segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Opinião – Luiz Werneck Vianna: o capitalismo brasileiro

 Nessa reorientação, fixa-se para o capitalismo brasileiro o objetivo de transbordar suas fronteiras nacionais, num esforço conjunto do Estado e das grandes empresas de capital nacional, na tentativa de exercer uma vocação conquistadora de tipo grão-burguês. Outra característica está na abertura do repertório da tradição brasileira de Vargas a Geisel, recuperando a fórmula do nacional-desenvolvimentismo como via de uma modernização conduzida “por cima”.

Nessa operação, o Estado traz a sociedade para dentro de si, convertendo-se num “parlamento” onde se tomam as decisões a serem legitimadas por um Poder Legislativo enredado, por meio das práticas do chamado presidencialismo de coalizão, ao Executivo. Tal estratégia, audaciosa em seus fins, é conservadora quanto a seus meios: ela não procura a mobilização dos seres subalternos, salvo quando sob seu estrito controle, e se limita a procurar soluções institucionais, conceitos e motivações ideais no baú dos ossos da tradição autoritária brasileira.

Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio. O fim da história do Brasil ou um novo começo para ela. O Estado de S. Paulo, março de 2010

Gasto com reforma agrária é o mais baixo em dez anos

Número de famílias à espera de terras caiu de 59 mil, em 2003, para 3.579 em 2010

Aumento de emprego no campo, Bolsa Família e urbanização explicam falta de mobilização por novos assentamentos

João Carlos Magalhães

BRASÍLIA - O investimento do governo na ampliação da reforma agrária é, neste primeiro ano da gestão de Dilma Rousseff, o menor desde 2001.

Até agora, foram usados R$ 60,3 milhões para desapropriar novas áreas e transformá-las em assentamentos de trabalhadores rurais sem-terra -uma queda de 80% em relação à cifra desembolsada no mesmo período do ano passado.

No auge do investimento em reforma agrária, em 2005, o governo Lula gastou R$ 815,2 milhões até julho.

Tanto em termos absolutos quanto em percentuais, esse é o valor mais baixo da era petista até julho.

Pelos mesmos critérios, o montante também é menor do que o registrado nos dois últimos anos do governo Fernando Henrique Cardoso.

Para fazer o levantamento, a Folha usou o sistema do Senado que acompanha a execução orçamentária federal, cujas informações mais antigas são de 2001.

Um símbolo do esvaziamento da reforma agrária, bandeira histórica do PT, é o plano para tentar erradicar a pobreza extrema até 2014, principal aposta de Dilma.

Cerca de 25% da população rural é extremamente pobre (pessoas com renda mensal de até R$ 70).

O Brasil sem Miséria quer impulsionar a regularização de áreas já ocupadas, melhorar a produtividade e facilitar a venda de mercadorias da agricultura familiar. Mas não contempla a expansão do acesso à terra.

A reforma agrária também quase inexiste na fala da presidente. Em uma das únicas vezes em que tocou no tema, Dilma se limitou a dizer que "acredita" na reforma, mas não disse o que fará por ela.
IMOBILISMO

Ao longo da última década, o país se tornou mais urbano, o emprego na agropecuária aumentou, o desembolso com o Bolsa Família quase triplicou e mais pessoas passaram a ganhar a aposentaria rural.

Simultaneamente, a mobilização dos movimentos sociais rurais despencou: o número de famílias acampadas pressionando para ser assentadas caiu de 59 mil, em 2003, para 3.579 em 2010.

"O programa de assentamento parou", disse Guilherme Costa Delgado, pesquisador aposentado do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e membro da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária).

Para o pesquisador, os últimos três governos fizeram a "opção estratégica" pelo modelo brasileiro de agronegócio, que envolve grandes propriedades e monocultura.

"O agronegócio seria um jeito de inserir a economia brasileira na economia mundial, por meio da provisão de commodities, como a salvação das contas externas."

Ele afirma ainda que houve cooptação de lideranças do movimento dos sem-terra. Segundo a ONG Contas Abertas, os repasses para entidades ligadas à reforma agrária explodiram desde o início do governo Lula. Foram de R$ 73,3 milhões em 2003 para R$ 282,6 milhões em 2010.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Ministro diz a PT que não terá varredura

Para acalmar os ânimos do PT, que teme que a faxina anticorrupção respingue nas alianças em 2012, o ministro Gilberto Carvalho disse que não haverá uma "varredura geral"

Faxina sem "varredura geral"

Ministro tenta acalmar PT, que teme crise nas alianças eleitorais para 2012

Tatiana Farah

O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, tentou tranquilizar ontem os dirigentes petistas sobre as sucessivas crises no Planalto, que já provocaram a queda de dois ministros - Antonio Palocci (Casa Civil) e Alfredo Nascimento (Transportes) - e a demissão de cerca de 20 pessoas indicadas por partidos políticos. Segundo ele, não haverá uma "varredura geral" no governo. Um dos temores dos dirigentes, que passaram o final de semana reunidos em São Paulo, é que a crise com os partidos respingue nas alianças para as eleições de 2012.

O ministro não negou, no entanto, que o governo vá investigar denúncias de corrupção no Ministério da Agricultura, da cota do PMDB, partido do vice-presidente, Michel Temer. Demitido do governo, Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR), acusou os peemedebistas e o PTB de lotearem o ministério.

- Tenha certeza de uma coisa: a presidente, de praxe, nos orienta para que nenhuma denúncia fique sem averiguação da CGU (Controladoria Geral da União) ou de algum órgão de controle interno. Tudo isso vai ser verificado. Sobre o caso concreto, eu não quero falar ainda - disse o ministro.

Reunido a portas fechadas com líderes da chapa de maioria do PT, a "Partido que Muda o Brasil", antigo "Campo Majoritário", Carvalho reafirmou que a "faxina" da presidente Dilma Rousseff não é uma "caça às bruxas", mas que o governo deverá "ir para cima" dos casos de denúncia de corrupção. Ele também afirmou que a presidente não tem agido na esteira das denúncias feitas pela imprensa.

- Nessa questão do Palocci e do Alfredo, não existe clima de caça às bruxas, mas é um clima de ir para cima, de cobrar sempre que houver algum tipo de erro. Eu demonstrei, contando como foram os bastidores da história do Alfredo, que em momento algum ela simplesmente acreditou numa reportagem e demitiu o ministro. Não foi isso. Foi um processo muito cuidadoso - disse ele, ressaltando que a demissão de Alfredo foi uma iniciativa de Dilma: - Fomos pegos de surpresa no Planalto.

Para o ministro, a presidente "emitiu um sinal para todos os partidos":

- Não tem predisposição de ninguém ou qualquer tipo de vontade de fazer uma varredura geral. O que existe é um cuidado para que o governo otimize seus recursos. Nenhum ato de corrupção será tolerado.

Ministro nega crise entre Dilma e PT

Carvalho tentou também desfazer a ideia de que exista um afastamento entre Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou entre a presidente e os movimentos sociais e o próprio PT.

- Eu disse a eles (petistas) que, de zero a cem, eu aposto que é zero a possibilidade de haver uma crise entre a presidente Dilma e Lula. Tenho sido testemunha privilegiada dessa relação e sei do cuidado que o Lula toma de não dar nenhum passo que possa interferir na imagem do governo sem consultá-la. E também, da parte dela, uma noção de como Lula pode ajudar em um monte de coisas sem que isso constitua qualquer ameaça à autoridade dela. Eles têm uma relação muito especial.

O ministro aproveitou o encontro com as lideranças da corrente majoritária do PT, do qual fazem parte o ex-presidente e a própria Dilma, para dar mais um recado do Planalto:

- Comecei falando do governo Dilma, de algumas imagens que vão se formando de uma presidente que não dialoga com o partido ou que tem mais dificuldade do que o Lula de dialogar com os movimentos sociais. O diálogo com os movimentos sociais só aumentou neste tempo (os sete meses do governo Dilma). O presidente (do PT) Rui Falcão tem conversado mais com ela do que os presidentes anteriores conversaram com o Lula.

FONTE: O GLOBO

Jarbas elogia Dilma mas não poupa Lula

Jarbas elogia postura de Dilma diante da crise

Peemedebista subirá à tribuna do Senado amanhã e avisa que vai ressaltar forma como a presidente vem agindo diante das denúncias de corrupção. Contudo, não poupará Lula


Sheila Borges

Apesar de pertencer ao PMDB, partido do vice-presidente da República Michel Temer, o senador e ex-governador Jarbas Vasconcelos se mantem firme no papel de opositor ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT), mas em seu primeiro discurso no retorno ao Senado, amanhã, o peemedebista vai tecer elogios à postura da petista. Jarbas afirmou ontem que faz questão de reconhecer, publicamente, a atitude de Dilma que decidiu afastar 22 pessoas ligadas ao Ministério dos Transportes e aos órgãos vinculados à pasta envolvidas nas denúncias de corrupção naquele setor, incluindo o ex-ministro Alfredo Nascimento. Jarbas, contudo, ressaltará o que, segundo ele, Dilma não pode fazer: dizer que essa “herança maldita” foi herdada de seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – principal cabo eleitoral de Dilma nas eleições do ano passado. Para Jarbas, Lula foi “conivente” com as irregularidades supostamente praticadas por seus ex-auxiliares.

De acordo com o ex-governador, Dilma Rousseff está impedida, eticamente, de apontar a responsabilidade de Lula porque todo o esquema de pagamento de propinas para a realização de obras do Ministério dos Transportes ocorreu, em sua grande maioria, na época da campanha eleitoral. Fazia parte de uma estratégia política para imprimir um ritmo acelerado às obras do governo federal e, consequentemente, eleger a atual presidente. “A coisa não é simples. A presidente age com correção ao afastar, mas falta acrescentar que é um problema herdado de Lula. Muitos desmandos aconteceram (no final do governo do ex-presidente) para elegê-la. Lula se excedeu nos gastos. Foi conivente com a corrupção. Na época das eleições fiz vários discursos alertando que o Brasil, depois da campanha, iria pagar um preço muito alto pelos desmandos”, argumentou, adiantando o tom do discurso de amanhã cujo texto será finalizado hoje.

Jarbas Vasconcelos afirmou que não se surpreendeu com as denúncias apresentadas pela imprensa, no final de semana, revelando mais irregularidades em outros pastas, como esquemas de corrupção nos Ministérios das Cidades, da Agricultura e da Integração Nacional, envolvendo pagamentos de propinas e superfaturamento de obras. “São fatos que precisam ser mais apurados, mas já há uma constatação. Dilma tem indícios de corrupção e desvios de verbas em vários setores do governo”, comentou, defendendo que, nesses novos episódios, a presidente precisa manter a mesma postura firme e rigorosa.

O senador lembrou que esses esquemas de corrupção foram originados a partir da estratégia de Lula de ampliar a base de apoio de seu governo e ceder o controle dos ministérios para os partidos aparelharem a máquina pública. A maioria dos envolvidos, segundo Jarbas, está no governo desde a gestão de Lula. Por isso, o ex-presidente quando esteve no Recife, há duas semanas, teve uma postura condescendente, diferente da de Dilma. Na ocasião, o petista afirmou que os afastados deveriam voltar aos cargos se não fossem provadas as acusações levantadas contra eles.

O ex-ministro Alfredo Nascimento, por exemplo, assumiu a pasta, pela primeira vez, em 2004, no primeiro governo de Lula. Afastou-se em 2006 para se eleger senador. Em 2007, licenciou-se do mandato para voltar ao ministério. Em 2010, deixou o ministério para concorrer ao governo do Amazonas. Perdeu e foi convidado por Dilma a regressar, mais uma vez, dentro da cota dada ao PR – legenda presidida nacionalmente por Nascimento.

Ao ser indagado se aproveitaria o discurso para fazer uma avaliação dos primeiros sete meses da gestão da presidente, Jarbas negou. Disse que iria focar no ponto específico das denúncias, salientando a postura de Dilma e a responsabilidade de Lula. O termo “herança maldita” que Jarbas utilizará no discurso foi o mesmo usado por ele em 1999, no primeiro ano de seus dois mandatos consecutivos como governador, para criticar a administração do então antecessor, ex-governador Miguel Arraes (falecido em 2005), avô do atual governador Eduardo Campos (PSB). Jarbas falou, contudo, que há uma diferença entre os dois episódios. O termo “herança maldita” dito contra Arraes se referiu ao fato do peemedebista ter encontrado o Estado com muitas dívidas a pagar – acusação que, na época, foi negada por Arraes.

Em relação ao movimento dos partidos de oposição no Recife, que decidiram se unir para traçar estratégias conjuntas de ação contra a administração do prefeito João da Costa (PT), Jarbas disse que “na hora certa” participará dos atos promovidos pelos aliados. Observou, porém, que a oposição tem que apresentar “propostas concretas” e não apenas criticar a gestão do PT. “Hoje, o problema-chave da cidade é a mobilidade. O Recife está estrangulado. O trânsito está congestionado e falta estacionamento”, opinou.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Propina era para PC do B, diz advogada

Autora de uma denúncia de corrupção na Agência Nacional do Petróleo (ANP), a advogada Vanuza Sampaio disse à revista Época que o ex-superintendente de Abastecimento da agência Edson Silva, ex-deputado e dirigente do PC do B gaúcho, autorizou assessores a fazerem uma proposta de corrupção. Ela afirmou ainda que o dinheiro da suposta propina iria para o partido.
Vanuza disse ter recebido ameaças de morte e que, atualmente, só anda em carros blindados. Ela detalhou o suposto assédio que o ex-superintendente teria feito a ela, que representa seus clientes em vários processos junto à ANP. A advogada relatou um suposto encontro com Silva, no Rio:
– Edson não falou em dinheiro, mas avalizou o nome deles (seus assessores). Ele disse: "Antonio (então assessor) é meu amigo e fala por mim". Foi aí que percebi que não havia jeito, que era preciso fazer alguma coisa ou eles tomariam todos os meus clientes. Não aguentava mais.
FONTE: ZERO HORA (RS)

Revista diz que PP aparelhou Cidades

Reportagem da revista Istoé desta semana aponta que, em 2010, o Ministério das Cidades liberou pagamentos irregulares em favor de três grandes empreiteiras, que doaram mais de R$ 15 milhões ao PP, partido que comanda a pasta.

O Ministério das Cidades teria desrespeitado proibições do Tribunal de Contas da União (TCU) e pago obras superfaturadas. As três empreiteiras abocanharam no ano cerca de R$ 2,7 bilhões, mais de um terço dos gastos da pasta.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Líderes da oposição articulam criação de CPI da Corrupção

Objetivo é apurar suspeitas nos ministérios de Cidades e Agricultura, chefiados por PP e PMDB, além de Transportes

Alvaro Dias diz que já conseguiu 23 das 27 assinaturas necessárias para instalar comissão e investigar as pastas

Maria Clara Cabral


BRASÍLIA - Líderes da oposição já falam em pedir uma CPI da Corrupção que envolveria investigações sobre várias irregularidades no governo da presidente Dilma Rousseff.

O objetivo é estender o escopo da investigação, que não se limitaria apenas ao setor de Transportes, mas também atingiria os ministérios da Agricultura e das Cidades.

Ao longo dessa semana, o líder do PSDB, Alvaro Dias (PR), tentará buscar o apoio de mais quatro senadores para dar início ao processo.

"O ideal seria uma CPI da Corrupção, pois ela está generalizada. Se o governo realmente quer uma faxina, não tem por que se opor", afirmou ontem o senador.

Para a instalar uma CPI, é preciso o apoio de 27 senadores. Até agora, a oposição conseguiu 23 assinaturas.
O tucano também vai apresentar um requerimento para a convocação do ministro Paulo Passos (Transportes) na Comissão de Infraestrutura do Senado.

O argumento é que na última passagem de Passos pelo cargo, antes de ser efetivado como ministro, o volume de aditivos nos contratos do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) mais que dobrou. A informação foi revelada pela Folha.

O levantamento considera o período entre julho e dezembro de 2010. A comparação é feita com os mesmos meses do ano anterior.

Requerimento no mesmo sentido também será apresentado na Câmara.

A crise no Ministério dos Transportes, até agora, já derrubou 22 pessoas.

Na Comissão de Agricultura, a oposição fará um pedido para a convocação do ministro da Agricultura Wagner Rossi (PMDB-SP).
O objetivo é pedir que ele explique acusações de corrupção feitas pelo ex-diretor da Conab, Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá.

INVESTIGAÇÃO

O PPS, por sua vez, pedirá que o TCU (Tribunal de Contas da União) investigue as suspeitas levantadas.

Em outra frente, a oposição também tentará convocar o ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP-BA).

A pasta teria liberado recursos para obras e projetos classificados como irregulares pelo TCU.

"Tem denúncias para todos os gostos", disse o líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN).
Integrantes do PR cobram que Dilma tenha uma atitude firme e tome as mesmas medidas com os ministérios da Agricultura e das Cidades que tomou com a pasta dos Transportes. O líder do PR, deputado Lincoln Portela (MG), disse que, até agora, isso não aconteceu.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Cabral aumenta gasto com publicidade

Levantamento mostra que foram gastos 35% a mais em comparação à gestão anterior

Wilson Tosta

RIO - Em seu primeiro mandato, de 2007 a 2010, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) gastou em publicidade 35% a mais que sua antecessora, Rosinha Garotinho (expulsa do mesmo partido), em valores reais, descontada a inflação pelo IGP-DI. Levantamento a partir de números do governo no Sistema Integrado de Administração Financeira de Estados e Municípios (Siafem) mostra que, sem a correção inflacionária, os dispêndios nominais com propaganda da Subsecretaria de Comunicação e Divulgação subiram 62,98% de uma gestão para a outra.

O governo admite aumento de 43%, mas se baseia em gastos empenhados, não nos efetivados, usados pelo Estado nos cálculos. Na campanha de 2006, Cabral prometeu moderação nos gastos com propaganda e anunciou que não usaria verbas para exaltar seu governo. "O dinheiro público gasto em comunicação deve ser voltado para campanhas educativas. No nosso governo, todos os recursos de publicidade serão usados em campanhas em relação às drogas, ao trânsito", afirmou, o então candidato, em setembro de 2006.

No seu primeiro mandato, porém, a despesa média anual ficou em pouco mais de R$ 99 milhões (nominais), com ênfase em programas governamentais, como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).

"Todos os políticos têm sempre em mente a comunicação. Sempre querem divulgar ações de governo, para aumentar a avaliação positiva. No fundo, é autoelogio", analisa o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, diretor do Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj) e presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS).

O pesquisador diz desconhecer se há estudos científicos confirmando a correlação entre gastos de publicidade e popularidade. Cabral foi reeleito em 2010, com 66% dos votos válidos, ainda no primeiro turno.

O levantamento do Estado focou a execução do Programa de Trabalho do Orçamento final 2355 (Serviços de Comunicação e Divulgação), sob controle da Subsecretaria de Comunicação Social, subordinada à Casa Civil, e que concentra a maior parte das despesas do governo com publicidade. Há, porém, outros gastos da administração no setor, feitos por entidades da máquina pública, como empresas estatais, que operam verbas que não passam por esse programa.

Particularidades. Uma comparação dos gastos dos dois governos mostra comportamentos de certa forma semelhantes, mas com algumas peculiaridades. Em números corrigidos, na gestão de Rosinha as despesas pagas aumentaram em todos os anos: de R$ 5,8 milhões em 2003 para R$ 135,5 milhões em 2006.

Já no governo Cabral, os dispêndios, embora mantidos acima de R$ 80 milhões, inicialmente recuaram para R$ 93,6 milhões em 2007 e R$ 84,4 milhões em 2008, mas retomaram a ascensão em 2009, com R$ 94,9 milhões e foram a R$ 163,4 milhões em 2010. Para garantir uma comparação mais aproximada dos valores, foi feita uma correção para reais de dezembro de 2010.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Arquiteturas políticas:: Aécio Neves


Ninguém desconhece as enormes dificuldades pelas quais passa o país, neste momento em que se acentua uma arquitetura de relações políticas baseada na subordinação dos partidos e na delegação a eles, como contrapartida, de extensas áreas da administração federal, que funcionam como autênticos feudos, na lógica do chamado "presidencialismo de coalizão".

O que se assiste não é um fenômeno novo. Se não é correto limitá-lo aos governos do PT, é forçoso reconhecer que a luta fratricida por cargos e espaços de poder se adensou e se institucionalizou, a um custo cada vez maior para o país.

Por mais que os primeiros movimentos da presidente Dilma Rousseff busquem sinalizar certa indisposição quanto à manutenção desse modelo, e esta postura mereça ser saudada, também é preciso lembrar que o atual governo reproduz e perpetua os mesmos códigos de relações políticas do anterior, do qual a presidente foi figura de destaque.

Não podemos cair na armadilha de acreditar que exista um esforço novo para fazer valer uma autêntica faxina institucional, enquanto o que vermos se restringir apenas a respostas pontuais à indignação da população diante de denúncias da imprensa.

Instrumentos simples, implementados por meio das auditorias permanentes dos órgãos federais, poderiam significar uma providência muito mais eficaz do que a simples troca de cadeiras. Em Minas, por exemplo, a criação e o efetivo funcionamento de uma rede de auditorias preventivas representaram importantes conquistas do modelo de gestão lá implantado.

Nesta semana, quando o Congresso retoma seus trabalhos, o governo terá oportunidade de reposicionar-se diante da verdadeira enxurrada de questionamentos que sobre ele pesa. Um bom recomeço seria o apoio da presidente ao entendimento que tem sido buscado, no Senado, em torno de um novo rito para tramitação das medidas provisórias, que restitui ao Congresso suas prerrogativas constitucionais.

Há também grande expectativa em relação ao posicionamento do governo sobre as mudanças aprovadas na LDO, que abrem a caixa preta da emissão de títulos do Tesouro e limitam os gastos federais.

O encaminhamento que a presidente dará a essas matérias demonstrará, na prática, qual a verdadeira disposição do governo.
Se sancionar as mudanças aprovadas no Congresso permitirá um avanço importante nas relações entre os Poderes. Se vetá-las, estará condenando todos nós a um triste e envelhecido cenário, agravado pela ausência de uma agenda para o país. Trata-se, portanto, de um momento decisivo. Ou caminhamos para recuperar o tempo perdido ou encerraremos 2011 como viemos até aqui: imobilizados por sucessivas crises e regidos pelo improviso.

Aécio Neves, Senador (PSDB-MG)

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Saudades de Gilda!:: Ricardo Noblat

 ‘Engana-se quem pensa que o 1° ano de governo de Dilma será o 9° de Lula.’ (José Aníbal, secretário do governo Alckmin)

Jamais haverá uma mulher como Gilda! Quero dizer: Rita Hayworth, a estrela do filme de 1946 com esse nome que a tornou o maior símbolo sexuald a época. Por aqui, jamais haverá outro inconfidente como Roberto Jefferson, ex-deputado federal e ex-presidente do PTB, que em 2005 denunciou o mensalão do PT. Nós, jornalistas, somos órfãos dele.

Tem um inconfidente novo na praça: Oscar Jucá Neto, o Jucazinho. Suspeito de prevaricar, foi demitido da Companhia Nacional de Abastecimento.Deu o troco: em entrevista à “Veja”, disse que há corrupção grossa no ministério da Agricultura. É briga interna do PMDB. Jucazinho está longe de fazer sombra a Roberto Jefferson.

Quando algum detentor de segredos cabeludos se vê ameaçado de perder o emprego, os jornalistas trocam olhares ansiosos e começam a cercá-lo. Os mais ousados até se arriscam a escrever que a República irá abaixo caso o sujeito perca o controle e decida contar o que sabe. Costuma ser mais torcida do que crença.

Torcemos, por exemplo, para que um dos aloprados abrisse o bico. Em vão. O silêncio deles e o descaso das autoridades contribuíram para que ficasse impune o escândalo do dossiê fabricado pelo PT para atazanar a vida de Geraldo Alckmin e de José Serra, candidatos a presidente e a governador de São Paulo em 2006.

Torcemos para que Paulo Preto admitisse ter tomado dinheiro de empresários para financiar no ano passado a campanha de Serra a presidente. Em vão. Paulo Vieira de Souza, vulgo Paulo Preto, havia sido diretor de engenharia da empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa). Conhecia o caminho dos cofres gordos.

Luiz Antonio Pagot, demitido pela presidente Dilma Rousseff da direção-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), tinha munição suficiente para produzir um estrago maior do que o protagonizado por Roberto Jefferson. Preferiu não usá-la. Céus! Por quê?

Porque o governo Dilma aprendeu com os governos passados anão incorrer no mesmo erro cometido por Lula em relação a Roberto Jefferson. Sarney tinha horror a demitir, mas quando era obrigado a fazê-lo não deixava demitidos em apuros. FH também não deixava , embora demitisse com mais facilidade.

Roberto Jefferson fez tudo para não pagar sozinho pela roubalheira descoberta na Empresa de Correios e Telégrafos, entregue aos cuidados do PTB. Quanto mais pedia ajuda aauxiliares de Lula, mais a corda se apertava em torno do seu pescoço. Convencido de que estava condenado, concluiu: “Posso até morrer, mas outros morrerão comigo.”

Desde que Dilma decidiu afastar Pagot do Dnit, o governo estendeu um macio e cerimonioso tapete vermelho para que ele fosse embora,digamos,de cabeça erguida. Tanto cuidado se justificava. Pagot arrecadou dinheiro para o1o- eo2o- turnos da eleição de Dilma. E ainda arrecadou mais para pagar dívidas de campanha.

De resto,vicejava a suspeita, alimentada por ele mesmo, de que assinara contratos e engolira aditivos somente para livrar o PT de sérias dificuldades financeiras. Lula tinha Pagot namais alta conta, essa é que é a verdade. O comando nacional do PT, então nem se fala. Perdeu um companheirão — eficiente, discreto e solidário.

O senador Blairo Maggi (PR-MT),padrinho político de Pagot, foi convidado para suceder Alfredo Nascimento no ministério dos Transportes. O convite não era para valer, era só para amansar Pagot. Maggi jamais aceitaria, para não correr o risco de ver expostas e mal interpretadas as entranhas dos seus negócios com o governo.

Pagot recusou o afastamento sumário e declarou-se em férias —exigência aceita. Ofereceu-se para depor no Congresso — exigência aceita. Ali, não entregou ninguém, mas repetiu que nada
fizera sem o conhecimento dos seus superiores — o governo ouviu em silêncio. Por fim, despediu-se do Dnit com a certeza de que não será processado.

Saudades de Gilda!

FONTE: O GLOBO