quarta-feira, 15 de junho de 2011

Opinião – Dilma Rousseff

Em seus 80 anos há muitas características do senhor Fernando Henrique Cardoso a homenagear.

O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.

Mas quero aqui destacar também o democrata. O espírito do jovem que lutou pelos seus ideais, que perduram até os dias de hoje.

Esse espírito, no homem público, traduziu-se na crença do diálogo como força motriz da política e foi essencial para a consolidação da democracia brasileira em seus oito anos de mandato.

Fernando Henrique foi o primeiro presidente eleito desde Juscelino Kubitschek a dar posse a um sucessor oposicionista igualmente eleito.

Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas, justamente por isso, maior é minha admiração por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias.

Querido presidente, meus parabéns e um afetuoso abraço!

Dilma Rousseff, Presidente da República, carta à FHC. IFHC, 12/6/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

Força Nacional não evita mais uma morte no Pará
Base exige do governo R$ 3,3 bi de emendas
Cabral: é difícil reajustar 16 mil bombeiros
Fiscalização mais rígida para Oscips
Só 5% das cidades têm internet pública

FOLHA DE S. PAULO

PT se opõe a Dilma e defende abrir arquivos
Pará registra 5ª morte em zona rural em quase 20 dias
Irã colabora com repressão síria, afirma Nobel da Paz
Casa da Moeda faz recall de passaportes com defeito
Cai restrição para adolescentes e gays doarem sangue

O ESTADO DE S. PAULO

Dilma corteja Congresso com "balcão de negócios"
Servidores coletam nomes para partido de Kassab
Sarney rejeita "WikiLeaks da História"
Alckmin anuncia obras de R$ 6,3 bi no ABC
Pará tem 5º assassinato em assentamento
Comitê Olímpico investiga Havelange

VALOR ECONÔMICO

Grupo combaterá dumping e importações fraudulentas
Plano de safra dá destaque ao investimento
A bolha das reservas deve estourar entre 2013 e 2015
Peru cassa concessão de hidrelétrica da OAS

ESTADO DE MINAS

Devo, não nego. Só pago quando (se) puder
Base cobra de Ideli R$ 2 bi em emendas
Pressão faz deputados dispensarem privilégio
Reajuste de 94% dos pisos supera inflação
BH é cidade mais digital do Brasil

CORREIO BRAZILIENSE

Aliados já pressionam Ideli Salvatti
Sangue
Domésticas com todos os direitos
Desrespeito nos planos de saúde

ZERO HORA (RS)

O que deve mudar para domésticas e patrões
Projeto prevê internação involuntária de viciados
500 declarações fraudadas no RS

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Mais um crime no Norte em conflito agrário
Grande Recife sem ônibus por 24 horas

Força Nacional não evita mais uma morte no Pará

Conflitos no campo motivaram quinto assassinato em menos de um mês

Mais um trabalhador foi assassinado no Pará, na quinta morte em três semanas na Amazônia - uma onda de violência que nem a presença da Força Nacional de Segurança conseguiu conter. Morador do Acampamento Esperança, em Pacajá, Obede Souza, de 31 anos, foi morto com um tiro no ouvido. O crime estaria ligado a conflitos por terra, mas a motivação exata ainda não está clara. A Polícia Civil suspeita de disputas entre acampados. A Comissão Pastoral da Terra, porém, sustenta que Obede Souza teve desavenças recentes com madeireiros por causa da extração ilegal de árvores nativas. Homens da Força Nacional de Segurança estão em Altamira, perto de Pacajá, para acelerar inquéritos sobre mortes na região. O coordenador nacional da CPT, Dirceu Luiz Fumagalli, diz que a Força Nacional não intimida mandantes de crimes: "Eles sabem que o Estado não tem projeto de se fazer ali presente. Não vão se intimidar. Há impunidade aberta".

"A Força Nacional não intimida os mandantes"
Dirceu Fumagalli, da Comissão da Pastoral da Terra, diz que a violência aumentará

No dia em que a Comissão Pastoral da Terra (CPT) confirmou o assassinato de mais um trabalhador rural no Pará, o coordenador nacional da entidade, Dirceu Luiz Fumagalli, fez um alerta. Para ele, o envio de homens da Força Nacional de Segurança para as regiões de conflito de terra não vai intimidar os mandantes desses crimes, porque "eles sabem que é uma situação temporária". As perspectivas, diz Fumagalli, são de acirramento da violência se não houver uma mudança da política de ocupação da Região Amazônica pelo governo.

Silvia Amorim

O que a CPT sabe sobre as motivações da morte desse trabalhador rural no município de Pacajá?

DIRCEU LUIZ FUMAGALLI: Nossos agentes ainda estão buscando informações, mas essa morte está dentro de um contexto específico ali naquele assentamento em Pacajá, que, no ano passado, já teve uma situação de conflito que causou várias mortes. Um dos grandes problemas que estamos identificando nessa região é que os próprios trabalhadores das comunidades começam a conflitar entre si. Trabalhadores que ocupam a área e assentados motivados pelas madeireiras caem na lógica da exploração da madeira e isso gera conflito interno.

Por que, mesmo com as ações anunciadas pelo governo federal, como a Força Nacional nessas áreas conflagradas, as mortes continuam?

FUMAGALLI:A presença da Força Nacional não é algo que intimide os mandantes porque não é consolidada. Eles sabem que é uma situação extremamente temporária e transitória. Não é um projeto de permanência do Estado. Eles sabem que o Estado não tem projeto de se fazer ali presente, desenvolvendo políticas que vão assegurar a vida daquelas comunidades. Portanto, não vão se intimidar. Além disso, há uma impunidade aberta neste país.

A tendência é de agravamento dos conflitos e da violência?

FUMAGALLI: Sim. Ela deve se acirrar porque as novas leis que incidem sobre a questão agrária, na regularização fundiária, e sobre o meio ambiente, com o novo Código Florestal, vão abrindo as possibilidades para o capital avançar (sobre a floresta). Se não houver mudança efetiva da presença do Estado, as coisas tendem a piorar, porque os mandantes se sentem livres para continuar sua prática.

Por que tem sido tão difícil combater os conflitos de terra?

FUMAGALLI: A incidência se dá e vai continuar até que se mude a lógica da ocupação. O que está pautado para essas áreas é a exploração da madeira e a abertura de novas frentes para a pecuária e outros monocultivos. Isso é que vai fomentar e potencializar o conflito. Enquanto não mudar, vamos ver esses tristes resultados, vidas de trabalhadores sendo dizimadas.

Qual seria o caminho eficaz?

FUMAGALLI: Tem um modelo já em curso. O problema é que parte de quem detém o poder econômico e político acha que ele é um modelo ultrapassado e não de desenvolvimento. O que tem que acontecer é um diálogo mais aberto entre as iniciativas. Em que condições essas comunidades vivem nesse território e é necessário para nós brasileiros continuarmos desmatando? Temos mais de 200 milhões de hectares de terra para a pecuária, a maior parte degradada. É desnecessário continuar avançando sobre a floresta. O problema é que existe investimento e estímulo entre os trabalhadores para que continuem avançando.

Quem tem dado esse estímulo?

FUMAGALLI:O Estado tem investido nesse modelo. Todas as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), os investimentos são para abrir fronteiras e criar infraestrutura para o escoamento da produção de monocultivos, dos minérios etc. Portanto, há por parte do governo não só um incentivo, mas investimento.

O senhor vê preocupação real do governo em enfrentar o problema?

FUMAGALLI: Não vou dizer que há preocupação na defesa das vidas. É que essa situação de conflito no Pará tem arranhado a imagem do Brasil. A gente começa a perceber pressão e solidariedade da comunidade internacional. Quando isso vem à tona, é claro que o governo tem mais cuidado.

FONTE: O GLOBO

Base exige do governo R$ 3,3 bi de emendas

A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, teve ontem uma reunião de emergência para tentar conter a insatisfação da base aliada na Câmara, que exige a liberação de 50% das emendas parlamentares aprovadas para este ano, o equivalente a R$ 3,3 bilhões. O governo só liberou 5% do valor de todas as emendas parlamentares. No Senado, o descontentamento também é grande.

Aliados cobram do governo R$3 bi para emendas

Câmara pressiona e Ideli busca acordo; Dilma promete, na articulação política, não repetir erros da era Palocci

Cristiane Jungblut, Isabel Braga e Luiza Damé

BRASÍLIA. A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, precisou marcar ontem, de última hora, um encontro no Planalto com os líderes aliados na Câmara. Na véspera, em reunião à noite com o líder do governo na Casa, Cândido Vaccarezza (PT-SP), ela fora alertada que o descontentamento é grande, e a pauta de reivindicações, extensa. Os deputados aliados querem que o governo empenhe (garanta o pagamento futuro) 50% das emendas de parlamentares aprovadas em 2010 para o Orçamento deste ano, o que significaria R$3,3 bilhões. Mas o governo deverá empenhar, no máximo, R$1 bilhão. E o ritmo de pagamento das emendas de anos anteriores é muito lento.

Outros dois pleitos foram incluídos: mais tempo, até 31 de dezembro, para que os prefeitos possam aprovar os projetos beneficiados com emendas de anos anteriores (o prazo atual termina dia 30 deste mês); e a destinação de parte das emendas dos deputados não reeleitos para parlamentares novatos.

- Todos os líderes pediram para acelerar o processo de liberação das emendas. Esse pedido é encarado com legitimidade pelo governo. Não é pressão - disse Vaccarezza.

As queixas foram transmitidas a Ideli por Vaccarezza. Ele avisou que tem aval dos líderes aliados, que avaliam que a medida é necessária para conter a rebelião, que também atinge o Senado.

- É um direito da Casa ter emendas respeitadas, não é concessão. Queremos uma luz no fim do túnel. Do jeito que está, nem estamos vendo o túnel - disse o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN).

A expectativa era que Ideli participasse do almoço dos líderes na Câmara. Mas ela foi ao almoço da presidente Dilma Rousseff com senadores do PR. O líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), ironizou:

- É o DNA do Senado, ela foi senadora. Mas vamos levar o DNA da Câmara. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé.

Descontentamento também atinge o Senado

No Senado, a insatisfação também é grande.

- As emendas têm que começar a ser empenhadas - disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Ideli acenou com a liberação de R$250 milhões de emendas dos restos a pagar de anos anteriores (recursos empenhados mas não liberados). Mas é pouco em relação ao total aprovado. Se o governo mantiver o prazo de 30 de junho para pagar emendas de anos anteriores - como confirmou anteontem o presidente da Caixa, Jorge Hereda - grande parte dos R$4,6 bilhões de restos a pagar de 2009 deve ser cancelada, por falta de condições das prefeituras.

No almoço com o PR, Dilma prometeu que erros da era Palocci - quando parlamentares não eram recebidos - não se repetirão. Segundo senadores, ela ressaltou a importância da boa relação com o Congresso.

Dilma disse, segundo relato dos parlamentares, que quer estreitar o relacionamento com a base e que vai se esforçar para colocar a conversa em dia com os aliados. Os parlamentares apresentaram pedidos - de votação do Código Florestal à liberação de emendas - e receberam a garantia de que serão ouvidos e recebidos pelas ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann.

FONTE: O GLOBO

PT se opõe a Dilma e defende abrir arquivos

A bancada do PT no Senado decidiu ontem defender o projeto que acaba com o sigilo eterno de documentos oficiais classificados como ultrassecretos, contrariando a presidente e a orientação da nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ideli reafirmou a intenção do Planalto: derrubar no Senado a mudança que a Câmara realizou no projeto original, retirando do governo o direito de manter os papéis em segredo para sempre.

Debate sobre segredo de arquivos opõe PT a Dilma

Bancada petista no Senado defende projeto que presidente quer derrubar

Ministra Ideli (Relações Institucionais) prega restauração de proposta elaborada no governo Lula e vai contra aliados

Ana Flor, Catia Seabra, Fernanda Odilla, Gabriela Guerreiro e Valdo Cruz

BRASÍLIA - A bancada do PT no Senado decidiu ontem defender publicamente o projeto que acaba com o sigilo eterno de documentos oficiais, contrariando a presidente Dilma Rousseff e a orientação da nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

Ideli reafirmou ontem a disposição do governo de derrubar no Senado a mudança introduzida no projeto pela Câmara, que tira do governo o direito de manter eternamente em segredo documentos públicos classificados como ultrassecretos.

O projeto original, enviado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Congresso há dois anos, reduz de 30 para 25 anos o tempo que papéis ultrassecretos podem ser mantidos em sigilo, mas permite que esse prazo seja renovado indefinidamente.

No ano passado, a Câmara aprovou uma emenda ao projeto, estabelecendo que o sigilo só poderia ser renovado uma vez e limitando a 50 anos o prazo para liberação de documentos oficiais.

O governo quer restaurar o projeto original, mas o PT discorda. "O PT é contra preservar o sigilo", disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). "Depois de 50 anos não tem mais documento problemático." A bancada do PT tem 14 senadores.

A decisão dos petistas também contraria a posição dos senadores e ex-presidentes da República José Sarney (PMDB-AP) e Fernando Collor (PTB-AL), que integram a base governista no Senado.

Sarney e Collor disseram aos colegas nos últimos dias que temem que a divulgação de documentos relacionados à Guerra do Paraguai e à disputa entre o Brasil e a Bolívia pelo território hoje ocupado pelo Estado do Acre crie incidentes diplomáticos.

Ideli deixou evidente sua divergência com o PT ontem, em sua primeira visita ao Senado. Ela lembrou que Dilma, quando era ministra da Casa Civil, participou diretamente da elaboração do projeto apresentado por Lula.

"Nossa vontade é restabelecer o projeto original, que foi negociado", disse. "Quem estava à frente da negociação [era] a presidente Dilma."

Dilma era a favor do fim do sigilo eterno, mas foi voto vencido nos debates internos. Pesaram na opção feita por Lula as posições do Itamaraty e do Ministério da Defesa, defensores das restrições existentes atualmente.

No início do ano, Dilma indicou que era favorável ao fim do sigilo eterno. Mas no mês passado ela se viu enfraquecida pela crise provocada pelas suspeitas em torno do ex-ministro Antonio Palocci e não conseguiu resistir às pressões de Sarney e Collor.

Segundo a Folha apurou, a presidente enviou um recado aos senadores petistas: cedeu às pressões do Senado por motivos políticos e defenderá o projeto original, mas respeitará a decisão do Congresso se o Senado aprovar a mudança feita pela Câmara.

Ideli disse que é intenção do governo manter o regime de urgência para a votação do texto no Senado, ao contrário do que o Palácio do Planalto indicara na véspera.

Isso obrigará Collor a acelerar a apresentação do seu relatório sobre o projeto, que está parado na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, presidida por ele. Sem a urgência, não há prazo para o Senado votar o texto.

O presidente do Senado, José Sarney, voltou a defender a manutenção do sigilo. Ele disse que não se pode fazer um "Wikileaks" da história do Brasil-numa referência ao site internacional que publicou documentos americanos sigilosos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Limites à democracia:: Merval Pereira

Ninguém discute que os governos têm direito a manter segredos de Estado, mas o que está em jogo na discussão sobre a nova lei de acesso aos documentos públicos em tramitação no Senado é a limitação temporal desse direito, para que a História do país seja um patrimônio de todos os brasileiros.

O retrocesso de manter o sigilo eterno de documentos, a pretexto de preservar segredos da Guerra do Paraguai ou das negociações do Barão do Rio Branco que estabeleceram nossas fronteiras, colocará o país em situação secundária diante de nações que já adotam um sistema transparente, como o México, por exemplo, que saiu de uma política de secretismo ditatorial para uma legislação considerada a mais avançada do mundo.

O país é tão aberto que qualquer pessoa pode requerer documento mesmo assinando um pseudônimo, sem se identificar. A pressuposição é que os documentos governamentais devem ser públicos.

A presidente Dilma havia compreendido a importância de um movimento como esse, tanto que estava empenhada em sancionar a nova legislação no Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, em maio passado, para marcar uma nova fase no trato de documentos públicos.

O senador e ex-presidente Fernando Collor, que preside a comissão que analisava a nova lei, retardou sua liberação para votação em busca de apoio para manter a possibilidade de renovar indefinidamente a restrição à divulgação de certos documentos.

Chegamos a um ponto em que uma legislação moderna, que poderia ser conhecida como "a lei da transparência", acabará chamada de "a lei do sigilo eterno", mesmo que contenha avanços inegáveis.

O livre acesso à informação pública pressupõe que os sites tenham informações relativas às despesas da instituição, como salários de pessoal, gastos ou processos de licitação que devem ser apresentados de maneira mais detalhada e acessível possível.

A experiência de outros países mostra que, na realidade, os jornalistas são os que menos usam essas informações, porque o que interessa mesmo é o dia a dia dos cidadãos, que começam a se utilizar da legislação para defender seus direitos, e também os advogados começam a usá-la.

O exercício da cidadania na moderna democracia digital permite que a sociedade acompanhe passo a passo a atuação dos funcionários públicos e, por conseguinte, dos governos como um todo.

Por si só, essa prática faz com que o agente público, seja ele o mais graduado, saiba que um dia a História registrará suas decisões e suas conversas.

O sigilo eterno foi introduzido na legislação nos últimos dias do governo Fernando Henrique, e o ex-presidente admitiu o erro de decisão, alegando que foi induzido a ele sem que se desse conta da dimensão do problema.

O PT criticou muito a medida, mas o ex-presidente Lula não a alterou nos oito anos em que esteve à frente do Legislativo, e agora mais uma vez a presidente Dilma parece estar se submetendo a pressões que vêm de áreas militares e do Itamaraty, que funcionaram mais no Senado porque encontraram acolhida nos ex-presidentes Fernando Collor e José Sarney.

É um equívoco comparar a liberação de documentos públicos com a atuação do Wikileaks, ONG especializada em vazamento de documentos oficiais de governos.

Na verdade, o Wikileaks só existe porque os governos procuram esconder suas decisões. Não será surpresa se a partir de agora existirem interessados em vazar esses mesmos documentos da Guerra do Paraguai ou do Barão do Rio Branco que tanto zelo estão exigindo.

A legislação de acesso à informação pública estava recebendo, por parte do novo governo brasileiro, um tratamento digno de sua importância.

A presidente Dilma Rousseff, aliás, ficará em situação delicada pois havia sido convidada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para lançar a iniciativa global intitulada "Parceria por um governo aberto", em setembro, na Assembleia Geral da ONU, que normalmente é aberta pelo presidente brasileiro.

Um dos primeiros atos de Obama quando assumiu a Casa Branca foi publicar um memorando chamado "Transparência e governo aberto", que afirmava o comprometimento da sua administração com a transparência, em garantir a confiança pública e estabelecer um sistema de participação e colaboração.

O site lançado pela administração federal dos EUA é consequência dessa política. No ar desde 2009, é um repositório de dados oficiais e permite o desenvolvimento de aplicativos por terceiros.

Atualmente, existem mais de 600 aplicativos de utilidade pública desenvolvidos por programadores externos.

É verdade que houve um retrocesso depois que o Wikileaks divulgou recentemente aquela enxurrada de documentos sobre a política externa americana, e cresceu nos Estados Unidos a pressão conservadora para limitar essa transparência.

A nova legislação brasileira previa um máximo de 25 anos de sigilo para documentos classificados como ultrassecretos, com a possibilidade de apenas uma renovação pelo mesmo prazo.

Agora, nas negociações no Senado, será preciso recomeçar tudo novamente, para que não se perca todo o projeto. Se qualquer tipo de documento puder ter seu sigilo renovado eternamente, a nova legislação perde o vigor, ficando à mercê do governante de ocasião.

É inadmissível que a versão oficial da História do Brasil seja contada sem base em documentos, e com lacunas eternas.

FONTE: O GLOBO

Flores na entressafra:: Dora Kramer

O PSDB sentiu-se lisonjeado com o reconhecimento da presidente Dilma Rousseff ao papel de Fernando Henrique Cardoso para o desenvolvimento do Brasil, na carta de felicitações pelos 80 anos do ex-presidente.

Já o PT fez que não ouviu. Lula pode ser que ainda faça um gesto de boa educação daqui até sábado, quando o desafeto com quem outrora dividiu afetos faz aniversário.

De qualquer modo, os petistas trataram a coisa à sua maneira. A eles interessa muito mais o efeito do ato, no que pode render de boa vontade por parte da oposição e de uma boa imagem para Dilma, do que revisar pensamentos e procedimentos.

Não há sinal de autocrítica no horizonte. E principalmente no horizonte futuro das disputas eleitorais. O PT continuará batendo na tecla da desconstrução do período FH, muito embora petistas aqui e ali prestem reverência à verdade dos fatos.

Tomemos as privatizações dos aeroportos: se renderem bons resultados, não serão reconhecidas como prova de equívoco anterior do PT, mas incluídas como crédito à capacidade do partido de fazer bem feito o que o adversário fez malfeito.

Daí a prudência aconselhar comedimento às comemorações tucanas.

Dilma Rousseff faz as honras da casa, mas quem manda no partido é Lula e este não abrirá mão do conflito pesado, base da disputa eleitoral. Na entressafra tudo são flores.

Quando chegar a época adequada voltará ao cenário a tese genericamente conhecida como a da herança maldita sem que Dilma possa vir a aparecer em público reconhecendo os feitos do adversário.

O PSDB nunca compreendeu inteiramente a necessidade da defesa de seu capital e demonstrou isso não só quando titubeou em 2002, claudicou em 2006 e se esborrachou em 2010 ao deixar FH propositadamente fora da campanha.

Mostrou especial inépcia ao tentar ganhar sem enfrentar Lula, que, por sua vez, é dono da mais perfeita noção de que disputa implica briga. É cada um do seu lado, um tentando anular o outro e que vença quem souber melhor atacar e se defender.

Lula é um ás na matéria. Como tal é ele quem dará todas as cartas na eleição, campo onde conta mais a competência política para a montagem das condições de batalha do que o conjunto dos atos do governante no curso do mandato.

Exemplo? Fernando Henrique, agora descrito em carta por Dilma como um fantástico presidente, não elegeu o sucessor porque lhe faltaram astúcia e organização político-eleitoral.

Coisa que Lula teve de sobra ao governar oito anos exclusivamente pela lógica eleitoral e eleger alguém politicamente dependente e incapaz de lhe fazer sombra. Aqui não vai nem de longe o reconhecimento da correção da prática, mas é o fato.

E esse fato na hora H vai prevalecer sobre qualquer movimento ou tentativa de marcar posição de independência que possa fazer a presidente em períodos de entressafra eleitoral.

Entrada em cena. Se de um lado são precitadas as cobranças e queixas dos aliados já no primeiro dia de trabalho da ministra Ideli Salvatti, de outro a impaciência expressa a má vontade em relação a ela.

Não ajudou a ministra ter dito que obedece à hierarquia em seus contatos: primeiro os presidentes da Câmara e do Senado, depois as bancadas.

Deputados e senadores não fazem essa distinção.

Mesa redonda. No jantar em homenagem a Fernando Henrique Cardoso na sexta-feira passada o senador Aécio Neves comentava planos futuros do PSDB, apontando para a mesa onde estavam todos juntos os economistas do Plano Real: "Vamos reunir esse pessoal de novo para discutir um projeto de País".

A tarefa de patrocinar o debate seria do Instituto Teotônio Vilela. Em tese, os economistas - hoje cada um cuidando de suas vidas e nem um pouco entusiasmados com o desempenho do partido - gostam da ideia de recuperação da capacidade de formular, mas acham imprescindível que o partido não se fie só nos veteranos e recrute gente nova se quiser ter sucesso na empreitada.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Inflexões :: Valdo Cruz

Palocci caiu, a crise política vai se esmaecendo e um novo governo Dilma começa logo no seu sexto mês. Recomeça emitindo sinais de autoafirmação e, ao mesmo tempo, de inflexões.

A mesma Dilma que virou as costas para o PT e o PMDB ao escolher sua nova equipe é a que indica ceder às pressões dos ex-presidentes Collor e Sarney no caso do sigilo eterno de documentos oficiais.

Tema caro para quem lutou contra o regime militar e defendia a livre divulgação de papéis oficiais capazes de revelar um pouco mais da história daquele período e de outros. Ainda defende, na verdade, mas as circunstâncias políticas aconselham ceder.

Um observador atento nota que Dilma está descobrindo que o poder plenipotenciário do presidente tem lá seus limites. Esbarra na fronteira de sua sustentação.

Por mais bem-intencionado que seja o mandatário de plantão, ele tem de administrar e arbitrar conflitos. É a última instância em vários quesitos. Se impõe suas ideias, fecha portas e obstrui canais.

Até a queda de Palocci, Dilma parecia assim agir. Teve sucesso na votação do salário mínimo. Fracassou na do Código Florestal. Contrariada, quis porque quis demitir ministros do PMDB. Só fez aumentar sua primeira crise política.

Enfraquecida, foi alvo do apetite voraz dos aliados, profissionais na arte de transformar crises em oportunidades para cobrar faturas. Vendo sua imagem se desgastar, soltou um grito de autoridade.

Dado o freio de arrumação, ela indica estar mais aberta a ouvir o que seus aliados têm a dizer e disposta a compor. É o que mostra seu recuo não só no caso do sigilo eterno de documentos oficiais como também na liberação de nomeações e verbas de parlamentares.

O fato é que, sem Palocci como seu biombo, Dilma está mais exposta. Novas crises serão debitadas em sua conta. Daí a urgência de mudança no comportamento presidencial. A conferir.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Melhores condições para o Código:: Rosângela Bittar

Depende agora só da dramaticidade do lobby do Itamaraty o conforto da presidente Dilma Rousseff para decidir, com temperança, a orientação à base do governo no Senado na votação do Código Florestal. Os diplomatas continuam a constrangê-la, como fizeram quando o Código tramitava na Câmara, a não escolher opções que obscureçam seu grande momento internacional na Conferência Rio+20 com uma agenda negativa do Meio Ambiente. Mas isso não é argumento a se considerar, o Itamaraty não costuma olhar para o Brasil. O ex-ministro Antonio Palocci alegou a força da pressão internacional na fase final de negociação, momento tardio em que o governo resolveu tomar conhecimento do assunto.

O que a presidente pode contar, de diferente, agora, é com informação realista e conhecimento apurado do problema. As duas novas ministras que convidou a participar do núcleo do governo, na Presidência, Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti, conhecem profundamente os problemas dos agricultores que foram atendidos em suas preocupações nas negociações do Código até aqui. Gleisi, que conheceu o Código na vida real do seu Estado, o Paraná, já se manifestou objetivamente a favor do projeto do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), aprovado na Câmara, fazendo pequena restrição e anunciando a necessidade de um ou outro ajuste. Ideli, de Santa Catarina, fez campanha ao governo do Estado cruzando com a agricultura de beira de rio que domina a região a quem interessa que o Senado mantenha os termos finais da negociação.

Terão condições de municiar a presidente não só para enfrentar as falsas críticas internacionais do "faça o que digo não o que faço", instrumentos de que o Itamaraty não dispõe, como também de compreender e combater o que há de propaganda e interesse na essência do lobby ambientalista e ruralista nacionais. Dilma terá condições melhores para buscar o equilíbrio com mais segurança do que demonstrou na votação da Câmara. Naquelas negociações, o governo cometeu muitos erros, na forma e no conteúdo. Equívocos que, hoje, muitos dos seus líderes atribuem à falta de convicção da presidente, à época, e por consequência disso à desinformação.

Um, por exemplo, foi não considerar que o projeto do Código Florestal é uma regulação, não um assunto administrativo. Não interferia no governo. Não se tratava de algo semelhante ao projeto de reajuste do salário mínimo, com suas implicações em Previdência, inflação e funcionamento da economia. É, resumidamente, uma regulação de atividades de agricultura e preservação ambiental, em área privada. Todo o resto está disciplinado já e não passa pelo Código: Amazônia, floresta pública, unidade de conservação, terra indígena, parque.

Uma segunda distorção foi tratar o assunto como algo que pudesse dividir a Câmara entre governo e oposição, provocar a divisão da base que não conseguia juntar de um lado e, depois, dividir os partidos da própria aliança. Só no fim percebeu que este é um assunto pluripartidário, de interesse das relações de um Poder, o Legislativo, com a sociedade, no qual o governo pouco podia influir apesar da sua enorme bancada no Congresso. Tanto é uma questão fora da disputa político-eleitoral que o próprio Executivo sempre atuou dividido em tudo o que diz respeito ao tema: de um lado, o Ministério da Agricultura; de outro, o do Meio Ambiente.

Quando os líderes dos partidos da aliança do governo e da oposição partiram para as conclusões de negociação, suas bases nos Estados e municípios já haviam formado consensos muito antes. A Câmara resolveu a maioria dos problemas considerados insolúveis na discussão do Código: o registro da reserva legal segundo a lei da época, a soma da reserva legal com a APP, autorização aos pequenos a declarar a reserva que tinham em 2008, entre outros. Resta um problema, grande, porém um, contido na Emenda 164, dos próprios partidos governistas, que permite a consolidação da agricultura em área de APP. O problema está na APP de beira de rio, apenas, mas são 2 milhões de proprietários na beira do rio, 99%, pequenos.

O governo vive o paradoxo: não admite anistiá-los, mas não tem como não admitir, não pode fazer uma guerra de extermínio. Porém, nem a anistia a desmatadores (e esses pequenos desmataram) contida no projeto significa perdão a criminosos contrabandistas de madeira, retratados na imagem de caminhões de toras roubadas ao Brasil do Oiapoque ao Chuí, como se quer fazer crer na propaganda contrária ao Código, nem há muita saída para o Senado e para a presidente além do modelo a que se chegou no projeto.

O Itamaraty quer o menor ruído possível na Rio+20, em junho de 2012. O lobby ambientalista avisou aos interessados que rotularia o projeto do Código de anistiador de madeireiro da Amazônia, e começou em seguida campanha internacional contra após a votação na Câmara. A ex-senadora Marina Silva exige que a presidente Dilma vete o Código se o Senado não fizer essa tarefa. Dilma tem agora melhores condições para decidir que antes.

Um telefonema de abalizada figura, para mais de uma autoridade do governo federal e de um Estado importante da federação, tira o sono dos responsáveis pela conquista da Copa do Mundo para os estádios brasileiros. João Havelange, eterno cartola internacional, do sossego de sua aposentadoria como ex-presidente da Fifa, tem informado, direta e secamente que a Alemanha está pronta para sediar o campeonato. A decisão pode ocorrer até na véspera do mundial que haverá condições perfeitas de fazer a transferência. Se foi só uma pressão para agitar as providências no paquidérmico complexo de preparação da Copa, funcionou. Estão todos com taquicardia.

A política brasileira ainda não perdeu, apesar das vicissitudes, o grau mínimo de civilidade, como provam duas iniciativas esta semana: a carta de estadista com que a presidente Dilma Rousseff cumprimentou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) pelo aniversário de 80 anos; e a presença do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), na posse da ministra da Casa Civil, sua conterrânea e adversária em campanhas eleitorais, Gleisi Hoffmann (PT).

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Fantasia e realidade :: Marco Antonio Villa

O primeiro quadrimestre da Presidência Dilma Rousseff dava a entender que teríamos um governo novo. Parecia que ela queria, discretamente, libertar-se do seu criador. O processo brasileiro tão clássico da rebelião da criatura contra o seu criador iria se repetir. Setores da mídia e da política nacional passaram a apostar nesse rompimento. Para isso era essencial realçar os méritos da presidente, sua competência, sua pertinácia e seu tirocínio. Tudo o que ela parecia fazer era motivo de largos elogios.

Porém, mais uma vez, a realidade sobrepôs-se à fantasia. Primeiro, com a inoperância governamental. Nenhum projeto do governo federal está com o cronograma em dia. Os tão falados "gargalos" não só permanecem, como foram ampliados. A equipe ministerial é de uma incapacidade raramente vista na História republicana brasileira. Ou os ministros são omissos ou, quando são notados, os motivos são as constantes trapalhadas. A presidente acabou ficando perdida em meio à burocracia oficial e demonstrou uma enorme dificuldade gerencial, sem saber destacar o que era relevante e fundamental para o País das questões comezinhas do cotidiano administrativo. Confundiu seriedade com minúcia digna de um dono de armazém. Dessa forma, o governo está paralisado, somente o que funciona é o que foi herdado da gestão anterior. E, claro, com tempo de validade restrito. Afinal, a conjuntura mundial vai mudando e novos desafios são apresentados ao Brasil.

Nestes cinco meses, a presidente ainda não conseguiu apresentar ao País o que pretende fazer. Ela administrou o varejo, ampliou o número de Ministérios (como se a quantidade dos então existentes fosse pequena) e requentou programas já conhecidos. As propostas apresentadas durante a recente campanha eleitoral foram arquivadas. Dessa forma, evidentemente, não foi possível dar a sua cara ao governo. E não pode dizer que encontrou dificuldade com a oposição.

Politicamente, deve ser recordada a crise entre o governo e o PMDB. A razão mais explícita foi a votação do Código Florestal. O então ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, bateu boca com o vice-presidente da República, Michel Temer. Coisa ao estilo de um fim de feira, na hora da xepa, e não de um governo que se apresentava como sólido, com uma base congressual consolidada. A presidente confundiu energia presidencial com indisposição para negociação e isolamento com dedicação administrativa.

A inexperiência política colaborou para aumentar a tensão. Quando foi obrigada a chamar o ex-presidente Lula para apagar o incêndio, resolveu um problema imediato, mas criou outro muito maior. Desvelou para o Congresso Nacional que não consegue resolver uma crise rotineira da base. Divergências são comuns entre Executivo e Legislativo. Querer cobrar um comportamento de absoluta obediência e subserviência dos partidos da base leva necessariamente ao enfrentamento e quem perde - na atual composição de forças - é o Executivo. Tanto que o PMDB acabou saindo como vencedor.

A demora para solucionar a crise gerada pelas denúncias que envolveram o ex-ministro Palocci reforçaram a sensação de que Dilma pode estar caminhando para um processo de sarneyzação da Presidência. E sem a perspectiva de um Plano Cruzado. Convenhamos que é muito cedo. Mal completou cinco meses de mandato. Para piorar ainda mais, só falta o tema da sucessão, em 2014, começar a ocupar o noticiário político. Se isso ocorrer, Dilma estará seguindo os passos de Epitácio Pessoa. Eleito em 1919, meses depois o assunto não era mais o seu governo, mas a sucessão presidencial, que ocorreria somente em 1922. O próprio Estadão criou uma seção fixa do jornal para tratar do tema.

É evidente que, no caso Palocci, Dilma estava com as mãos atadas. O ex-ministro fazia parte da cota pessoal de Lula. Ela tinha, primeiro, de negociar com o padrinho, antes de demitir o afilhado. Mas o padrinho endureceu e tentou manter Palocci a qualquer custo. A estratégia lulista de aguardar o parecer - já sabido - do procurador-geral da República foi um fracasso. O fulcro da questão não era legal, mas principalmente ético. E aí apenas restou aguardar a solicitação de demissão.

A designação de uma figura politicamente anódina para a Casa Civil tende a congelar a crise política. Era a hora de nomear alguém de peso, que permitisse dar novo fôlego ao governo. Mas a presidente ficou temerosa de não ter o domínio absoluto da Casa Civil. E é justamente essa obsessão, a de controlar tudo o que acontece no Palácio do Planalto, que acaba enfraquecendo a sua ação. Dilma não entendeu que um governo democrático tem de delegar funções e autoridade. A concentração do mando na presidente não é demonstração de força, muito ao contrário. Mostra fraqueza e desconfiança no desempenho dos seus ministros.

As últimas quatro semanas confirmaram o que era evidente para qualquer observador com um mínimo de criticidade. O governo é frágil, tem uma base congressual gelatinosa, comunica-se muito mal com a população e vive ainda com base no prestígio adquirido pela gestão presidencial anterior. Ninguém consegue identificar um programa governamental que esteja caminhando bem e represente a nova administração. E as pesquisas de opinião devem demonstrar, daqui para a frente, o crescimento do sentimento de frustração entre seus eleitores.

Tudo indica que o governo ganhará novo fôlego nas próximas semanas. A ministra da Casa Civil deverá ser momentaneamente transformada numa grande especialista em administração pública. Será elogiada pelos motivos mais banais, típicos de um país onde não há debate político. Logo a máscara vai cair. Novamente o imperativo da realidade política vai se impor. E a crise tende a continuar, ora mais aguda, ora mais amena. O problema é que governo não tem um projeto para o País.

Historiador

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Cabral: é difícil reajustar 16 mil bombeiros

O governador Sérgio Cabral afirmou ontem que, apesar de estar comprometido com a melhoria salarial dos bombeiros, o número elevado do efetivo (16 mil) dificulta a concessão de aumentos significativos, como os pedidos pelos grevistas.

Cabral diz ser difícil reajustar 16 mil bombeiros

Governo mantém a proposta de dar aumento de 5,58%; outro projeto vai garantir gratificação e vale-transporte

Natanael Damasceno, Isabel Braga e Renata Leite

BRASÍLIA E RIO. O governador Sérgio Cabral afirmou ontem que, apesar de estar comprometido com a melhoria salarial dos bombeiros, não vai deixar de lado a responsabilidade com o equilíbrio das contas públicas do estado. Ele alegou que o número elevado do efetivo dificulta a concessão de aumentos significativos:

- Conseguimos equilibrar as contas públicas e fazer um processo de política salarial compatível com a nossa realidade. A política de remuneração deve seguir uma estratégia que não é a ideal, é a possível.

De acordo com o governador, o Rio possui o maior efetivo de bombeiros militares do país, com 16.550 homens na ativa. Por conta disso, o líder governista na Assembleia Legislativa, deputado André Correa (sem legenda), disse que o estado já fechou questão em torno do salário.

Correa revelou que o governador enviará esta semana outro projeto à Alerj modificando a destinação do Fundo Especial do Corpo de Bombeiros (Funesbom) para garantir gratificações e o vale-transporte pedido pela categoria. Mas disse também que não pretende modificar a proposta de Cabral, de aumentar os salários dos bombeiros, dos policiais e dos agentes penitenciários em 5,58%, antecipando para julho os reajustes que deveriam ser dados mês a mês até dezembro.

Ontem, o projeto de lei enviado pelo governo recebeu 32 emendas e saiu da pauta de votações. As emendas deverão ser apreciadas nas comissões da Casa e podem ser votadas ainda esta semana. Entre as mudanças propostas, há três emendas elaboradas por deputados favoráveis às reivindicações dos bombeiros que preveem a antecipação dos reajustes previstos até 2014 e um aumento adicional de 33%, além de vale-transporte. Os parlamentares apostam num acordo que se aproxime do que querem os manifestantes. Segundo esses deputados, o governador pode dar um reajuste maior.

- No último ano, o governo gastou em folha de pagamento apenas 27% da sua receita líquida, quando o limite prudencial estabelecido por lei é de 46%, Além disso, entre 2007 e 2010, Cabral concedeu mais de R$50 bilhões em isenção fiscal. Isso sem contar as isenções de impostos concedidas recentemente ao Metrô Rio e à SuperVia, que prestam um péssimo serviço à população - alegou o deputado Marcelo Freixo (PSOL).

Quanto à proposta de emenda constitucional que prevê o cancelamento das punições administrativas aos bombeiros que invadiram o quartel da corporação, Freixo disse que seu andamento depende de negociações.

- Essa discussão é política. O governo pode ter a maioria na Casa, mas já mostramos que temos a maioria nas ruas.

Em Brasília, apesar da vontade manifestada por todos os líderes da Câmara de votar em regime de urgência os projetos que anistiam os manifestantes na esfera criminal, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), defendeu que o assunto seja discutido com calma. Os líderes pressionam para que a votação aconteça na próxima semana.

FONTE: O GLOBO

Nomeações desagradam ao PMDB

BRASÍLIA. A mudança de comando na Casa Civil e na Secretaria de Relações Institucionais já está produzindo resultados práticos. No Diário Oficial da União, desde a última sexta-feira, começaram a surgir as primeiras nomeações para cargos de segundo e terceiro escalões. O PMDB não gostou da nomeação ontem de Marcelo Afonso Silva para a Diretoria de Obtenção de Terras do Incra, atribuída à nova chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. A vaga era reivindicada pela bancada do PMDB do Senado.

- A ministra Gleisi queimou na largada. Está limpando a prateleira do Palocci, mas descarregando os pedidos apenas do PT - reclamou um senador do PMDB.

A nomeação do técnico Marcelo Contreiras Dourado para a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) também teria contrariado o PMDB. Iris Rezende, ex-prefeito de Goiânia, recusara o cargo porque o órgão não terá instrumentos, como um banco regional de desenvolvimento. A insatisfação do PMDB deverá ser levada hoje à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

FONTE: O GLOBO

FAP lançou, ontem três livros, no Rio de Janeiro


Luiz Sérgio, Cleia, Werneck Vianna e Caetano - debatedores

A Fundação Astrojildo Pereira, em parceria com a Associação Anita Garibaldi e a Editora Contratempo, lançou três livros ontem (dia 14), às 17h30, no Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro (Av. Presidente Antonio Carlos, 40 – 4° andar, Rio de Janeiro, RJ). O evento contou com a presença de vários membros do mundo da cultural.

Após o lançamento houve um debate com a participação de Luiz Werneck Vianna, Luiz Sérgio Henriques, Cleia Schiavo e Caetano Araújo, presidente da FAP.

Servidora é exonerada por violar sigilo de tucanos

Defesa estuda entrar com ação contra União 

SÃO PAULO - O Serpro (serviço de processamento de dados do governo federal) exonerou a servidora Adeildda Ferreira dos Santos, indiciada por envolvimento no caso da quebra de sigilos fiscais de tucanos no ano passado.

Ela estava cedida à agência da Receita Federal em Mauá (ABC paulista) até o estouro do caso. Desde então, é investigada pela Corregedoria da Receita e havia sido "devolvida" ao Serpro.

Na agência em Mauá foram acessados -sem autorização- dados fiscais sigilosos de tucanos em 8 de outubro de 2009, entre eles Eduardo Jorge Caldas, vice-presidente do partido, e Verônica Serra, filha do então candidato tucano à Presidência, José Serra.

Cópias das declarações de Imposto de Renda de EJ, conforme a Folha revelou em 12 de junho do ano passado, foram incluídas em um dossiê preparado pelo "grupo de inteligência" criado durante a pré-campanha de Dilma Rousseff.

O advogado Marcelo Panzardi, que defende Adeildda dos Santos, informou que estuda entrar com um processo trabalhista contra a União porque a decisão contra a sua cliente foi tomada antes do desfecho do procedimento administrativo instaurado na Corregedoria da Receita.

Uma das linhas da defesa é que ela não teve intenção de violar as declarações porque achava estar cumprindo ordens da chefe da unidade.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Poupança baixa e gasto público elevam os juros

Em debate, economistas chegam a consenso sobre anomalia brasileira; Gustavo Franco diz que déficit do governo é de 12% do PIB

Fernando Dantas

RIO - O desajuste fiscal e a baixa poupança estão entre as principais causas dos altos juros reais brasileiros, de acordo com o consenso formado num debate realizado na segunda-feira na Casa do Saber, em São Paulo.

A discussão, que tinha como tema exatamente o nível extraordinariamente elevado dos juros no Brasil, reuniu André Lara Resende, um dos principais formuladores do Plano Real; Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central (BC); Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda de São Paulo; Luiz Gonzaga Belluzzo, da Universidade de Campinas; e Samuel Pessôa, da Tendências.

Um economista presente ao debate contestou depois, para o Estado, o diagnóstico fiscal do elevadíssimo juro real brasileiros, notando que o mundo hoje tem vários países com as contas públicas em estado muito pior, e com juros muito inferiores aos do Brasil.

Na sua apresentação, Franco recalculou em 12% do PIB o déficit nominal do setor público consolidado brasileiro (o número oficial está em 2,5%). Para tanto, incluiu as amortizações da dívida pública que, segundo ele, devem fazer parte do cálculo, segundo a metodologia internacional de maior aceitação.

Franco, Lara Resende e Pessôa bateram na tecla da baixa poupança nacional, que obriga a economia na prática a fazer uma espécie de "racionamento" das decisões de consumo e de investimento dos agentes econômicos. Assim, Lara Resende observou que, no passado, a inflação era o mecanismo pelo qual a renda era subtraída dos trabalhadores em benefício do governo e das empresas, gerando uma poupança adicional para financiar o investimento.

Com a estabilização e o controle da inflação, aquela forma de racionar os gastos foi bloqueada, mas à custa de juros muito altos para coibir o excesso de demanda privada. Franco ainda vê um "conflito distributivo" entre os setores público e privado, no qual o primeiro, com os altos gastos, "acotovela" o segundo "para fora da demanda agregada".

Para o ex-presidente do BC, o setor público também abre espaço para si com elevados depósitos compulsórios, poupança forçada (como no FGTS), direcionamento de crédito, etc.

Um ponto levantado por Lara Resende, e retomado por Pessôa, é o de que a tentativa do governo de evitar a valorização do real contribui para aumentar ainda mais o juro real. Isso ocorre porque a valorização da moeda e o aumento do déficit externo são a outra válvula de escape, além da inflação, para o excesso crônico de demanda. Assim, quanto menos valorização, mais pressão inflacionária, e maiores os juros reais.

Lara Resende, porém, alertou para as "consequências altamente negativas" do real sobrevalorizado, por causas dos riscos do endividamento externo.

Nakano e Belluzzo, que também pregaram um maior esforço fiscal, enfatizaram fortemente a questão da indexação contratual e financeira, que torna mais difícil o combate à inflação e contribui para a elevação do juro real. Nakano observou que o Brasil mantém até hoje parte expressiva da dívida pública no curtíssimo prazo, expediente dos tempos da hiperinflação, mas que impede o alongamento da poupança financeira nacional.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PV nacional dissolve diretório paulista e agrava racha com Marina

Raphael Di Cunto

São Paulo - O presidente nacional do PV, deputado federal José Luiz Penna, cancelou ontem o registro do diretório estadual de São Paulo e abriu nova ferida na disputa interna pelo controle do partido com a ex-senadora Marina Silva, que concorreu à Presidência pelo PV no ano passado.

O diretório municipal era comandado desde março de 2010 por Maurício Brusadin, dirigente que era ligado a Penna, mas se aproximou da ex-senadora na época da eleição e foi um dos líderes da Transição Democrática. O grupo foi a vários Estados para discutir a realização de eleições internas no PV para os cargos de direção - a maioria dos diretórios é composta por comissões provisórias, nomeadas pelo comando nacional do partido.

"Fui retirado [da direção] porque iniciamos o processo de eleições democráticas no PV, mas o Penna quer manter uma política do século 18 para o poder continuar nas mãos dele", afirmou Brusadin. Segundo ele, a direção de São Paulo tinha marcado eleição interna para agosto e ele não seria candidato à reeleição para não interferir no processo.

Em fevereiro, o diretório de São Paulo já tinha sofrido intervenção dos dirigentes nacionais, porém o mandato foi ampliado em mais três meses após discussões internas. A Executiva Nacional e a bancada de deputados federais do PV se reuniria ontem à noite para decidir o substituto de Brusadin. O nome mais cotado era o do presidente da Fundação Herbert Daniel, Marco Mroz.

O racha entre os grupos de Marina e Penna ocorreu após a Executiva Nacional, onde o deputado tem maioria, estender o mandato dele à frente do partido até 2012. A ex-senadora acusa o rival de autoritarismo, já que ele está na presidência desde 1999.

O deputado, que não tem falado sobre o assunto com a imprensa, diz a correligionários que ela é uma neófita no partido - saiu do PT em 2009 - e que a presença dela não agregou votos à legenda, já que o partido fez 13 deputados federais em 2006 e 14 em 2010, eleição em que Marina recebeu 20 milhões de votos para presidente. O Valor não conseguiu falar com ele ontem à noite.

A secretária nacional de Assuntos Jurídicos do PV, Vera Motta, defende a decisão do partido e diz que a Comissão de Ética deveria abrir processo contra ele e Marina. "Segundo o estatuto do PV, não é permitido a nenhum dirigente ou filiado denegrir a imagem do partido ou de seus dirigentes", afirmou.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Salário:: Carlos Drumonnd de Andrade

Ó que lance extraordinário: aumentou o meu salário
e o custo de vida, vário,
muito acima do ordinário,
por milagre monetário
deu um salto planetário.


Não entendo o noticiário.


Sou um simples operário,
escravo de ponto e horário,
sou caxias voluntário
de rendimento precário,
nível de vida sumário,
para não dizer primário,
e cerzido vestuário.


Não sou nada perdulário,
muito menos salafrário,
é limpo meu prontuário,
jamais avancei no Erário,
não festejo aniversário
e em meu sufoco diário
de emudecido canário,
navegante solitário,
sob o peso tributário,
me falta vocabulário
para um triste comentário.


Mas que lance extraordinário:
com o aumento de salário,
aumentou o meu calvário!