terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Condenado a torcer por Obama :: Clóvis Rossi

A alternativa mais forte, Mitt Romney, tende a ser usina de atritos para a diplomacia brasileira

Se Mitt Romney ganhar o "caucus" de Iowa hoje, tende a consolidar-se como o pré-candidato mais sólido para ser o nome da oposição republicana a Barack Obama.

Azar do Itamaraty: Romney será uma verdadeira usina de problemas para a diplomacia brasileira, a julgar por suas posições a respeito de América Latina.

James Bosworth, blogueiro do Latin America Monitor, incrustado no "Christian Science Monitor", levantou alguns dos pontos que Romney já colocou no papel.

Escreveu o blogueiro: "Estrategicamente, Romney vê duas grandes ameaças na região". A primeira: "Venezuela e Cuba estão liderando um movimento "bolivariano" virulentamente antiamericano na América Latina, que busca minar as instituições de governança democrática e as oportunidades econômicas".

Sabendo-se o tratamento que os Estados Unidos, com governos democratas ou republicanos, dão a Cuba, fica fácil imaginar o problemão que será equiparar a Venezuela de Chávez à ilha caribenha. Chávez nem precisa de ações norte-americanas para sentir-se permanentemente ameaçado pelo "imperialismo". Imagine então se houver de fato alguma ação.

Ele fatalmente pedirá solidariedade a seus pares da Unasul e da recém-lançada Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe), ambas concebidas, pelo menos aos olhos de Chávez, como maneira de afastar a ingerência norte-americana em assuntos do subcontinente.

Segunda ameaça: "A região está também testemunhando uma epidemia de gangues criminosas violentas e de cartéis de droga, que espalharam morte e desgraça por México, América Central e Caribe".

A resposta de Romney, se eleito, seria criar uma Força-Tarefa Conjunta para Crime e Terrorismo no hemisfério, que "coordenará o trabalho de inteligência e de aplicação da lei". A força-tarefa seria o instrumento para "cortar todas as conexões financeiras, logísticas e materias" entre a região e os grupos terroristas externos, como o Hizbollah.

Parece desnecessário lembrar que essa iniciativa é uma revisita ampliada ao plano de usar bases na Colômbia pelos militares norte-americanos, que foi uma fonte de atrito direto com o Brasil. Se aconteceu assim com um projeto menos ambicioso, imagine a confusão que dará a tentativa de colocar todos os países da região em uma ação conjunta, que, fatalmente, teria a liderança dos EUA, dada a formidável disparidade de meios entre Washington e qualquer um dos países latino-americanos/caribenhos.

Por fim, Romney pretende, nos primeiros cem dias no cargo, lançar uma "Campanha para Oportunidade Econômica na América Latina", destinada a "contrastar os benefícios de democracia, livre-comércio e oportunidades econômicas com os males causados pelo modelo autoritário de Venezuela e Cuba".

Tem todo o jeito de ser uma retomada da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), posta em hibernação, aparentemente definitiva, justamente pelos desentendimentos entre Estados Unidos e Brasil.

O potencial de atritos é, portanto, enorme, em forte contraste com a placidez das relações Lula/Bush, Obama/Lula e Dilma/Obama.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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