quarta-feira, 8 de junho de 2011

Opinião – Marco Antonio Villa

A crise se arrastou por muito tempo. Ela mostrou que depende de Lula ou do ministro para tomar decisão - disse Villa, para quem a crise expôs algo muito prejudicial a um governo: a fragilidade interna.

A Dilma não tinha enfrentado nenhum problema até agora, e logo na primeira crise mostra que não teve autoridade para resolver a situação.

Quando o que se sabe da nova ministra é que ela é mulher de alguém, isso é perigoso. O PT mostrou que não tem renovação de seus quadros.

Marco Antonio Villa, professor da UFSC/S. Paulo

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

Palocci cai e enfraquece Dilma com apenas 5 meses de governo
Nunca antes neste país
Bombeiros recusam mediação de comando
Nuvem de cinzas sobre o Cone Sul

FOLHA DE S. PAULO

Crise derruba Palocci; Dilma põe senadora novata na Casa Civil
Presidente quer que escolhida seja 'Dilma da Dilma' no cargo
Filhos e netos de Lula devolvem 4 superpassaportes
Vulcão cancela vôos de empresas aéreas brasileiras

O ESTADO DE S. PAULO

Escândalo derruba Palocci e senadora assume Casa Civil
Indicação de Gleisi é criticada no PMDB
Combustível mais barato reduz inflação
Estragos do vulcão

VALOR ECONÔMICO

Dilma demite Palocci e nomeia Gleisi
Ele já não era o 'fiador de Dilma'
Bancos cortejam empresas menores
Carro chinês tira espaço dos argentinos no Brasil

ESTADO DE MINAS

Palocci sai e senadora Gleisi assume Casa Civil
Reforma de Confins prevista para fim de 2013
Inflação cai no país, mas sobe em BH
Reforma reduz aplicação da prisão preventiva

CORREIO BRAZILIENSE

Palocci cai e Dilma põe senadora na Casa Civil
STJ anula toda a Operação Satiagraha
Cassação de Jaqueline é a tendência
Vulcão fecha os céus do Mercosul

ZERO HORA (RS)

Queda de Palocci muda perfil do governo Dilma
Um dia de transtornos vulcânicos

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Senadora substitui Palocci

Palocci cai e enfraquece Dilma com apenas 5 meses de governo

Na maior crise do governo Dilma, Antonio Palocci foi demitido da Casa Civil repetindo a própria história: de homem mais poderoso do governo, tornou-se o pivô de um escândalo que culminou com sua saída, sob suspeição, do cargo. A segunda queda de Palocci, cinco anos após perder o Ministério da Fazenda no governo Lula, enfraqueceu a presidente Dilma, antes mesmo de completar um semestre no cargo. Palocci acreditava que poderia ficar depois que a Procuradoria Geral da República arquivou os pedidos de investigação por suspeita de enriquecimento ilícito e tráfico de influência. O ex-presidente Lula sugeriu que Dilma esperasse mais, porém ela decidiu demitir Palocci diante do desgaste político provocado pelo caso. Para o lugar dele, convidou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), pedindo que ela assuma o papel de gestora dos projetos do governo. Sem Palocci para negociar com o Congresso, resta a Dilma agora o problema da Articulação Política. O ministro Luiz Sérgio também deve sair. Na crise, o PMDB se fortaleceu

Todo-poderoso em 2 governos, Palocci cai pela segunda vez

Após 24 dias de crise, Dilma escolhe Gleisi para a Casa Civil e procura articulador político

Chico de Gois e Luiza Damé

Apenas cinco meses após a posse, e depois de 24 dias de desgaste na maior crise política do governo Dilma Rousseff, Antonio Palocci perdeu ontem o posto de topo-poderoso chefe da Casa Civil, criando duas situações inéditas: foi duas vezes desalojado do cargo de ministro sob suspeição e o mais breve ocupante do cargo no Palácio do Planalto. Para seu lugar, a presidente Dilma escolheu a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (PT-PR), também um fato inédito na República.

Depois de se recusar a dizer, em entrevista ao "Jornal Nacional" na sexta-feira, para quais clientes trabalhou como consultor no período em que era deputado, a saída de Palocci do governo já era dada como certa desde anteontem, quando ele ainda acreditava que poderia se segurar no cargo. Sua esperança foi alimentada pela decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de arquivar o pedido de investigação contra ele por supostos enriquecimento ilícito e tráfico de influência como consultor. Dilma, porém, já estava decidida a tirar Palocci e a convidar Gleisi.

Dilma decidiu que Palocci deveria sair depois de ouvir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a lhe sugerir para aguentar mais um pouco. Mas Dilma avaliou que não era mais possível e que, ao optar pela demissão, daria sinais de que tinha independência - no fim de semana, pegou muito mal para o governo a informação de que Lula se encontraria com ela para discutir o caso Palocci.

Ela própria pediu para ele não ir a Brasília, mas manteve os contatos por telefone. Nesses contatos, o ex-presidente emitiu sinais contraditórios a Dilma. Num primeiro momento, achava que era melhor o então ministro pedir para sair. Depois, avaliava que seria melhor segurá-lo para não dar mais pontos para a oposição.

A decisão da demissão foi comunicada publicamente no fim da tarde de ontem, após uma última conversa de Palocci com Dilma no Planalto. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) foi um dos primeiros a serem informados oficialmente, mas ele já tinha conhecimento do desfecho. O presidente do PT, Rui Falcão, foi o primeiro a receber o telefonema de Palocci. Falcão também já sabia, desde a hora do almoço, que a substituição na Casa Civil seria anunciada ainda ontem, embora mantivesse o discurso público de que continuava apoiando a permanência de Palocci.

Em nota oficial, Dilma disse lamentar a perda "de tão importante colaborador". De modo formal, o texto distribuído pelo Planalto diz que a presidente "destacou a valiosa participação de Antonio Palocci em seu governo e agradece os inestimáveis serviços que prestou ao governo e ao país". A Casa Civil, com Gleisi, volta a ter o perfil técnico, com a responsabilidade de gestão pelos programas do governo.

A escolha de Gleisi para a Casa Civil não se deu só por questão de gênero, embora esse quesito tenha pesado. Dilma conhece Gleisi desde quando era ministra de Minas e Energia e a agora senadora era diretora financeira de Itaipu. Mais recentemente, ficou impressionada com a atuação da senadora na relatoria do projeto que triplicou o valor pago pelo Brasil pela energia excedente do Paraguai, no tratado de Itaipu, e também com sua condução na defesa do governo no Senado. Dilma tem apreço pessoal por sua futura colaboradora. Em 2008, uma das poucas agraciadas com a participação de Dilma em palanques foi Gleisi, que concorria à Prefeitura de Curitiba.

Quando começou a cogitar a saída de Palocci, Dilma já pensava em nomear uma mulher. Tanto que também estava cotada para o cargo a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que conhece bem a Casa Civil, onde trabalhou com Dilma. Além disso, ao optar por uma paranaense, Dilma põe panos quentes, pelo menos por agora, na disputa no PT paulista.

Saída anunciada desde a primeira denúncia

Desde que, em 15 de maio, se noticiou que o patrimônio do ministro crescera vertiginosamente desde 2006, quando ele deixou o Ministério da Fazenda sob acusação de ter quebrado o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, a vida de Palocci tornou-se um punhado de interrogações.

Como tática - que depois se mostrou equivocada -, ele vinha tentando se explicar por notas, mas protelou ao máximo dar respostas públicas. Só o fez na semana passada, e por cobrança da própria Dilma e sugestão de Lula. Mas já era tarde demais.

Anteontem, o arquivamento do pedido de investigação pelo procurador-geral da República, que não viu indícios de tráfico de influência, deu alívio a Palocci. Mas, se do ponto de vista jurídico não havia o que se investigar, segundo o parecer de Gurgel, do ponto de vista político, o vulcão já soltava cinzas e ameaçava explodir.

Na noite de segunda-feira, o Palácio do Planalto avaliava que era preciso esperar o dia amanhecer para ver como acordaria o mundo político. E nem a base nem a oposição estavam satisfeitas com explicações técnico-jurídicas e queriam mais. Queriam a cabeça do ministro, que já chegou a ser um dos "Três Porquinhos", referência carinhosa de Dilma aos coordenadores de sua campanha vitoriosa: Palocci, José Eduardo Cardozo (ministro da Justiça) e José Eduardo Dutra (ex-presidente do PT).

Depois da decisão do procurador-geral, Palocci ainda conversou anteontem à noite com os líderes do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e concordou em ir ao Congresso, desde que a convocação fosse transformada em convite. Foi a última tentativa de Palocci de se segurar no cargo que estava lhe escapando das mãos.

FONTE: O GLOBO

Nunca antes neste país

Com a escolha de Gleisi Hoffmann para a Casa Civil, o Brasil vive uma situação inédita na história republicana: pela primeira vez um casal ocupa cargos na Esplanada dos Ministérios. Gleisi é mulher do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. A indicação surpreendeu os governistas

Entre marido e mulher, Dilma fica com os dois

Senadora e casada com o ministro das Comunicações, que era cotado, escolha de Gleisi surpreende até aliados

BRASÍLIA. A decisão da presidente Dilma Rousseff de nomear a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e não seu marido, o ministro Paulo Bernardo (Comunicação), para a Casa Civil surpreendeu a base governista. Apesar dos elogios públicos, representantes de partidos aliados criticaram a escolha, afirmando que ela não tem experiência política e que essa decisão não acaba com os problemas na articulação política do governo. É o primeiro casal de ministros na História da República.

Embora esteja em seu primeiro mandato eletivo, Gleisi, de 45 anos, foi escolhida também por ser mulher, o que tem um simbolismo para a presidente Dilma. Ela vinha se mostrando uma parlamentar aplicada no Senado. Ganhou destaque com sua atuação em defesa do governo, angariando antipatias na oposição e provocando ciúmes entre governistas. Casada há 15 anos com o ministro das Comunicações, ela começou sua militância política na adolescência e trabalhou na assessoria econômica da liderança do PT na Câmara, quando conheceu o marido, na época deputado federal.

Formada em Direito e com especialização em Administração Financeira, Gleisi foi secretária estadual e diretora financeira de Itaipu. No Senado, atuava nas comissões de Assuntos Econômicos, Agricultura e Relações Exteriores. Foi designada relatora do PPA, o plano de ação de quatro anos do governo. Surpreendeu a base ao propor emendas na Comissão Mista de Orçamento para reduzir o valor e o número das emendas parlamentares.

Semana passada, Gleisi havia sido criticada pela bancada petista e por peemedebistas, que a acusaram de querer derrubar o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-PR), em sessão tumultuada na qual a oposição impediu a aprovação de duas medidas provisórias.

Mas a informação de que Gleisi recebeu como incumbência principal na Casa Civil cuidar da gestão dos programas de governo, e não da articulação política, aliviou petistas e peemedebistas.

- Para quem passou momentos de grande tensão como passamos, a escolha não poderia ter sido melhor. A senadora Gleisi é a cara certa para esse novo momento. É competente, tem capacidade de gestão e saberá impor uma pauta positiva para o governo - comemorou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

O presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RR), minimizou o confronto entre Gleisi e Jucá. Na ocasião, ela reclamou de forma ríspida por discordar de uma norma de procedimento adotada por Jucá.

- Isso foi uma coisa de momento. De maneira nenhuma o PMDB vetaria seu nome (para a Casa Civil) - disse Raupp.

O líder do DEM, senador Demóstenes Torres (GO), ironizou a escolha:

- Se ela for utilizar o estilo esquentadinha que mantinha aqui no Senado, a articulação do governo pode piorar, porque no Congresso tudo se faz no diálogo, não adianta querer enfiar as coisas goela abaixo.

Apesar das restrições que muitos faziam nos bastidores, publicamente a bancada petista elogiou a escolha.

Gleisi nega haver "maldição" na Casa Civil

Em rápida entrevista, Gleisi anunciou ontem que assume a Casa Civil para gerenciar os "programas e projetos de governo", devendo ficar distante da fragilizada articulação política no Congresso. Ao negar que exista uma "maldição" na Casa Civil --- no governo anterior, José Dirceu e Erenice Guerra também caíram alvejados por denúncias -, Gleisi afirmou que tem pela frente um grande responsabilidade:

--- Não é maldição. Temos um projeto extraordinário de transformação deste país. O desafio é muito grande. Vou trabalhar muito para que possa entregar a ela (Dilma) o produto que ela quer do meu trabalho. Aceitei o convite sabendo do tamanho da minha responsabilidade.

Primeira petista da bancada do partido no Senado a cobrar com vigor explicações convincentes de Antônio Palocci, Gleisi elogiou o seu antecessor e lamentou sua saída:

---- Quero aqui fazer uma deferência, uma menção especial ao ministro Palocci. Para nós, é um momento triste. Sabemos do relatório da procuradoria, que colocou de forma muito clara a situação do ministro, falando que não há nenhum problema. É uma pena perder o ministro Palocci nesse governo, pela qualidade que ele tem --- disse.

FONTE: O GLOBO

Lula foi consultado do começo ao fim

Dilma, porém, tomou a decisão após ouvir poucos assessores

Maria Lima, Cristiane Jungblut e Isabel Braga

BRASÍLIA. A saída de Antonio Palocci do governo começou a ser delineada na noite de segunda-feira, em conversas que tiveram a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por telefone, de São Paulo. Àquela altura, a avaliação no Palácio do Planalto e de petistas próximos ao núcleo de poder era a de que não havia mais condições políticas de Palocci se manter no cargo. Mas o ministro só se convenceu de que deveria sair para "estancar a sangria" que atingia a presidente Dilma Rousseff no dia seguinte. A primeira crise séria do atual governo serviu para fortalecer o PMDB e escancarar a disputa de poder entre as correntes do PT.

Enquanto o PMDB se manteve unido e coeso no apoio ao governo, o PT se dividiu e enfraqueceu o apoio a Palocci, contribuindo em muito para a queda do ministro. Mas na escolha do substituto de Palocci, a presidente Dilma não ouviu petistas nem peemedebistas. Fez algumas consultas a pouquíssimas pessoas do PT, mas não tratou do assunto com os aliados do PMDB.

Logo depois do anúncio da substituição de Palocci por Gleisi, a cúpula do PMDB se reuniu no Palácio do Jaburu para analisar, junto com o vice Michel Temer, os desdobramentos da crise. O próprio Temer só ficou sabendo da queda do ministro por volta das 16h30m, quando a decisão já estava tomada. Dilma apenas o comunicou sobre a troca de Palocci por Gleisi.

- O Michel foi comunicado. Ninguém foi consultado. Agora é respeitar a escolha da presidente. O PMDB cumpriu o seu papel de dar apoio durante a crise, e agora é torcer para tudo entrar nos eixos. O jogo foi zerado e esperamos que as pessoas certas sejam colocadas nos lugares certos - disse um dos peemedebistas presentes à reunião no Jaburu.

A decisão do procurador da República, Roberto Gurgel, de arquivar as denúncias contra Palocci, divulgada na segunda-feira à tarde, serviu, na prática, para atenuar o desgaste da saída do ministro, mas não teve força suficiente para mantê-lo no cargo.

Na avaliação do núcleo próximo à presidente Dilma, a decisão de Gurgel foi vista como um salvo-conduto, para que Palocci não deixasse o governo tão desgastado e minimamente protegido juridicamente.

- Ele saiu com um salvo-conduto da PGR e optou por tirar a sangria de cima dela (Dilma) - resumiu um cacique do partido.

A anunciada viagem do ex-presidente Lula a Brasília - abortada pela própria presidente - seria mais um motivo de desgaste para o governo, pois cresceria a visão de que Dilma depende ainda das decisões do antecessor. Mas Lula, mesmo à distância, entrou em campo para tentar administrar a crise envolvendo Palocci. A Dilma disse o que pensava - a princípio defendeu que ele saísse logo, depois voltou atrás -, mas a colegas petistas fazia questão de dizer que ultrapassaria os limites de um mero conselheiro, sem defender uma posição concreta.

Das reuniões palacianas que aconteceram desde a noite de segunda-feira participaram o presidente do PT, Rui Falcão, Palocci, Dilma e o secretário-geral Gilberto Carvalho.

- O parecer do procurador Roberto Gurgel provocou uma melhora na situação jurídica do Palocci, mas no campo político nada está resolvido ainda - dizia um desses petistas ainda no início da tarde ontem: - Vieram as manifestações do PCdoB, PDT e setores do PT pelo afastamento do ministro, tem a ameaça da CPI. Tudo isso mostrando que haveria um agravamento da crise e aumento de uma situação de desgaste.

Os principais ministros e líderes do PT foram avisados, já no início da tarde de ontem, que um desfecho em relação a Palocci ocorreria antes de o dia anoitecer. A própria presidente ligou para alguns líderes anunciando a escolha de Gleisi. Por volta de 16h, antes da última conversa com Palocci, ligou para o presidente da Câmara, Marco Maia, informando que as chances de Palocci deixar o governo eram de 99%. Por volta das 17h30m, Palocci ligou para Maia e disse que pedira demissão. Em seguida, ligou para o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Ainda na segunda-feira, Palocci ligou para alguns líderes como Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Romero Jucá (PMDB-SP), agradecendo o apoio recebido e sugerindo que poderia ir ao Congresso, como convidado, e não convocado. Palocci, de fato, acreditava na noite de segunda-feira que ganhara uma sobrevida no governo por causa do parecer favorável do chefe do Ministério Público.

FONTE: O GLOBO

Luiz Sérgio deve ser o próximo a perder o cargo

Substituto deve ser do PT, mas tanto petistas como peemedebistas temem o desgaste do embate diário com Dilma

Maria Lima

BRASÍLIA. Com a queda do ex-ministro Antonio Palocci, que concentrava todas as decisões políticas do governo, a presidente Dilma Rousseff deve substituir também o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), o petista fluminense Luiz Sérgio, alvo das maiores críticas e reclamações sobre a descoordenação política na Esplanada e no Congresso. O seu substituto pode ser anunciado entre amanhã e sexta-feira. A ministra da Pesca, Ideli Salvatti (PT), é uma das cotadas. O partido não abre mão da indicação, mas até entre petistas há resistência a assumir o cargo, tido como o mais complicado, por ter bater de frente com Dilma.

Não está descartada a hipótese de o substituto ser do PMDB, apesar de peemedebistas afirmarem não querer "esse abacaxi". Na reunião em que Palocci entregou a chefia da Casa Civil a Dilma, os dois discutiram a relação do governo com o Congresso, muito criticada pelos próprios partidos da base aliada.

PT não abre mão da indicação para a pasta

A presidente vai mudar a estrutura da cozinha do Palácio do Palácio, com a Casa Civil voltando a ter suas funções mais focadas para políticas públicas. A articulação política ficará concentrada na Secretaria de Relações Institucionais. Esse era o modelo adotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando Dilma ocupava justamente a chefia da Casa Civil.

Para petistas, não basta trocar um nome por outro. É preciso que tanto a Casa Civil, com Gleisi Hoffmann, quanto a Secretaria de Relações Institucionais passem por uma reestruturação. Se Gleisi tem perfil técnico, a pasta de Luis Sérgio terá que ser fortalecida e ganhar autonomia para decidir, sem passar sempre pelo crivo da Casa Civil ou da própria Dilma.

- Se mudar o Palocci, muda o Luiz Sérgio. Não abrimos mão da indicação, mas é muito difícil arrumar um perfil para a pasta, por isso não teve ainda a mudança - informou ontem um dirigente petista, algumas horas depois de se reunir com a presidente Dilma.

- Se não mudar as atribuições da SRI, dando-lhe autonomia, quem é que terá coragem de assumir e colocar lá sua cara para ser palhaço ? - completou outro petista.

PMDB não quer assumir Relações Institucionais

O PMDB também torce o nariz para o ministério das Relações Institucionais. Pelas dificuldades de dar respostas e resolver as pendências dos aliados, Luiz Sérgio tem sido alvo de apelidos jocosos e chacota dos próprios aliados. O líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), o apelidou de "garçom que anota os pedidos mas não consegue entregar a encomenda". E, se foi difícil arrumar um substituto para Palocci, mais complicado ainda será encontrar um nome com perfil para enfrentar a convivência diária com Dilma.

As articulações no PMDB visam a ocupar espaços nessa mudança necessária no terceiro andar do Planalto. Mas a ideia de pôr o vice-presidente Michel Temer no comando da articulação política é vista como uma "proposta indecente" para queimá-lo ainda mais no governo. E os peemedebistas, garantem, não têm nome algum com perfil para o cargo.

- Quem no PMDB tem perfil para isso? O cara vai ter que bater de frente com Dilma diariamente! A convivência diária com ela não é fácil. Que o diga o ministro Wagner Rossi! - diz um peemedebista, referindo-se ao ministro da Agricultura, que é do PMDB.

Peemedebistas falam no nome de Miriam Belchior

A avaliação é que a solução é mais complicada no caso de Dilma, porque ela não tem jogo de cintura político: Luiz Sérgio fecha os acordos com a base, mas quando Dilma vai dar o aval acaba vetando tudo. E no governo passado o próprio ex-presidente Lula comandava o jogo político, mas com muita experiência, o que falta a Dilma.

- Passamos! Não dá para o PMDB essa daí não. Bons nomes temos, mas não com esse perfil. Mesmo porque o PT vai partir para cima e ocupar o cargo. Melhor seria botar lá a Belchior, porque uma dá esporro na outra e fica tudo certo - diz outro peemedebista, referindo-se a Miriam Belchior, ministra do Planejamento.

A estratégia dos peemedebistas era apoiar Palocci até o fim para não desgastar Dilma e se diferenciar do PT, que cobrou explicações e até sua demissão.

- Mas esse é o nosso comportamento sempre! Não vamos aproveitar a oportunidade para criar dificuldades para a presidente Dilma e o governo. Se o PT está com esse comportamento, não vamos acompanhar - diz o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

FONTE: O GLOBO

Especialistas: fragilidade do governo foi exposta

Para cientistas políticos, crise não só desgastou a figura da presidente Dilma como pôs em xeque sua autoridade

Flávio Freire

SÃO PAULO. A crise que resultou na demissão do ministro Antonio Palocci expôs não só a fragilidade interna do governo Dilma Rousseff como pôs em xeque a autoridade política da presidente, segundo cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO. A saída de Palocci, segundo eles, está longe de criar uma situação confortável para o governo, que perdeu um dos seus principais interlocutores com o empresariado brasileiro. Além disso, a análise é de que a ministra Gleisi Hoffmann, que assume a Casa Civil, terá de ganhar também maior poder de articulação com o Congresso.

A queda de Palocci foi provocada pelas denúncias de que o seu patrimônio pessoal aumentou em 20 vezes desde 2006. O ex-ministro informou que atuava como consultor, mas negou-se a divulgar os nomes de seus clientes.

Para o historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos Marco Antonio Villa, a crise envolvendo Palocci desgastou a figura de Dilma, que não mostrou autoridade. Ou pior, na análise dele: a crise mostrou que a autoridade dela é frágil.

- A crise se arrastou por muito tempo. Ela mostrou que depende de Lula ou do ministro para tomar decisão - disse Villa, para quem a crise expôs algo muito prejudicial a um governo: a fragilidade interna.

- A Dilma não tinha enfrentado nenhum problema até agora, e logo na primeira crise mostra que não teve autoridade para resolver a situação.

Ainda segundo ele, a nomeação da senadora Gleisi Hoffmann traz à tona outro problema: a falta de renovação dos quadros do PT.

- Quando o que se sabe da nova ministra é que ela é mulher de alguém, isso é perigoso. O PT mostrou que não tem renovação de seus quadros.

Também para o coordenador do Centro de Pesquisas e Análises de Comunicação (Cepac), Rubens Figueiredo, a sobrevida de Palocci nas últimas semanas colocou em xeque a credibilidade do governo. Ele ainda considera que a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cenário de crise deu ideia de que se trata de um governo sem comando.

- A sobrevida de Palocci custou muito para o governo, principalmente em questão de credibilidade. E a participação de Lula nesse episódio passou a ideia de que o governo de Dilma não tem comando - disse ele, para quem as explicações dadas por Palocci, na entrevista ao "Jornal Nacional" de sexta-feira, são consideradas o "anticlímax" para uma eventual solução da crise. A entrevista criou uma expectativa muito grande e teve uma frustração no mesmo tamanho.

Governo estaria perdendo uma ponte com empresariado

Para o professor de Ética e Filosofia da Universidade de Campinas (Unicamp) Roberto Romano, a posição de Palocci levou o governo a uma fraqueza muito grande. Mas, para ele, o problema maior está por vir, já que Palocci era a ponte do governo com o empresariado. Talvez por isso, segundo Romano, Palocci resistiu tanto no cargo.

- O Palocci significava no governo a garantia (do apoio) dos empresários, e isso faz um governo petista pensar dez vezes antes de tirar alguém como ele do governo - diz Romano.

Romano também disse que a entrada de Lula na crise é prejudicial demais para Dilma, que mostra ser uma governante tutelada pelo ex-presidente.

- A ajuda imprudente do Lula deixa a suspeita de que a presidente é tutelada. Ou ela é autoridade máxima ou não é.

Para ele, não havia outra alternativa a Palocci senão deixar o governo, já que não conseguiu se explicar na entrevista que deu ao "Jornal Nacional" de sexta passada.

FONTE: O GLOBO

Recomeço:: Merval Pereira

O mais importante na substituição do ex-ministro Antonio Palocci foi a tentativa de retomada do controle da situação pela presidente Dilma. Mesmo tendo se aconselhado com o ex-presidente Lula, o que a enfraquece aos olhos da opinião pública, não aceitou sua sugestão para que mantivesse o ex-ministro Antonio Palocci na Casa Civil, e apenas comunicou-o que escolheria a senadora Gleisi Hoffmann para substituí-lo, deixando a sua marca com a escolha de uma mulher para o primeiro escalão de seu Ministério.

A escolha de uma mulher para o cargo mais influente do governo tem o simbolismo que a presidente Dilma considera importante para marcar sua passagem pela Presidência da República, e, no momento, esse ponto é mais importante do ponto de vista do marketing político do que saber se a indicada tem capacidade para exercer o cargo.

O PMDB já começa a espalhar que considera a senadora petista despreparada para a função, mas ela tem experiência administrativa, e declarou que a presidente quer que faça um trabalho de gestão, o que indica que a negociação política terá que ser assumida em outra esfera do governo.

O ex-ministro Palocci não tinha a menor condição política de permanecer no comando da Casa Civil, e a decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de arquivar o pedido de inquérito contra ele só teve a vantagem de deixá-lo sair do governo em uma situação mais favorável do ponto de vista formal.

Do ponto de vista da atuação política, ele já perdera a parada, diante da possibilidade concreta de que a CPI do Senado fosse pedida com o apoio de senadores da base aliada e da negativa da bancada petista do Senado de lhe dar um voto de confiança.

É preciso ressaltar que a escolha da senadora do Paraná teve um requinte político: ela fora a mais veemente, na reunião com Lula, a investir contra a permanência de Palocci no Palácio do Planalto, afirmando que ele estava desgastando o governo.

Parece ter transmitido o pensamento da própria presidente Dilma, que se livrou de um dos nomes que Lula colocou próximo a seu gabinete para tutelá-la.

A senadora Gleisi Hoffmann será a única componente do chamado "núcleo duro" do governo com votos, o que lhe dará certa ascendência entre os petistas encastelados no primeiro escalão.

Mas não quer dizer que seja boa de voto; perdera anteriormente uma eleição para o Senado e outra para a prefeitura de Londrina, tendo ocupado diversos cargos em administrações petistas, o mais importante deles como gestora da Itaipu Binacional.

Embora tenha um perfil mais técnico, o que era buscado pela presidente Dilma, a senadora teve atuação política aguerrida no Senado nesses primeiros meses de legislatura, a ponto de já ter criado uma relação desgastada com a bancada do PMDB, o que certamente lhe trará problemas agora que está na Casa Civil.

É muito provável que o governo tenha que mudar o ministro das Relações Institucionais, pois o deputado Luiz Sérgio é considerado por seus pares como incapaz de ser o protagonista dessa relação necessariamente conflituosa da base governista.

O PMDB já está reivindicando o cargo, diante do fato de que a senadora Gleisi Hoffmann representa um acréscimo de poder ao PT dentro do governo, já que Palocci tinha luz própria, e representava muito mais Lula do que a máquina petista.

O crescimento petista, aliás, presumivelmente fará com que o PMDB tente assumir um papel mais ativo no governo, para contrabalançar a saída de Palocci.

O novo sócio do poder petista se apresentou no início do governo como o avalista de um projeto democrático, garantindo que nenhuma aventura petista seria apoiada por ele.

O temor de que a nova direção petista, sob a inspiração de José Dirceu, tentasse assumir o controle do governo foi amortecido com a indicação de Antonio Palocci para a Casa Civil.

Por isso mesmo, no início da crise desencadeada pela descoberta de seu rápido enriquecimento, até a oposição atacou-o de maneira suave, na esperança de que conseguisse explicar a origem do dinheiro e se livrasse das acusações que, ao que tudo indica, vieram de seu próprio lado, fogo amigo na disputa pelo poder.

Antes de nomear a senadora Gleisi Hoffmann para a Casa Civil, a presidente Dilma teve uma conversa com o presidente do PT, Rui Falcão, ligado a José Dirceu, o que fez com que os peemedebistas ficassem de orelha em pé.

O mais difícil do governo Dilma — que recomeça agora, mais com sua cara — será justamente organizar essa base aliada, que, de tão grande e tão homogênea, é mais um problema do que solução.

Uma aliança política apenas defensiva, que não tem liga programática nem projeto de governo e, por isso mesmo, é sujeita a muitas variações de humor e está permanentemente em busca de "motivos" para votar com o governo — que podem se traduzir em cargos e comissões políticas que rendam votos.

Com a saída de Palocci, veremos nos próximos meses uma disputa feroz entre os dois principais protagonistas da aliança política governista, e caberá à presidente Dilma arbitrar esses conflitos.

Ela agora começa a querer assumir suas responsabilidades de chefe do Executivo, e terá que mostrar capacidade de comando num ambiente conturbado.

A senadora Gleisi Hoffmann, por sua vez, não terá o período de graça que se dá aos governantes, pois ela entrou em meio a uma crise e continuará a receber os estilhaços da artilharia oposicionista, que tem uma boa oportunidade de assumir um papel mais agressivo.

FONTE: O GLOBO

Procurar é preciso::Dora Kramer

Antonio Palocci pediu demissão depois que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, decidiu não abrir inquérito criminal para apurar as causas de seu enriquecimento abrupto.

A nota do Palácio do Planalto busca ligar a saída ao atestado de inocência dado pelo procurador. Mas é de se perguntar: se o parecer fosse pela abertura de investigações Palocci continuaria? Claro que não.

Notícia disso dá o anúncio imediato da substituição, indicando que a decisão da demissão estava tomada. Dependia do tempo e da forma.

Quanto ao parecer do procurador, Gurgel não viu na documentação solicitada a Palocci resquício de indício de crime. Pareceu-lhe, no entanto, que pode ter havido improbidade administrativa, o que foge à alçada da procuradoria, mas não autoriza ninguém, nem o governo nem o Congresso nem o Ministério Público, a dar o caso por encerrado.

Tanto que no âmbito do MP do Distrito Federal já corre uma investigação para apurar a ocorrência de improbidade administrativa.

A saída anunciada no início da noite de ontem mostra que o cerco sobre Palocci foi fechado. Mas não encerra a questão do sigilo da documentação sobre as atividades da empresa Projeto Consultoria.

Tomando como verdadeira a declaração de Palocci de que todas as informações foram repassadas aos "órgãos de controle", é de se supor que o procurador-geral tenha tido acesso à lista de clientes e à natureza dos serviços prestados pela empresa.

Se não teve, faltaram-lhe informações para atender a um item da representação apresentada por três partidos que aludia à "disparidade entre a estrutura empresarial da Projeto e a receita auferida por ela" para saber se os ganhos do proprietário foram compatíveis com a realidade do mercado de serviços de consultoria.

Caso tenha tido acesso a rigorosamente tudo, Gurgel é no Brasil, além de Palocci, a única pessoa em condições de atestar que não houve crimes de enriquecimento ilícito e tráfico de influência.

É exigir muito da opinião pública que seja dado a ele um crédito de tal monta com base em um parecer da Procuradoria-Geral e na palavra de quem, como principal interessado em esclarecer, se deixou sangrar sem se explicar a contento.

O País merece saber como o ministro-chefe da Casa Civil conseguiu tanto dinheiro em tão pouco tempo. Se é que teve mesmo clientela tão vasta enquanto era deputado federal, a que título seus clientes o pagaram?

As deduções de impostos de tais pagamentos foram feitas corretamente ou houve irregularidade por incompatibilidade dos serviços realmente prestados com as exigências da Receita?

Isso sem contar a necessidade de verificação sobre possíveis vínculos entre a atividade de consultor e a influência de Palocci no governo.

O procurador Gurgel alegou que nada faz supor que Palocci tenha se valido de "algum artifício, ardil ou mentira para fazer crer aos clientes de sua empresa que teria influência com servidores públicos para obter os negócios ou contratos".

Ora, ele não precisaria recorrer a nenhum artifício, ardil ou mentira para convencer alguém de seu poder. Isso sempre esteve implícito. Ficou explícito a partir do ano de 2010, em que foi o principal assessor da candidata oficial à Presidência e durante o qual auferiu o grosso do faturamento da empresa, que encerrou suas atividades com direito a receber espantosos R$ 10 milhões.

Pagamento que não faz o menor sentido, a menos que Palocci tenha aí inovado com a inclusão em seus contratos de uma cláusula de insucesso.

Por essa e outras é preciso procurar as razões pelas quais Antonio Palocci não conseguiu, ou não pôde, explicar como e por que enriqueceu no exercício da vida pública.

Desmentido. Margareth Palocci nega que tenha feito chegar a qualquer pessoa, dentro e fora do governo, que seu marido esteja exigindo do governo e do PT o mesmo tratamento dado a José Dirceu, Delúbio Soares e companhia, conforme publicado aqui.

O que não significa que pessoas de dentro do governo não deem como certa essa versão.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dilma faz política :: Fernando de Barros e Silva

Antonio Palocci caiu cinco dias depois de conceder duas entrevistas -à Folha e ao "JN"- estrategicamente pensadas. Menos para salvá-lo da queda inevitável do que para preservar Dilma Rousseff do escândalo que o atingiu em cheio e anestesiou o governo.

Como disse Michel Temer, na sua sempre discreta maledicência, Palocci foi "leal a seus clientes". Deu uma banana para a opinião pública e selou o seu destino. É provável que caísse do mesmo jeito, provocando danos muito mais graves ao governo, se tivesse lançado um mínimo de luz sobre seus negócios.

O histórico da Casa Civil sob o petismo é bastante peculiar. Se tomarmos em conjunto os governos Lula e Dilma, foram quatro até agora os ministros. Três deles (José Dirceu, Erenice Guerra e Palocci) caíram sob suspeita de corrupção. A quarta é a atual presidente da República.

A escolha da senadora Gleisi Hoffmann para o cargo, de certa forma surpreendente, representa uma mudança na vocação (e no tamanho) da Casa Civil. Mas não é um tiro no escuro em nome da opção tecnocrática, como seria, por exemplo, a indicação de Graça Foster. Gleisi tem perfil executivo, parecido com o da própria presidente, e já antecipou que terá funções de "gestora". Mas vem do Congresso e é um quadro em ascensão no PT, o que certamente conta a seu favor.

Com sua nomeação, Luiz Sérgio, o "garçom" das Relações Institucionais, deve ser substituído por alguém que assuma mais responsabilidades na articulação política.

Restam algumas dúvidas: Gleisi será a "primeira-ministra" do governo, como foi a própria Dilma e, agora, Palocci, o breve? Ou dividirá o poder com outro ministro, como fizeram a contragosto Dirceu e o próprio Palocci no primeiro Lula? E quem seria esse provável "outro"?

Apesar das interrogações, com seu gesto Dilma afasta a crise de si e aproxima o governo de sua própria imagem. Trocando Palocci por Gleisi, parece que deu um passo para se emancipar da tutela de Lula.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Governo em mutação:: Fernando Rodrigues

O convite à senadora Gleisi Hoffmann para substituir Antonio Palocci na Casa Civil marca uma inflexão relevante no governo de Dilma Rousseff. Sai um paulista e homem de inteira confiança de Lula. No lugar entra uma paranaense e representante de uma nova geração de petistas.

Quando Dilma formou seu ministério, no final de 2010, havia um aspecto marcante: os cargos eram quase todos preenchidos com gente de Lula, do PT, do PMDB e adjacências. Nome exclusivo e do convívio direto da presidente só mesmo o de Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

É evidente que Gleisi Hoffmann deve muito de sua carreira a Lula. O marido da senadora, Paulo Bernardo, foi ministro no último governo e agora ainda ocupa uma vaga na Esplanada, na pasta das Comunicações. Também parece óbvio que o ex-presidente tenha sido ouvido a respeito da nomeação da petista do Paraná. Ainda assim, trata-se da primeira mudança ministerial operada durante a administração atual. A escolha foi uma opção pessoal de Dilma Rousseff.

Pode parecer pouco, mas faz uma grande diferença. Nas últimas três semanas, pairou nos céus de Brasília a onipresença de Lula em todas as decisões e estratégias adotadas no Planalto. A crise chegou agora a um desfecho com uma atuação direta de Dilma.

É possível argumentar que a presidente demorou além do necessário para colocar fim à sangria política. Foram 24 dias de desarticulação e imobilismo. Mas tratava-se de Palocci -o ministro mais forte do governo e o principal ponto de contato entre Dilma e Lula.

A presidente almoçou ontem com senadores do PTB. Fernando Collor foi um dos comensais. Dilma parece estar disposta a dar mais importância a esse tipo de contato, que antes abjurava. Ela percebeu que políticos só não podem errar em uma coisa: na política.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Sociedade da crise:: Rosângela Bittar

A presidente Dilma Rousseff combinou a mudança do governo com o ex-ministro Antonio Palocci e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na tarde de segunda-feira. Até a meia-noite da mesma data a senadora Gleisi Hoffmann, cercada por assessores, na mesa de jantar de sua casa, levantava temas para o discurso de posse que vai proferir, hoje, às 16 horas, como ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República. Ela fez uma carreira meteórica, em Brasília, impulsionada por uma ação radical pelo PT, no Senado, e, principalmente, por uma atuação firme na crise política que se abateu sobre o governo depois de apenas cinco meses da posse. Gleisi não poupou crítica, interna, à forma precária como o governo vinha estabelecendo suas relações políticas, e não poupou defesa, pública, ao que vinha chamando de retomada do "nosso projeto", o do PT.

Definindo melhor a vocação da Casa Civil, agora voltada para a gestão do governo, a presidente Dilma foi buscar Gleisi para substituir Antonio Palocci. Falta ainda completar a transformação e preencher outras lacunas.

A presidente Dilma é senhora de toda a culpa, responsabilidade e falta de qualificação demonstradas na desastrada condução política até aqui. Ela nunca soube trabalhar essa seara, quando ministra, não gosta e não quer aprender, quando presidente. Mas faz questão de conduzir a ação e determinação a seus assessores encarregados formalmente da tarefa. Conversou pouco e com poucos sobre política. Palocci ficou sobrecarregado com tudo, e quando se jogou no meio da crise, a presidente, ao ir em seu socorro, paralisou o governo na gestão.

Palocci foi agente de sua própria desgraça política

Isso não confronta, porém, a constatação de que Antonio Palocci foi senhor dos principais erros que o tiraram do governo depois de enfraquecê-lo de maneira inédita, em tão pouco tempo, para alguém que chegou muito forte à Casa Civil da Presidência da República.

Sem desconsiderar o fato detonador da crise - a evolução de seu patrimônio em 20 vezes em quatro anos -, registram-se no governo quatro erros de Palocci, determinantes da sua irrecuperável desestabilização. Um dos últimos, porém o mais impressionante: o telefonema ao vice-presidente da República, Michel Temer, ameaçando de demissão os seis ministros do PMDB se o partido não votasse favoravelmente às teses do governo no Código Florestal. O fez em nome da presidente Dilma Rousseff, que estava ao seu lado no momento do tresloucado gesto e, segundo informou-se depois, ouvindo a conversa em viva-voz.

Que a durona Dilma o tenha mandado fazer o telefonema com ameaças, mesmo que fosse para blefar, e era, ele não tinha o direito, pela inteligência, conhecimento, gosto político e instinto de sobrevivência na vida pública de cumprir a ordem. Ainda mais que era conhecedor da inexperiência da presidente.

Ainda no capítulo de cumpridor cego das ordens presidenciais, Palocci liderou a negociação de um assunto que não conhecia, o Código, e na véspera da votação, com o governo já amargando a derrota que sofreria, recebeu espetacularmente, no Palácio do Planalto, a ex-senadora e ex-candidata a presidente da República Marina Silva. Escoltada por ONGs internacionais em litígio com a maioria da base aliada ao governo no Congresso.

Palocci também foi agente de sua própria desgraça política ao recusar-se a dar explicações, por tanto tempo, mesmo as superficiais que acabou dando na TV, sobre o fato detonador da crise. Errou ainda ao divulgar uma nota, considerada desastrada, alegando, noutras palavras, que, como ministros da Fazenda de outros governos, adquiriu no cargo muita sabedoria para cobrar caro sua consulta.

Barbeiragem, imperícia, dizia-se ontem, que impossibilitaram a recuperação da desconfiança quanto ao seu enriquecimento. Visto, no governo, como um político frio, reconhecidamente sagaz, com uma capacidade de recuperação incrível - foi ao chão da política por razões éticas por duas vezes e levantou-se novo em folha - Palocci era considerado um superador de crises quando centradas nos outros. Nas suas, ficava acuado, errava sempre. Enquanto era o homem que ia carregar o governo, foi o ministro mais importante de Dilma. No momento em que a equação se inverteu, passou a ser o governo a carregá-lo, deixou de ser importante e insubstituível.

Gleisi Hoffmann está encarregada de fazer o governo andar novamente. Antes da crise política já havia lentidão provocada pela suspensão do PAC e a necessidade de fazer o superavit. Os ministérios tiveram que puxar o freio. A administração dava sinais de inoperância. Será por aí a retomada da capacidade de iniciativa da presidente Dilma Rousseff, com a nova Casa Civil.

Cargo que retoma agora características de gestão, dando nitidez a essas funções, sem confundir-se com a articulação política.

E, embora a presidente esteja disposta a superar-se e abraçar a ação política que o mandato presidencial exige, terá que reorganizar seu time de articuladores.

A avaliação é que a Casa Civil não pode se dedicar ao mesmo tempo à gestão e à articulação política com o Congresso, os governadores, os prefeitos. O Ministério das Relações Institucionais terá que superar a inoperância. O Palácio não confirmou ontem se essa expectativa ainda cabe no figurino do ministro Luiz Sérgio, mesmo que reforçado por um pequeno batalhão, que já se provou necessário.

A nova ministra-chefe da Casa Civil, senadora Gleisi Hoffmann, quando secretária de Administração do governo Zeca do PT, no Mato Grosso do Sul, ganhou lá o apelido de Margaret Thatcher do Pantanal. O título lhe foi dado depois de, com uma canetada, reduzir o número de secretarias de mais de duas dezenas para apenas 11, exterminar 6 empresas públicas, e formular um plano de racionalização da folha do funcionalismo.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Cabral sai da negociação com os bombeiros

Paola de Moura

Rio - Pressionado por deputados estaduais e pela sociedade, o governador Sérgio Cabral (PMDB) saiu da linha de frente das negociações com os bombeiros e determinou que o novo comandante-geral da corporação, coronel Sérgio Simões, detém todos os poderes para negociar com os militares. O recado foi dado pelo presidente da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Paulo Melo (PMDB), em discurso realizado na tribuna ontem de tarde. "O comandante esteve no quartel e ofereceu procurar a juíza [Ana Paula Pena Barros, da Auditoria Militar do Estado] para negociar a transferência dos presos para quartéis próximos a suas casas e eles não aceitaram", reclamou.O discurso deixou irritados os deputados de oposição que lideram a pressão sobre o governo. "O sentimento que eu tenho é que o governador fugiu da responsabilidade. Ele criou uma ruptura com a corporação na [entrevista] coletiva [de sábado] e depois determina que o comandante resolva? O comandante não tem poder de dar aumento, nem de libertar ninguém", afirmou o deputado estadual, Marcelo Freixo (PSOL), que ontem já tinha recolhido 30 assinaturas de parlamentares na nota de apoio aos bombeiros, incluindo os da base de governo de Cabral. Assinaram a lista os deputados Paulo Ramos (PDT), Wagner Montes (PDT), Zaqueu Teixeira (PT), Gilberto Palmares (PT) e mais 10 outros deputados que apoiam o governador.

Diante da ameaça da oposição de bloquear a pauta da Assembleia, ontem, o governo convocou os parlamentares da base para comparecerem em peso à Casa. "Normalmente, no início da sessão há apenas sete ou oito deputados no plenário. Ninguém exige o quórum mínimo, porque se fosse assim, não haveria sessão nunca", explica a deputada Jandira Rocha (PSOL). "Hoje, vieram mais de 20 da base aliada, para evitar que pedíssemos a contagem".

Desde a entrevista de sábado e a nota divulgada no domingo, quando o governador chamou os bombeiros que invadiram o quartel central da corporação no Rio, acompanhados de mulheres e crianças de "vândalos irresponsáveis", Cabral não fala mais do assunto publicamente e se recusa a responder a perguntas dos jornalistas.

No entanto, na noite de segunda-feira, ele se reuniu com parlamentares da base de apoio para discutir a crise e achar soluções. Nos bastidores, como apurou o Valor, Cabral já admite tentar negociar com a juíza a liberação dos 439 bombeiros.

Ontem, pela cidade, havia carros circulando com faixas e fitas vermelhas presas em sinal de apoio. Também era possível ver panos vermelhos hasteados nas janelas de residências. O Sindicato Estadual dos Professores de Educação (Sepe) decidiu parar em apoio aos bombeiros e convoca uma greve geral dos funcionários públicos.

Enquanto isso, os bombeiros permanecem acampados em frente à Alerj esperando a liberação dos companheiros. "A questão salarial ficou em segundo plano, o que nós lutamos agora é pela liberação dos nossos 439 companheiros. Só depois que eles forem soltos voltamos a negociar", afirma o sargento Narciso, um dos líderes da ocupação. Os bombeiros presos também divulgaram uma nota agradecendo as manifestações e determinando que ninguém seja autorizado a negociar antes da liberação.

Desde abril, os bombeiros fazem manifestações pela cidade pedindo melhores salários. Eles alegam receber o menor salário do país, R$ 1.031,38, sem direito a vale-transporte. Não foram recebidos pelo secretário de Saúde, Sérgio Cortes, a quem, atualmente a corporação é subordinado. O Corpo de Bombeiros faz parte da subsecretaria de Defesa Civil, incorporada à Pasta de Saúde no governo Cabral.

Em 25 de maio, pela primeira vez, foram recebidos pelo secretário de Planejamento, Sérgio Ruy. Naquela época, o secretário disse que os bombeiros receberiam, de janeiro de 2007 a julho de 2010, reajustes anuais que elevariam suas remunerações em 29,73%. Segundo a secretaria, em junho de 2010, nova lei permitiria aumento acumulado em oito anos de 100,8% na remuneração do soldado, que passaria para R$ 2.077,25 em dezembro de 2014, sem contar triênios e gratificações. No entanto, a corporação não está disposta a esperar até 2014 e quer o que o reajuste seja aplicado no salário-base, o que implicaria também em reajustes das gratificações.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Bombeiros recusam mediação de comando

Na tentativa de debelar a crise no Corpo de Bombeiros, o novo comandante da corporação, coronel Sérgio Simões, visitou ontem os invasores do QG e propôs ser o mediador entre a categoria e o estado. Os presos - que rasparam a cabeça, deixando o número 439 na nuca, numa referência ao total de detidos - recusaram a oferta

Negociação frustrada

Novo comandante dos bombeiros é rejeitado pela categoria como mediador com o estado

Escolhido pelo governador Sérgio Cabral para tentar debelar a crise no Corpo de Bombeiros, o novo comandante da corporação, coronel Sérgio Simões, tentou ontem pôr fim ao impasse entre manifestantes e o governo. Pela manhã, visitou os mais de 400 militares que estão presos no quartel de Charitas, em Niterói, por terem invadido e depredado o Quartel Central, na última sexta-feira. O coronel propôs agir como mediador entre o estado e a categoria, que exige aumento salarial. A tentativa, porém, foi por água abaixo. Com os ânimos inflamados, os detidos recusaram a oferta. E, num gesto radical, resolveram fazer novo protesto, raspando o cabelo e deixando à mostra na nuca apenas o número 439 (quantidade de presos). À noite, o coronel fez nova tentativa: recebeu três líderes do movimento em seu gabinete. Participaram também da reunião o deputado Paulo Melo (PMDB), presidente da Assembleia Legislativa, e o secretário de Saúde, Sérgio Côrtes.

- Ele perguntou se o aceitaríamos como intermediário, mas ficamos em silêncio e de cara fechada para rejeitar a proposta. Queremos que as negociações sejam feitas pelos líderes do movimento - disse, pela manhã, um dos presos.

Centenas de pessoas compareceram ontem ao quartel para visitar os manifestantes. Muitas crianças foram com as cores da corporação. Entre elas, o menino Enzo Santos Prata, de 3 anos, que chamou a atenção com uma fantasia vermelha de super-herói, cuja capa trazia frases pedindo a libertação do pai. Deise Padilha dos Santos também foi visitar o pai, de 73 anos:

- Estamos muito preocupados porque ele é hipertenso e tem problemas de coração. Quando ficou preso no ônibus, em Neves, passou mal e teve que receber atendimento médico. Aqui, está melhor, mas continua muito abatido. Meu pai já tem mais de 70 anos e deveria ser solto.

Os manifestantes divulgaram carta assinada por oito líderes que estão detidos e voltaram a afirmar que estão presos arbitrariamente e que ninguém está autorizado a negociar em nome deles até que todos estejam soltos. Eles lembraram que é importante manter a mobilização, "lembrando no entanto que estas mobilizações devem ser pacíficas e ordeiras e que não devem dar motivos para que se criminalize nossa luta".

Comandante diz que soldo é defasado

À tarde, em coletiva, o coronel Simões admitiu que os soldos pagos aos soldados da corporação não são adequados e estão defasados, abaixo da remuneração paga em outros estados. Ele lembrou, porém, que o governo do estado tem acenado com aumento real de cerca de 50% acima da inflação, a serem pagos nos próximos quatro anos. A Secretaria estadual de Planejamento e Gestão informou ontem que o salário inicial de um bombeiro é de R$1.198,00 (sem dependentes) e não de R$1.031,38, como consta no blog SOS Guarda-Vidas.

- A questão do salário veio se agravando ao longo dos anos. Eu tenho, durante minhas conversas com a tropa, explicado que sou bombeiro desde 1977 e ninguém se lembra de um bom salário. A defasagem veio se agravando e não é compatível. O salário é uma dificuldade na corporação e nós estamos encarando isso -- disse Simões.

Por enquanto, os bombeiros continuarão presos. Na madrugada de hoje, a juíza que estava de plantão, Maria Izabel Pena Pieranti, negou o habeas corpus pedido para Alexandre Magnus Mesquita Novelino, um dos presos. Em sua decisão, a magistrada diz que os militares promoveram "uma verdadeira baderna protagonizada não por civis coléricos. Os atores eram, espantosamente, bombeiros militares enfurecidos, ensandecidos, buscando, com força bruta, alcançar intentos que consideravam justos". Segundo ela, "os bombeiros exacerbaram, enveredando-se por um verdadeiro turbilhão que causa espécie".

Diante da decisão da juíza, outras frentes foram abertas para tentar soltar os 439 bombeiros. O deputado federal Fernando Francischini (PSDB-PR) entrou com pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A Associação de Cabos e Soldados do Corpo de Bombeiros também redigiu um pedido de habeas corpus e entregou o documento para os militares presos. A Defensoria Pública pediu o relaxamento de todos os detidos. Em Brasília, o deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ) deu entrada na Câmara dos Deputados em projeto de lei que concede anistia aos amotinados, acrescentando um novo artigo à Lei Federal 12.191, de 2010, que anistiou cinco mil PMs e bombeiros de nove estados que participaram de movimentos reivindicatórios ocorridos entre 1997 e 2010.

Na avaliação da presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio (OAB-RJ), Margarida Pressburger, a prisão dos militares se tornou irregular por ter sido comunicada 60 horas após as detenções, fora do prazo legal de 24 horas. De acordo com o Tribunal de Justiça, a notificação das prisões chegou no fim da tarde de segunda-feira e, somente ontem, foram apresentados os autos que reunem os depoimentos dos bombeiros detidos. A Justiça, no entanto, considera que o número elevado de presos gerou a demora na elaboração dos documentos. O MP terá cinco dias para decidir se aceita a denúncia contra os bombeiros pelos crimes de motim, impedimento de socorro e dano ao patrimônio público.

Ontem, nas escadarias da Alerj, bombeiros e parentes continuavam acampados em protesto contra as prisões. O grupo, com cerca de 200 pessoas, preparou novamente sopa no local e, na hora do almoço, virou atração: vários pedestres paravam para fotografar os militares. Anteontem, os manifestantes distribuíram fitas vermelhas pedindo apoio à causa até para policiais do Batalhão de Choque. A PM informou que ainda está analisando as circunstâncias em que seus soldados usaram a fita para avaliar se haverá punição.

Protestos também no interior

Fora da capital, a corporação também protesta. Em Angra dos Reis, bombeiros estão pedindo a interrupção dos serviços das usinas nucleares. Eles alegam que 50% no efetivo do 10º Grupamento de Bombeiros Militar está preso em Charitas.

- Se acontecer algum acidente nuclear, os bombeiros que deveriam agir em primeira instância no quartel do Frade, auxiliando a população, e orientando sobre as principais ações a serem tomadas, não vão estar lá, pois muitos estão presos no Rio - afirmou um dos manifestantes.

O presidente da Câmara de Vereadores de Angra, Zé Antonio (PCdoB), também disse ontem que a redução do número de bombeiros na Costa Verde tem deixado a população preocupada.

Já em Volta Redonda, os bombeiros distribuíram uma carta aberta pedindo o apoio da população para suas reivindicações. Mais de cem militares do Sul Fluminense estão presos no Rio. Militares de Resende fizeram passeata pelas ruas do município pedindo a libertação dos colegas detidos.

FONTE: O GLOBO

O PPS-RJ e as Reivindicações dos Bombeiros.

Na Democracia não há justificativa para um enfrentamento sem diálogo. O Governo do Estado do Rio de Janeiro deixa sua população perplexa pelo caminho adotado diante das reivindicações dos servidores públicos do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.

A repercussão em toda a imprensa e nas redes sociais desautoriza o poder instituído denominar de baderna ou mesmo indisciplina o movimento dos bombeiros por melhores condições salariais e de trabalho. Os servidores estaduais ganham muito mal e deveria fazer parte do Projeto de Governo do Estado, um plano de melhorias salariais e de capacitação a todos os seus servidores. Nem mesmo preocupações com a sustentação do superávit primário nas contas do Governo pode ser impeditivo de uma alternativa negociada, civilizatória.

O movimento dos Bombeiros do estado é justo e não podem receber os piores salários da Federação num estado com a capacidade de arrecadação do Rio de Janeiro. Enquanto Brasília paga mais de quatro mil Reais, São Paulo dois mil e setecentos Reais, Minas dois mil Reais e até o Maranhão paga mais de dois mil Reais.

No caso dramático dos bombeiros ainda se destaca o inusitado da militarização dos serviços da chamada Defesa Civil. Uma medida que se faz urgente é a desmilitarização do Corpo de Bombeiros, um caminho eficaz para garantir a qualidade do atendimento à população e um benefício aos servidores.

A falta de diálogo tem sido a grande causadora de algumas radicalizações perigosas de ambas as partes. Claro que a invasão do seu próprio quartel central pelos bombeiros foi um ato descabido e próximo do desespero de quem não é ouvido pelo poder público. E muito pior a prisão de mais de quatro centenas de servidores, com declarações de que elas são inegociáveis, é completamente lamentável e rancorosa por parte do Governo estadual.

O PPS do Estado do Rio de Janeiro convoca a tradição democrática e de lutas pelas liberdades na biografia do Governador Sérgio Cabral e propõe a rápida incorporação do diálogo com os servidores, revendo todas as decisões de impedimento usadas até agora pelo seu governo.

Rio de Janeiro, 07 de junho de 2011.

Deputado Comte Bittencourt.
Presidente

O protesto dos bombeiros no Rio – Editorial / O Estado de S. Paulo

Irresponsabilidade, imprudência, destemperos verbais, emprego de força exagerado, ameaças despropositadas, entre outros equívocos cometidos pelas duas partes nas manifestações dos bombeiros do Rio de Janeiro, converteram um movimento legítimo do ponto de vista salarial, e que poderia ter tido uma evolução pacífica, num violento confronto cuja solução não traumática exige mais sensatez, sobretudo do governo estadual.

A prisão de 439 bombeiros deu novo vigor ao movimento, que agora pode se estender para outros Estados, com a mobilização de policiais militares e bombeiros pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n.º 300, que propõe a equiparação de seus salários aos pagos pelo Distrito Federal. Em certos casos, como o do Rio de Janeiro, a equiparação equivalerá à quadruplicação dos atuais vencimentos, o que implicará pesados gastos que muitos Estados não terão condições de cobrir, pois para isso teriam de ferir a disciplina financeira imposta pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Nos termos em que foi colocada inicialmente, a reivindicação dos bombeiros fluminenses é mais do que justificável, pois há muito tempo eles estão com os salários aviltados. Eles alegam que o piso salarial da corporação, de R$ 1.031,38, é o mais baixo de todos os Estados, por isso querem sua duplicação. No Distrito Federal, por exemplo, o piso é de R$ 4.129,73; em Sergipe, o Estado que paga o segundo maior salário, o vencimento inicial da carreira é de R$ 3.012,00, valor que pode aumentar com benefícios como o vale-transporte.

A forma que escolheram para protestar, no entanto, foi irresponsável.

Na noite de sexta-feira, cerca de mil bombeiros e guarda-vidas invadiram o quartel do Comando-Geral dos Bombeiros, no centro do Rio de Janeiro, arrombando os portões. Além disso, levavam em sua companhia esposas, algumas grávidas, e crianças, para, segundo testemunhas, formar um "escudo humano" no caso de uma eventual invasão do local por forças policiais.

Numa operação em que o objetivo não foi unicamente desocupar um prédio público invadido, mas, sobretudo, demonstrar seu poderio, o governo do Estado mobilizou o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, veículos blindados e helicópteros. Em nota, o governo do Estado informou que determinara a prisão dos que, insubordinados, haviam invadido um bem público e transgredido o código de conduta militar.

De maneira não menos insensata do que a demonstrada pelos manifestantes, a força enviada para desocupar o quartel utilizou explosivos para a derrubada dos portões dos fundos, disparou tiros para o ar e lançou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, além de spray de pimenta. Por muito pouco não houve uma tragédia. Todos os ocupantes do quartel foram presos.

Não satisfeito com o uso de força policial desproporcional e injustificável na desocupação do quartel dos bombeiros, o governador Sérgio Cabral, em entrevista coletiva, chamou os manifestantes de "delinquentes" e "vândalos" e afirmou que o movimento tinha inspiração política. Como que para reafirmar uma autoridade que não se questionava, exonerou o comandante dos bombeiros e prometeu que os invasores serão punidos administrativa e penalmente. Desse modo, tornou mais difícil a busca de uma solução negociada para a crise.

Em vez de transmitir tranquilidade à população e um mínimo de serenidade aos envolvidos na crise, Cabral só agravou a situação. Conseguiu tornar mais tensa uma crise que já começou grave. Desse modo, estimulou novos apoios ao movimento reivindicatório. Companheiros dos bombeiros presos fizeram manifestações nas escadarias da Assembleia Legislativa e ganharam o apoio de movimentos que defendem direitos humanos e de deputados estaduais e federais de diferentes partidos.

A mobilização que se inicia em outros Estados pela aprovação da PEC 300 pode dar amplitude nacional à crise que, bem conduzida pelo governo fluminense, poderia ficar circunscrita ao Estado do Rio de Janeiro.

Aprendizado::Ferreira Gullar

Do mesmo modo que te abriste à alegria abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.


Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.