segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

PIB de 5% testará o governo

Para desatar o nó do crescimento, o país terá que cortar os juros. Mas, para isso, o Planalto precisará segurar as despesas, uma tentação em ano eleitoral. Soluções como as reformas tributária e trabalhista devem ficar no papel

Victor Martins

Em um ano que já começa com sinais de que a inflação não vai arrefecer, o governo terá um desafio imenso pela frente se mantiver, de fato, a promessa de fazer, em 2012, a economia avançar 5% — meta que não foi alcançada em 2011 por conta, principalmente, do arrocho monetário no ambiente interno e da crise na Europa. O temor de especialistas é de que, com a proximidade da Copa do Mundo de futebol — os jogos ocorrerão daqui a dois anos e meio — e o desejo de um Produto Interno Bruto (PIB) mais robusto, a equipe econômica fique tentada a abrir os cofres e liberar os gastos. Se essa for a opção, o país poderá sofrer efeitos colaterais danosos, como a volta do descontrole de preços e uma escalada do endividamento público. Não são muitas as armas à disposição. A saída passa, sobretudo, pelo afrouxamento dos juros e, mais uma vez, por reformas que não saem do papel.

Para piorar o cenário, eleições para prefeitos e vereadores no meio do caminho exercerão pressão extra para que a gastança se estabeleça. Aos olhos dos economistas ouvidos pelo Correio, esse receio tem fundamento. De acordo com pesquisa recém-divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um órgão do próprio governo, os gastos em relação ao PIB aumentaram, recentemente, em todos os anos em que houve eleições, municipais ou nacionais. Para fazer frente a tamanha despesa, e ao mesmo tempo manter o consumo aquecido — mola da economia em 2011 —, a aposta é de que o governo continuará mesmo cortando os juros.

Estímulo

Na avaliação de Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista da gestora de recursos Franklin Templeton, os sinais emitidos até aqui seguem no sentido de que todo o estímulo para o PIB virá mais fortemente da política monetária, com redução na Taxa Básica de Juros (Selic), além de alguns incentivos tributários pontuais, de modo que o gasto público não saia do controle. "Este ano tende a ser mais monetário do que fiscal. É o que difere essa crise da anterior", observa Thadeu Filho. O problema quanto ao afrouxamento monetário, entretanto, é que ele pode soltar a inflação, que já promete dar trabalho.

O equilíbrio entre a Selic e os preços altos é tão sensível que o próprio Banco Central admitiu, em seu último relatório de inflação, que poderá voltar a subir os juros em 2013, uma situação indesejada pelo setor produtivo. A taxa básica afeta diretamente os investimentos, essenciais em véspera de uma Copa do Mundo. "Imagine isso: chegar a 2013 e 2014, os anos que mais vão exigir investimentos, e o governo ficar segurando o país com aumentos de juros. Definitivamente, não dá", pondera André Perfeito, economista da Corretora Gradual Investimento.

Mudanças

O que se faz necessário, para os analistas, é uma correção de rumos no modelo de estímulo à economia adotado pelos petistas desde 2003, que se concentrou apenas na distribuição de renda aos mais pobres. Embora tenha produzido resultados importantes, a hora é de aperfeiçoamentos e mudanças, sugerem. Perfeito, por exemplo, pede que, em 2012, "a presidente Dilma Rousseff seja mais tucana e menos petista". Ou seja, a seu ver, o governo já privilegiou demasiadamente o consumo com programas de transferência de renda, a exemplo do Bolsa Família e dos aumentos do salário mínimo. Agora, seria o momento de incentivar o empresariado. "Há espaço para as duas políticas e nenhuma delas está errada. O Brasil só precisa avançar. No ano passado, por exemplo, a indústria sofreu demais e agora necessita de ajuda", argumenta.

Mesmo se a reivindicação é por mais investimentos, 2012 começou como terminou o anterior, com incentivos ao consumo: já em janeiro, o salário mínimo passou de R$ 545 para R$ 622 e deve jogar cerca de R$ 47 bilhões na economia, praticamente tudo direcionado para compras. "Esse aumento foi uma ajuda para não deixar a atividade econômica cair demais. O contraponto disso, porém, é que esse incremento também deve puxar para cima a inflação", alerta Felipe França, economista do Arab Banking Corporation (ABC Brasil).

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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