terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Dívida familiar pode bater recorde em 2012

Para atingir crescimento projetado, endividamento das pessoas deverá superar a metade da renda, diz consultoria

Percentual ainda é baixo se comparado com o de países como EUA (125%), Canadá (151%) e Japão (126%)

Valdo Cruz, Sheila D’Amorim

BRASÍLIA - A estratégia do governo de turbinar o crescimento da economia via estímulo ao consumo, financiado em prestações a perder de vista, poderá ficar comprometida no ano que vem.

Em 2012, para crescer 3,5% como projetado pelo Banco Central, os gastos dos brasileiros serão fundamentais.

Com isso, o endividamento das famílias deverá superar, pela primeira vez, a metade de sua renda anual.

A previsão é de estudo da consultoria Tendências, que aponta alta de 3,8 pontos no endividamento das famílias, alcançando 51,3% da renda.

O percentual ainda é baixo comparado com países como EUA (125%), Canadá (151%), Japão (126%), Alemanha (98%) e França (99%).

Apesar de não ser considerado preocupante pelo governo nem por especialistas, o índice faz acender uma luz amarela em relação à sustentação do ritmo de crescimento do crédito em 2013.

Neste ano, as estimativas são de elevação acima de 15% no total de crédito concedido, incluindo aí as empresas. O valor é considerado alto, mas compatível com expectativa de crescimento da economia acima de 3%, desemprego em baixa e aumento dos empréstimos para compra da casa própria.

O segmento imobiliário, que representa menos de 10% do crédito concedido, nível baixo na comparação internacional, vem se destacando nas operações com pessoas físicas. Por terem prazos mais longos (entre 20 e 30 anos), até ajudam a diluir o gasto das famílias e são um dos motivos para o crescimento do crédito não ser maior em 2012.

Os riscos apontados por especialistas para o mercado de crédito no Brasil vem de duas frentes: externa e interna.

Um agravamento da crise financeira internacional com forte recessão em economias desenvolvidas pode mudar o cenário de crescimento esperado para o país. Isso afetaria renda, emprego e a capacidade de pagamento.

Em 2011, a inadimplência subiu de 5,7% para 7,3% e já é vista como um alerta. "Não é o nível mais elevado da inadimplência, mas preocupa", diz o economista André Gamerman, da Opus Gestão.

O economista Carlos Tadeu de Freitas (Confederação Nacional do Comércio) destaca, ainda, que ao contrário de 2011, este ano a expansão da economia será mais forte no segundo semestre. Com isso, o crédito deverá encerrar o ano em alta, alimentando o risco inflacionário.

"Se houver aumento de juros e redução dos prazos das operações de crédito, isso pode ser perigoso", diz a economista Mariana Oliveira, autora do estudo da Tendências.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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