terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Dilma, quatro anos em quatro:: Vinicius Torres Freire

Obsessão de gerenciar o curto prazo a fim de atingir meta de 4% de crescimento pode ser contraproducente

Dilma Rousseff entrou pelo segundo ano de seu governo sem apresentar, de modo organizado e claro, suas metas e meios.

No tema que diz respeito a estas colunas, não sabemos o que a presidente quer fazer da economia.

Por estes dias, Dilma ajusta com seus ministros o que um deles chamou irônica e reservadamente de "business plan" (plano de negócios) para 2012. De mais importante, ao que parece, estão sendo decididos:

1) o tamanho da contenção de gastos;

2) o tamanho do investimento federal;

3) estímulos ao crédito para estimular a economia.

"Plano de negócios" é uma expressão adequada para um "governo gerencial". "Gerência" é um termo vago, mas não sugere estratégia de longo alcance ou mudanças importantes, apenas a administração mais comezinha, decerto crucial, porém em si mesma míope.

Desde o ano passado a gente ouve ministros a falar dos 4% de crescimento da economia, piso dilmiano. Nesta temporada de reuniões gerenciais, a gente ouve muito e de novo: 4%. O governo vai passar quatro anos gerenciando as ações a fim de alcançar 4% de crescimento?

A meta é só política (manter o mínimo para a vitória eleitoral)?

Ou o gerenciamento dos 4% implica uma visão de médio prazo da economia? Além do mais, é possível manter um crescimento regular de 4% sem mudança maior, sem projeto que vá além da gestão de estímulos pontuais à economia?

Gente do governo diz que 4% é um mínimo porque, nessa toada, a receita de impostos cresce num ritmo suficiente para manter um superavit fiscal mínimo, para pagar o crescimento "vegetativo" da despesa e, a depender do ano, para até fazer algum investimento maior.

Outros dizem também que, além de permitir algum investimento do governo (que tende a induzir investimento privado, em alguns setores ao menos), os 4% são um ritmo de crescimento que induz empresas daqui e de fora a investir, com ou sem governo. Seria um ritmo que mantém vivo o "espírito animal" no empresariado e atrai investimento externo para o mercado crescente.

Nesta visão, como é fácil deduzir, a eventual poupança insuficiente é um problema a ser sanado pelo crescimento; a inflação é literalmente administrável (e pode ser tolerada num nível superior à meta atual).

Enfim, o acionamento de botões e manivelas de curto prazo dá conta do crescimento duradouro a 4%.

Dá? O governo está preocupado com a indústria, que estagnou em 2011 e não será brilhante em 2012.

A indústria sofre por causa da combinação de real forte e inflação alta, que encarece o produto nacional, e ainda por causa do barateamento de produtos estrangeiros, decorrente do excesso da oferta de manufaturados num mundo que cresce pouco (afora os danos de impostos altos e infraestrutura ruim).

Esses e outros empecilhos muito enraizados não se resolvem com gerências. Assim como não se resolve com miopias o sério e difícil problema de falta de mão de obra qualificada, que eleva custos e é um obstáculo à inovação, por exemplo. A educação para o trabalho (e não só, mas fiquemos no mais urgente) deveria ser um tema central de Dilma, que, no entanto, mal fala a respeito.

A mera gerência, enfim, implica modorra institucional e, no fim das contas, econômica.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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