sábado, 26 de novembro de 2011

OPINIÃO DO DIA – Marco Aurélio Nogueira: o esquema da corrupção

"A primeira reação de quem se incomoda com a corrupção é apontar um culpado. Culpados, evidentemente, existem. Ninguém que esteja numa função de responsabilidade deixa passar como rotina certos procedimentos explosivos que deslocam a tomada de decisões para a beira do precipício. Governar ou administrar são operações delicadas e quem vacila no cumprimento das obrigações e abre espaços para lobistas inescrupulosos, parentes vorazes, protegidos e amigos, ou deseja testar os limites da legalidade, não pode merecer perdão. Por bem menos muitos cidadãos são presos ou têm a vida reduzida a pó. Não há ingênuos na alta administração, muito menos anjos. Todos sabem distribuir favores, castigos e recompensas com a mesma desenvoltura. Ninguém rasga dinheiro, assina cheque em branco e pode alegar ter sido enganado. Porém, se sempre há culpados, nem sempre é fácil descobri-los ou atribuir as devidas responsabilidades na cadeia de comando da corrupção. Punições exemplares e cortes de cabeças coroadas são importantes, mas não desmontam esquemas."

Marcos Aurélio Nogueira, professor Titular de Teoria Política do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP. A soma de todos os nossos malfeitos. O Estado de S. Paulo, 26/11/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Governo cancela construção de 29 presídios por desvios
Justiça sequestra bens de Kassab
Dnit: escândalos em obras continuam
Demitido pode manter plano de saúde

FOLHA DE S. PAULO
Justiça bloqueia bens de Kassab e de empresários
Lupi foi funcionário fantasma da Câmara
Campanha na TV não muda rejeição à divisão do Pará, mostra Datafolha
Dilma diz que país não deve se atemorizar diante da crise

O ESTADO DE S. PAULO
Dilma pede que brasileiro consuma para afastar crise
Ministro chora e nega ordem para fraudar parecer de obra
Aposentado e demitido manterão plano de saúde
Militantes deixam MST e o acusam de ser "governista"
CNJ investiga magistrados por grilagem de terras
Juíza bloqueia bens de Kassab e inspeção terá nova licitação

CORREIO BRAZILIENSE
Demitido terá direito a manter plano de saúde
Senador se opõe à compra de maletas antiespionagem
Dilma incentiva o povo a comprar
UPPs podem combater o tráfico no DF

ESTADO DE MINAS
Demitidos poderão manter plano de saúde

ZERO HORA (RS)
Lágrimas contra “fogo amigo”
Plano de saúde: Nova regra beneficia demitidos e aposentados

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Chefe local do Dnit é exonerado
Lei seca vai ser intensificada em Pernanbuco
Demitido poderá ficar com plano de saúde, diz ANS

Dilma pede que brasileiro consuma para afastar crise

A presidente Dilma Rousseff previu que a crise europeia vai durar pelo menos dois anos e manifestou preocupação com o momento internacional "muito delicado", mas disse que o Brasil precisa manter a produção e o consumo. "Nesse momento de crise, o que temos de fazer não é nos atemorizar, parar de consumir, parar de produzir", disse, em discurso, no Rio.

Dilma pede a brasileiro que mantenha consumo

Presidente diz que o Brasil não pode temer o período difícil da economia internacional, que segundo ela deve durar pelo menos dois anos

Luciana Nunes Leal

RIO - A presidente Dilma Rousseff previu ontem que a crise europeia não diminuirá antes de pelo menos dois anos e manifestou preocupação com o "momento muito delicado internacionalmente", mas insistiu que o Brasil não pode temer o período difícil da economia mundial e, ao contrário, precisa manter a produção e o consumo.

"Nesse momento de crise, o que nós temos de fazer não é nos atemorizar, parar de consumir, parar de produzir. Ao contrário, temos que avançar, melhorar a qualidade de serviço público do Brasil, garantir que o setor privado continue investindo e que o povo brasileiro continue consumindo", disse a presidente, em discurso durante solenidade de inauguração de novas unidades do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into), no Rio.

Dilma recorreu à filosofia de que "crise é também oportunidade" para apontar a necessidade de o País investir em educação, inovação e desenvolvimento tecnológico. Este será, segundo a presidente, o caminho para produção de produtos hoje importados e de geração de emprego. A presidente comemorou a taxa de 5,8% de desemprego, anunciada na quinta-feira pelo IBGE, e comparou com o índice da Espanha "em torno de 22%".

"É certo que a Europa ficará, um tempo bastante expressivo, em crise. Essa crise europeia não acaba nem em um ano e, possivelmente, nem em dois . Não chego a falar em uma década, mas acho que nós temos de ter consciência disso. Também os Estados Unidos não estão numa situação muito favorável. Mas crise é também oportunidade. E o Brasil está hoje diante de várias oportunidades", afirmou a presidente, citando a criação de novos centros de produção de medicamentos e de procedimentos médicos .

Petrobrás. "O Brasil vai ter de dar o salto da educação, da inovação e da criação e incorporação de tecnologia", disse a presidente que, além da saúde, citou o setor do petróleo, em especial a Petrobrás. "Nós queremos produzir, no Brasil, todos os produtos que a nossa Petrobrás vai demandar, nos próximos anos. Para vocês terem uma ideia, até 2020 a Petrobrás vai comprar, mais ou menos, 67 sondas. Considerando que cada sonda custa aproximadamente R$ 1 bilhão, nós temos, então, uma demanda muito forte, que explica por que, mesmo nesse momento de crise internacional, nós sejamos um país com uma das menores taxas de desemprego", disse.

À tarde, em Niterói, Dilma participou da entrega do navio Celso Furtado à Petrobrás Transportes (Transpetro). O navio, com capacidade para 56 milhões de litros de derivados de petróleo, é o primeiro do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) a ser entregue.

Em discurso para 4 mil trabalhadores do estaleiro, ela disse que os empregos na indústria naval estarão garantidos mesmo quando as 49 embarcações encomendadas pela Transpetro estiverem prontas: "Não vamos transferir empregos para outros países do mundo. Os empregos gerados no Brasil vão ser mantidos."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

'Falta um jornal a favor do governo'

Dirceu critica imprensa

Marcelle Ribeiro

SÃO PAULO.Um dos palestrantes do Seminário Nacional por um Novo Marco Regulatório para as Comunicações, promovido ontem pelo PT, em São Paulo, o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu voltou a defender a regulação da mídia, criticou donos de veículos de comunicação e lamentou que não exista, no Brasil, o que ele chamou de um jornal de esquerda e favorável ao governo. Segundo Dirceu, o PT sempre defendeu a regulação da mídia, mas também atuou em favor da liberdade de imprensa.

- Lamento que não tenha (no Brasil) um jornal também de esquerda, que seja a favor do governo, que todos os países têm. (Não tem) porque os proprietários (de jornais) são contra nós. Foram a favor do golpe de 1964, a favor de governo de direita, elegeram o (Fernando) Collor e o Jânio Quadros. Fizeram campanha dia e noite contra nós, o PT, contra o governo, o presidente Lula, a CUT e o MST. Isso é natural, eles têm o direito de fazer. O que precisa é de pluralismo - disse Dirceu.

O petista disse não ser favorável ao controle de conteúdo produzido pela mídia, mas afirmou que a Constituição já estabelece algum controle e que deve ser respeitada.

- O conteúdo está regulado pela Constituição, que já diz que você não pode pregar o racismo, não pode desrespeitar os direitos humanos, nem determinados valores, assim como já existe a classificação (de programas) por idade.

FONTE: O GLOBO

Militantes deixam MST e o acusam de ser "governista"

Grupo critica submissão de líderes e racha MST

Carta subscrita por 51 antigos militantes diz que movimento deixou de lutar pelo socialismo e perdeu combatividade com chegada do PT ao poder

Roldão Arruda

Um grupo de 51 militantes e apoiadores do Movimento dos Sem-Terra (MST), a maioria veteranos na luta pela reforma agrária, divulgou carta na qual anuncia o desligamento da organização por discordar de seu projeto político atual. Na avaliação do grupo, o MST, além de burocratizado e institucionalizado, está integralmente subordinado às políticas do governo federal.

"Vem se conformando uma ampla aliança política, consolidando um consenso que envolve as principais centrais sindicais e partidos políticos, MST, Movimento dos Trabalhadores Desempregados, Via Campesina, Consulta Popular, em torno de um projeto de desenvolvimento para o Brasil, subordinado às linhas políticas do governo", diz a carta. Na avaliação dos signatários, trata-se de uma "esquerda pró-capital" e destinada a "movimentar a massa dentro dos limites da ordem e para ampliar projetos assistencialistas".

Trata-se de uma crítica radicalmente de esquerda. O texto afirma que, além de perder a combatividade a partir de 2003, com a chegada do PT ao poder, o MST deixou de lutar pelo socialismo.

A direção nacional do MST não quis comentar publicamente o documento. Preferiu tratar o episódio como parte dos debates e das divergências políticas que sempre fizeram parte da história da organização.

Nos bastidores, porém, alguns dirigentes acusaram o golpe. Lamentou-se sobretudo a deserção de militantes históricos do Rio Grande do Sul. Do total de assinaturas, 28 são daquele Estado, onde o movimento foi idealizado, na década de 1980, e no qual surgiu seu líder mais conhecido, João Pedro Stédile.

A decisão do MST de não comentar a carta também pode estar vinculada ao fato de atravessar um dos piores momentos de sua história do ponto de vista de mobilizações. O número de pessoas reunidas em seus acampamentos chegou ao nível mais baixo dos últimos anos.

Do total de 300 mil acampados em 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, restam 60 mil - segundo informações do próprio movimento. No ano passado falava-se em 110 mil.

A dificuldade de mobilizar pessoas para pressionar o governo estaria ligada a diversos fatores. Um deles seria o aumento do nível de emprego, especialmente na faixa de um a dois salários mínimos, de onde provinha grande parte dos acampados. Outro fator que tem sido apontado com frequência é o Bolsa Família, que deu maior estabilidade econômica às famílias de baixa renda.

Os dirigentes do MST também apontam como causa da baixa mobilização o descrédito em relação ao governo. Ao contrário de Lula, que assumiu falando em reforma agrária massiva, a presidente Dilma Rousseff evita o assunto desde a campanha.

Na avaliação do grupo que rompeu, a baixa mobilização também estaria ligada ao alinhado político do MST com o governo: "Isso não ocorre sem consequências. Operam-se mudanças decisivas nas formas organizativas e no plano de lutas".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Governo cancela construção de 29 presídios por desvios

CNJ liberou em dois anos 21 mil pessoas presas indevidamente

O Ministério da Justiça vai rescindir 29 contratos firmados com estados entre 2005 e 2010 para a construção de presídios e cobrar a devolução de R$ 160 milhões repassados para as obras, que não saíram do papel. O dinheiro já entrou na conta dos estados ou está parado na CEF. Auditorias do TCU revelaram negligência e até superfaturamento em construções de cadeias em Sergipe, Rio Grande do Sul e Rio, por exemplo. Esta semana, o governo lançou novo programa, que prevê investimentos de R$ 1,1 bilhão no sistema prisional até 2013. Ontem, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou resultado do mutirão carcerário: em dois anos, 21 mil pessoas que estavam presas irregularmente no país foram libertadas. O presidente do Conselho e do STF, Cezar Peluso, anunciou a criação do Banco Nacional de Mandados de Prisão.

E ainda há presídios de papel...

Governo vai rescindir 29 contratos não cumpridos e pedir de volta R$160 milhões

Roberto Maltchik, Fábio Fabrini

O Ministério da Justiça decidiu rescindir 29 contratos firmados entre a União e estados para a construção de presídios que nunca saíram do papel. A decisão fará com que o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) corra atrás de R$160 milhões, dinheiro que já entrou na conta dos estados ou ainda está parado na Caixa Econômica Federal (CEF), e limpe parte do estoque de obras com projetos condenados. Os contratos a serem cancelados foram firmados entre 2005 e 2010. Outros nove acordos, totalizando 38, estão na mira do Ministério da Justiça e também poderão perder validade.

Segundo o diretor-geral do Depen, Augusto Rossini, o governo resolveu cancelar contratos que têm execução nula ou cuja licitação sequer foi concluída. Ele anunciou ainda que o Ministério da Justiça decidiu rever todos os projetos para construir prisões especializadas ao atendimento de jovens adultos, programa que até agora não prosperou.

---- Não é uma decisão fácil. Porém, é importante para zerar o jogo com os estados. O jogo com os estados está muito claro para aumentar o máximo de vagas. Vagas de verdade. Eu não tenho pudor nenhum em devolver dinheiro para o Tesouro - afirmou Rossini, lembrando que, a partir de agora, os estados serão submetidos a padrões nacionais de projetos de arquitetura e engenharia.

O secretário declarou que não pode informar o nome dos presídios que terão os contratos cancelados porque os processos formais ainda não foram concluídos. Entretanto, levantamento feito pelo GLOBO em auditorias aprovadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) este ano indica um universo de negligência com as obras que deveriam desafogar o caótico sistema prisional brasileiro.

Falta de segurança cancela obra em SE

Em Sergipe, a criação de 154 vagas na Penitenciária Advogado Manuel Cacho, em Areia Branca, foi barrada pelo medo. Em 2009, um ano depois da assinatura do contrato, os operarários alegaram que não havia condições mínimas de segurança no canteiro de obras, em razão da livre circulação de detentos do regime semiaberto. "Foram relatados pela empresa diversos furtos e falta de segurança para a execução dos serviços. As medidas tomadas pela direção do presídio e pela Sejuc/SE (Secretaria de Estado da Justiça e de Defesa ao Consumidor) não foram efetivas, o que levou a empresa a paralisar a obra no mês de março de 2009". Como o problema não foi resolvido, o contrato entre o governo estadual e a empresa foi cancelado.

A União já destinou R$1 milhão para a obra e, de acordo com a Secretaria de Segurança de Sergipe, o Depen ainda "não se manifestou oficialmente quanto ao cancelamento de qualquer contrato de repasse". Também em Sergipe, a ampliação do Presídio Juíz Manoel Barbosa de Souza, que já recebeu R$3,4 milhões, está paralisada.

O recebimento de detentos no sistema prisional do Rio de Janeiro poderia ser ao menos "adequado", nas palavras do TCU, se o Complexo de Bangu já tivesse o Centro de Observação Criminológica de Gericinó, obra contratada em 2010 por R$12 milhões. O Centro deveria servir para a realização de exames médicos, físicos e psicológicos dos detentos. Tudo parecia bem até que a CEF exigiu um documento elementar para liberar o dinheiro: o projeto de esgotamento sanitário. Foi o suficiente para a empresa vencedora da licitação abandonar a obra, resultando na rescisão de seu contrato, em maio deste ano.

O dinheiro ainda está parado na Caixa Econômica Federal e, em resposta ao GLOBO, a Secretaria de Administração Penitenciária do Rio informou que as exigências da instituição financeira "estão sendo cumpridas". Também no Rio, a reforma geral do Instituto Penal Candido Mendes, além da construção da residência para idosos e a reforma da Casa de Transição de Niterói estão ameçadas por falhas de projeto ou falta de documentação exigida pela União.

No RS, sobrepreço de R$1,4 milhão

Como as falhas se repetem de Norte a Sul, as construções de dois importantes presídios, com capacidade para abrigar 672 detentos ao custo de R$28 milhões, estão por um fio no Rio Grande do Sul. Na unidade de Passo Fundo, região central do estado, o projeto de engenharia foi mudando, junto com o preço. Resultado: o TCU detectou sobrepreço de R$1,4 milhão, e a obra foi paralisada com execução de apenas 7% do total. O governo do estado disse que o novo projeto será levado a Brasília no dia 28 de novembro.

Em Bento Gonçalves, região serrana do Rio Grande do Sul, o próprio governo do estado não sabe se haverá ou não presídio. "A unidade ainda está sendo analisada pela Secretaria de Segurança Pública", informou a assessoria do governo.

FONTE: O GLOBO

Dnit: escândalos em obras continuam

O superintendente e mais quatro funcionários do Dnit em Rondônia foram afastados por suposto desvio de R$ 30 milhões. O esquema era parecido com o que derrubou ministro e cúpula do órgão este ano.

Dnit: grupo desviou R$30 milhões de obra em RO

Superintendente do órgão no estado e mais quatro funcionários foram afastados; PF apreendeu documentos

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. A Polícia Federal apreendeu documentos ontem em 27 endereços de servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) de Rondônia e de três empresas acusadas de fraudes na construção da BR-429, entre Presidente Médici e Costa Marques. O grupo é acusado de desviar R$30 milhões só em um dos cinco lotes da obra, orçada em R$475 milhões. A partir das informações da chamada Operação Anjos do Asfalto, o superintendente e mais quatro funcionários do Dnit foram afastados dos cargos e deverão responder a processo disciplinar.

Para a polícia e o Ministério Público Federal, os indícios recolhidos até o momento coincidem em parte com as denúncias sobre corrupção que resultaram na queda do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento e de toda a cúpula do Dnit entre junho e julho deste ano. Na quarta-feira, numa outra operação em Recife, a Polícia Federal desbaratou uma organização acusada de desviar R$67 milhões em dois lotes da BR-101, nas proximidades de Recife. Em cálculos preliminares, os desfalques dos dois grupos somam aproximadamente R$100 milhões.

- O valor (das fraudes) é bem maior. A investigação ainda não terminou - afirmou o procurador Rudson Coutinho, responsável pelo início das investigações que resultaram na Operação Anjos do Asfalto.

O superintendente do Dnit em Pernambuco, Divaldo Câmara, também deixou o cargo. Segundo a assessoria de imprensa, ele pediu afastamento porque está para fazer tratamento médico.

As investigações da Operação Anjos do Asfalto começaram há sete meses. Um funcionário de uma das empresas responsáveis pelas obras da BR-429 compareceu ao Ministério Público Federal de Ji-Paraná e denunciou o uso de material de baixa qualidade na construção do asfalto, cumplicidade e corrupção de fiscais do Dnit.

Segundo Coutinho, todas as acusações foram confirmadas pelas investigações. A polícia e a Controladoria Geral da União constaram adulteração do asfalto e o pagamento de propina de forma "escancarada". De acordo com o inquérito, dirigentes das empresas pagavam mesadas de R$4 mil a R$6 mil a servidores do Dnit para que eles fizessem vistas grossas às fraudes. A busca de lucros com a pavimentação de asfalto de baixa qualidade fazia parte do plano de metas de uma das empresas.

- Alguém da empresa chegava aqui em Rondônia e dizia: "este mês vamos ter que faturar tanto". Se a meta não fosse cumprida, eles completavam com as fraudes - disse o procurador.

O Ministério Público Federal pediu a prisão de 19 suspeitos, mas os pedidos foram rejeitados pela Justiça Federal. O juiz do caso também proibiu a Polícia Federal e o Ministério Público de divulgarem o nome das empresas e dos investigados. Em Brasília, o Dnit informou que as obras da BR- 429 estão a cargo da Fidens. As operações em Rondônia e Pernambuco esta semana surgiram a partir de dois dos 62 inquéritos da PF sobre supostas fraudes em rodovias.

FONTE: O GLOBO

PE: Chefe local do Dnit é exonerado

Cai superintendente do Dnit-PE

Dois dias após PF realizar operação contra o órgão, Divaldo de Arruda Câmara é exonerado, a pedido, pelo ministro dos Transportes

Paulo Augusto

Dois dias depois de a Polícia Federal ter posto em prática a Operação Casa 101, que investiga irregularidades em contratos celebrados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes de Pernambuco (Dnit-PE), o superintendente regional do órgão no Estado, Divaldo de Arruda Câmara, foi exonerado a pedido pelo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. Câmara estava à frente do órgão desde maio do ano passado, quando substituiu Marcos Cesar Crispim Lima, indicação política do deputado federal Inocêncio Oliveira (PR), mas se encontrava de licença médica. A assessoria do Ministério dos Transportes disse que o servidor não informou as razões do pedido de exoneração. O atual superintendente interino, Milton Rattacaso, deve ser efetivado na função após a exoneração de Câmara ser publicada no Diário Oficial, próxima segunda-feira.

O agora ex-superintendente deixa o cargo em meio a uma crise no órgão, que está sendo investigado por conta de supostas irregularidades em três contratos de pavimentação, conservação e manutenção da BR 101, em trecho localizado na Região Metropolitana do Recife. Juntos, os três contratos somam R$ 370 milhões de reais – em um deles já é comprovado prejuízo ao erário no valor de R$ 67,1 milhões.

Na última quarta-feira (23), quando deu inicio à Operação Casa 101, a Polícia Federal realizou mandados de busca e apreensão em Recife, Paudalho, Garanhuns e Maragogi (AL), e apreendeu notebooks, computadores e documentos, além de ter sequestrado bens e bloqueado contas bancárias.

Foram ainda conduzidos de maneira coercitiva para prestar depoimento seis servidores do Dnit – e, embora nenhum deles tenha sido preso, a PF solicitou ao órgão que afastasse um deles de suas funções. Mesmo sem ter divulgado o nome de nenhum dos servidores ou empresas envolvidas no esquema de corrupção, o superintendente interino do Dnit afirmou que o órgão afastou na última terça-feira (22) o servidor Genivaldo Paulino da Silva, a pedido da Polícia Federal.

O servidor é proprietário de uma residência que se encontra em construção em um condomínio fechado, em Paudalho (Mata Norte). Segundo testemunhas que preferiram não se identificar, pessoas utilizando roupas do Dnit já foram vistas trabalhando nas obras.

Ao anunciar a Operação Casa 101, o superintendente da Polícia Federal de Pernambuco, Marlon Jefferson de Almeida afirmou que existia uma "escancarada troca de favores entre empresas e fiscalização, ao ponto de empresas contratadas para a execução de obras e serviços públicos fornecerem mão de obra e material de construção para edificação de casa residencial de servidor do Dnit".

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Ministro chora e nega ordem para fraudar parecer de obra

Negromonte diz que seu chefe de gabinete, Cássio Peixoto, é "de confiança" e atribui mudança a divergência entre técnicos

O ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), disse à rádio Estadão/ESPN que seu chefe de gabinete, Cássio Peixoto, é "de confiança", mas negou ter dado ordens para que fosse alterada a nota técnica número 123/2011. A fraude, revelada pelo Estado, respaldou a implantação, para a Copa, do projeto de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Cuiabá, avaliado em R$ 1,2 bilhão. "O Cássio é pessoa da confiança e faz parte da G-Copa. Ele solicitou que reanalisassem o projeto. Agora, não pediu a meu mandado não, hein, companheiro! Não mandei", afirmou. O ministro disse que não teve conhecimento do parecer da Controladoria-Geral da União (CGU) que reprovou o projeto de VLT. Em solenidade na Bahia, Negromonte chorou ao ser defendido por políticos.

Negromonte chora, ataca mídia e diz ser alvo de "fogo amigo"

Evento do Minha Casa vira ato em defesa de Negromonte, que se diz vítima de "preconceito" por ser nordestino

Tiago Décimo

SALVADOR - Envolvido em denúncias de fraude na alteração do projeto de mobilidade urbana de Cuiabá (MT) para a Copa de 2014, o ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), disse ontem em Salvador ser vítima de "fogo amigo" dentro do governo, acusou a imprensa de ter "preconceito" contra mulheres e nordestinos e chorou ao ser defendido por políticos baianos.

"Identifico fogo amigo, claro que sim! Partidos da base aliada e o próprio PP nacional - não o da Bahia - têm interesse no ministério", afirmou Negromonte. "As denúncias surgem porque o ministério é importante. A gente toma conta de diversos programas, como o Minha Casa, Minha Vida, de R$ 170 bilhões, o de saneamento básico, de R$ 50 bilhões, o de mobilidade urbana, de R$ 30 bilhões. E a gente contraria muitos interesses. Aqui e acolá tem meia dúzia de insatisfeitos na bancada, é normal."

O ministro participou pela manhã de um evento no qual foi anunciada a construção de imóveis da segunda etapa do Minha Casa, Minha Vida. Deputado eleito pela Bahia, Negromonte também acredita ser vítima de preconceito por ser nordestino e atacou a "imprensa do sul".

"As denúncias vêm de parte da imprensa, insatisfeita com o governo federal, interessada em enfraquecer a presidente Dilma (Rousseff). É uma mulher e existe discriminação", considera Negromonte. E prosseguiu sua linha de defesa com novas acusações contra a imprensa: "Existe discriminação com o nordestino também. Fizeram uma ilação com a festa do bode (reportagem da revista "Época" mostrou que Negromonte fez lobby por patrocínio estatal para o evento em Paulo Afonso, cidade em que seu filho pretende ser candidato a prefeito). Se fosse a Festa da Uva ou da Maçã, certamente ninguém faria discriminação. Como é Festa do Bode, coisa de nordestino, e o ministro é nordestino, tome cacetada."

Cargo. Negromonte disse estar "tranquilo" sobre sua manutenção no ministério e afirmou não "ter apego" ao cargo. "Não vou ficar de joelho para ninguém. Fico muito honrado de fazer este trabalho junto com a presidente Dilma, a primeira mulher presidente do Brasil, mas só vou ficar lá se me sentir confortável e ela também. Se eu sentir que ela não me quer, eu vou lá e entrego", prometeu Negromonte. "Quem me ligou foi o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), dizendo que eu ficasse tranquilo, que a presidente da República conhece todo o trâmite, que por ela não tem problema nenhum."

O evento do Minha Casa, Minha Vida em Salvador foi transformado em ato de desagravo a Negromonte, que se emocionou ao cumprimentar o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Marcelo Nilo (PDT). O pedetista, assim como outros políticos que participaram do evento, aproveitaram seus discursos para sair em defesa do ministro.

"Quero dizer que você é um grande amigo", disse Negromonte, antes de perder a voz. "Obrigado pela solidariedade. Fique certo que eu jamais irei decepcionar os amigos, o povo da Bahia ou meus familiares."

Após o evento, Negromonte disse ter chorado por ser "muito emotivo" e voltou a defender sua atuação no ministério. "Fui denunciado diversas vezes e não acharam nada. Vasculharam minha vida pessoal dos pés à cabeça, vasculharam minha gestão no Ministério das Cidades, minha família, meu filho (o deputado estadual Mário Negromonte Jr.), minha esposa (a prefeita de Glória, Ena Vilma Negromonte), e não acharam nada. Estou testado e aprovado", considera.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Juíza bloqueia bens de Kassab e inspeção terá nova licitação

A Justiça sequestrou ontem os bens do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), do secretário Eduardo Jorge (Verde e Meio Ambiente) e de 19 empresários e empresas, além de determinar uma nova licitação de inspeção veicular em 90 dias. A decisão foi tomada na ação civil proposta pelo Ministério Público Estadual por supostas fraudes no contrato com a Controlar. Na Europa, Kassab se disse "indignado" e defendeu a "correção e a seriedade de tudo o que foi feito".

Juiz bloqueia bens de Kassab, pede nova licitação, mas mantém inspeção veicular

Marcelo Godoy

A Justiça sequestrou os bens do prefeito Gilberto Kassab (PSD), do secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge (PV), de 13 empresários e de seis empresas. A decisão foi tomada na ação civil proposta pelo Ministério Público Estadual (MPE) em razão de supostas fraudes no contrato da Controlar, responsável pela inspeção veicular em São Paulo, com a Prefeitura. Trata-se do mais duro golpe judicial sofrido por Kassab desde que assumiu o cargo, em 2006.

O juiz decidiu manter a inspeção veicular e fazer uma nova licitação em 90 dias para escolha de outra empresa. Enquanto isso, os donos de veículos continuam obrigados a fazer o teste de seus carros. O MPE queria a suspensão imediata da inspeção por causa de ilegalidades, fraudes e irregularidades no contrato. A decisão liminar de ontem é do juiz Domingos de Siqueira Frascino, da 11.ª Vara da Fazenda Pública.

Ele considerou desnecessário afastar Kassab do cargo, como pedia a Promotoria, porque a ação do MPE tem por base documentos que já foram recolhidos em profusão na investigação dos promotores Roberto Almeida Costa e Marcelo Daneluzzi, da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social. Assim, a permanência de Kassab não traria prejuízo ao processo.

Ao mesmo tempo, porém, o juiz determinou o bloqueio dos bens de todos os réus até o valor da causa para salvaguardar o pagamento dos supostos prejuízos aos cofres públicos e aos donos de veículos em São Paulo. O MPE deu à causa o valor de R$ 1,1 bilhão. Ele quer que a Prefeitura devolva os R$ 54 milhões arrecadados com as multas e os R$ 420 milhões pagos pelos motoristas como taxa de inspeção - o restante serviria para indenizar a Prefeitura e os motoristas por danos morais e materiais.

Além de Kassab e de Eduardo Jorge, tiveram os bens bloqueados os empresários Carlos Seabra Suarez e sua mulher, Abigail Suarez, donos da CS Participações. Eles eram proprietários da Controlar, cujo controle foi repassado à CCR por R$ 173,7 milhões em 2009, pouco depois da reeleição de Kassab.

Doações. O prefeito reconheceu ao depor que sabia das tratativas da venda desde 2008, quando recebeu Suarez e representantes da CCR em seu gabinete. Camargo Correa e Serveng detinham cada uma 17% das ações da CCR na época. Elas foram as maiores doadoras da campanha de Kassab.

Pouco antes da venda da Controlar, Eduardo Jorge assinou aditivo que prorrogou o contrato, com efeito retroativo, Para o juiz, Kassab violou dois artigos da Lei de Licitações que mandavam encerrá-lo. "O réu Gilberto Kassab entendeu manter o contrato de concessão quando a evidente inexecução do contrato reclamava a sua rescisão." Acusados negam irregularidades e alegam que o contrato é legal.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Sem aval de Dilma, PT volta a debater regras para mídia

Presença do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, havia sido confirmada em evento, mas ele e entidades não compareceram

Bruno Boghossian

Sem a participação de representantes do governo e de entidades da mídia, o PT retomou ontem sua campanha pela regulamentação dos meios de comunicação, proposta considerada delicada pela presidente Dilma Rousseff. No seminário Por um Novo Marco Regulatório para as Comunicações, em São Paulo, o partido defendeu - sem respaldo do Planalto - medidas como a criação de uma agência reguladora para o setor e a criação de cotas para programação regional e independente nas redes de televisão.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, responsável pela elaboração do projeto no atual governo e filiado ao PT, foi convidado a participar e chegou a ter seu nome confirmado para a mesa de abertura. Ele, no entanto, aparentemente julgou prudente não comparecer. A justificativa oficial foi de que Bernardo tinha um compromisso no Rio. Mas, segundo os organizadores, o ministro avaliava que o debate deveria marcar a posição do PT, e não da gestão Dilma.

"O ministro disse que o debate era do PT e que ele poderia participar em outra ocasião, se a Executiva Nacional se reunir para debater o tema", destacou o secretário de Comunicação do PT, André Vargas.

Também teria contribuído para a recusa do ministro o entendimento de que sua postura à frente da pasta das Comunicações se afasta do tom adotado pelo ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Franklin Martins - responsável pelo projeto do marco regulatório no governo Lula e estrela do seminário. "Nossa agenda foi feita muito mais em função do Franklin, que a gente queria que viesse", admitiu Vargas. Ele negou, no entanto, que a Presidência tenha vetado a participação do ministro.

Dilma não se opôs à realização do seminário, de acordo do presidente nacional do PT, Rui Falcão. "Ela fez uma avaliação positiva, achando que o partido deve tomar suas próprias iniciativas."

A presidente herdou do governo Lula o anteprojeto da criação do marco regulatório das comunicações, elaborado por Franklin Martins, e determinou que Bernardo fizesse um pente-fino no texto para evitar tópicos que possam indicar censura ou controle de conteúdo. Até agora, o documento ainda não saiu da Esplanada dos Ministérios.

Entidades que representam jornais e emissoras de TV e rádio não aceitaram os convites para participar do seminário do PT. Segundo a organização, elas enviaram notas que foram incluídas em um livreto distribuído durante o encontro.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

"Fracasso", - Mário Lago - 100 anos de nascimento (26/11/1911)

Filho do maestro Antônio Lago e de Francisca Maria Vicencia Croccia Lago, e neto do anarquista e flautista italiano Giuseppe Croccia, formou-se em Direito pela Universidade do Brasil, em 1933, tendo nesta época se tornado marxista. A opção pelas idéias comunistas fizeram com que fosse preso em sete ocasiões - 1932, 1941, 1946, 1949, 1952, 1964 e 1969.

Foi casado com Zeli, filha do militante comunista Henrique Cordeiro, que conhecera numa manifestação política, até a morte dela em 1997. O casal teve cinco filhos: Antônio Henrique, Graça Maria, Mário Lago Filho, Luiz Carlos (em homenagem ao líder comunista Luís Carlos Prestes) e Vanda.

Torcedor do Fluminense, chegou a declarar, na época do 1º rebaixamento do clube, que a virada de mesa em favor do tricolor carioca havia sido uma atitude vergonhosa de todos os responsáveis, envolvidos no esquema. Ele afirmava veementemente, que o time deveria ter voltado à divisão de elite do Campeonato Brasileiro no campo, e não no tapetão.

Começou pela poesia, e teve seu primeiro poema publicado aos 15 anos. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na década de 30, na então Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde iniciou sua militância política no Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, então fortemente influenciado pelo Partido Comunista Brasileiro. Durante a década de 1930, a então principal Faculdade de Direito da capital da República era um celeiro de arte aliada à política, onde estudaram Lago e seus contemporâneos Carlos Lacerda, Jorge Amado, Lamartine Babo entre outros.

Depois de formado, exerceu a profissão de advogado por apenas alguns meses. Envolveu-se com o teatro de revista, escrevendo, compondo e atuando. Sua estréia como letrista de música popular foi com "Menina, eu sei de uma coisa", parceria com Custódio Mesquita, gravada em 1935 por Mário Reis. Três anos depois, Orlando Silva realizou a famosa gravação de "Nada além", da mesma dupla de autores.

Suas composições mais famosas são "Ai que saudades da Amélia", "Atire a primeira pedra", ambas em parceria com Ataulfo Alves; "É tão gostoso, seu moço", com Chocolate, "Número um", com Benedito Lacerda, o samba "Fracasso" e a marcha carnavalesca "Aurora", em parceria com Roberto Roberti, que ficou consagrada na interpretação de Carmen Miranda.

Em "Amélia", a descrição daquela mulher idealizada, ficou tão popular que "Amélia" tornou-se sinônimo de mulher submissa, resignada e dedicada aos trabalhos domésticos.

Na Rádio Nacional, Mário Lago foi ator e roteirista, escrevendo a radionovela "Presídio de Mulheres". Mas só ficou conhecido do grande público mais tarde, pela televisão, quando passou a atuar em novelas da Rede Globo, como "Selva de Pedra", "O Casarão", "Nina", "Brilhante", "Elas por Elas" e "Barriga de Aluguel", entre outras. Também atuou em peças de teatro e filmes, como "Terra em Transe", de Glauber Rocha.

Mário esteve na União Soviética, em 1957, a convite da Rádio Moscou, para participar da reestruturação do programa Conversando com o Brasil, do qual participavam artistas e intelectuais brasileiros. Mas os programas radiofônicos produzidos no Brasil, que Mário mostrou aos soviéticos, foram por eles qualificados de "burgueses" e "decadentes". A avaliação que Mário Lago fez da União Soviética também não foi das melhores. Ali, segundo ele, a produção cultural sofria pelo excesso de gravidade e autoritarismo. Apesar da decepção com a experiência soviética, Mário Lago jamais abandonou a militância política.

Em 1964, foi um dos nomes a encabeçar a lista dos que tiveram seus direitos políticos cassados pelo regime militar, e perdeu suas funções na Rádio Nacional.

Em 1989, ligou-se ao Partido dos Trabalhadores e atuou como âncora dos programas eleitorais do então candidato do partido, Luís Inácio Lula da Silva, à presidência da República, em 1998.

Autor dos livros Chico Nunes das Alagoas (1975), Na Rolança do Tempo (1976), Bagaço de Beira-Estrada (1977) e Meia Porção de Sarapatel (1986), foi biografado em 1998 por Mônica Velloso na obra: Mário Lago: boêmia e política.

No carnaval de 2001, Mário Lago foi tema do desfile da escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz.

Em dezembro de 2001, recebeu uma homenagem especial por sua carreira durante a entrega do Troféu Domingão do Faustão, que, no ano seguinte, ganharia o nome de Troféu Mário Lago, sendo anualmente concedido aos grandes nomes da teledramaturgia.

Em janeiro de 2002, o presidente da Câmara, Aécio Neves, foi à sua residência no Rio para lhe entregar, solenemente, a Ordem do Mérito Parlamentar. Na sua última entrevista ao Jornal do Brasil, Mário revelou que estava escrevendo sua própria biografia. Estava certo de que chegaria aos 100 anos, dizia Mário, "Fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele".

Morreu no dia 30 de maio de 2002, aos noventa anos de idade, em sua casa, na Zona Sul do Rio de Janeiro, de enfisema pulmonar. Para o velório foi aberto o palco do Teatro João Caetano onde vivera importantes momentos de sua carreira de ator. Até o fim de sua vida manteve intensa atividade política e mesmo doente chegou a se engajar na campanha presidencial apoiando o então candidato Luís Inácio Lula da Silva. Por ter sido estudante do Colégio Pedro II da Unidade São Cristóvão, hoje em dia existe, em sua homenagem, dentro do colégio o Teatro Mário Lago, onde ali se faz apresentações do grupo de teatro do Colégio Pedro II da Unidade Engenho Novo (CRIARTE).

Encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.

A soma de todos os nossos malfeitos :: Marco Aurélio Nogueira

Não seria preciso arder uma nova fogueira em Brasília - a do ministro do Trabalho, Carlos Lupi - para que a corrupção voltasse às manchetes. Não haveria como retornar ao primeiro plano algo que dele não sai há anos.

A primeira reação de quem se incomoda com a corrupção é apontar um culpado. Culpados, evidentemente, existem. Ninguém que esteja numa função de responsabilidade deixa passar como rotina certos procedimentos explosivos que deslocam a tomada de decisões para a beira do precipício. Governar ou administrar são operações delicadas e quem vacila no cumprimento das obrigações e abre espaços para lobistas inescrupulosos, parentes vorazes, protegidos e amigos, ou deseja testar os limites da legalidade, não pode merecer perdão. Por bem menos muitos cidadãos são presos ou têm a vida reduzida a pó. Não há ingênuos na alta administração, muito menos anjos. Todos sabem distribuir favores, castigos e recompensas com a mesma desenvoltura. Ninguém rasga dinheiro, assina cheque em branco e pode alegar ter sido enganado. Porém, se sempre há culpados, nem sempre é fácil descobri-los ou atribuir as devidas responsabilidades na cadeia de comando da corrupção. Punições exemplares e cortes de cabeças coroadas são importantes, mas não desmontam esquemas.

A corrupção pode derrubar governos ou atrapalhar a sua atuação. É uma arma de todas as oposições. Isso acaba por fazer as denúncias e apurações ficarem envoltas numa névoa de suspeita. Serão os fatos aqueles mesmo ou tudo não passa de armação para desgastar o governo? Como as coisas hoje vêm a público de modo espetacular e ganham rápida difusão graças aos circuitos midiáticos, sempre haverá alguém para dizer que a "grande mídia golpista" está por trás dos escândalos. Tal tipo de acusação faz parte do jogo e ajuda a que muita gente reflua da luta anticorrupção por receio de ser confundida com os adversários de seu partido ou representante.

Corruptos e corruptores são malvistos. A petulância, a desfaçatez e a arrogância deles agridem a ética do cidadão comum, embora possam ser assimiladas pela ética dos políticos. Irritam e intimidam as pessoas que procuram seguir com a vida tanto quanto possível longe de atritos com a legalidade. Quando a corrupção surge na esfera governamental e na política, o efeito é ainda pior, pois as pessoas tendem a perder a confiança que algum dia depositaram em seus representantes, transferindo isso para todo o sistema representativo. Não é por acaso que a presidente Dilma cresce em prestígio quando afasta ministros suspeitos de atos ilícitos ou indignos. Perderá pontos se os acobertar, permanecer indiferente ou paralisada diante deles. A ética do cidadão comum manifesta-se invariavelmente misturada com lampejos moralistas, podendo chegar mesmo a ser inteiramente comida por eles. Pode-se atacar a corrupção de um ponto de vista ético, político, econômico ou moral, cada um com seu mérito. É insensato, por exemplo, fazer como o ex-deputado José Dirceu, que dias atrás etiquetou as atuais denúncias de corrupção como "campanha moralista". O que teria desejado dizer com isso? Que não é correto pensar a corrupção pelo registro do bom e do mau, do certo e do errado, ou que o correto seria interpretar certos desvios de conduta como sendo inevitáveis em quem tem responsabilidades governamentais?

Se quisermos descobrir como e por que a corrupção ressurge sem cessar, teremos de cortar mais fundo, ir além da caça aos culpados. A corrupção anda de braços dados com a desmoralização da política, dos políticos e de seus partidos. Nunca como hoje a classe política foi tão ruim, nunca os partidos foram tão frouxos e desorientados, nunca a política foi tão improdutiva. Na melhor das hipóteses, as pessoas esperam resultados dos governos em sentido estrito, do Poder Executivo, que costuma emergir cercado de pompa, inflado de expectativas e disfarçado de "vítima" de subordinados incompetentes e interesses poderosos. Um círculo, assim, se fecha: a má qualidade da política fornece oxigênio para a corrupção e dificulta o combate a ela.

Mas não se trata só de má qualidade dos representantes. Políticos despreparados e sem visão social abrangente, tanto quanto corruptos e corruptores pendurados na administração pública, são impulsionados por defeitos sistêmicos. Nosso "presidencialismo de coalizão", por exemplo, é parte importante do problema. Sem coalizões os governos não governam; mas com elas, encharcadas que estão de interesses fisiológicos, ficam expostos a muitos malfeitos e dissonâncias, têm de carregar peso desnecessário e perdem coerência e unidade de ação. Embalada e protegida por esse sistema, a corrupção reproduz-se, governo após governo.

Por fim, há um fator que deriva da época. Sendo verdade que passamos a viver de modo mais rápido, individualizado e fora de controle, inseridos em redes e estruturas cortadas por riscos e crises permanentes, então ficou mais difícil controlar o que quer que seja. A corrupção adquiriu "vida própria", atingindo áreas e pessoas antes tidas como inatingíveis. Também cresceu a percepção social dela, o que a torna ainda mais intolerável.

Isso não significa que sejamos impotentes perante esse problema, que se alimenta de hábitos seculares, bebe em muitas fontes e afeta tanto o setor público quanto o privado. Não poderemos, porém, eliminá-lo pela raiz se o reduzirmos à responsabilização pessoal ou acharmos que a solução virá da mera (e difícil) mobilização da sociedade civil. Avanços consistentes dependerão de múltiplas ações combinadas e só alçarão voo sustentável se estiverem articulados com uma perspectiva reformadora e democrática do Estado e da política que, entre outras coisas, ajude a República brasileira a se tornar efetivamente republicana.

Marcos Aurélio Nogueira, professor Titular de Teoria Política do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Políticos:: Merval Pereira

Definitivamente a imprensa livre e as críticas não fazem bem aos políticos brasileiros, seja de que ideologia forem. Vários deles, ontem, tiveram ataques de nervos, reagindo de maneiras diversas, mas todas beirando a histeria, a críticas recebidas.

O deputado do PP Jair Bolsonaro, cuja atuação política é marcada por atitudes radicais e provocações baratas, teve o desplante de subir à tribuna da Câmara para insinuar, aos berros, que a presidente Dilma Rousseff tem tendências homossexuais.

Criticado por todos os seus colegas, disse que não pediria desculpas, mas tentou explicar que sua frase, embora possa ter dado essa impressão, não queria dizer que a presidente era homossexual, mas sim que ela "gostava" de homossexuais, no sentido de que apoiava suas reivindicações.

O mesmo Bolsonaro já protagonizara inaceitável episódio anteriormente, levando para o plenário da Câmara o tenente-coronel do Exército Lício Augusto Ribeiro, que prendeu e interrogou em 1972 o então guerrilheiro do Araguaia José Genoino.

O ministro das Cidades, Mário Negromonte, também do PP, derramou lágrimas (de crocodilo?) ao ser homenageado por seguidores numa tentativa de prestar-lhe solidariedade contra as denúncias de que seu ministério fraudou um documento para mudar projeto de transporte em Cuiabá para a Copa do Mundo: em vez de uma linha rápida de ônibus (BRT), a alteração permitiu, contra parecer técnico, a contratação de um Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), aumentando em R$700 milhões o custo da obra.

Há gravações de reuniões em que pressões claras foram feitas e documentos que provam que o parecer técnico original foi adulterado.

No entanto, o ministro se diz "perseguido pela imprensa do sul", que teria "desprezo por nordestino".

Também o ex-presidente José Sarney, atual presidente do Senado, soltou uma nota indignada em seu blog oficial, intitulada "A política e a burrice", em que afirma, entre outras coisas, que os que criticam o fato de a Fundação José Sarney ter sido assumida pelo governo do Maranhão, por proposta de sua filha, a governadora Roseana Sarney, reúnem "todos aqueles defeitos que movem o ódio político: a inveja, a burrice e a ingratidão".

Na visão do ex-presidente, são injustas as críticas "de alguns idiotas", pois doou com "grandeza, amor e desprendimento" ao povo do Maranhão "um patrimônio, como o que outros presidentes venderam, do meu valioso arquivo de mais de um milhão de documentos, três mil peças de museu de obras de arte e uma biblioteca de mais de 30.000 livros, muitos raríssimos, que acumulei ao longo de minha vida".

A Fundação Sarney funciona no Convento das Mercês, um prédio do século XVII, tombado pelo Patrimônio Histórico, que foi doado à família Sarney pelo aliado político e então governador Epitácio Cafeteira, o que também mereceu críticas.

Acho normal que um prédio público abrigue a fundação de um ex-presidente da República, embora essa não seja a prática internacional e nem mesmo local.

Os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula mantêm fundações com os mesmo objetivos de Sarney em prédios próprios e mantidas com doações privadas.

Daí a um estado pobre como o Maranhão ter que custear a manutenção da fundação vai uma distância grande, por mais que o estado deva comemorar seu filho ilustre, único presidente da República maranhense na História até o momento.

Seria preciso que o país tivesse mecanismos, como existem, por exemplo, nos Estados Unidos, para que os acervos dos ex-presidentes, quando fosse o caso, pudessem ser incorporados ao patrimônio nacional, como a Biblioteca Nixon, que acabou fazendo parte do sistema de bibliotecas nacionais do país.

Mas esse é um passo grande demais para um país de tantas necessidades.

Já o ex-deputado cassado José Dirceu voltou a seu tema obsessivo, o controle dos meios de comunicação, que ele chama de "regulamentação".

No seminário do PT para debater o tema, mesmo garantindo que não haverá ameaça à liberdade de imprensa, Dirceu fez críticas à imprensa de maneira geral, mas não se conteve e explicitou o objetivo da ação quando soltou, em meio a seu discurso, a seguinte pérola:

"Os proprietários de veículos de comunicação são contra nós do PT. Fazem campanha noite e dia contra nós. Só lamento que não haja jornal de esquerda, que seja a favor do governo."

Para desmenti-lo, mesmo que sem querer, o líder do PT, deputado Paulo Teixeira, fez uma homenagem aos blogueiros "de esquerda" que apoiam o governo, afirmando que eles ajudam a "democratizar a mídia".

O presidente do PT, Rui Falcão, arranjou um subterfúgio para justificar a obsessão petista de regulamentar a mídia, como eles chamam o conjunto de órgãos de informação que atuam no país.

Agora, em vez de controlar os meios de comunicação, intenção que sempre negaram, os petistas querem mesmo é "protegê-los" das leis do mercado.

O termo "controle social" da mídia, que era o mote principal sempre que se falava do assunto, será abandonado, por sugestão do ex-ministro da Comunicação do governo Lula Franklin Martins, que o considerou "ambíguo e ruim".

No seu lugar, surgiu a palavra "proteção". O presidente do PT, Rui Falcão, passou a usar o termo sempre que abordava o tema, alegando que sem uma legislação que a proteja, a "mídia" fica à mercê da "lei da selva".

Na mesma batida, Franklin Martins usou o argumento de que as regras que o PT quer criar servirão para proteger as emissoras de rádio e TV. Segundo ele, "comunicações é um vale-tudo, um faroeste caboclo".

E o PT, em vez de bandido, quer se apresentar como o "mocinho"...

FONTE: O GLOBO

A revelação de Gerdau :: Fernando Rodrigues

A presidente Dilma Rousseff já ganhou a batalha da imagem. Mandou embora seis ministros e ficou com a fama de não transigir com o erro. Pouco importa se no miolo de alguns ministérios a bandalha continue ou se alguns outros ministros também já devessem estar no olho da rua. Para efeito externo, a petista é durona e está fazendo uma faxina na política.

Enfim, imagem é tudo. Nos seus três próximos anos, é possível que Dilma avance sobre outras áreas e de maneira mais real. Uma delas é a notória ineficiência do setor público. Como disse o presidente da Câmara de Gestão criada pelo Planalto, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, "não se pode trabalhar com 23,5 mil assessores de confiança na estrutura política".

E mais: "É pacífico que é impossível administrar com 40 ministérios". Gerdau fez essas observações nesta semana, em Brasília, durante um seminário sobre gestão pública promovido pelo jornal "Valor".

Embora óbvias, são declarações corajosas. Ninguém no Planalto se arrisca a oferecer tal diagnóstico em público, apesar de a avaliação ser consensual em conversas privadas.

Em 511 anos de história, desde o seu descobrimento, o Brasil nunca teve tantos ministros. Não são 40, como arredondou Gerdau, mas 38. Numa reunião ministerial, se cada um quisesse vender seu peixe por 15 minutos, essa rodada de conversa demoraria nove horas e meia.

Gerdau também fez uma revelação: "A presidente já tem se movimentado no sentido de criar grupos de ministérios". A se tornar fato, Dilma dará então um passo decisivo na reformulação do Estado.

Haverá sempre um custo político nesse enxugamento, pois alguns deputados e senadores aliados ficarão sem um ministro para chamar de seu. Mas Dilma Rousseff, aí sim, emplacará a imagem de quem teve a coragem de tornar a administração pública mais moderna e eficaz.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dois pontos:: Míriam Leitão

O Copom apostou num cenário em que a situação internacional se agravaria a ponto de derrubar a inflação no Brasil. Olhando a crise lá fora e os números internos, chega-se à conclusão de que o BC acertou apenas em uma parte. De fato, o quadro internacional piorou, até além da imaginação, mas a inflação permanece pressionada.

Já era prevista a queda neste final de ano do IPCA acumulado em 12 meses, mas olhando-se dentro dos números - que estão disponíveis no próprio site do Banco Central - encontram-se índices muito acima do razoável. A inflação do grupo vestuário foi de 9,57% nos últimos 12 meses até outubro; alimentos e bebidas subiram 8,5%; a educação ficou 8,1% mais cara e os serviços tiveram alta de 8,94%.

O núcleo da inflação, que exclui da conta preços voláteis como combustíveis e alguns alimentos, está ainda acima do teto da meta: 6,61%, em 12 meses. O que mais impressiona é o que está acontecendo no mercado imobiliário. O preço do metro quadrado dos imóveis no país, medido pelo índice Fipe Zap, aumentou 28% de outubro de 2010 a outubro de 2011. No Rio de Janeiro, a alta foi de 39%. Os aluguéis no Rio ficaram 24% mais caros em um ano. Em São Paulo, a alta foi de 15,6%. Os custos da construção civil subiram 7,72%. A mão de obra para as construtoras ficou 11,3% mais cara.

Essa montanha de números mostra que o movimento no mercado imobiliário - tanto em locação, quanto em compra e venda de imóveis - está perigosamente aquecido.

A cesta básica está mais alta que a média da inflação no Brasil inteiro, mas em algumas cidades o custo pesa mais. Somente este ano, de janeiro a outubro, a cesta básica aumentou no país 9,11%. Na cidade de Fortaleza, a alta foi de 16%. Em Florianópolis, a cesta subiu 12,48%. No Rio, 11,37%. Em Belo Horizonte, 10,86%, em Vitória, 10,51%.

A previsão do BC era que a deterioração do quadro externo seria tão forte que diminuiria fortemente o preço das commodities. Isso derrubaria o preço dos alimentos no Brasil e tiraria pressão sobre a inflação. O cálculo é que esse efeito seria grande o suficiente para neutralizar o impacto de uma alta do dólar decorrente exatamente do agravamento da crise.

O dólar subiu, sim, a situação ficou pior, de fato, mas o índice IC-Br, do Banco Central, que mede os preços das commodities em reais, subiu 15,49% de outubro a outubro. A maior parte da alta é velha, aconteceu no final de 2010, mas em agosto, setembro e outubro os preços aumentaram 4,11%, mesmo com o agravamento da crise. O que mais pesou foi a desvalorização do real no período. Os produtos agropecuários aumentaram 7,11% nesses três meses. Os produtos ligados à energia (petróleo, carvão e gás natural) também subiram no trimestre, 4,14%.

O mercado de trabalho no Brasil continua forte e o crédito segue com taxas altas de elevação em relação ao ano passado, o que tem mantido o crescimento. O país cresce bem menos do que 2010, menos do que se previa, mas ainda está no terreno positivo. O rendimento do trabalhador caiu 0,3% em outubro, em comparação com o aquecido outubro do ano passado, mas foi a primeira queda desde janeiro de 2010. O total de rendimentos das pessoas com trabalho subiu 22% de janeiro a agosto. O rendimento médio aumentou 21,53%. O crédito destinado a pessoas físicas subiu 12,4% de janeiro a outubro. Para as empresas, a alta foi de 12,8%. O crédito para habitação deu um salto de 34%.

O governo em dez meses quase cumpriu a meta de superávit primário, mas não porque reduziu despesas, mas sim porque elevou a arrecadação. Mais uma vez, como tem sido sempre nos últimos anos, o Tesouro cumpre as metas fiscais por receber mais receitas do contribuinte, e não por redimensionar suas despesas. Essa elevação constante do gasto público é uma parte da lenha na fogueira da inflação.

A arrecadação do governo com Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI) aumentou 14% de outubro a outubro. Com o setor automobilístico, a alta foi de 28%. Do setor de bebidas, mais 11,3%. Quando os dados forem calculados, eles mostrarão que em 2011 houve nova alta da carga tributária. O economista Rogério Werneck escreveu no seu artigo publicado ontem no GLOBO que pode ser de 1,5 ponto percentual de alta este ano.

Os juros vão cair na semana que vem, novamente, e o que se discute no mercado é se será um corte de 0,5% ou 0,75%. O cenário Tombini está se confirmando em parte: o mundo está pior a cada semana. Há um volume enorme de incertezas aumentando a possibilidade de novos agravamentos.

A economia brasileira sente isso de diversas formas: o dólar sobe, o ritmo de crescimento diminui, a bolsa cai ou anda de lado, mas a inflação continua pressionada. O próximo ano começará com a alta de 14% no salário mínimo, o que representará um impacto forte nos custos da Previdência e na inflação de serviços.

Pelo cenário do Banco Central, tudo isso será absorvido e eliminado durante o ano de 2012 que terminará com a taxa em 4,5%, no centro da meta. É torcer para que isso ocorra.

FONTE: O GLOBO

Nós somos os 99,9%:: Paul Krugman

A ideia de que a superelite nos EUA é composta por criadores de empregos é ciência econômica falha

"Nós somos os 99%" é um grande slogan. Define corretamente a questão como sendo classe média X elite (em oposição a classe média X pobres). E combate a noção do establishment de que a desigualdade crescente se deve aos mais bem instruídos, que se saem melhor que os menos instruídos; os grandes vencedores nesta nova Era Dourada vêm sendo algumas poucas pessoas muito ricas, e não pessoas diplomadas.

Mas o slogan dos 99% ainda diz pouco. Uma grande parcela dos ganhos do 1% mais rico na realidade se concentra em um grupo ainda menor, o 0,1% mais rico -o milésimo mais rico da população.

Segundo relatório de 2005, de 1979 até esse ano, a renda líquida, ajustada para a inflação, dos americanos na faixa de renda mediana subiu 21%. O aumento equivalente do 0,1% mais rico foi de 400%.

Então, por que os republicanos defendem cortes ainda maiores nos impostos dos muito ricos, ao mesmo tempo em que avisam sobre deficit e exigem cortes dramáticos nos programas de seguro social?

A resposta de praxe é que a superelite é feita de "criadores de empregos" -ou seja, que ela faz uma contribuição especial para a economia. Isso é ciência econômica falha.

Afinal, em uma economia de mercado idealizada, cada trabalhador ganharia o equivalente ao que contribui para a economia por optar por trabalhar -nem mais, nem menos. Isso se aplicaria igualmente a operários que recebem US$ 30 mil por ano e executivos que ganham US$ 30 milhões. Não haveria razão para considerar que as contribuições de quem ganha US$ 30 milhões merecem tratamento especial.

Alguns dos muito ricos ficam muito ricos por produzir inovações que valem muito mais para o mundo do que a receita que ganham. Mas, se olharmos para quem realmente compõe o 0,1%, é difícil deixar de concluir que, de modo geral, a superelite ganha demais pelo que faz.

Quem são os membros do 0,1%? Muito poucos são inovadores como Steve Jobs; a maioria é formada por figurões de grandes empresas e executivos do setor financeiro, profissões longe de ter relação clara entre a receita da pessoa e a contribuição econômica que ela faz.

Salários de executivos, que subiram vertiginosamente, são definidos por conselhos diretores nomeados pelas próprias pessoas cujos ganhos eles determinam. CEOs de baixo desempenho recebem salários generosos. E executivos fracassados, muitas vezes, ganham milhões quando deixam empresas.

Enquanto isso, a crise mostrou que boa parte do valor criado pelo setor financeiro moderno era uma miragem. Nas palavras recentes de um diretor do Banco da Inglaterra, os retornos altos antes da crise simplesmente refletiram os riscos adicionais -não dos próprios especuladores, mas de investidores ingênuos ou contribuintes, que levaram prejuízo quando tudo deu errado.

Como observou o diretor: "Se assumir riscos adicionasse valor, os jogadores de roleta russa fariam uma contribuição desproporcional para o bem-estar global".

Será que os 99,9% deveriam odiar o 0,1%? De maneira alguma. Mas deveriam ignorar a propaganda sobre "geradores de empregos" e exigir que a superelite pague substancialmente mais em impostos.

Tradução de Clara Allain

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Marx, a obra e seu mundo

Cyro Andrade

Era o ano de 1883. "Em 14 de março, 15 para as 3 da tarde, o maior pensador vivo cessou de pensar." Foram essas as palavras pesarosas com que Friedrich Engels iniciou sua fala no funeral de Karl Marx, encontrado morto três dias antes. Cerca de dez pessoas estavam presentes no cemitério de Highgate, em Londres, informava a edição do dia 22 do "Der Sozialdemokrat", órgão do Partido Social-Democrata alemão. Em nome das ideias de Marx, no entanto, fizeram-se revoluções - a começar pela de 1917, na Rússia, onde nasceu então o primeiro regime socialista do mundo. Essa face institucional da criação política de Lênin e seus aliados bolcheviques iria extinguir-se em 1991, quando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas deixou formalmente de existir. Passados 20 anos desse esfacelamento de um sonho comunista, que se completam em 31 de dezembro, as últimas palavras de Engels à beira do túmulo de Marx, 128 anos atrás, soam absolutamente verdadeiras: "Seu nome atravessará os tempos, como também sua obra".

E assim foi, embora as ideias de Marx - e de Engels, seu amigo e parceiro intelectual -, acabassem por se tornar, para muitos, mera referência para estudos acadêmicos de interessados em revolver baús da teoria econômica comunista ou da aplicação do socialismo dito científico - searas em que não faltariam registros de insucessos desastrosos.

Contudo, a permanência do marxismo como método de análise e interpretação da vida em sociedade é um fato de todos os dias, ainda que submetido aos rigores, pelo lado dos antimarxistas, de uma crítica que vai da desqualificação intelectual ao mero desdém. Enfim, o pensamento de Marx, e de Engels, continua a atrair a atenção de estudiosos de filosofia, política, sociologia, economia, antropologia. E a fidelidade ideológica ainda reúne muita gente em torno dele, no mundo todo. Isso, embora sua obra, para quem o vê apenas como um nome por trás de uma utopia que teve a validade vencida quando a União Soviética se desfez, tenha se esvaído como uma espécie de inutilidade histórica. Essa será, porém, uma simplificação. Pois não há como negar que Marx foi um dos mais importantes pensadores do século XIX.

"Marx e Engels mostraram que sua teoria investigava a realidade da época e apontava para uma direção que poderia mudar com a história"

Como argumenta o economista Ricardo de Mendonça Lima Tolipan em "A Ironia na História do Pensamento Econômico", (Ipea - 1990), teria deixado de haver razões para "nos prevenirmos contra uma leitura de Marx que acaba por criticá-lo. Pelo contrário, talvez o seu discurso esteja afinal paralisado por mais de um século de leituras de 'boa vontade', um discurso inutilizado por leituras sectárias, dogmatizado pela necessidade de atacá-lo ou defendê-lo. Quem sabe se numa estratégia menos maniqueísta de leitura não esteja sua possibilidade futura?"

A obra de Marx continuaria, então, aberta a interpretações e, quem sabe, a futuros reencontros com a realidade concreta. Fique-se com a possibilidade de novas leituras, literalmente, das inúmeras páginas que escreveu - no mínimo em tentativas para compreender o que ele diz, campo minado em que geralmente se perdem as melhores intenções de esclarecimento.

Raymond Aron passou décadas estudando a obra de Marx, doutrina que, dizia, tem uma qualidade raramente encontrada no mesmo grau entre outros pensadores: pode ser acuradamente explicada em cinco minutos, cinco horas, cinco anos, ou em meio século. Também permitiria, esse saber de formidáveis dimensões e alcance intelectual, que pesquisadores dediquem sua vida a tentar compreender o que Marx queria dizer, afinal, e acabem na autoindulgência de uma "semiconfissão de ignorância" ("O Marxismo de Marx", Arx, 2005).

Marx e Engels preocupavam-se com o uso que a posteridade faria de suas ideias. Mary Gabriel, autora de "Love and Capital - Karl and Jenny Marx and the Birth of a Revolution" (publicado pela Little Brown, nos Estados Unidos, e a ser publicado no Brasil pela Zahar em 2012), mencionou, em entrevista ao Valor, carta em que Engels fala sobre esses cuidados a um amigo, em 1853. "Os receios de que experimentos políticos baseados nas ideias deles pudessem ser conduzidos de forma apressada soam como se ele previsse as interpretações equivocadas das ideias de Marx que se fariam no século XX - afinal, fracassadas. Mas Engels diz que ele e Marx estariam protegidos de acusações de serem brutos e estúpidos porque se teriam documentado em sua literatura. Penso que isso é muito importante para nós, hoje. Não deveríamos ler interpretações de Marx e Engels, mas deveríamos ler Marx e Engels eles mesmos, para chegar à mais exata compreensão de suas ideias." Sempre, claro, dentro do possível.

Neta de avô russo emigrado da União Soviética para os Estados Unidos, Mary ouvia falar de Marx e suas ideias ainda na infância e se lembra de leituras do "Manifesto Comunista". Mas não é nem comunista, nem marxista, diz. "O único 'ismo' que tem a ver comigo é o de jornalismo" (ela foi editora da Reuters por mais de 20 anos, antes de se dedicar à literatura).

Mary escreveu o livro, "uma biografia de Marx e sua família", sem pretender esclarecer qualquer aspecto da teoria do filósofo. Quis, apenas (e o faz com bom material de pesquisa e senso de contextualização) "apresentar os leitores ao homem e à sua vida pessoal, de modo que fôssemos todos ajudados a ter noção adequada do lugar onde suas ideias eram produzidas [sua casa, sua família] e como sua própria vida as afetava. Acredito que, compreendendo-se o homem Marx, seja mais fácil compreender o teórico Marx."

Historiador inglês procura demonstrar que desapareceram todas as condições para se encontrar o comunismo em sua feição característica

Seja qual for a profundidade da leitura que se faça da obra de Marx, será preciso ter em mente que ele foi um homem de sua época, sujeito a todas as influências de seu tempo, observa Fernando Magalhães, professor do programa de pós-graduação em filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (autor de "10 Lições sobre Marx" - Vozes, 2009). Isso não o teria eximido de assumir responsabilidades inerentes à expressão pública de seu pensamento. "Os intelectuais são responsáveis por aquilo que dizem. Se alguém não explica claramente o que falou, suas ideias podem ser apropriadas de várias formas". Contudo, "ninguém tem o direito de fazer o que quiser com suas palavras".

Então, pode-se discutir como seria a transformação do mundo pretendida por Marx, isto é, como se daria a revolução que, ele imaginava, faria o capitalismo sucumbir - se pacífica ou violenta. Contudo, pondera Magalhães, afirmar, por exemplo, que Marx aceitaria a permanência do capitalismo se o sistema proporcionasse "trabalho e justiça para todos" já não seria uma interpretação, mas uma "falsificação" uma "criação", um "erro grosseiro". Marx não via alternativa: o capitalismo deveria desaparecer.

A leitura pode ser dogmática. "Aí, o autor se transforma em um mito ou num deus", adverte Magalhães, "tem-se uma espécie de leitura hagiográfica, tudo que ele falou está correto. Existem correntes marxistas que ainda acreditam nisso e Marx não teria se equivocado em nada. Mas tanto ele como Engels mostraram que sua teoria era a exposição de um processo em movimento. Investigava a realidade [da época] e apontava para uma direção, que poderia mudar, dependendo dos rumos tomados pela história" (o texto exemplar disso, recomenda Magalhães, está na introdução de Engels a 'As Lutas de Classes na França', de Marx).

E há a leitura dos "marxistas mais lúcidos, que, embora considerem o marxismo uma teoria não só útil, mas inteiramente válida para entender o capitalismo, reconhecem que, apesar de ainda ser o principal instrumento para compreender a realidade, não é a única a ser aplicada, em função de todas as transformações operadas no interior do próprio sistema capitalista". Seria apenas coincidência, pergunta Magalhães a esse propósito, que as crises continuem a ocorrer e que os próprios empresários e capitalistas tentem compreender como Marx previu tais crises com tanta antecedência?

Mal-entendidos, seja qual for a cor das lentes que se coloquem sobre os escritos de Marx, tanto podem ser de boa-fé ou ideologicamente propositais. Nesta categoria estaria a responsabilização de Marx por tudo de mau que ocorreu na extinta União Soviética. Magalhães faz a observação e recomenda a leitura do livro "Marx (sem ismos)", do espanhol Francisco Fernandez Buey (editora da UFRJ, 2004), no qual se lê, assinala, que "as interpretações apressadas condenam Marx por tudo que ocorreu na URSS, mas ninguém condena Cristo, ou mesmo a "Bíblia", pela Inquisição. Não é lá que está escrito 'à bruxa não deixarás viver'? Ou o "compelle intrare", que se encontra no Evangelho, com a proposta de trazer os fiéis de volta à casa pela força? Mas aí - ah, não, é diferente! Interpretaram mal o que o livro quer dizer. Mas Marx não se interpreta mal."

Para efeitos práticos, contudo, já não haveria utilidade em remexer no que Marx disse ou deixou de dizer. Em livro agora publicado no Brasil ("Ascensão e Queda do Comunismo" - Record, 2011), o cientista político e historiador inglês Archie Brown faz a completa demolição da mais ínfima perspectiva de ressurreição do sistema que, imaginaram Marx e Engels, se sobreporia ao capitalismo. O que acabou foi o comunismo, desmilinguido na prática e envelhecido na teoria.

Marx e Engels preocupavam-se com leituras equivocadas de suas ideias no futuro - e por isso se documentavam, escrevendo

"Se até certo ponto ainda faz sentido descrever como comunista o maior e mais importante dos Estados ainda governados por um partido comunista", diz Brown, "é por que a China mantém plenamente o monopólio do poder do partido e a organização estritamente hierárquica e a disciplina associadas ao "centralismo democrático". De muitas maneiras, porém, a China é hoje um sistema híbrido. Sua economia se afastou tanto da ortodoxia comunista que tem sido descrita como um exemplo de "capitalismo de partido-Estado".

Brown chega à constatação da sucumbência do comunismo, na atualidade e nas possibilidades de ser encontrado em algum lugar no futuro, por considerar que características essenciais do sistema foram se afastando mais e mais da realidade visível em qualquer parte do mundo (com a exceção talvez da Coreia do Norte). Essas peculiaridades seriam as seguintes:

Monopólio do poder mantido pelo partido comunista. "Na época de Stalin, isso era conhecido como "a ditadura do proletariado", já que se entendia como um axioma que o partido representava os interesses e a verdadeira vontade do proletariado. No período pós-Stalin, principalmente a partir do início dos anos 1960, o termo oficial mais comum era "o papel da liderança do partido", em vez de ditadura do proletariado.

Centralismo democrático. "Teoricamente, significava que podia haver uma discussão de questões - o componente "democrático" - até que se chegasse a uma decisão. A partir daí, a decisão dos principais órgãos do partido era obrigatória e tinha que ser implementada de maneira estritamente disciplinada.

Posse não capitalista dos meios de produção (ou sua posse estatal ou social), condição à qual se liga uma quarta, o domínio de uma economia de comando, em oposição a uma economia de mercado.

Propósito declarado de construir o comunismo como objetivo final e legitimador. "Em termos de política cotidiana, isso era claramente muito menos importante do que o papel de liderança do partido ou o centralismo democrático. Era, porém, uma característica que diferenciava os sistemas comunistas dos regimes totalitários e autoritários, bem como dos países governados por partidos socialistas do tipo social-democrata. Tinha um lugar importante na ideologia oficial, embora não tivesse importância prática imediata."

Existência de um movimento comunista internacional e o senso de pertencer a ele. "A existência desse movimento era de grande importância ideológica. Era o suposto internacionalismo do comunismo que atraía muitos de seus adeptos."

"Das seis características, são as duas últimas que desapareceram mais completamente", observa Brown. O movimento comunista internacional tinha sede em Moscou, embora a China de Mao tenha representado um polo de atração alternativo. "Esse movimento transnacional acabou, e também a aspiração de construir uma sociedade comunista. Apesar da retórica de ter o comunismo como objetivo, nenhum partido comunista governante ainda enfatiza sequer em teoria o movimento em direção a uma sociedade sem Estado, a fase culminante e 'inevitável' do desenvolvimento humano, conforme imaginado por Marx."

Magalhães não vê um quadro como o sugerido por Brown, pronto e acabado. "Apesar de ter escrito no século XIX, as linhas gerais [ressalva que ele sublinha] da teoria de Marx permanecem válidas. Marx fez uma análise da anatomia do capitalismo e, não obstante as muitas revoluções, entre aspas, pelas quais o capitalismo passou, seus problemas de fundo não foram solucionados. A desigualdade entre as pessoas e entre os países, a alienação, a relação trabalho/capital, tudo se mantém no interior do capitalismo atual."

Para Magalhães, o "espectro de Marx" de que falava Jacques Derrida anda por aí, nas praças das manifestações de revolta popular, nas marchas contra a corrupção, na crítica à discriminação racial e social, até no combate à homofobia. "Um espectro não morre. Acho que este é o segredo de Marx. Ele viu o lado científico da história, mas também se empolgou com o pathos, a paixão que move as massas. Acho que é por isso que ele está vivo e sempre retorna quando volta a crise."

O próprio Marx fala em "espectro", aquele de um "falso comunismo". Suas palavras: "Estou a um passo da morte e temo pelo que virá, temo pelo que será feito em nome de minhas ideias e pelo que não será possível fazer. Certa vez, disseram-me que, na França, um partido político dizia-se marxista, e eu retruquei de imediato: 'Eu, pelo menos, não sou marxista'."

Marx era, contudo, um benevolente: "Minha obra permanecerá, usem-na como quiserem, mas eu sei que meu objetivo - a análise do funcionamento do modo de produção capitalista - foi apenas iniciado, e meu universo teórico demanda e aceita contribuições e adendos, aceita até as supressões que o avanço no conhecimento exige de qualquer modelo teórico".

É o que se lê em "O Manuscrito Secreto de Marx" (Casarão do Verbo, 2011), do jornalista, escritor e economista Armando Avena, uma visão romanceada da obra e da vida de Marx - tentativa interessante de suavizar, para o leitor comum, o caminho das pedras de quem pretende compreender o gênio, ainda que pelas margens.

FONTE: EU&FIM DE SEMANA, JORNAL VALOR ECONÔMICO, 25 /11 2011