domingo, 22 de janeiro de 2012

Entranhas :: Eliane Cantanhêde

Como quase tudo na vida, há duas formas de olhar a dívida de cerca de R$ 3 bilhões do Tribunal de Justiça de São Paulo, o TJ-SP, com seus juízes e servidores. Dívida, diga-se, que é quase metade de todo o orçamento do órgão para 2012.

Uma ótica, a boazinha, é a dos credores, que veem o tempo passar e nada do dinheiro entrar no bolso. Alegam que merecem receber por férias não gozadas, licenças-prêmios e, consolidando tudo, as naturais atua-lizações da moeda.

Já a outra ótica, a malvadinha, é a de quem lê, sabe que vai pagar a conta e fica com a pulga atrás da orelha. Que tantos direitos são esses que chegam a praticamente 50% do orçamento de um ano inteiro para tudo?

Quem conhece as entranhas (detesto essa palavra, mas palavras feias às vezes têm lá sua função...) do Judiciário sopra aos nossos ouvidos que, se somar daqui, diminuir dali, vamos chegar à conclusão de que o maior bolo da dívida do TJ-SP vem de decisões administrativas que transformam vantagens insustentáveis em direitos -para o contribuinte pagar.

São coisas assim, exemplifica o indignado: o servidor tem direito a duas férias por ano, goza uma inteira, a outra em parte e cobra ressarcimento integral por uma das duas. Em alguns Estados, é permitido vender uma das férias, o que já é estranho. Em outros, nem isso. Dizem que a prática é comum nos dois casos.

Quando deputados e senadores votam privilégios ilegítimos em seu próprio favor, nós todos, principalmente os chatos dos jornalistas, mas também servidores de todas as áreas e 100% dos empregados da iniciativa privada ficamos indignados, gritamos, dizemos que "o Brasil não tem jeito mesmo".

E quando é em outro Poder? Não acontece nada? É melhor saber exatamente quanto desses R$ 3 bilhões corresponde a direitos e quanto surgiu de decisões corporativas. A sociedade brasileira tem o direito de saber, até porque é quem fica com o prejuízo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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