domingo, 29 de janeiro de 2012

82% dos paulistanos apoiam ação policial na cracolândia

Petistas e tucanos avalizam operação, apesar de bate-boca entre pré-candidatos

Datafolha mostra que maioria crê que viciados vão se espalhar pela cidade, o que pode ser usado em campanha

Vaguinaldo Marinheiro

SÃO PAULO - O bate-boca entre pré-candidatos do PT e do PSDB à Prefeitura de São Paulo sobre a operação da Polícia Militar na cracolândia não encontra eco entre os eleitores.

Ouvidos pelo Datafolha na quinta e na sexta, 82% dos paulistanos concordam com a ação da PM para tentar desbaratar o tráfico e o consumo de crack na região central de São Paulo.

Quando questionados que nota atribuem à operação, 72% dão seis ou mais. A nota dez foi citada por 28%.

Entre as pessoas que têm o PT como partido de preferência, 83% concordam com a operação policial. A nota média foi 7,4.

Os tucanos são ainda mais entusiastas: 90% concordam com a forma como a PM agiu e dão uma nota média de 7,9.

Segundo estudiosos, isso reflete a demanda da população por uma polícia mais forte e atuante.

"O paulistano gosta desse tipo de polícia que impõe mais rigor. Mas é necessário que ela seja controlada e transparente, para evitar abusos", afirma o sociólogo Renato Sérgio de Lima, secretário-geral do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A ação na cracolândia paulistana, conduzida pelos governos municipal (PSD) e estadual (PSDB), começou no dia 3, menos de um mês depois de o governo federal (PT) lançar seu plano nacional de combate ao crack.

Houve denúncias de que tanto a PM colocada nas ruas de forma apressada quanto o plano federal tinham motivação eleitoral -PT e PSDB, principalmente, gostariam de usar na campanha a bandeira de combate à droga.

Imediatamente, o tema mobilizou os pré-candidatos.

Entre os tucanos, Andrea Matarazzo, secretário estadual de Cultura, afirmou que "o governo do PT consolidou o crack na região central [da cidade]", numa alusão à gestão municipal de Marta Suplicy (2001-2004).

Já Fernando Haddad, pré-candidato petista, disse que a ação da PM foi "desarticulada", "desastrada" e "marcada pela repressão".

Ao menos por enquanto, a cracolândia parece não ter afetado a intenção de votos na cidade. A questão é saber se o tema continuará na agenda eleitoral.

"O uso político da ação na cracolândia vai exigir muito cuidado", afirma o cientista político Fernando Abrucio.

Segundo ele, é claro que num primeiro momento ela favorece o governo estadual.

"A classe média vai aplaudir, porque considera que o problema está sendo enfrentado. Mas quanto tempo dura esse efeito midiático, de uma cracolândia limpa? Além disso, é preciso ver se os viciados não vão se espalhar, o que provocaria um efeito negativo", diz Abrucio.

RESPONSABILIDADE

Os paulistanos estão certos de que irão se espalhar.

Para 82% dos ouvidos, os usuários buscarão a droga em outra região da cidade.

Os entrevistados são também céticos com relação a uma solução definitiva para o problema -57% afirmam que não é possível acabar com o tráfico e o uso de crack na cidade de São Paulo.

Nesse ponto, os tucanos são mais pessimistas: 68% são descrentes.

Mas a maioria, independentemente do partido de preferência, isenta os poderes públicos pelo problema.

Para 24%, os culpados são os próprios usuários.

Os traficantes vêm em segundo lugar (22%).

Depois aparecem o governo estadual (16%), o federal (14%) e a prefeitura (6%).

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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