domingo, 8 de janeiro de 2012

Ministro faz de Petrolina uma terra sem crise

O ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional), que privilegiou Pernambuco na destinação de verbas, virou "embaixador" de Petrolina, onde pretende eleger o filho prefeito. Em dezembro, ele liberou R$ 35,7 milhões para obras.

"Embaixador" de Petrolina, ministro usa verbas para cacifar filho e mirar 2014

Bruno Boghossian

PETROLINA - Desgastado no Palácio do Planalto por ter privilegiado Pernambuco na distribuição de verbas federais, o ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional) consolidou-se nos últimos dias como uma espécie de embaixador de Petrolina no governo federal. No município do sertão pernambucano, onde Bezerra pretende fazer o filho prefeito pela primeira vez, há poucos sinais da crise na qual o ministro mergulhou. No seu curral eleitoral, a abundância de verbas para o Estado - vista como uso político indevido pelo resto do País - rendeu pontos entre aliados e eleitores.

Só nos últimos quatro meses, o ministro esteve cinco vezes em Petrolina, de acordo com sua agenda oficial. Na última visita, em 20 de dezembro de 2011, Bezerra assinou 16 ordens de serviço para a modernização de áreas irrigadas no município, no valor de R$ 35,7 milhões. O reduto de Bezerra, dependente de verbas federais sobretudo por conta das secas, foi "escolhido", segundo texto do ministério, como o primeiro beneficiário do programa Mais Irrigação, que compõe a segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2).

No evento em que foram anunciadas as obras, Bezerra foi o protagonista, acompanhado do vice-governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSD). A cerimônia contou até com banda de forró, mas o prefeito da cidade, Júlio Lóssio (PMDB), que deve ser candidato à reeleição, enfrentando o filho de Bezerra, diz que não foi nem convidado.

Agricultores de uma das regiões que serão beneficiadas contam que pedem há quase 20 anos a pavimentação de ruas para facilitar o escoamento da produção de frutas, mas jamais haviam conseguido atenção do governo.

"Isso foi prometido muitas vezes, há muito tempo, mas nunca conseguimos nada. Agora que ele (Bezerra) é ministro, vai!", comemora Inácio Fulgêncio Cavalcante, presidente da associação de moradores de Vila Esperança, no projeto irrigado N4.

No núcleo de irrigação, ninguém torce o nariz para os privilégios dados pelo ministro a Petrolina e Pernambuco. "Tem que investir aqui mesmo, que é o Estado de origem dele", diz Inácio.

Dos R$ 35,7 milhões prometidos pelo ministro a Petrolina, pelo menos R$ 8,6 milhões serão investidos no projeto Nilo Coelho, batizado em homenagem ao tio de Bezerra, que foi senador e governador de Pernambuco.

Califórnia do sertão. Graças aos projetos de irrigação iniciados na década de 1960 e à produção agrícola que se iniciou nesses núcleos com recursos da União, Petrolina recebeu o apelido de "Califórnia sertaneja".

As obras prometidas por Bezerra não começaram, mas os produtores esperam que o asfaltamento acabe com as décadas de sacolejo dos caminhões, carregados de uvas, mangas e acerola, que danificam as frutas.

Opositores do ministro, apesar de acanhados quando questionados sobre ele, contam que seus primeiros redutos eleitorais em Petrolina foram justamente os núcleos de irrigação. Quando rompeu com o Osvaldo Coelho, seu tio e uma das principais lideranças do município até então, Bezerra começou a ganhar espaço nesses projetos de agricultura.

Reservadamente, os tímidos rivais de Bezerra admitem que o direcionamento de verbas para o Estado se transformaram numa vitória local. "Quando reagiu indignado ao preconceito contra Pernambuco, ele mostrou que sua prioridade é seu Estado, onde estão seus eleitores", admitiu um adversário.

"Se eu fosse ministro, faria o mesmo. Ele fez o que outros que passaram por lá não tiveram coragem de fazer: arrancar a maior parte de dinheiro possível", disse o deputado federal Gonzaga Patriota, do PSB do ministro. Ele disputa espaço na sigla com Bezerra e tenta se cacifar pré-candidato a prefeito de Petrolina.

Sucessor. Emplacar o deputado Fernando Coelho Filho (PSB) nessa candidatura é o projeto político do momento de Bezerra. Para pressionar o PT a desistir de lançar o deputado estadual Odacy Amorim, seu ex-aliado, o ministro transferiu o domicílio eleitoral para Recife. Ele ameaça enfrentar o atual prefeito, João da Costa (PT), caso o caminho não fique livre em Petrolina para o filho.

2014. Para parte dos políticos petrolinenses, o tiro de Bezerra tem dois alvos: além de servir como chantagem contra os petistas, dá início a um voo mais alto, que chega ao governo de Pernambuco. O ministro é apontado como provável sucessor de Eduardo Campos, seu principal aliado.

"O Fernando almeja ser governador do Estado, e ninguém governa Pernambuco a partir de Petrolina. Em Recife, ele passa a ser um cidadão metropolitano", avalia um rival.

Entre os cabos eleitorais de Bezerra, o despejo de recursos no Estado desde que assumiu o Ministério da Integração Nacional alimenta o projeto 2014. Blogs mantidos por seus aliados reproduzem o discurso que identifica um "preconceito contra Pernambuco" nas denúncias.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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