quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

OPINIÃO DO DIA - Gramsci: modernidade

" O desafio da modernidade é viver sem ilusões, sem se tornar desiludido. "

Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere, Civilização Brasileira, 2004

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Ensino público tem déficit de 300 mil professores
Crise faz Bovespa perder R$ 213 bi
Governo já cumpriu 99% da meta fiscal
Obras da Copa terão R$ 4 bi do FGTS
Em sete anos, CNJ condenou 49 magistrados

FOLHA DE S. PAULO
Tráfego para o interior de SP sobe mais que para o litoral
Inflação e câmbio levarão o Brasil a ser a 6ª economia
Atuação de órgão é antirrepublicana, diz desembargador
Ex-corregedor nega que sigilos tenham sido quebrados

O ESTADO DE S. PAULO
Custo explode e obra do S. Francisco terá licitação de R$ 1,2 bi
Setor público atinge em novembro 99% da meta do ano
Plano contra obesidade prevê academia popular

VALOR ECONÔMICO
Competitividade inibe a reação da indústria
PanAmericano eleva capital em R$ 1,8 bi
Comgás dobra investimentos em Santos
Julgamentos de pendências tributárias ficaram para 2012
Indústria têxtil prepara novas ações para tentar barrar os importados
Gasto público ajuda economia

BRASIL ECONÔMICO
PAC investe R$ 24 bi em 2011, mas apenas R$ 7 bi saem do orçamento
Código Florestal ainda inquieta, diz ministra

CORREIO BRAZILIENSE
O retrato de um Brasil que anda para trás
Governo tem superávit, mas 2012 preocupa
Aeroviários aceitam 6,5% de reajuste e desistem da greve

ESTADO DE MINAS
2012 vai começar mais caro
Dinheiro do FGTS vai financiar obras da Copa

ZERO HORA (RS)
O pacote do magistério

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Cobertura ampliada nos planos de saúde

Ensino público tem déficit de 300 mil professores

Escolas municipais e estaduais do país correm o risco de ficar sem aulas

O ano que vem começará sob uma velha ameaça nas escolas públicas do país: alunos sem aula por falta de professores. Estimativa da Câmara de Educação do Conselho Nacional de Educação aponta um déficit de 300 mil docentes, especialmente das disciplinas de Química, Física e Matemática. A carência equivale a 15% do total aproximado de 2 milhões de professores nas redes estaduais e municipais. Uma das principais causas do déficit é a baixa remuneração, que afugenta os profissionais do mercado: o piso nacional do magistério é de R$ 1.187 por 40 horas. No Distrito Federal, o salário chega a R$3.472, mas outros profissionais com formação similar ganham 28% a mais. No Rio, a Sindicato Estadual dos Profissionais de Ensino avalia que pelo menos um professor pede exoneração por dia. Para tentar driblar o caos, estados e prefeituras recorrem à contratação de temporários e apelam para a acúmulo de disciplinas por professor.

Déficit de professores é de 300 mil

Número corresponde a 15% dos educadores em sala de aula; baixo salário é entrave

Marcelo Remígio

O ano de 2012 começará com velhos problemas na rede pública de ensino. Estimativa da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação aponta déficit de cerca de 300 mil professores no país - nas redes estaduais e municipais -, número que corresponde a 15% do total de educadores em salas de aula (2 milhões). Salários baixos, falta de educadores no mercado, ausência de planos de carreira e mau gerenciamento do quadro de servidores - muitos estão desviados de função - são apontados como causas da carência. Para amenizar a crise, estados e municípios recorreram a concursos e contratos temporários, e professores passaram a lecionar em áreas diferentes da sua formação.

Hoje o piso nacional do magistério para 40 horas é de R$1.187. Para o Sindicato Estadual dos Profissionais de Ensino do Rio (Sepe), o valor não motiva a permanência na escola. De acordo com o Sepe, em 2012 a falta de professores continuará a ser crônica na rede estadual, que perderá um educador a cada dia útil por exoneração, mantendo a média deste ano. O déficit nas escolas - a maioria de ensino médio -, chegaria a 10 mil profissionais. Na capital, os números são igualmente preocupantes: 5 mil estimados.

Presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho diz que a saída é a aprovação, em 2012, do Plano Nacional de Educação (PNE).

- O PNE prevê plano de carreira. O professor quer buscar a chance de crescimento profissional. Se não for feito nada chegaremos a um ponto que haverá orçamento e alunos, mas não educadores - diz Cleuza, que aponta as áreas de Química, Física e Matemática como críticas.

Carência atinge todo o país

Maristela Kaminski, de 16 anos, que cursou o segundo ano do ensino médio no Colégio Aderbal Ramos da Silva, em Florianópolis, vive uma realidade comum em Santa Catarina. Ela faz parte dos alunos sem aula por falta de professores na rede estadual. A jovem conta que, neste ano, teve aula somente no segundo semestre nas disciplinas de Geografia, Química, História e Sociologia. Levantamento do Sindicato da Educação do estado feito em 400 das 1.234 escolas estaduais apontou que há falta de professor em 90% delas. Cerca de 50% dos professores (34 mil) são temporários.

O secretário da Educação, Marcos Tebaldi, afirmou que existem casos pontuais. Mas a assessoria técnica da diretoria de Gestão de Pessoas informou que faltam cerca de dois mil professores e a carência é maior em Matemática, Literatura, Química, e Física, no ensino médio, e Artes, Português, Matemática, e Ciências, no fundamental. Santa Catarina foi um dos estados contrários ao piso nacional do magistério e pagava salário de R$609.

Em Mato Grosso do Sul, dos cerca de 17 mil professores efetivos e convocados da rede estadual, a metade não é concursada e está em sala de aula substituindo profissionais de licença médica, que estão ocupando outras funções ou cedidos para outros poderes. Já no Rio Grande do Sul, dos atuais 77 mil professores que estão em sala de aula, 26 mil não são concursados. Eles foram contratados por razões emergenciais, substituindo docentes fixos afastados.

A Secretaria de Educação do estado do Rio informou que investiu na melhoria salarial. O estado afirma que, neste ano, a carência de professores diminui de 11.773 para 1.550. Está em andamento um concurso para o preenchimento inicial de 3.321 vagas. Já a Secretaria municipal de Educação afirmou que havia déficit de 7.500 professores em 2009. Foram contratados 11.531, faltando hoje 91 educadores.

Colaboraram: Juraci Perboni (SC), Naira Hofmeister (RS) e Paulo Yafusso (MS)

FONTE: O GLOBO

Obras da Copa terão R$ 4 bi do FGTS

Para obras de transportes nas cidades-sede da Copa, o governo destinará R$ 4 bilhões do FGTS em 2012. O valor é quase toda a verba para infraestrutura de grandes centros.

Copa: R$4 bilhões do FGTS serão investidos em obras de transporte

Valor é quase todo o recurso do Fundo para infraestrutura de grandes centros

Geralda Doca

BRASÍLIA. O governo reservou R$4 bilhões do orçamento do FGTS em 2012 às obras de transporte de massa nas cidades que vão sediar a Copa de 2014. O valor consome quase todos os recursos que o Fundo destinou à infraestrutura nos grandes centros em todo o país, no total de R$5 bilhões. Equivale a um terço dos R$12,112 bilhões de investimento previsto nos 49 projetos que constam do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC da Mobilidade Urbana) e visam ao evento esportivo.

São BRTs (sigla em inglês para ônibus articulados que andam em faixa exclusiva e param em estações fixas), veículos leves sobre trilho (VLTs), corredores especiais de ônibus etc. Todas as obras estão listadas na Matriz de Responsabilidades do governo federal.

O valor que foi carimbado para essas obras constam de uma circular da Caixa Econômica Federal publicada ontem no Diário Oficial da União e que faz a divisão dos recursos do orçamento do FGTS para 2012, aprovado pelo seu Conselho Curador em novembro deste ano.

Segundo fontes, apesar da boa intenção, a medida prejudica projetos em outras cidades (melhoria de ponto de ônibus, urbanização, calçamento de ruas, por exemplo), além de comprometer a execução do orçamento do FGTS. A preocupação é com a qualidade dos projetos, que, se for baixa, impede a contratação e a execução dos recursos. Segundo interlocutores, nos últimos três anos, a Caixa contratou apenas R$9,6 bilhões em obras de mobilidade urbana.

Ao sancionar a Lei 12.546, que trata de benefícios tributários ao setor produtivo, a presidente Dilma Rousseff vetou o uso dos recursos do Fundo de Infraestrutura (FI) do FGTS - criado no lançamento do PAC, em 2007, com recursos do patrimônio líquido do Fundo, que é desvinculado da conta dos trabalhadores - nesse tipo de projeto, além de outras iniciativas para a Copa, como hotéis e empreendimentos comerciais em geral. A presidente alegou que as obras relacionados à Copa já dispõem de linhas de crédito específicas.

BRT do Rio já está sendo financiado pelo BNDES

Os projetos de transporte de massa que vão receber os novos recursos do FGTS serão selecionados pelo Ministério das Cidades. O BRT do Rio (o Transcarioca) - um dos 49 empreendimentos listados para o evento - ficará de fora porque está sendo financiado pelo BNDES. Os 48 restantes são financiados pela Caixa, que responde por eventuais riscos ao Fundo.

A mesma circular detalha o orçamento do Fundo para o próximo ano, que prevê a aplicação de R$36 bilhões em habitação popular, incluindo o Minha Casa, Minha Vida. A meta é construir 600 mil unidades para famílias com renda de até R$3.100, e 200 mil para a faixa de até R$5 mil.

Para o Minha Casa, foram garantidos R$3 bilhões para subsídios (descontos nos financiamentos). Haverá oferta de R$1 bilhão para trabalhadores com contas no FGTS e que quiserem fazer financiamento habitacional, com taxas mais reduzidas.

Para saneamento básico, foram reservados R$4,8 bilhões em operações com agentes públicos e mais R$200 milhões, com o setor privado. O FGTS vai investir R$2,5 bilhões em papéis imobiliários no ano que vem.

FONTE: O GLOBO

Custo explode e obra do S. Francisco terá licitação de R$ 1,2 bi

Ministro diz que vai refazer contratos da transposição do rio porque consórcios precisariam receber até 60% a mais; gasto com projeto chega a R$ 6,9 bilhões

O governo Dilma Rousseff lançará duas novas licitações no valor total de R$ 1,2 bilhão para terminar trechos da transposição do Rio São Francisco já entregues a consórcios privados, informa a repórter Marta Salomon. Iniciado em 2007, o projeto já consumiu R$ 2,8 bilhões, mas tem trechos parados e outros que precisarão ser refeitos. O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, calcula que o custo inicial da obra saltou de R$ 5 bilhões para R$ 6,9 bilhões. As novas licitações foram a forma encontrada por Bezerra para driblar um problema: os consórcios não conseguiriam terminar o trabalho mesmo que o valor aumentasse 25%, limite legal para aditivos em contratos. "Vimos que teríamos de fazer aditivos de até 60%", disse o ministro, que admitiu erros no projeto, como a número insuficiente de sondagens de solo.

Governo fará licitação de R$ 1,2 bi para salvar transposição e evitar paralisia

Marta Salomon

BRASÍLIA - Para tentar terminar as obras da transposição do Rio São Francisco em mais quatro anos, o governo Dilma Rousseff recorrerá a uma nova licitação bilionária de obras já entregues à iniciativa privada. O custo estimado do negócio é de R$ 1,2 bilhão, informou ao Estado o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, responsável pela obra mais cara do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) bancada com dinheiro dos impostos.

A obra começou em 2007 como um dos grandes projetos do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A transposição desviará parte das águas do São Francisco por meio de mais de 600 quilômetros de canais de concreto para quatro Estados: Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

Depois de R$ 2,8 bilhões gastos, a transposição registra atualmente obras paralisadas, em ritmo lento e até trechos onde os canais terão de ser refeitos, como é o caso de 214 metros em que as placas de concreto se soltaram por entupimento num bueiro de drenagem. As falhas foram testemunhadas por reportagem do Estado, no mês passado.

O custo inicial da transposição, estimado em R$ 5 bilhões, já saltou para R$ 6,9 bilhões, calcula Fernando Bezerra, incluindo a nova licitação. "Só vamos ter certeza do valor quando concluirmos o processo licitatório e fecharmos os contratos", avalia o ministro. Ele espera lançar as novas licitações até março.

Relicitar parte dos trechos entregues a grupos de empreiteiras foi a forma que a equipe de Bezerra encontrou para concluir as obras e evitar que a transposição do São Francisco se transforme em um elefante branco.

Os oito consórcios privados, responsáveis por 12 lotes da obra, não conseguiriam terminar o trabalho para a qual foram contratados mesmo que o valor pago fosse aumentado em 25%, limite legal autorizado para aditivos contratuais. O ministro optou, então, por eliminar parte das tarefas previstas originalmente em contratos. Os consórcios receberão apenas pelo serviço feito. "Todos toparam", conta Fernando Bezerra. "Houve uma negociação e uma negociação que não foi fácil", destaca.

Desde que assumiu o cargo, no início do ano, Fernando Bezerra tenta renegociar os contratos. "Numa primeira avaliação, vimos que teríamos de fazer aditivos de até 60%", disse o ministro. "Não diria que foi erro de projeto, mas o projeto básico não estava detalhado e foi incapaz de identificar as situações de campo. O número de sondagens foi insuficiente para garantir o tipo de solo que seria encontrado", alegou.

Fernando Bezerra tenta negociar com o Tribunal de Contas da União (TCU) um reajuste maior do que o limite legal, de 25%, para a manutenção do consórcio responsável pelo lote número 14, que envolve a construção de túneis. "Seria uma exceção, porque os túneis são máquinas caras, a mobilização de novo maquinário não seria vantajosa. Seria importante ir com o aditivo acima dos 25%", argumenta.

Os outros sete consórcios já teriam sido chamados a renegociar o que o ministro chama de "aditivos supressivos". Eles fazem menos do que o planejado, recebem menos do que o previsto e passam o serviço adiante.

Bezerra defende a licitação de dois saldos remanescentes de obras, um no eixo Norte e outro no eixo Leste. "O ideal seria termos dois pacotes de obras complementares", avalia.

No eixo Leste, que Lula gostaria de inaugurar ainda durante seu mandato no Planalto, ainda faltam 30% das obras. A nova previsão é inaugurar no final do mandato da presidente Dilma Rousseff. Já o eixo Norte tem menos de metade das obras concluídas, e a inauguração ficaria para dezembro de 2015.

Fernando Bezerra insiste em que as obras não ficarão paradas à espera da nova licitação. Entre maio e novembro de 2012, a obra ganhará ritmo mais acelerado, imagina, com a conclusão de obras nos lotes tocados pela iniciativa privada e a chegada dos novos empreiteiros. Insiste também que trechos mal feitos serão reconstruídos sem custo extra para o governo. "Apesar de todas as dificuldades, foi ano positivo para a transposição."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Crise engole uma Vale na Bolsa

Empresas de capital aberto perdem R$213,6 bilhões em valor de mercado este ano

Vinicius Neder

O tombo nos mercados financeiros, provocado pela crise europeia, engoliu R$213,6 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) este ano. O montante representa as perdas, em valor de mercado, das 323 empresas de capital aberto (medida de quanto uma companhia vale na Bolsa, pela multiplicação das cotações pelo total de ações), segundo estudo da consultoria Economatica divulgado ontem. As perdas consideram as cotações de terça-feira e superam por pouco o valor da Vale, de R$206 bilhões. No total, as empresas analisadas encerram o ano valendo R$2,212 trilhões.

A perda do valor das empresas segue o tombo nas cotações. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, acumula queda de 18,43% no ano, após a forte baixa de 2,54% de ontem - não contabilizada no estudo da Economatica. O cenário mudará pouco para 2011 como um todo: hoje, a Bolsa terá o último dia de negociações do ano.

Petrobras perdeu mais: R$79 bilhões

Entre os setores que mais perderam valor este ano, destacam-se aqueles cujas ações são mais negociadas. Em primeiro lugar, o de petróleo e gás, com o enorme peso da Petrobras, que perdeu sozinha R$78,974 bilhões. O desempenho das ações da estatal, porém, segue a média do mercado. Os papéis preferenciais (PN, sem voto) da empresa acumulam queda de 18,55% no ano, próximo do Ibovespa.

- A Petrobras perde mais valor porque é a maior empresa da Bolsa - lembra o gestor de renda variável da Yield Capital, Hersz Ferman.

A estatal encerrou o pregão de terça-feira valendo R$301 bilhões, o maior valor da Bovespa.

Também por causa de seu peso na Bolsa, a Vale registrou a segunda maior queda em valor de mercado este ano: R$68,882 bilhões. Com isso, o setor de mineração também foi o segundo em perdas no estudo da Economatica. Em terceiro, ficaram os bancos. O Santander, por exemplo, viu seu valor cair R$26,439 bilhões.

Na outra ponta, setores de alimentos e bebidas, energia elétrica e telecomunicações tiveram um ano positivo, com ganhos de valor. O destaque ficou com a fabricante de bebidas Ambev, que, sozinha, viu seu valor em Bolsa saltar R$41,459 bilhões.

O estrategista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, explica que a perda de valor em alguns setores e a queda em outros é uma reação ao cenário econômico. Com as incertezas sobre o crescimento da economia mundial, as cotações das matérias-primas recuam, ameaçando o lucro das empresas exportadoras e produtoras de insumos - como os setores de petróleo e gás, mineração e siderurgia, de grande peso na Bovespa. Com essas ações em xeque, os investidores buscam alternativas.

- Investidores migram para papéis mais defensivos em épocas de crise - afirma Galdi.

São defensivas as ações de empresas com receita mais previsível, voltadas para o mercado interno e que pagam bons dividendos, como é chamada a distribuição dos lucros entre acionistas. Neste caso, energia e telecomunicações. Para Galdi, a Ambev se destaca na Bolsa porque o consumo interno está em alta.

Segundo a maioria dos analistas, a crise das dívidas soberanas na Europa destacou-se entre os fatores negativos para a Bolsa em 2011. No entanto, Fábio Nazari, chefe da área de mercado de capitais do banco de investimentos BTG Pactual, destaca que a crise externa apenas piorou o quadro. Para ele, no primeiro semestre, o movimento do mercado estava 70% atrelado a fatores locais, e, na segunda metade do ano, passou a 80% ligado ao cenário externo. No início do ano, a inflação em alta e a ação do governo para contê-la, com medidas para restringir o crédito - combinada à alta da taxa de juros (Selic) pelo Banco Central - deixaram os investidores desconfiados.

- A expectativa com a inflação levou às medidas macroprudenciais do BC, resultando na saída de recursos de estrangeiros - diz Nazari.

A soma dos fatores domésticos do primeiro semestre com a piora do quadro na Europa causou uma "tempestade perfeita", diz Nazari. Para piorar, na virada de julho para agosto, a disputa política em torno da elevação do teto da dívida pública dos Estados Unidos jogaria mais lenha na fogueira, levando ao rebaixamento do rating dos EUA pela agência Standard & Poor"s, em 5 de agosto. A partir de então, as atenções se voltaram para a Europa.

Com as perdas na Bolsa, o investimento em ações caminha para ficar entre as piores aplicações em 2011. As quedas das ações de Petrobras e Vale também afetarão os fundos FGTS-Petrobras e FGTS-Vale.

- No mundo inteiro foi um ano ruim para quem aplica em ações - destaca o administrador de investimentos Fabio Colombo.

Nem o bom desempenho dos setores defensivos ajuda. Na opinião de Colombo, para minimizar os riscos, o investidor deve montar uma carteira de ações com dez a 15 ativos, de diversos setores:

- Muitos papéis que sobem num ano foram mal em anos anteriores. O investidor não deve pôr todas suas fichas numa empresa ou setor.

FONTE: O GLOBO

Inadimplência de empresas cresce 32,5%

A inadimplência das pessoas jurídicas no País cresceu 9,8% em novembro ante outubro, a segunda maior variação do ano, mostra o indicador Serasa Experian de Inadimplência das Empresas divulgado ontem. Na comparação com novembro de 2010, a alta foi de 32,5%. No acumulado do ano até novembro, foi registrado avanço de 18,6% em relação ao mesmo período de 2010. A maior alta do ano foi verificada de fevereiro para março (10,8%).

O avanço da inadimplência entre as empresas foi impulsionado pelos títulos protestados, que apresentaram aumento de 28,1% em relação a outubro e contribuíram com 6,3 pontos porcentuais do aumento de 9,8% verificado em novembro. Os cheques sem fundo representaram o segundo maior peso na alta de novembro, com avanço de 18,6% ante outubro e 3,9 pontos porcentuais na taxa geral.

O valor médio dos títulos protestados no ano até novembro chegou a R$ 1.804,50 - 9,3% maior em comparação com o mesmo período do ano anterior. O valor médio dos cheques sem fundos ficou em R$ 2.088,21, ou 1,8% a mais que no acumulado de 2010 até novembro.

As dívidas não bancárias (cartão de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços), por sua vez, apresentaram recuo de 1,7% em novembro ante outubro, contribuindo com uma redução de 0,6 ponto porcentual da taxa geral. O valor médio desse tipo de dívida no acumulado do ano chegou a R$ 742,03, avanço de 1,8% em comparação com igual período de 2010. As dívidas com bancos tiveram leve alta em novembro, de 0,9%, o que representou uma participação de 0,2 ponto porcentual na taxa geral. O valor médio desse tipo de dívida no acumulado de janeiro a novembro foi de R$ 5.176,85 (alta de 9,5% ante o acumulado de 2010 até novembro).

De acordo com a Serasa Experian, o aumento da inadimplência das empresas em novembro é explicado pela inflação, pelo capital de giro ainda caro e pela evolução da inadimplência do consumidor. "Nesse contexto, as empresas estavam produzindo e ampliando seus estoques para as festas de final de ano numa posição de caixa menos favorável, resultando em elevação da inadimplência", afirmou a entidade, em nota.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Inflação e câmbio levarão o Brasil a ser a 6ª economia

O Brasil vai se tornar a sexta maior economia mundial por três motivos, em ordem de importância: inflação, alta da produção e valorização do real, informa Vinícius Mota. Não fossem a inflação mais alta e os ganhos do real diante do dólar, o Brasil iria demorar mais tempo para ultrapassar a economia britânica.

Inflação ajuda Brasil a superar PIB britânico

Preços em alta e valorização do real em relação ao dólar contribuíram mais para crescimento do que aumento da produção

Economia brasileira teria levado mais tempo para se tornar a sexta do mundo se preços não tivessem subido tanto

Vinicius Mota

O Brasil vai se tornar a sexta maior economia mundial por três motivos, em ordem de importância: inflação, alta da produção doméstica e valorização do real.

De cada US$ 100 adicionados ao valor do PIB nos últimos dez anos, US$ 68 decorrem da soma do primeiro e do terceiro fator -variação de preços internos e câmbio. A alta física do produto responde pelos US$ 32 restantes.

No mesmo período, a trajetória do Reino Unido, a ser ultrapassado pelo Brasil, foi bem diferente. A elevação da produção física foi responsável por 67% da alta do valor do PIB em dólares. Inflação e variação cambial explicam 33% do resultado.

De 2001 a 2011 -tomando a projeção do FMI para este ano-, o PIB brasileiro em dólares (PIB "nominal", no jargão) aumentou 355% (multiplicou-se por 4,5). Já o PIB real, sem os efeitos dos preços e do câmbio, cresceu 46%.

Daí se conclui que, não fossem a inflação mais alta e os ganhos do real diante do dólar, o Brasil iria demorar muito mais tempo para ultrapassar a economia britânica.

O objetivo de medir o PIB é chegar a uma cifra que expresse o volume produzido por um país em certo período. Simplificando, o desafio é exprimir a quantidade de carros, edifícios, geladeiras etc. fabricados num ano.

O resultado pode ser comparado aos de períodos anteriores e então se sabe se o PIB, o volume da produção, caiu ou cresceu -e quanto.

Convém expressar o PIB numa unidade de conta comum, dinheiro corrente, desde que se tome cuidado com os efeitos da inflação.

Suponha o leitor que o faturamento da indústria aeronáutica, num exemplo meramente ilustrativo, subiu de R$ 100 bilhões para R$ 110 bilhões de um ano para o seguinte. Este último valor, acusando alta de 10%, vai compor o PIB nominal brasileiro.

Mas digamos que a quantidade de aviões produzidos tenha ficado igual nesse período -e tudo o que houve foi alta de preços. Então a contribuição do setor aeronáutico para a variação real do PIB terá sido zero.

No Brasil, que apresenta inflação mais alta se comparado a países desenvolvidos, a discrepância entre crescimento nominal do PIB e sua alta real costuma ser grande.

Em 2009, o PIB real brasileiro caiu 0,3%, enquanto o nominal cresceu 6,8%. Em 2010, o real aumentou 7,5%, contra 16,4% do nominal.

Quando a tarefa é expressar em dólares esse PIB nominal -a fim de comparar o desempenho de várias nações-, surge a dificuldade adicional da taxa de câmbio.

Tome-se de novo o exemplo dos aviões, agora supondo que R$ 1 valia US$ 1 no primeiro ano e US$ 1,10 no segundo. Como foi visto, o PIB nominal em reais daquele setor aumentou de R$ 100 bilhões para R$ 110 bilhões só em virtude da inflação.

Coloque-se na conta o efeito da valorização do real, e o resultado será o PIB nominal em dólares passando de US$ 100 bilhões para US$ 121 bilhões de um ano para outro, alta de 21%. Isso a despeito de a variação real da produção de aviões ter sido nula.

Esse duplo efeito, da inflação e do câmbio, foi acentuado nos últimos anos. O IBGE mostra que a inflação embutida no cálculo do PIB -chamada de "deflator implícito"- teve alta de 138% entre 2001 e 2010. No mesmo período, tomando-se a cotação média anual, o real valorizou-se 25% em relação ao dólar.

Em outros períodos da história, inflação e desvalorização cambial caminhavam juntas, uma alimentando a outra. Se a inflação elevava o PIB nominal, a desvalorização o podava na hora de convertê-lo em dólares.

Esse padrão se alterou na década passada, porque o Brasil passou a acumular superávits expressivos no comércio e nas finanças internacionais -em razão sobretudo da alta na cotação de produtos, como minério de ferro e comida, que o país exporta em abundância.

Esse fato inverteu as regras do jogo, alimentou a valorização do real e ajudou a conter a inflação -mas não a ponto de impedir que, pelo efeito da alta moderada dos preços, o poder de compra internacional do Brasil aumentasse substancialmente.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Falha em registro sindical acirra disputa

Raphael Di Cunto

SÃO PAULO - Um problema no registro dos sindicatos no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostra que o titular da Pasta, seja ele o interino, Roberto dos Santos Pinto, ou seu possível substituto no cargo, a ser escolhido na reforma ministerial da presidente Dilma Rousseff (PT), terá motivos renovados para apartear as brigas entre as seis centrais sindicais pelo imposto sindical.

A medição do número de sindicalistas e sindicatos filiados a cada central será fechada depois de amanhã, último dia do ano. Segundo o Valor apurou com sindicalistas, há centenas de sindicatos registrados no ministério sem um único trabalhador filiado. A falha afeta as centrais menores, que ultrapassam com dificuldade o índice de representatividade de 7% dos trabalhadores do país, percentual necessário para ser enquadrado como central sindical.

Com exceção de CUT e Força Sindical, as duas maiores, as demais ultrapassaram o limite mínimo por um pequeno percentual na última contagem, feita sempre sobre o número de filiados no dia 31 de dezembro do ano anterior. Com a movimentação de sindicatos entre as centrais, é incerto que todas continuem a atingir os 7%. Reservadamente, sindicalistas dizem que a falha no banco de dados dá margem a fraudes e negociações políticas. Os números não são abertos à consulta pública.

O reconhecimento como central permite receber parte do imposto sindical, que repassou R$ 111,4 milhões de janeiro a agosto de 2011, e ter uma vaga nos conselhos consultivos do governo federal, como os do FAT e BNDES.

A assessoria do MTE reconheceu o problema sem especificar o número de registros deficientes, e disse que pretende aperfeiçoar o sistema de coleta de dados, que hoje é baseado no número de filiados que votaram na eleição do sindicato, segundo o registro em ata.

"O fato é que esse registro não foi criado com este objetivo, mas, diante da impossibilidade de utilizar informações que se entendia serem as mais adequadas, e diante da necessidade legal de fazer a aferição, lançou-se mão desses dados, apesar das inconsistências", afirmou o ministério em nota.

A regulamentação das centrais ocorreu por lei de 2008 promulgada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e articulada pelo ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi (PDT), que pediu demissão em dezembro acusado de irregularidades no cargo. Antes disso, elas não recebiam imposto sindical e nem precisavam de registro no MTE. O PDT e a Força Sindical atribuem parte das denúncias contra o ex-ministro à CUT, que sonha em retomar o ministério.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Falta força ao PSD paulista

Caciques admitem que os cogitados para disputar a prefeitura da cidade onde surgiu a legenda são pouco competitivos

Paulo de Tarso Lyra

O PSD de Gilberto Kassab não tem um candidato minimamente competitivo em sua cidade natal — São Paulo — e não consegue vislumbrar qualquer possibilidade de parceria que permita sonhar em disputar a prefeitura nas eleições municipais de 2012. A legenda está cada vez mais convencida de que José Serra (PSDB) dificilmente vai se aventurar no pleito e o nome do partido colocado até o momento — o do vice-governador Guilherme Afif Domingos — amarga índices de votos que não passam de 3% nos últimos levantamentos feitos por institutos de pesquisa. Para piorar, o também cogitado ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles resiste até o momento a se lançar em uma aventura sem um mínimo de condição de êxito.

Caciques da legenda admitem que a vida do PSD em São Paulo nunca foi fácil. O partido conseguiu a migração de poucos prefeitos do DEM e enfrentou uma barreira imposta pelo governador do estado, o tucano Geraldo Alckmin. Eles tentam minimizar o cenário sombrio, lembrando que, em um território dominado por PSDB, PT e com o PMDB querendo recuperar prestígio, as chances de Kassab eleger um sucessor sempre foram praticamente irrisórias. Mas queimar os prognósticos de disputa antes da largada eleitoral jamais passou pela cabeça dos pessedistas.

Alguns líderes da legenda ainda sonham com uma aproximação com o PSDB. Isso ficaria mais fácil se o ex-governador José Serra topasse se candidatar ao cargo de prefeito. Se isso acontecesse, concordariam em indicar o vice na chapa. Mas, com índices de rejeição estratosféricos, que superam os 40%, e ciente de que, caso seja eleito, ficará amarrado no cargo de prefeito e sepultará de vez os planos de concorrer à presidência em 2014, Serra adia ao máximo sua decisão. Para esticar ainda mais a corda, Alckmin deixou para março as prévias internas no partido. Resolveu de uma só vez dois problemas: emparedou José Serra e engessou as articulações do PSD.

Integrantes do partido ouvidos pelo Correio admitem que, sem Serra no páreo, as prévias serão inevitáveis. E, se elas acontecerem em meados de março de 2012, como planejado, ficará tarde demais para o PSDB abrir mão da cabeça de chapa. O PSD demonstra incômodo em se subordinar ao PSDB sem que Serra esteja no comando da chapa. Mas não pode fazer muito mais além de espernear. "O principal nome deles na disputa interna, Bruno Covas, tem índices de intenção de voto muito melhores que os de Afif. Não dá para pedirmos que eles abram mão para nós", reconheceu um analista da máquina partidária.

Outro fator crucial emperra as possíveis conversas. Dificilmente o PSD saberá em março se terá direito ao tempo de televisão e ao fundo partidário. O assunto está em debate no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e argumentos favoráveis ao partido já foram manifestados por assessores do tribunal, mas não há como cravar um resultado. Sem ter o que oferecer de concreto, não existem razões para que qualquer partido se coligue com o PSD, já que não existe filantropia no meio político. "Alguns de nossos parlamentares defendem que sinalizemos ao PSDB com uma aliança agora para apoiar Alckmin na reeleição de 2014. Mas o que temos para dar em troca nesse momento? Nada", sacramentou ao Correio um dos fundadores do PSD.

Sacrifício

Afif já avisou a seus correligionários que não estaria disposto a enfrentar uma campanha eleitoral sem qualquer tipo de aliado ou com tempo de televisão irrisório. É muito sacrifício para alguém que tem um nome reconhecido no meio empresarial, que disputou a Presidência da República em 1989 e quase se elegeu senador em 2006, ameaçando a vitória do petista Eduardo Suplicy.

Resta uma opção: Henrique Meirelles. Considerado a mais surpreendente aquisição partidária no apagar das luzes da troca de legendas, Meirelles já se enturmou no PSD e tornou-se o principal interlocutor econômico do novo partido. A pressa com que Kassab negociou a filiação de Meirelles, tirando-o do PMDB na surdina, embute a possibilidade de que ele se torne candidato a prefeito, caso queira. A grande questão, no momento, é que Meirelles não emite qualquer sinal real de que aceitará o desafio.

O injustiçado

Especialistas em Henrique Meirelles lembram que o ex-presidente do Banco Central (BC) sempre se considerou um injustiçado, alguém que está constantemente ocupando cargos abaixo do que seria realmente capaz. Quando deixou o BC, já sem qualquer possibilidade de se candidatar a presidente, ele queria ser vice de Dilma Rousseff, mas perdeu para Michel Temer. Também cogitou ser ministro da Casa Civil e preterido por Antonio Palocci. Queria ser superministro de infraestrutura, mas viu os planos serem enterrados por Dilma, que decidiu nomeá-lo para a Autoridade Pública Olímpica (APO). Como tinha menos poderes que o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, Meirelles desistiu da brincadeira, assumiu um cargo fantasia na autarquia e partiu para elaborar a plataforma econômica do PSD.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Aposta foi por gestão técnica

Primeiro ano de Dilma comprova preferência por nomes que façam a estrutura funcionar em vez das grandes estrelas

Paulo de Tarso Lyra

BRASÍLIA – O primeiro ano de gestão de Dilma Rousseff mostrou uma configuração de poder na Esplanada dos Ministérios diferente da realidade de 2003, data em que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência da República. Quando anunciou seus ministros durante a transição, a grande surpresa foi a ausência de nomes expressivos. Passados 12 meses, verificou-se que é uma estratégia de gestora. Dilma não quer grandes atores em ação, prefere que as peças funcionem. Se forem necessárias mudanças, ela poderá mexer as cadeiras sem ferir egos de estrelas políticas e partidárias.

A única exceção a essa regra era Antonio Palocci, considerado no início do ano o superministro da Casa Civil. Primeiro dos sete ministros a cair, sob acusação de enriquecimento ilícito, jamais chegou a ter o mesmo prestígio que José Dirceu gozava, no mesmo cargo, até ser abatido pelo escândalo do mensalão. A dobradinha Lula-Dirceu também era distinta da relação Dilma-Palocci. "Dirceu tem um peso partidário que Palocci não tem. Ele foi fundamental na vitória do PT em 2002. No caso de Dilma, Palocci ajudou na montagem do governo e na condução da campanha, mas o grande articulador político da presidente é o Lula, ninguém mais", disse ao Estado de Minas um auxiliar da presidente.

Silenciosamente, Dilma também promoveu alterações de funções em outras áreas. O Ministério do Planejamento ganhou musculatura para, de fato, planejar o país. Depois de oito anos praticamente reduzido a administrar a relação com o funcionalismo público, a pasta ganhou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para conduzir o processo, Miriam Belchior, com quem a presidente trabalhou na Casa Civil. Dilma também vitaminou o Ministério do Desenvolvimento Social, colocou uma técnica da Unicamp — Tereza Campello, outra que atuou na Casa Civil — e lançou o programa de erradicação da miséria extrema, não se limitando a administrar o Bolsa-Família, que assegurou a reeleição de Lula em 2006.

Trator A presidente também corrigiu um defeito que cometera no início de seu mandato. Confiante na habilidade política de Palocci, ela nomeou um petista discreto e insípido para a Secretaria de Relações Institucionais. Luiz Sérgio não resistiu às pressões do cargo e acabou substituído por Ideli Salvatti. Com um perfil trator, colecionou vitórias para o Planalto no Congresso, convenceu Dilma a prorrogar de junho até setembro os restos a pagar e inverteu a articulação do Planalto com o Senado, antes restrita à ação dos senadores peemedebistas. Tanto que na votação da Desvinculação de Recursos da União (DRU), Ideli acompanhou os desdobramento do gabinete do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Mas o primeiro ano também apontou o declínio de algumas pastas. Apesar de não ter perdido qualquer uma de suas funções, o Ministério da Justiça atual é uma pálida referência quando comparado aos primeiros anos do governo Lula. Além de uma Polícia Federal mais ativa no período de 2003 a 2006, o então titular, Márcio Thomaz Bastos, exercia um papel de aconselhamento político ao presidente, algo inimaginável nos dias atuais, mesmo José Eduardo Cardozo tendo sido um dos "três porquinhos" que conduziram a campanha de Dilma Rousseff.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Blá-blá-blá mineiro::Rogério Gentile

Já está virando regra. É só o fim de ano se aproximar que o senador mineiro Aécio Neves repete o mantra de que é necessário "refundar o PSDB".

A primeira vez foi em 2010, logo após a eleição da presidente Dilma Rousseff. Ansioso para herdar a posição de José Serra no partido, Aécio disse que o PSDB deveria refazer e atualizar seu programa para "recuperar sua identidade".

Como isso não ocorreu e, aparentemente, não surgiu outra ideia para tirar a sigla da letargia pós-FHC, Aécio voltou à carga às vésperas deste Natal, acrescentando apenas que o PSDB precisa "andar de cabeça erguida, discutindo as grandes questões nacionais e propondo uma nova agenda para o Brasil".

Blá-blá-blá à parte, Aécio encerra 2011 sem ter conseguido se firmar como a principal referência da oposição no país. Teve dificuldades para se movimentar em um Senado dominado amplamente pelos aliados do governo, não apresentou nenhuma proposta de repercussão, tampouco soube se desemaranhar da briguinha partidária com Serra.

Sem conseguir se impor politicamente, precisou dar declarações à imprensa lembrando que está à disposição do partido para disputar a próxima eleição presidencial.

Faltando tanto tempo assim e, sobretudo por se tratar de um político mineiro, neto de Tancredo Neves, soou muito mais como se ele tivesse algum receio de ser esquecido.

Aécio tem demonstrado confiar em um futuro racha na base do governo para viabilizar-se para 2014. Cultiva boas relações com o PSB do governador Eduardo Campos (PE) e o PSD do prefeito Gilberto Kassab (SP) por entender que, se Dilma perder parte de sua popularidade até a eleição, os partidos poderão apoiá-lo.

Mas política não se faz apenas na base da calculadora. Se o senador não conseguir se mexer no Congresso e no PSDB, corre o risco de chegar sem fôlego à sucessão presidencial.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Meu governo:: Valdo Cruz

Dilma Rousseff termina seu primeiro ano de mandato repetindo, em seus discursos, uma expressão que incomoda, e muito, o mundo petista: "meu governo".

Por mais de uma vez, testemunhei gente do PT, do primeiro escalão à militância, torcendo o nariz quando ela soltava, durante solenidades, o tal pronome possessivo.

Numa das ocasiões, bem me lembro do comentário de um petista ao lado: "Como assim, meu governo? É nosso governo, nós é que a elegemos, a Dilma deveria reconhecer isso".

A reclamação reflete, na verdade, certo desapontamento dos petistas em relação ao estilo de governar da presidente. Eles imaginavam que teriam mais poder no governo dilmista do que tiveram no de Lula.

Recordo uma conversa com um cardeal petista, meio que comemorando o que considerava uma etapa próspera para o partido: "O Lula é muito maior do que o PT, não precisava da gente. A Dilma é uma neófita na política, vai precisar, e muito, do nosso apoio e será mais dependente do partido".

Pois bem, Dilma, em vários momentos de seu primeiro ano de mandato, deu demonstrações de que tinha planejado outro roteiro para seu governo. Assim o fez quando decidiu trocar a cúpula palaciana depois da queda de Antonio Palocci. O PT não só não foi ouvido como foi surpreendido pelas escolhas de Dilma. Episódios semelhantes ocorreram ao longo de todo o ano.

O que acabou acontecendo, pelo menos até aqui, é que o PT teve de se acostumar ao estilo Dilma, frustrando os planos de seus líderes e de outros aliados, como o PMDB -que também imaginava mandar bem mais no governo atual.

O fato é que Dilma deve sua eleição, basicamente, a seu mentor, Lula. Não se sente compromissada com boa parte do mundo político. O risco é surgir, pela frente, uma baita crise -política ou econômica- que a atinja diretamente. Aí, terá que, diríamos, compartilhar mais.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

"Morte aos selvagens unitários":: César Felício

A reescrita da história é uma tarefa permanente do poder, como a história do Brasil ensina de cátedra. Houve um tempo em que o marco fundador do país era comemorado em 12 de outubro, o aniversário do imperador dom Pedro I. O século XIX terminou com a reverência à memória de Tiradentes, executado pela avó do primeiro monarca. Mais recentemente um inimigo dos republicanos positivistas, Antonio Conselheiro, ganhou ares libertários e uma onda ufanista e tardia de desenvolvimentismo faz com que hoje a memória de Juscelino Kubitschek seja disputada por governistas e oposicionistas, enquanto a lembrança de Getúlio Vargas se esmaece.

Se assim é no Brasil, um país em que a cada 15 anos esquece-se tudo o que se passou nos últimos 15 anos, como brincou uma vez o jornalista Ivan Lessa, a reescrita chega ao paroxismo na Argentina. A presidente Cristina Kirchner vai na linha oposta à de Luiz Inácio Lula da Silva e seu famoso bordão "nunca antes na história deste país". No universo cristinista, o debate de hoje é a mesma história de sempre. Guarda semelhança com certos romances do realismo fantástico, em que o passado, na verdade, jamais passa, e as situações se repetem em um moto perpétuo. Pode-se assim reivindicar o legado de caudilhos contemporâneos da formação do país e atribuir aos adversários uma folha corrida herdada das caravelas.

A primeira e mais óbvia alegoria kirchnerista envolve o casal Juan e Eva Perón, protagonistas aliás de um filme exibido este ano na Argentina e muito elogiado pela presidente. É uma epifania invertida, em que desta vez é a mulher que sobrevive ao homem e organiza o culto em sua memória. Na história de Juan e Eva, coube ao general viúvo patrocinar a idolatria à falecida primeira dama.

A segunda investida, de mais difícil compreensão, mas de alcance muito maior, é o resgate da memória de Juan Manuel de Rosas. O caudilho foi deposto do governo de Buenos Aires em 1852, em um tempo em que a Argentina ainda não tinha um poder central. Rosas foi obrigado a um exílio até a morte na Inglaterra por outro caudilho, Urquiza, apoiado por uma força expedicionária brasileira. Sete anos antes, enfrentou tropas francesas e inglesas na foz do rio da Prata, para manter a navegação fluvial fechada a estrangeiros. O dia da batalha tornou-se feriado este ano no país, por obra da presidente.

A cerimônia, que aconteceu no dia 20 de novembro, tão cedo não será esquecida. Cristina criou o "Instituto Histórico Revisionista Manuel Dorrego", cujo nome é auto-explicativo e colocou no peito a insígnia federalista, o partido de Rosas. Reviver Rosas é, de certo modo, evocar um estilo de se fazer política. Enquanto governou Buenos Aires, fechou o rio da Prata para o comércio internacional, o que significava trancar o país inteiro. Estrangulou a classe mercantil, mas estimulou uma indústria rudimentar para substituir as importações. Mas se notabilizou por ter usado com habilidade a propaganda política como arma no início do século XIX.

A primeira engrenagem desta ferramenta foi a demonização da oposição. "Morte aos asquerosos, imundos e selvagens unitários" era um lema que estava nos jornais, nos teatros, nas escolas e até no púlpito das igrejas. O discurso satanizador ligava os opositores a violências como enterrar vivos a adversários, e à entrega das riquezas nacionais a estrangeiros.

O segundo passo foi criar uma identidade visual para cada grupo. Os federais se vestiam de forma tradicional, usavam bigode e adereços em vermelho. Os imundos unitários eram aqueles que se vestiam de forma mais moderna e apresentavam-se de rosto liso. O passo seguinte foi estimular a concretização do lema do regime, ou seja, a promoção da morte "da raça de víboras" por um braço armado do rosismo, a "mazorca".

Com o fim de Rosas, o poder "unitário" iria abrir caminho para uma oligarquia rural e mercantil ditar os rumos do país por oitenta anos e retribuir o carinho na mesma moeda a seus inimigos. Autor de "Civilização e Barbárie", um libelo contra Rosas, o presidente Domingos Sarmiento aconselhou em um escrito a não se economizar o sangue dos "gauchos", ou homens do campo, porque pelo menos para regar a terra ele haveria de servir. As metáforas zoomórficas permaneciam quando Perón chegou ao poder e a multidão que o apoiava foi classificada como "aluvião zoológico" por um deputado da oposição.

O casal Kirchner parecia distante deste modelo ao chegar ao poder em 2003 em uma aliança entre diversos setores sociais e políticos. À medida que se fortaleceu, foi abandonando a composição política, até fechar-se em uma equação familiar. Cristina tomou posse em seu segundo mandato recebendo a faixa presidencial da filha e jurando em nome do marido. Governa utilizando 100% da capacidade instalada de exercer a autoridade e o filho Maximo Kirchner, é um dos homens mais influentes do país.

O câncer na tireoide atinge Cristina no momento em que a questão que se colocava para 2012 para a Argentina é se ela iria ou não evocar a tradição de Rosas para além do simbólico. Quem lê os jornais argentinos pode acreditar que o país pode ganhar os contornos da Rússia de Vladimir Putin ou da Venezuela de Hugo Chávez a médio prazo. Até agora, convém duvidar, e a própria transparência com que a doença foi tratada em um primeiro momento a afasta da comparação com o venezuelano.

Não há quem aponte um gesto concreto da presidente fora da institucionalidade. Cristina não é suspeita de mandar envenenar inimigos com cápsulas radioativas, não colocou adversários no exílio e nem convocou plebiscitos para se perpetuar no poder. Com seu provincianismo exarcebado e seu estilo imperial de governar, apenas cultiva por ora a intolerância como traço seminal da política argentina.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Balanço e perspectivas :: Amir Khair

Final de ano é o momento de avaliar o ano que finda e das previsões sobre o que se pode esperar para o novo ano.

Balanço 2011 - Não foi um ano feliz. Inflação alta e crescimento baixo são tudo o que não se queria que ocorresse e que ocorreu. A explicação é simples. Desde setembro de 2010 houve um surto inflacionário no mundo, em razão da escalada dos preços das commodities. Isso se deveu: ao início da injeção de US$ 600 bilhões pelo banco central americano, inundando o mercado de dólares e criando, em contrapartida, sua desvalorização perante outras moedas; e à maior demanda do que oferta, especialmente dos metais e alimentos.

Além da inflação importada, normalmente nos quatro primeiros meses o IPCA registra metade da inflação do ano, por causa do reajuste de transportes coletivos, despesas escolares, gasolina, álcool, IPTU, IPVA, etc.

Para combater a inflação importada e a sazonalidade, o governo comprou a tese do mercado financeiro de que a causa da inflação era o excesso da demanda em relação à oferta e, para isso, deveria encarecer o crédito, elevar a Selic e reduzir suas despesas, ou seja, pisar no freio da economia. E assim foi feito.

As medidas macroprudenciais criadas no final de 2010 encareceram o crédito ao consumo. A Selic subiu nas cinco primeiras reuniões do Copom, passando de 10,75% para 12,50%. O governo cortou R$ 50 bilhões do Orçamento e ampliou mais R$ 10 bilhões no superávit primário (receita menos despesas exclusive financeiras). Resultado: o crescimento econômico, antes previsto em 5%, foi afundando até o governo perceber que havia exagerado na dosagem. Isso ocorreu há três meses, mas o estrago já estava feito. A economia pode encerrar 2011 sem alcançar 3% de crescimento, ameaçando prejudicar o primeiro semestre de 2012. Por outro lado, como o diagnóstico da inflação estava errado, a inflação externa empurrou a nossa para o limite de 6,5%.

Perspectiva 2012 - O ministro da Fazenda prevê crescimento de 5% com inflação de 4,5% e o mercado financeiro, crescimento de 3,4% com inflação de 5,4%. Creio que tudo dependerá da intensidade da crise da zona do euro e das medidas que o governo adotar para ativar a economia. Uma coisa parece certa: a inflação não deve ser o problema central da política econômica em 2012. A prioridade, segundo a presidente, será reativar a economia para crescer 5%.

A intensidade da crise vai depender, em parte, da possibilidade da implementação de medidas que permitam a rolagem das dívidas soberanas dos países mais endividados. Como eles têm déficits estruturais nas contas externas, o problema é mais grave que o simples ajuste fiscal. Assim, é mais provável uma crise com estagnação ou recuo da economia da zona do euro em 2012. Isso vai dificultar exportações, baratear importações e restringir o crédito externo.

Aqui, mesmo estimulando exportações, poucos resultados poderão ser conquistados. As commodities devem sofrer estagnação/redução na demanda e nos preços, mas serão o carro-chefe das exportações, em razão do abastecimento da China.

Quanto ao crédito, o colchão de mais de R$ 400 bilhões de depósitos compulsórios dos bancos no Banco Central basta para garantir liquidez à economia. E, em relação à inflação, é de esperar uma redução/estabilização dos preços externos, em razão da oferta maior que a demanda. Isso ajuda a conter cerca de metade dos preços internos. A outra metade fica com os preços administrados (30%) e serviços (20%). Sabe-se que preços administrados são contidos em ano eleitoral. Assim, 80% da inflação poderá ser baixa. A isso se soma a nova metodologia de cálculo do IPCA, reduzindo-o em meio ponto. Isso pode levar o IPCA a ficar abaixo da meta de 4,5%.

O desafio maior é o crescimento. O salário mínimo vai dar um empurrão no início do ano, mas, sem vigoroso estímulo ao consumo, o crescimento não se sustentará. Para garantir bom nível de crescimento, só reduzindo a taxa de juro do consumo, que trava o crescimento. Se isso não for feito, corre-se o risco de repetir o baixo crescimento de 2011.

Amir Khair, mestre em finanças públicas pela FGV,

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Omissão demais:: Janio de Freitas

"Não vou me meter com a organização da Copa", disse Aldo, ao se tornar ministro. E por quê? Não se sabe

A nova posição do governo em relação à Copa, definida de passagem por Aldo Rebelo ao se tornar ministro do Esporte, é uma fuga para o comodismo. Mas, com as perspectivas que se agravam, logo será um pesadelo de alto custo político e, óbvio, financeiro.

"Eu não vou me meter com a organização da Copa" -foi a frase que bastou para definir a nova posição do governo. E por quê? Não se sabe.

Mas sabemos que a Copa é um evento com que o país se envolve e compromete em múltiplos sentidos. E que a responsabilidade pela realização aqui foi do governo, que decidiu trazê-la.

E sabemos ainda que, misto de negócios e esporte, como hoje são os esportes em geral, inclui-se nos deveres do Ministério do Esporte, mais ainda em razão dos bilhões em dinheiro público que já são e serão gastos.

Em razão da cômoda fuga transformada em política de governo, o ano da Câmara se encerrou com uma imoralidade que promete reaparecer logo que findas as férias parlamentares.

Não foi suficiente ter sido um deputado do PT, Vicente Cândido (SP), a encaixar na confusão do seu relatório sobre a Lei Geral da Copa este artigo 22: o governo brasileiro compromete-se a indenizar a Fifa por prejuízo ou dano de qualquer tipo relacionado à Copa. "Ainda que causados por quaisquer fatos da natureza, caso fortuito ou força maior."

De chuva à queda temporária da iluminação em um jogo, de algum problema em estádio novo a demoras em aeroportos, cabe de tudo no artigo, como dano à Copa.

E por que critérios se fixariam as indenizações, sob julgamento de quem? Impossível responder, porque humilhação não tem medida, e o artigo desejado pela Fifa e aceito pelo deputado petista é uma extorsão humilhante.

O PT não se moveu contra a proposta. O Ministério do Esporte nem se manifestou. A Presidência não se movimentou para acionar a "base" contra a indecência.

Foi a oposição que impediu a Comissão Especial da Câmara (para assuntos da Copa) de votar e, por certo, aprovar o parecer do petista Vicente Cândido.

Mas o impedimento não o excluiu, apenas o adiou para a reabertura da Câmara em 2012.

A tendência é a derrota da oposição, caso o Ministério dos Transportes continue alheio à defesa contra mais essa extorsão. Com a Presidência dando as costas ao comprometimento do governo brasileiro feito por Lula, como presidente.

Para o Brasil, todo ele, a Copa de 14 é um assunto brasileiro, antes de tudo o mais. O futebol brasileiro é, para o país, o que de menos importante se mostrará ao mundo.

Isso é que faz com que a omissão do governo tenha um grave sentido. Moral, para começar.

Agora também, não é aceitável a farsa da licença de Ricardo Teixeira na CBF, "substituído" por paus-mandados, sem que haja providência brasileiras quanto às acusações que o envolvem em corrupção denunciada na e pela Fifa.

Lá, Ricardo Teixeira tem representado o Brasil em tudo, e só como formalidade representa apenas a CBF. Além disso, seus envolvimentos na Fifa produziram, necessariamente, reflexos sobre entidades e interesses do Brasil. A dívida de Ricardo Teixeira é também com o Brasil e nada justifica outra omissão do Ministério do Esporte, nesse caso.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

As revelações de 2011 :: Julio Gomes de Almeida

O ano de 2011 deixa revelações da maior importância para o mundo e para o Brasil. A economia americana se mostrou fraca, pois o seu atual padrão de crescimento não é suficiente para alterar a condição de alto desemprego e não imprime maior velocidade ao lento processo de desendividamento familiar, o que freia o consumo. Mas dá sinais de força, já que ensaia uma reindustrialização e parece mais robusta do ponto de vista bancário e financeiro. De resto, o embate político paralisa a execução de políticas de estímulo fiscal que poderiam intensificar o crescimento. Nesse vácuo, o Banco Central age por meio da expansão monetária, o que desvaloriza a moeda norte-americana e dá maior competitividade à produção local, mas causa distorções cambiais enormes em países como o Brasil.

Na Europa, a crise da dívida se descortinou. Trata-se de uma complexa crise de estoque correspondente a um excessivo endividamento privado que após as políticas adotadas desde 2008, se transformou em crise de dívida soberana. Ao longo do ano, o que as políticas adotadas pelos países europeus obtiveram foi um ganho de tempo, enquanto aumentava a certeza de que as dívidas acumuladas são impagáveis, especialmente em condições de baixo crescimento ou de recessão econômica. A decisão recente de endurecimento dos controles fiscais da zona do euro teve o efeito possivelmente transitório de interromper uma onda de desconfiança que já ameaçava chegar ao núcleo de países europeus, mas não avançou na renegociação dos compromissos dos países mais endividados e na formação de um horizonte de dinamização da economia do bloco. Esses temas continuarão na base dos receios de ruptura financeira e de recessão em 2012.

Para complicar, hoje mais do que em qualquer outro momento do período recente, uma desaceleração do crescimento da China se coloca como provável. Eixo de uma ligação que foi se formando entre as economias desenvolvidas e as demais economias emergentes, a economia chinesa, se de fato reduzir significativamente uma expansão média que vem sendo de 10% ao ano, espalhará a crise internacional para o resto dos países emergentes e aprofundará as disputas internacionais pelos poucos mercados dinâmicos do mundo. Nem seria necessário advertir que é nesta condição de um dos raros mercados de consumo em crescimento e, portanto, alvo de uma intensa concorrência de produtos importados, que aparece o Brasil.

Nosso país terá em 2012 que "achar" uma variante de política econômica com distinções relevantes com relação àquela que, com sucesso, combateu o contágio da crise em 2008 e 2009. Desta vez, o declínio do ciclo de consumo e investimento é endógeno e pode não admitir uma política compensatória tão apoiada, como fora anteriormente, na expansão do crédito público, moderadamente intensiva em estímulos fiscais e que praticamente não contou com estímulos monetários. Através de mecanismos de defesa comercial e de sustentação da taxa de câmbio terá, por outro lado, a difícil tarefa de reduzir a velocidade com que as importações vêm penetrando no mercado brasileiro, o que na prática está reduzindo o multiplicador em nossa economia para níveis, talvez, inferiores a 1.

Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

Governo poupou, mercado errou:: Vinicius Torres Freire

Governo vai fazer superavit prometido em 2011, mas gasta mal e não tem plano fiscal para o longo prazo

Uma estimativa muito errada dos economistas neste ano dava conta de que o governo federal não entregaria o superavit primário que prometeu. Economistas de consultorias e bancos diziam que Dilma Rousseff e Guido Mantega não poupariam parte da receita de tributos o bastante para chegar a 3,1% do PIB (somadas as contribuições de estatais, Estados e municípios).

Lembre-se sempre de que poupança se trata aqui: despesa menos receita afora gastos com juros. Pago o custo da dívida pública, o setor público brasileiro deve ficar com deficit de uns 2,5% do PIB.

Chegar a 3,1% ou 3,2% do PIB de "poupança" era importante porque: 1) Assim o governo daria alguma contribuição à contenção da "demanda", de consumo e de investimento, em ano de inflação ascendente; 2) O governo daria um lustro na imagem de país "fiscalmente responsável". Isto é, de um governo com as contas mais ou menos em ordem, pelo menos no curto prazo.

Recorde-se que neste ano, num documento da cúpula do G20 de novembro, se dizia coisa dessa espécie sobre o Brasil, durante décadas um país que nem sabia quanto gastava, noutros períodos em moratória, quase sempre tido como risco de crédito muito alto: "Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia e Indonésia, onde as finanças públicas continuam relativamente sólidas...".

Na verdade, o Brasil ainda tem um problema fiscal (de gastos públicos) enorme. Além de despesas ineficientes e mal controladas, temos deficit e dívida demais.

Quanto é "demais"? Nossa dívida não é menor que as euro-americanas e japonesa? É. Mas seu custo financeiro gira em torno de 11%, 12% ao ano (se considerada a taxa "básica" de juros, a Selic. O custo "implícito", real, no caixa, da dívida, roda em torno dos 15% ao ano).

É juro alto demais para a nossa dívida; e também a dívida é alta demais para o nosso crédito na praça.

Isto posto, nossa situação ao menos tem melhorado, aos pouquinhos. Mas com quantos pouquinhos se faz uma canoa fiscal sólida? Considere-se a situação deste ano.

A despesa deve crescer em torno de 3,5%, nas contas do economista Maurício Oreng, do Itaú, em relatório de ontem sobre o balanço fiscal. Ainda é um ritmo um pouco maior que o do PIB, mas se trata de quase um milagre no Brasil. No ano passado, o gasto subiu quase 9%.

Quais foram os santos do milagre? Neste ano não houve reajuste de salário de servidor -houve quase apenas aumento vegetativo da folha. É uma raridade. Mas o talho maior ocorreu no investimento do governo "em obras", que deve cair mais de 8% neste ano. Como de costume, o ajuste fiscal é de baixa qualidade: menos corte em despesa de custeio, mais em investimento.

Ainda assim, o governo fez um esforço considerável para conter as despesas de manutenção da máquina, esforço que vai ser difícil de repetir no ano que vem (e, no caso do investimento, é quase inviável manter a seca deste ano).

Qual o resumo da ópera? Não é mais possível fazer esses ajustes na boca do caixa. Não são duradouros, criam ineficiências, desarranjos na administração e, ainda pior, no investimento. É preciso mudar o padrão do gasto e o seu controle. Para tanto, é preciso um plano de longo prazo. Não temos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Subversão alfandegária:: Celso Ming

O ministro Guido Mantega anunciou terça-feira novo casuísmo protecionista, desta vez, em favor da indústria têxtil.

O argumento é de que o Brasil vem sofrendo forte assédio de importações a preços de dumping ou subfaturados - que fazem concorrência desleal ao produtor brasileiro.

Em resposta, o governo resolveu subverter o regime de tributação aduaneira. Em vez de cobrar Imposto de Importação sobre o valor (ad valorem) da importação, vai cobrar por peso (ad rem) - seja lá o que isso signifique.

Ou seja, o governo reconhece que seus serviços alfandegários são incapazes de identificar (e punir) a entrada de mercadorias subfaturadas. Também passa o recibo de que não consegue defender o produtor nacional com os recursos previstos para situações de concorrência desleal, caso das ações antidumping previstas nos tratados da Organização Mundial do Comércio (OMC), o xerife do comércio exterior.

Tarifação ad rem e não ad valorem, como as anunciadas, contrariam os tratados. Na prática, atiram as tarifas alfandegárias para acima do teto de 35% permitido pela OMC. Qualquer país terá agora razões para processar o Brasil em Genebra e, em seguida, impor represálias. Na medida em que altera radicalmente o critério de tarifação, o governo brasileiro afronta igualmente os tratados do Mercosul, que preveem somente a imposição de tarifas ad valorem.

Mais que tudo, a medida é um grave precedente. Qualquer setor, não apenas o têxtil, passa a ter razões para reivindicar o mesmo tratamento tributário. E aí teremos computadores, chips, componentes, autopeças, máquinas e o que for, taxados por peso, não importando aí diferenças de qualidade.

O casuísmo é ainda mais grave porque é um contra-ataque errado ao problema errado. A grande distorção não é a eventual concorrência desleal dos chineses, mas a baixa produtividade e o baixo poder concorrencial de todo o setor produtivo brasileiro - e não só do têxtil.

O produto brasileiro sai caro demais porque o custo Brasil é desproporcionalmente mais alto em relação aos custos de produção de outros países. É a carga tributária insuportável, é o alto custo do capital de giro, é o juro escorchante, é a infraestrutura obsoleta e insuficiente, são os excessivos encargos sociais que sobrecarregam a folha de pagamentos das empresas, é a Justiça brasileira lenta demais e nem sempre confiável, é a corrupção dos três níveis de governo, é o excesso de burocracia... e por aí vai.

A indústria têxtil do Brasil não é o único segmento que merece proteção contra o jogo desleal de comércio, especialmente num quadro de crise internacional em que o concorrente empurra o que pode e o que não pode para dentro do País. Mas, se forem colocadas em prática, essas decisões não darão mais competitividade ao produto nacional. Com elas, nenhuma indústria brasileira do setor melhorará suas condições de exportar. Ao contrário, estará ainda mais sujeita a represálias do exterior.

Seu maior efeito prático será garantir reserva de mercado a uma indústria excessivamente derrubada pelo alto custo Brasil, o verdadeiro problema que o governo não tem coragem de enfrentar.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Tecnologia, arte e os dilemas do digital

O Brasil está engatinhando no setor e ainda precisa discutir a padronização de qualidade para nova realidade

Luiz Zanin Oricchio

Dirigindo-se ao público de Paris quando da apresentação do seu novo filme, Hors Satan (Fora de Satã), o diretor Bruno Dumont avisou que seria preferível vê-lo numa cópia em 35 mm. Justificou de forma um tanto estranha: a velha película em 35 mm é algo que pertence ao mundo da química. Ora, o ser humano é bioquímico em sua composição orgânica. Assim, haveria uma sorte de "afinidade" insubstituível entre o cinema analógico de base química e seu destinatário, o espectador, bicho de arquitetura bioquímica. Os materiais de formação seriam compatíveis, o que não se dá no caso do digital.

Interessante é que o discurso se deu numa sessão em que Fora de Satã, captado em 35 mm no processo de filmagem, seria projetado digitalmente. O episódio é lembrado no texto de abertura da revista Cahiers Du Cinéma de novembro de 2011, que traz em sua capa o título Adieu 35 - La Révolution Numérique Est Terminé (Adeus 35 - A Revolução Analógica Acabou). E terminou no sentido de que chegamos ao fim de um inexorável processo de passagem do analógico ao digital, que começou mais ou menos em 1990 e agora tem seu desfecho.

A revista constata que, até agora, o espectador ainda pôde escolher se queria uma projeção digital ou em 35 mm nas salas disponíveis em sua cidade; a partir de 2012, isso será quase impossível, pelo menos na França, Paris em particular. A antiga projeção em película sobreviverá na Cinemateca Francesa e em algumas salas de arte. As outras todas já terão passado para a fronteira do formato digital.

É um pouco o que acontece por toda a parte, mas alguns países estão mais adiantados do que outros. O Brasil encontra-se na rabeira da corrida digital, ao lado de alguns países africanos, e enfrenta vários transtornos quando tem de se mover no âmbito do mundo digital.

Os atropelos sentidos pelos cinéfilos que seguem a Mostra de Cinema de São Paulo são testemunhos da confusão no setor. Cópias projetadas com janelas inadequadas, sessões canceladas porque o HD do filme "não rodava", ou a senha antipirataria não chegara, cópias cujas legendas eram impossíveis de acessar, filmes travados no meio da sessão, etc.: tudo isso se viu e a causa não era desleixo ou incúria da organização da Mostra. O que existia era descompasso entre a realidade do Brasil e a dos países que enviavam filmes - sempre em digital - para serem exibidos.

Para se ter ideia, a média mundial de digitalização das salas nos principais países do planeta é de 50%; no Brasil, esse número para em meros 14%. Isso quer dizer que 86% das 2.200 salas brasileiras ainda fazem projeção em 35 mm, embora os estudos prevejam para 2015 a extinção total do suporte.

Alguns cinéfilos até comemoram esse atraso, pois, é bom que se diga, o digital está longe de ser unanimidade. Espectadores mais exigentes queixam-se das imagens chapadas, sem textura ou profundidade, do cinza sem gradações, de problemas no som. O cineasta Carlos Reichenbach sempre gosta de lembrar que com o 35 mm o cinema havia chegado à sofisticação visual da pintura; o digital haveria um recuo nesse trabalho com texturas, volumes e cores.

Quando a música passou do vinil para o CD ouviram-se queixas semelhantes e, até hoje, alguns melômanos sustentam que o som digital seria liso, plano, sem o "corpo" do som analógico de um bolachão bem gravado, ouvido num aparelho de som de ponta, com uma agulha perfeita.

É discussão para um século inteiro e, como os discos de vinil acabaram voltando à moda, a pedido de colecionadores mais exigentes, pode-se pensar também na sobrevivência teórica do cinema em 35 mm, mesmo que seja apenas em guetos mantidos por devotos. O grosso, mesmo, vai todo para o cinema digital, e isso é inexorável.

O digital se impõe por vários motivos, o principal deles de ordem econômica. É muito mais barato para os distribuidores mandar aos cinemas um arquivo pela internet, ou um disco rígido contendo o filme, do que pagar pelo frete de centenas de cópias de 35 mm, no caso dos grandes lançamentos. Essas cópias, acomodadas em oito, dez latas pesavam dezenas de quilos, são difíceis de estocar e sofrem com a ação do tempo, embora, em boas condições, a cópia em 35 mm permita até umas mil exibições. Mas não há como comparar a praticidade entre um sistema e outro.

Além do mais, o digital não precisa ser o vilão dos cinéfilos de fino trato, dos apreciadores cordon bleu de filmes de arte, que ainda torcem o nariz para a matriz digital. Os próprios frequentadores da Mostra, atormentados pelas trapalhadas digitais, foram brindados com a inesquecível e impecável exibição digital de dois clássicos restaurados como Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, e Taxi Driver, de Martin Scorsese. Falar mal dessas projeções seria exercício de pura impertinência.

A rigor, ninguém é contra o digital por questão ideológica, mas contra o "mau" digital. Assim, nesse ano em que a revolução digital terminou, foram vistos manifestos e petições, não contra o digital, mas contrários à qualidade apresentada. Uma petição dos críticos (http://www.gopetition.com/petition/31415.html) diz que o digital, que deveria democratizar o acesso ao cinema pelo custo mais barato, tem patrocinado um "verdadeiro massacre ao trabalho de cineastas, fotógrafos, diretores de arte, figurinistas, técnicos de som e até atores". Citam como exemplo a projeção de Ervas Daninhas, de Alain Resnais, no Festival do Rio, com a janela de projeção errada, o que produzia cortes laterais na imagem concebida pelo diretor francês.

Uma entidade de classe, a Associação Brasileira de Cinematografia, que congrega os fotógrafos de cinema do País, não deixou por menos. Soltou um contundente documento chamado Atitude Digital (http://www.abcine.org.br/artigos/?id=693&%2Fatitude-digital) no qual manifesta a preocupação com a forma "com que seu trabalho vem sendo apresentado ao público". O documento, assinado por profissionais como Lauro Escorel, Affonso Beato e Pedro Farkas, lembra que, a partir de 1999, a tecnologia DLP (Digital Light Processing) foi aprovada pela indústria cinematográfica norte-americana, estabelecendo resolução de no mínimo 2K (2 mil pontos por linha).

Seis anos depois, as sete grandes empresas formaram uma comissão, a DCI (Digital Cinema Iniciatives), estabelecendo um protocolo com "limites de qualidade tão altos quanto o filme 35 mm (ver em WWW.dcimovies.com). Acontece que, em nosso país, sob a alegação de que produção independente, principal beneficiária do barateamento da produção digital, não poderia bancar os custos das normas DCI, adotou-se uma espécie de padrão-Brasil. Um espécie de sistema-jaboticaba, "sensivelmente abaixo do padrão mundial para o cinema digital".

Luiz Gonzaga Assis de Luca, autor de A Hora do Cinema Digital (Imprensa Oficial, Coleção Aplauso, 2009) diz que o sistema DCI não é alternativa única. Ele é ótimo, mas caro. Qualquer opção terá de vir seguida de uma normatização adequada, o que não é o caso. Gonzaga adverte também que os produtores, muitas vezes movidos pela economia de recursos, nem sempre proporcionam aos cineastas tecnologia adequada na captação da imagem. Depois, não dá para consertar. O caso da defasagem tecnológica no Brasil é tão grave que o governo se sensibilizou para o problema. Manoel Rangel, presidente da Ancine (Agência Brasileira de Cinema), órgão ligado ao Ministério da Cultura, avisou que lançará um fundo para financiar a troca de equipamentos para 900 salas em 2012. Nada se diz sobre o padrão desse equipamento. Goste-se ou não do digital, ele chegou para ficar. A pergunta não é se virá ou não, mas que tipo de digital queremos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO