terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Desafio à Europa:: Celso Ming

Não se pode nem superestimar nem subestimar o rebaixamento em massa promovido pela agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P).

Quem acompanhou ontem o comportamento do mercado financeiro pode ter ficado com a falsa impressão de que não houve nenhuma consequência importante. Na verdade, a turbulência dos mercados não se agravou porque, em parte, os cortes dos ratings haviam sido antecipados. E, também em parte, porque o Banco Central Europeu (BCE) voltou ao mercado e recomprou títulos públicos sujeitos a maior rejeição no momento, como os da França, da Itália e da Espanha.

Mas o impacto maior ainda está por vir. Pode ser um impulso mais forte em direção ao ajuste. Ontem, os dirigentes da Alemanha, da Itália e da Espanha fizeram apelos seguidos por aprofundamento das medidas de contenção dos rombos orçamentários. Se vão conseguir avançar ou não são outros quinhentos - o que importa mesmo é que esse rebaixamento tende a funcionar como pressão.

No entanto, quem vê as justificativas dessa pressão feita pela S&P e a maneira como os dirigentes vêm fazendo uso dela em favor de suas políticas tem a sensação de que continua o diálogo de surdos.

Entre as principais razões pelas quais a S&P rebaixou a qualidade das dívidas de nada menos que nove países da área do euro está a falta de empenho de suas autoridades em resolver o problema. Ocorre que, para a S&P, a questão de fundo não é o superendividamento dos países do bloco, mas, sim, a enorme diferença de competitividade entre eles - o que gera brutais distorções nas contas correntes (fluxos de pagamentos).

Se há cada vez maior competitividade da Alemanha, da Holanda e dos países nórdicos ao mesmo tempo que diminui, também progressivamente, o poder de competição dos países do Sul (Itália, Espanha, França, Grécia e Portugal), então não basta somente o ajuste das contas públicas.

Alguns analistas entenderam o problema mais profundo, mas não chegam a apontar solução convincente. Limitam-se a pedir que a Alemanha eleve suas transferências de capital para a periferia do euro e, simultaneamente, aumente os salários e o consumo interno - para que seus custos de produção se equiparem aos das demais economias do euro.

Mas, na medida em que restringem o ajuste à Alemanha, se esquecem de que a principal insuficiência de competitividade do bloco monetário não é dos países mais fracos em relação à Alemanha. Toda a área do euro sofre de baixa competitividade diante do resto do mundo, sobretudo em relação aos emergentes da Ásia e aos Estados Unidos.

Isso significa que o ajuste tem de ser extensivo a todos os países-membros. Se tudo se limitasse ao rebaixamento de salários e impulso do consumo na Alemanha, a área do euro como um todo perderia competitividade.

Falta os dirigentes políticos da Europa compreenderem que estão diante do mesmo Desafio Americano (que inclui a China) que, nos anos 70, tirou o atraso da Europa ante a economia dos Estados Unidos.

CONFIRA


A baixa do dólar no câmbio interno (valorização do real) alcança 4,5% somente em janeiro (até esta segunda-feira).

‘Não foi nada’. A primeira reação do presidente da França, Nicolas Sarkozy, à perda do triplo A foi ficar de fora. Providenciou que seu ministro das Finanças, François Fillon, desse a cara para bater. Mas, nesta segunda, Sarkozy reapareceu: “Não mudou rigorosamente nada”, falou. Seu principal concorrente às eleições de abril, líder nas pesquisas, o socialista François Hollande, defendeu a ortodoxia: “Não foi a França que foi rebaixada”, disse. “Foi a política de Sarkozy.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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