas

Cássio Bruno

Muita confusão, correria, fumaça e fogo durante manifestação, na noite de ontem, em frente ao prédio do Consulado dos Estados Unidos. Pelo menos duas pessoas ficaram feridas e outras 13 foram presas no protesto que reuniu cerca de 200 pessoas contra a visita do presidente Barack Obama.

À revelia da executiva nacional do partido, integrantes do PT se somaram aos de PSTU, PCB, PDT, PCdoB e PSOL, estudantes e representantes do movimentos sociais no ato antiamericano. Dois coquetéis molotov foram lançados contra o prédio do consulado, na Avenida Presidente Wilson. Um deles explodiu no chão, mas o outro atingiu um dos vigilantes do prédio, que teve parte do corpo queimado e foi levado às pressas para o Hospital Souza Aguiar.

Após o lançamento das bombas incendiárias, a PM, que apenas monitorava os manifestantes, reprimiu com violência a manifestação. Os policiais dispararam tiros de balas de borracha, bombas de efeito moral e spray de pimenta. Um repórter da rádio CBN foi atingido. O trânsito no local foi interrompido.

Manifestação não tinha autorização da Prefeitura

A manifestação não tinha autorização da Polícia Militar e nem da Prefeitura, mas mesmo assim os integrantes de movimentos sociais e de partidos da base aliada começaram a se concentrar na Candelária por volta das 16 horas.

O major Fábio Alessandro, do 13ºBatalhão da PM, informou aos manifestantes que eles não tinham autorização para sair. Por volta das 18h30m, o grupo resolveu ignorar as ordens. Munido de bandeiras e cartazes com frases em inglês e português contra o presidente dos EUA ("Fora Obama"), ocupou duas faixas da Avenida Rio Branco, seguindo em direção ao consulado e atrapalhando o trânsito.

Como os policiais não impediram o avanço do grupo, a manifestação transcorreu sem maiores incidentes durante o trajeto. Porém, ao chegar em frente ao consulado, sob gritos de protesto, os dois coquetéis molotov foram atirados em direção à porta do consulado, causando um princípio de incêndio e queimando o vigilante, e outra no meio da rua, apagada pela PM.

O trânsito no local foi interrompido. Os PMs correram atrás dos manifestantes e conseguiram prender 13 deles, sendo um menor. Eles foram encaminhados à 5ª Delegacia de Polícia, no Centro do Rio, para onde também seguiu o vigilante ferido, após se atendido no Souza Aguiar.

A chefe da Polícia Civil, delegada Marta Rocha, e o comandante do 13º Batalhão, coronel Hugo Freire, compareceram à delegacia. Como um dos manifestantes, José Eduardo Figueiredo, é advogado, representantes da OAB Secional Rio também estiveram no local.

- O delegado agora vai ouvir cada um individualmente. Ao final, vai formar a sua convicção e dizer qual será a decisão - explicou Marta.

O delegado titular, Alcides Pereira, disse que só dará qualquer informação depois de ouvir os detidos e os policiais. Imagens das câmaras do consulado foram solicitadas para identificar os responsáveis pelas bombas.

FONTE: O GLOBO

Centrais entregarão 'carta aberta'

Leila Suwwan

SÃO PAULO. Os presidentes de cinco das seis centrais sindicais pretendem comparecer ao almoço com Barack Obama hoje, no Itamaraty, com o intuito de entregar uma "carta aberta" com críticas ao governo americano. Além de engrossar o coro pelo fim das barreiras comerciais, querem atenção à soberania das nações e aos trabalhadores e movimentos sindicais.

A carta aberta, assinada por CUT, Força, UGT, CTB, CGTB e Nova Central, pede o fim do bloqueio econômico a Cuba e reafirmação de ideais de paz, direitos humanos, autodeterminação e soberania.

O documento, que deve ser entregue à comitiva americana hoje, registra a mesma queixa do governo brasileiro sobre o desequilíbrio da balança comercial e pede o fim de barreiras a produtos brasileiros, como etanol. Apesar das queixas, as centrais elogiam as negociações sobre contribuição previdenciária cruzada, o que permitiria aos trabalhadores expatriados contar o tempo de serviço no outro país para aposentadoria.

"As relações comerciais entre os dois países têm sérios desequilíbrios. O Brasil acumula crescente déficit com os EUA, que passou dos US$4,4 bilhões em 2009 a US$7,7 bilhões em 2010, aumento de 75%", diz o texto.

FONTE: O GLOBO

Depois de Jirau, Santo Antonio para

Após o agravamento dos conflitos com os trabalhadores na usina de Jirau, ontem foi a vez de a hidrelétrica de Santo Antonio, também no Rio Madeira, em Rondônia, paralisar a obra.

Sem trégua no Rio Madeira

USINAS DE CONFLITOS

Depois de Jirau, conflitos chegam à usina de Santo Antônio, que também paralisa obras

Cássia Almeida

Diante da rebelião que se instalou nas obras da Usina Hidrelétrica de Jirau, a 130 quilômetros de Porto Velho, capital de Rondônia, parando a construção, a Usina de Santo Antônio, também do complexo do Rio Madeira, paralisou as atividades e não levou os trabalhadores da cidade para o canteiro ontem. Segundo trabalhadores, houve um pequeno tumulto nos alojamentos de Santo Antônio durante a madrugada de ontem, o que não foi confirmado pelo consórcio construtor da usina. Segundo a empresa, as atividades foram suspensas de maneira preventiva, após as manifestações de Jirau, e só serão retomadas após "a normalização do ambiente na região", diz a nota. Jirau e Santo Antônio estão entre as principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Em Jirau, o clima ainda era de revolta entre os trabalhadores, três dias após o início dos conflitos. Houve novo incêndio no alojamento da usina. E os trabalhadores que saíram do canteiro de obras foram abrigados num ginásio superlotado - muitos dormiram ao relento e ficaram sem alimentação. Ontem, a Camargo Corrêa, responsável pelas obras de Jirau, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho de Rondônia se comprometendo a prestar assistência aos trabalhadores.

Corte nas horas extras foi estopim

Segundo os operários, a rebelião teve início diante da insatisfação com o corte no pagamento de horas extras, o não reajuste do valor da cesta básica, a truculência de encarregados, seguranças e motoristas e o não pagamento de participação nos lucros. Os salários em Jirau estão em média em mil reais.

- Por que outras empresas que trabalham na mesma obra pagaram a participação nos lucros e a Camargo não? Eles pagam R$350 de cesta básica e nós só recebemos R$110 - reclamou um dos trabalhadores.

- Há duas semanas, a gente tinha avisado o que queria. Mas todo mundo que reclamava era demitido. Foi a terceira vez que um motorista bateu num empregado - contou outro.

Para garantir os direitos dos trabalhadores, o procurador regional do Ministério Público do Trabalho, Francisco José Pinheiro Cruz, negociou o TAC, que tem força de decisão judicial, com a Camargo Corrêa assumindo o compromisso de garantia de emprego, alimentação e hospedagem para os funcionários que decidirem permanecer em Rondônia, além de transporte aéreo e terrestre sem ônus para os operários que decidirem voltar para casa. Se a Camargo Corrêa não cumprir o acordo, a multa é de R$4 mil por trabalhador e ainda pode haver multa de R$100 mil.

Roberto Penteado, diretor de obras da Camargo Corrêa, estima que deve perder cerca de 10% do pessoal. Somente um terço dos cerca de 20 mil trabalhadores é de Rondônia, o restante vem do resto do país, boa parte de Maranhão e Pará. Segundo Penteado, foram fretados dois aviões com capacidade para 170 passageiros cada e 400 ônibus para levar os trabalhadores para suas casas. Além disso, os trabalhadores que antes estavam concentrados somente num ginásio foram deslocados para outros quatro locais.

Pela manhã, o ginásio do Sesi que serviu de abrigo estava imundo, com banheiros sem condições de uso. Ainda sem café da manhã e sem dormir, os trabalhadores desfiavam queixas:

- Perdi a conta de quantos companheiros pegaram malária lá - contou um trabalhador.

- Trabalhei de 17h30m de um dia até as 5h30m do dia seguinte e só pagaram até as 3h30m - reclamava outro operário.

Apesar das informações de que não havia feridos no conflito, um trabalhador estava com 24 pontos no braço, após ter caído sobre vidros durante a correria no canteiro:

- Vieram mais quatro comigo dentro da ambulância.

A Camargo Corrêa informou que não tinha conhecimento de qualquer reivindicação trabalhista e que os incêndios foram ação de vândalos.

Alguns comerciantes de Porto Velho chegaram a fechar as portas ontem, diante da onda de rumores de que estaria havendo saques na cidade. Foram levados pela polícia para serem ouvidos 28 trabalhadores e oito ficaram detidos em flagrante. Há cem homens da Força de Segurança Nacional garantindo a segurança da usina, que tem um paiol de explosivos de uso para as obras. Mas, mesmo com o policiamento dentro da usina de Jirau, houve outro incêndio provocado nos alojamentos da Enesa, empresa responsável pela montagem da usina.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) enviou um ofício à Energia Sustentável do Brasil, concessionária de Jirau, para saber o impacto que as rebeliões terão no cronograma da construção.

A Força Sindical pediu ao Ministério Público do Trabalho que forme uma comissão para visitar as obras da usina. A União Geral dos Trabalhadores (UGT) informou que enviará uma equipe para falar com os trabalhadores.

Outra grande obra do PAC também enfrenta conflitos trabalhistas. Os cerca de 4 mil operários que trabalham na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, estão em greve há dois dias. Eles reivindicam pagamento de 100% das horas extras, auxílio-alimentação de R$160 e auxílio-moradia de mil reais.

Colaboraram: Mônica Tavares e Letícia Lins

FONTE: O GLOBO

Kassab anuncia criação de partido na segunda-feira

Kassab deixa DEM, leva Afif e cria PSD na segunda

Prefeito também conquista filiação do ex-governador Cláudio Lembo ao partido que será lançado segunda-feira na Assembleia?Legislativa de SP

Julia Duailibi, André Mascarenhas e Marcelo de Moraes

Depois de cinco meses de articulações, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, anunciou ontem o desligamento do DEM e a criação de um novo partido, batizado de PSD (Partido Social Democrático), com o objetivo de se cacifar politicamente para disputar a eleição estadual de 2014.

O anúncio despertou certa desconfiança no Palácio dos Bandeirantes, que travou uma queda de braço tácita com o prefeito nos últimos dias para evitar que Kassab engordasse a nova legenda com aliados do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

O lançamento oficial do novo partido será na Assembleia Legislativa paulista, na segunda-feira, às 12:30. Na ocasião, será feita a leitura de manifesto de fundação da sigla. O vice-governador Guilherme Afif Domingos e o secretário de Negócios Jurídicos da Prefeitura paulistana, Cláudio Lembo, saem do DEM para acompanhar Kassab.

Embora o prefeito e Afif defendam a manutenção da aliança com o PSDB no novo partido, aliados de Alckmin veem na mudança articulação de Kassab para entrar na base aliada da presidente Dilma Rousseff. Alguns defendem que a secretaria de Desenvolvimento Econômico, de Afif, seja mantida com o DEM - e, portanto, retirada do vice.

Ontem, os articuladores políticos de Alckmin estavam de olho nos vereadores tucanos. Estava previsto um jantar deles com Kassab. Deram sinais de que podem sair do PSDB para acompanhar o prefeito os vereadores Ricardo Teixeira, Juscelino Gadelha, Gilberto Natalini, Claudinho de Souza e Adolfo Quintas.

Desses cinco nomes, a saída de Teixeira é dada como certa.

O desafio de Kassab nesta reta final é vencer a resistência de aliados e angariar quadros para a nova legenda. Ontem ele telefonou para vários parlamentares e prefeitos. Amanhã embarca para Salvador, onde se encontra com potenciais integrantes do PSD.

Nas contas do seu grupo, migram para a nova legenda nas próximas três semanas cerca de dez deputados federais por São Paulo. Também são esperados os prefeitos de Itu, Herculano Passos Júnior (PV), de Mogi das Cruzes, Marco Bertaiolli (DEM), e de Ribeirão Preto, Dárcy Vera (DEM) - apesar de contarem com a vinda da prefeita, ela tem resistido. O deputado Eli Corrêa Filho (DEM), por exemplo, disse ainda estar indeciso e que o prefeito sugeriu que ele pensasse no fim de semana.

Nos últimos cinco meses, Kassab manteve conversas com o PMDB e o PSB. Decidiu criar a nova legenda como uma manobra para sair do DEM sem ter o mandato questionado na Justiça - a lei permite mudança sem perda de mandato por infidelidade partidária desde que seja migração para uma nova legenda.

A ideia inicial era criar o partido para fundi-lo com o PMDB. Depois, veio o convite do PSB. O receio de como a Justiça interpretaria a articulação esfriou a negociação. A discussão foi empurrada para depois de 2012.

Kassab entrou no PFL em 05. Em 2007, a sigla virou o DEM. Antes disso, ele foi do PL.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PSD foi o maior partido do país até o golpe de 64

Criado em 17 de julho de 1945 pelos interventores nos Estados nomeados por Getúlio Vargas durante a ditadura do Estado Novo, o PSD foi o maior partido do país até o golpe de 1964.

No início, os líderes do PSD eram Benedito Valadares (MG) e Amaral Peixoto (RJ). Integrado sobretudo por servidores públicos e proprietários de terras, suas bases eleitorais ficavam no campo, onde vivia a maioria da população. Seu grande aliado era o PTB, que tinha o apoio de trabalhadores urbanos.

O PSD elegeu os presidentes Eurico Dutra (1945) e Juscelino Kubitschek (1955). Em 1950, apesar de ter lançado candidato, a maioria do partido apoiou Getúlio Vargas (PTB).

O PSD perdeu a eleição presidencial de 1960 para Jânio Quadros (PDC), mas voltou ao poder no governo do petebista João Goulart (1961-1964): Tancredo Neves foi primeiro-ministro de Jango de 1961 a 1962.

O general Castello Branco extinguiu o partido em 1965. Com o fim da ditadura, o ex-ministro Cesar Cals recriou o PSD em 1987, mas a sigla foi incorporada ao PTB em 2003

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Verdes se dividem e grupo de Marina ameaça sair do PV

Ex-senadora se irrita com manobra do presidente da sigla, José Luiz Penna, e aliados falam em novo partido

Dirigente adia troca de comando na legenda e isola ala "marineira"; Sirkis reclama de golpe e diz viver "pesadelo
"

Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - Isolado na disputa pelo comando do PV, o grupo da ex-senadora Marina Silva entrou em confronto aberto com o presidente da sigla, José Luiz Penna, e ameaça sair para fundar outro partido.

A crise estourou anteontem, quando Penna, no cargo desde 1999, liderou manobra na Executiva Nacional da legenda para prorrogar seu mandato por mais um ano.

Derrotada, Marina protestou contra o dirigente e autorizou aliados a falar abertamente em deixar a legenda.

"Estamos vivendo um pesadelo verde", disse o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ). "Penna deu um golpe para tentar ser presidente vitalício. Se não conseguirmos mudar isso, o único caminho será fundar outro partido."

Procurados, Penna e aliados mais próximos, como o deputado Sarney Filho (PV-MA), não deram entrevista. Marina também evitou comentar a crise na sigla.

A manobra de Penna pegou a ala "marineira" de surpresa. Sem aviso prévio, Sarney sugeriu adiar para 2012 a convenção que elegeria, até julho, a nova cúpula verde.

A proposta foi aprovada por 29 votos a 16, apesar dos protestos de Marina.

A ex-senadora fez um discurso duro e cobrou uma "transição democrática" no partido, de acordo com relatos ouvidos pela Folha.

Aliados de Penna sustentaram a tese de que ela é "novata" na sigla -à qual se filiou em 2009- e não foi capaz de elevar sua bancada federal, de 14 deputados.

Para Marina, a derrota pode comprometer o plano de construir uma terceira via na sucessão da presidente Dilma Rousseff, em 2014.

"Há um conflito entre os fisiológicos, que parecem ver a Marina como um estorvo, e a ala que quer renovar o partido. Agora a contradição estourou de vez", disse Sirkis.

Apesar do terceiro lugar na campanha de 2010, com 19,6 milhões de votos, a ex-senadora não tem maioria na cúpula do PV. Ela tenta pôr um "marineiro" no lugar de Penna para afastar aliados incômodos e organizar sua nova candidatura ao Planalto.

Do lado de Marina, estão verdes históricos como o ex-deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) e o ambientalista pernambucano Sérgio Xavier.

"Não dá para remar contra o tsunami da realidade. Marina é a grande liderança verde do país. Quem ignora isso está olhando para o próprio umbigo", disse o ecologista.

Os grupos de Penna e Marina já se enfrentaram no segundo turno de 2010. Ele queria apoiar José Serra (PSDB), mas foi convencido a endossar a neutralidade.

Verdes em crise

29 x 16
Foi o placar da votação na Executiva do PV que prorrogou o mandato do presidente José Luiz Penna, que concorria com Marina Silva

Grupos em disputa

"PENNISTA"
José Luiz Penna
Sarney Filho

"MARINEIRO"
Marina Silva
Alfredo Sirkis
Fernando Gabeira

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

"Fogo amigo" na economia obriga Dilma a intervir e apaziguar clima na equipe

Sheila D"Amorim e Valdo Cruz

O medo de perder o controle sobre a inflação gerou a primeira crise na equipe econômica do governo Dilma Rousseff. A dificuldade em orientar as expectativas do mercado financeiro expôs o Banco Central, deixou o Ministério da Fazenda sob ataques do fogo amigo e obrigou a presidente a romper o silêncio para reafirmar publicamente o controle de preços como prioritário na gestão.

As declarações de Dilma, dadas ao jornal "Valor Econômico", tentam colocar a casa em ordem num momento em que cresciam no mercado questionamentos sobre a atuação do BC e, nos bastidores do governo, surgiam boatos sobre insatisfações da presidente com o ministro Guido Mantega (Fazenda).

Segundo a Folha apurou, o clima ficou ruim por causa da publicação de notícias destacando a força que Tombini estaria conquistando dentro da equipe econômica. Mantega não gostou. Tombini soube e tratou de ligar para o colega de ministério e para a presidente e acabar com qualquer constrangimento.

À frente do BC há três meses, Tombini faz questão de demonstrar que tem perfil bem diferente do antecessor.

Avesso a reuniões restritas a investidores considerados formadores de opinião, contrariou interesses ao bancar um aumento dos juros de 0,5 ponto percentual, em vez do esperado 0,75 ponto.

Também deixou claro que a taxa de juros não será o único instrumento para o controle da inflação e que lançará mão de outras medidas de contenção do crédito.

Assessores próximos ao ministro da Fazenda identificam o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) como o maior crítico de Mantega dentro e fora do governo.

Apesar das divergências econômicas, Palocci evita a imagem de que está em atrito. Mas ele e Dilma consideraram infelizes as afirmações de Mantega de que o ajuste fiscal não tem como objetivo maior combater a inflação.

Avaliaram que foi uma negação ao fato de que a alta da inflação também está relacionada ao aquecimento da demanda interna.

As divergências não são encaradas como um problema pela presidente, que não gosta de ver o debate interno ganhar o noticiário e ser alimentado por sua equipe.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Cinema perto de você cada vez mais longe

De uma promessa inicial de 600 salas, programas do governo federal para a implantação de cinemas só inauguraram seis

André Miranda

A meta, anunciada em novembro de 2009 e comemorada por toda a classe cinematográfica brasileira, era de se inaugurar 600 salas de cinema em quatro anos. Porém, as medidas do governo federal para a expansão do parque exibidor do país têm tido um resultado bastante aquém do planejado. O Cinema da Cidade, um projeto voltado para municípios com população entre 20 mil e cem mil habitantes, ainda não teve orçamento aprovado no Congresso para a construção de uma única sala. Já o Cinema Perto de Você, para cidades com mais de cem mil habitantes, deu origem somente a um espaço, com seis salas, na Zona Oeste do Rio. O programa ainda sofreu um revés: uma Medida Provisória de desoneração fiscal para o setor, um dos braços do Cinema Perto de Você, não foi votada a tempo pelo Legislativo e expirou. Tudo isso significa que, das 600 salas sonhadas, o Brasil só conseguiu construir seis.

A carência nacional por cinemas é antiga e sempre apontada pelo setor como um dos grandes empecilhos para a expansão do mercado. De acordo com um levantamento do portal Filme B, o país terminou 2010 com 2.233 salas. É uma sala para cada 85 mil habitantes, uma relação ingrata em comparação com México (uma para cada 24 mil) ou EUA (um para cada sete mil).
Esses números levaram o governo a anunciar seus programas de expansão. Lançado oficialmente em junho de 2010, numa cerimônia que reuniu a classe e o então presidente Lula na cidade de Luziânia, em Goiás, o Cinema Perto de Você aliaria um crédito de R$500 milhões de verbas do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e do BNDES com a redução dos impostos para a compra de equipamentos. O financiamento foi utilizado para a construção do Cine 10 Sulacap, no Rio, e vai dar origem a um novo complexo na cidade, este em Irajá, com mais seis salas, previsto para abril. Foram as duas únicas propostas já avaliadas e aprovadas para financiamento. Há, ainda, quatro salas em análise em Minas Gerais, quatro no Ceará, 32 no Rio Grande do Sul e quatro no interior do estado do Rio.

- Durante meus 25 anos de luta, raras vezes vi uma abertura tão favorável para os exibidores como a que faz o Cinema Perto de Você. É um projeto viável, que favorece as periferias - diz Adhemar Oliveira, um dos responsáveis pelo Cine 10 Sulacap. - Mas eu vejo que é preciso azeitar as engrenagens, para dar mais agilidade ao projeto. E a Medida Provisória era fundamental para desafiar mais empreendedores a entrar no negócio.

A Medida Provisória de desoneração fiscal para cinemas foi assinada por Lula em 24 de junho de 2010. O prazo para que fosse votada no Congresso e virasse lei era 3 de novembro. Mas o recesso parlamentar por conta das eleições atrasou a pauta legislativa, e a norma caducou. Desde então, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) trabalha para sua republicação, mas vem esbarrando na realidade econômica do novo governo, de contenção de despesas.

- Temos grandes expectativas de que o Ministério da Fazenda vai dar sinal verde para a Medida Provisória. São receitas que não impactam a União - diz Manoel Rangel, diretor-presidente da Ancine. - Quando, em junho de 2009, começamos a desenvolver o programa, não havia entre os exibidores a vontade de olhar para a classe C. Mas, um ano depois, quando lançamos o Cinema Perto de Você em Luziânia, todos eles foram lá com a gente. Hoje o dinheiro está disponível, e não falta vontade política com o projeto. Mas precisamos de tempo para dar continuidade.

Enquanto isso, o outro projeto do governo federal para a expansão do parque exibidor, o Cinema da Cidade, depende ainda mais da boa vontade política. O programa funcionaria a partir de emendas parlamentares, com deputados ou senadores destinando verbas para pequenos municípios sem salas. Apenas cinco emendas foram apresentadas, num total de R$15,7 milhões. A Ancine fez todos os planejamentos de viabilidade e até encomendou estudos para um escritório de arquitetura. Mas nenhuma das emendas foi votada.

- No Cinema da Cidade, ainda não temos recursos disponíveis, mas está tudo pronto para operar - garante Rangel. - Tivemos problemas, mas a expansão do parque exibidor ainda é prioritária para o governo. É difícil falar em novos prazos, mas nós estamos trabalhando muito para que os projetos sejam bem-sucedidos.

FONTE: O GLOBO/SEGUNDO CADERNO

Soneto da perdida esperança :: Carlos Drumonnd de Andrade

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa

com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno
.