Picciani: ‘Todo mundo quer ser candidato, mas quando faz acordo tem que valer’
RIO - O presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, mantém em sua mesa um mapa do Estado do Rio e tem sempre à mão pesquisas de intenções de votos que já conduzem o partido do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes rumo às alianças para as eleições municipais de outubro. Nem precisaria. O estrategista do PMDB tem, de cabeça, boa parte das informações de que precisa para partir para cima dos adversários. Velha raposa política fluminense, Picciani não gosta de quem não cumpre acordo e jura que não mistura amizade com política. Aos peemedebistas do estado, avisa: “O partido tem um estatuto, uma comissão de ética”. Vale para soldados e generais do PMDB, presidente? “Principalmente para os generais.”
O DIA: O PMDB vai apoiar candidatos do PT em quais municípios?
JORGE PICCIANI — O PMDB apoiará candidatos do PT em Paracambi, Paraty... Em Quissamã, nosso candidato Arnaldo Mattoso talvez seja vice também. Foi feito um acordo político. Todo mundo quer ser candidato, mas quando faz acordo, tem que valer.
E em Niterói?
Vamos apoiar o prefeito Jorge Roberto (Silveira), do PDT. Ele apoiou o PMDB na eleição majoritária — para governador e senador em 2010 —, doente e com o problema do Morro do Bumba (favela onde mais de 40 pessoas morreram em deslizamento). Isso nos levou a assumir o compromisso de apoiar a reeleição.
Mas o governo dele está mal avaliado...
O argumento de que ele não está bem não é político. Eu sou avalista dos acordos do partido. Não mudo de opinião em função das adversidades. Vai nos caber ajudá-lo a melhorar a administração.
Na prática, o que significa ajudar a melhorar a administração em Niterói?
Numa aliança, você sugere melhorias. Ele teve dois episódios (que o prejudicaram), um pessoal e um político. Houve o desabamento do Bumba e ele teve um câncer. A questão do Jorge Roberto também tem um simbolismo grande porque o Cabral fez campanha duríssima a favor do (atual secretário estadual de Assistência Social e pré-candidato do PT) Rodrigo Neves (em 2008). Perdeu e estabelecemos uma relação administrativa que avançou para a relação política. Sou amigo pessoal do (secretário estadual de Trabalho e pré-candidato do PSD) Sérgio Zveiter. Sou amigo pessoal da família. O Cabral me perguntou: “Picciani, e o Zveiter?” Eu disse: “Não tenho esse compromisso”. Uma coisa é o Jorge Picciani, outra é o presidente do PMDB, que não sentou em momento nenhum com o Sérgio Zveiter, o Rodrigo Neves, nem com seus partidos e fez nenhum compromisso.
A dupla Zveiter e Rodrigo Neves é a aliança desejada pelo governador Sérgio Cabral para Niterói?
É uma vontade pessoal, nos cabe respeitar. São pessoas com quem ele está convivendo, que são secretários dele. Agora, o governador não interfere nas questões partidárias. Ele pode opinar, tem representantes dele nas decisões da Executiva e depois desses anos todos deve confiar nas minhas posições. Ele me visitou no hospital para me oferecer se eu queria ir para ministro. Eu disse: “Não quero ter função pública, vou presidir o partido”. Eu presido o partido, e o patrimônio desse partido, da política, é cumprir os compromissos. Mas algumas alianças podem ser desfeitas. Não vamos levar o partido ao suicídio. Se cometerem erros que não podem ser justificados, não temos que afundar num barco que não remamos.
Em Angra dos Reis, o candidato continua sendo o prefeito Tuca Jordão, do PMDB?
Vamos definir este mês. Avança para a candidatura do deputado federal Fernando Jordão (também do PMDB, rompido com Tuca).
A expectativa é eleger quantos prefeitos?
Trabalho com 45. Falta combinar com o eleitor. (risos)
Na capital, a conta de 18 partidos com o prefeito Eduardo Paes inclui PV e PPS?
O PV tem um ato de vontade nossa, mas nenhum indicativo deles. Temos a possibilidade de trazer o PPS, desmontando um pouco a aliança de 10 anos com PSDB e PV.
Qual é a chance de o PPS apoiar o Eduardo Paes?
Mais de 90%. Foram feitas todas as conversas. O (vereador) Paulo Pinheiro, que era contra, saiu (para o PSOL).
Como o senhor avalia as pesquisas sobre o Rio?
Se somar todos (adversários), dá 30%. Sem o (senador Marcelo) Crivella (PRB), o Eduardo dá de três para um (na soma dos outros). A eleição será no primeiro turno.
O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) pode dar trabalho?
É um bom candidato, mas só vai ajudar a dar mais brilho à vitória do Eduardo no primeiro turno.
Ele pode repetir a onda Fernando Gabeira (PV) nas eleições de 2008?
Não creio. Apesar de ser um rapaz com qualidades, ele é menos abrangente. O Gabeira tinha liberdade para aliança. O Marcelo fica engessado, antes de falar tem que perguntar ao partido.
Como o senhor vê a aliança entre Cesar Maia (DEM) e Anthony Garotinho (PR) na capital?
É legítima, eles têm adversários comuns.
Quem dará mais trabalho: Marcelo Freixo ou Rodrigo Maia?
Não temos muita preocupação. O Marcelo vai dar mais brilho à vitória do Eduardo, e os outros sairão menores do que entraram.
Como o senhor vê a criação do PSD?
A relação com o PMDB no Rio é quase umbilical. Tem uma decisão nacional da direção do PMDB de não entrar na Justiça (contra quem saísse do partido). Os (vereadores) que ficaram, se quiserem apoiar adversários, eu vou cortar legenda. Respeito as manifestações, mas depois de bater a convenção, todos, desde os generais aos soldados, estarão condicionados. Não são obrigados a fazer a campanha. Se o governador não se sentir bem em apoiar um candidato, não vai. Mas fazer campanha contra o PMDB ou candidatos apoiados pelo PMDB, não acredito que os soldados nem os generais farão.
E se tiver um rebelde?
Aí, tem que ver caso a caso. O partido tem um estatuto, uma comissão de ética...
... que vale para soldados e generais?
Principalmente para os generais.
Como o governador vai fazer campanha nos locais onde a base está rachada?
O sentimento pessoal será sempre respeitado, mas a gente nunca vai imaginar que ele fará campanha em todos os municípios. Ele fará onde o PMDB tem candidato, onde apoia candidato e onde se sentir à vontade. Não há uma regra, mas o partido tem que ter uma estratégia. A partir daí, eu, o Cabral, o (vice-governador Luiz Fernando) Pezão, quem tiver voto vai fazer campanha. O que vai no coração do Cabral ele não conta.
Como assim “no coração do Cabral”?
Vou dar um exemplo. Em Nova Iguaçu, ele diz: “Apoiei tanto o (deputado federal Nelson) Bornier na eleição anterior (para prefeito), e ele foi fazer campanha para o (José) Serra (PSDB). Eu pedi tanto para fazer para a (presidenta) Dilma (Rousseff)”. É uma campanha que ele (Cabral) começa sem muita vontade de fazer. Mas, quando engrenar, o que vai contar é o seguinte: é importante o PMDB ganhar em Nova Iguaçu. Então, o Cabral passa a ter simpatia de novo pelo Bornier.
O que acontece se o senador Lindbergh Farias (PT)decidir ser candidato a governador em 2014?
Está no direito dele. O que eu ouço nos bastidores é que ele é candidato pelo PT ou pelo PSB. Não tenho nenhuma dúvida de que ele vai ser candidato. O PMDB vai estar aberto para aliança. Se ele quiser ser o vice do Pezão, não tem problema. Se quiser ser candidato, vamos respeitar e derrotá-lo.
O cenário para 2014 passa muito pela Baixada. Lá, PMDB e PT estão separados em vários municípios.
A eleição para prefeito, com exceção da capital, tem zero influência na de governador. Quem vai decidir a eleição de governador não é o Pezão, é o Cabral. Nós vamos ganhar em 45 cidades, mas, mesmo que perdêssemos tudo, faríamos o governador. Se o Cabral fosse candidato à reeleição, se elegeria de novo. O Cabral vai chegar na sucessão dele muito melhor. Teremos avançado muito mais na área de segurança, com menores índices de criminalidade. O Cabral fará o sucessor, e o Lindbergh tentará se tornar ainda mais conhecido para tentar a reeleição no Senado e nos derrotar depois.
O senhor considera o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, uma alternativa a Pezão?
Ele não é político, é uma pessoa da área de segurança. A grande sabedoria do Cabral é lhe dar autonomia e apoio. O partido é aberto a qualquer pessoa de bem, mas a minha opinião pessoal é que não se mistura segurança com política. O Pezão está identificado com o Governo Cabral. Na hora em que se tornar o candidato da continuidade, se tivermos índices que acham que o governo deve continuar, o Beltrame ajuda dizendo que, se for convidado, vai permanecer. Mas, se o governo for mal, não tem Beltrame, não tem ninguém. Se estiver mal, vão escolher a mim, que enfrento só pedreira. Eu sou candidato, só não sei a quê. Vamos esperar.
Em 2014, só terá uma vaga em disputa no Senado. O senhor se candidataria?
Eu seria candidato ao Senado, mas temos uma precedência, o senador (do PP Francisco) Dornelles. Se ele quiser continuar, vamos apoiá-lo. Se não quiser, abre-se uma discussão no PMDB. Se o Cabral não quiser, saio candidato. Se ele quiser, eu busco outro caminho. Minha preferência é disputar o Senado.
Voltando ao PSD, onde tem acordo?
Fizemos um acordo político que vale para 2012 e 2014 com o (prefeito de São Paulo e presidente do PSD Gilberto) Kassab, com o Indio (da Costa, presidente estadual do PSD no Rio) e com o (deputado) André Corrêa (secretário-geral do partido no Rio e líder do governo na Assembleia Legislativa).
Como fica a situação em Macaé, onde o secretário de Agricultura, Christino Áureo, é pré-candidato pelo PSD?
Em Macaé, temos candidato próprio. É o André Braga. O Christino Áureo é um rapaz ótimo, meu amigo de muitos anos, um quadro técnico maravilhoso, com nível para ser ministro da Agricultura. Ele botou na cabeça que é o ‘bola da vez’ para ganhar, mas as pesquisas mostram que não tem nenhuma chance. Quem conhece ele, não gosta. Eu sou exceção, que gosto, mas não voto em Macaé. Forte lá é o nosso adversário, o (deputado federal) Dr. Aluizio, do PV. Ele é o ‘bola da vez’. Vamos ter que bater nele até ele virar pó, senão não ganhamos. A eleição lá é muito difícil.
O PSD discute o nome do deputado estadual Wagner Montes para o Senado. O acordo vale para senador também?
O Wagner Montes sempre é pré-candidato a tudo. Nós fizemos um acordo de os partidos ficarem juntos.
Mas quem foi para o PSD foi porque não tinha legenda para concorrer ao cargo que queria.
O Wagner, se quisesse ter sido senador, poderia pelo PDT. Mas ali a convivência é muito difícil. O PDT vive um momento muito difícil. Uma das razões para eu querer apoiar o Jorge (Roberto, prefeito) em Niterói é resgatar o Jorge. Para nós, o PDT é fundamental na eleição de 2014. Se você deixa esfacelado, o PDT vai para o lado do adversário. O suplente do Lindbergh é do PDT. O Rodrigo Neves hoje é Cabral, mas, se ganhar, fortalece o Lindbergh. Eu aqui trato de partido, não tem a ver com gostar ou não gostar, ser mais simpático. Esse Rodrigo Neves tenta puxar o meu saco o tempo todo, só que o Cabral gosta e eu não gosto. São temperamentos diferentes. Cabral é muito mais educado, mais refinado. Eu estou na política, e a minha responsabilidade é levar o partido à vitória dentro da compreensão de que quem tem cacife ou não para fazer o sucessor é o sucesso do Governo Cabral. Dá tranquilidade para o Cabral governar ter um partido com quem tem experiência, seriedade e respeita acordo. Isso permite ao governo não ter que se meter nesta seara. Da mesma forma, ter alguém aqui que não usa o partido para se meter nas questões do governo é bom para o governo também.
As alianças com o PT esbarram em 2014?
Não. Eu penso o seguinte: queria apoiar o prefeito de Maricá, o Quaquá, que é do PT. Ele foi muito bacana comigo na campanha. Mas fizeram uma pesquisa, e ele tem 5% de intenções de voto, 70% de rejeição. Já o candidato do PMDB tem 35% de intenções. Aí, a simpatia tem que acabar. Não havia um acordo partidário, havia uma simpatia minha. Sou duro na negociação, senão não conduzo o partido. A questão do PT, se você pega cidade por cidade, é que não tem quadros. Lindbergh foi prefeito duas vezes em Nova Iguaçu. Quem ele preparou? Em Nilópolis, quem tem? Em Mesquita, o Artur Messias, que foi prefeito duas vezes, é meu amigo pessoal. Quem preparou para sucedê-lo? Não preparou. Então, eu vou levar o PMDB a um desastre? Não é porque eu não quero. Em Belford Roxo, o Cabral tem botado 100, 200 milhões em asfalto, e os índices (do prefeito Alcides Rolim) são desesperadores. O que vamos fazer? Brigar com todo o PMDB? Em Caxias, veio o líder do PMDB (na Alerj), deputado André Lazaroni, meu amigo querido, falar: “É minha mãe”. Eu adoro a Dona Dalva (Lazaroni, pré-candidata do PT), mas cadê? 0,2% na pesquisa. Eu falei: “Não deixa ela passar esse sofrimento. Lança ela vereadora no Rio e eu faço ser puxadora de votos do PMDB. Tira tua mãe do partido e vamos ver”. Em Petrópolis, o prefeito (Paulo) Mustrangi (PT) é excelente pessoa. Na Região Serrana, todos os políticos estão com fama de ladrão, ele não... mas é de uma inaptidão, não sai na rua, se esconde em casa. Sempre me tratou da melhor maneira. Me fez perder voto, porque está mal, mas sempre foi muito educado. Como vamos apoiar se temos um candidato com quatro vezes mais voto? Em Teresópolis, roubaram a cidade, destruíram a cidade, como vamos apoiá-los? Ele (Jorge Mário, expulso do PT) veio aqui, e disse: “Tenho quatro partidos me assediando, quero ir para o PMDB. Eu disse: “Arruma outro, vamos te cassar”.
São Gonçalo tem uma situação peculiar, tem dois pré-candidatos do PMDB. Como se decide?
A eleição lá é dificílima. Temos o deputado federal Edson Ezequiel e a deputada estadual Graça Matos. Em qualquer pesquisa, um ou outro está na frente. O deputado federal Neilton Mulim, do PR, apoiado pelo Garotinho, está em segundo, o deputado estadual do PSB Rafael do Gordo, em terceiro, o deputado estadual José Luiz Nanci, do PPS, em quarto, o Adolfo Konder, do PDT, apoiado pela prefeita (Aparecida Panisset), em quinto, e a Alice Tamborindeguy, do PP, crescendo. Fizemos um acordo (com PSB e PPS) para escolher o candidato com mais chance, mas tem que ser por consenso. Tem cidade onde você pode fazer intervenção, expulsar, mandar prender. Em São Gonçalo, não. A eleição é de dois turnos. Se perdemos (no primeiro), apoiamos o candidato da prefeita. Mas também queremos que ela nos apoie. São Gonçalo é diferente de tudo. É o município mais perigoso para a gente.
O Marco Antônio Cabral, filho do governador, sai candidato em 2014?
Eu acho que tem que ser puxador da legenda para (deputado) federal. Eu, como presidente do partido, o quero como candidato, mas vai depender das condições políticas da época e de onde o pai estiver. Acho que ele seria um sucesso em termos de voto, e eu estou aqui para cuidar do melhor para o PMDB. O Cabral não vai gostar (de eu falar) disso, não.
É verdade que o governador não gostou quando o senhor falou isso pela primeira vez?
Eu sempre faço a ressalva, eu falo o que eu penso, não combinei nada com eles. Eu digo sempre, aonde eu vou, quando me perguntam, eu falo as coisas que eu acho. Mas eu não combinei com ninguém, não. Mas eu continuo achando que não terá alternativa. Ele (Cabral), para eleger o Pezão, tem que se desincompatibilizar, ou (para concorrer) a vice-presidente ou a senador... E, com isso, vai resolver naturalmente a questão do anseio de uma militância imensa do partido que quer o Marco Antônio candidato.
Reportagem de André Zahar e Rozane Monteiro
FONTE: O DIA
Camaradas,
ResponderExcluirApesar das divergências, devemos louvar a "aula de política profissional" que o Presidente do PMDB-RJ apresenta nessa Entrevista. Citemos algumas ideias chaves:
1) Reforçar o MITO da Vitória de Eduardo Paes já no Primeiro Turno para animar e mobilizar os pré-candidatos a vereador da Coligação Carrossel (aproximadamente 1000 pré-candidatos);
2) Expor o sectarismo do PSOL para "neutralizar" possíveis alianças no Segundo Turno que ele desconsidera;
3)Não se expõe temores com a aproximação DEM-PR pois sabe que são partidos que poderão estar aliados mais adiante;
4)Muito interessante como ele interpreta a relevância do PDT na política local do Estado do Rio de Janeiro;
5)Finalmente a explicação dos motivos de buscar cooptar o PPS: "quebrar uma aliança de 10 anos PSDB-PV-PPS". Só falta a nossa percepção que esse poderia ser o caminho (quem estiver mais forte nas pesquisas em março poderia ser o candidato a Prefeito imaginem com apoio de Serra, Aécio, Jungman e Marina Silva);
Um abraço
Vagner Gomes - Dirigente Municipal do PPS