sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Pleno emprego e juros:: Celso Ming

Nunca, como ontem, o Banco Central chegou tão perto de admitir que persegue uma meta de juros de um dígito (abaixo de 10% ao ano).

Também nunca até agora o Brasil apresentou um índice tão baixo de desemprego. E, no entanto, esse é um dos maiores obstáculos a ser enfrentado pelo Banco Central, dirigido pelo economista Alexandre Tombini, para alcançar uma meta sustentada de juros de apenas um dígito.

Apesar dos desníveis regionais, o nível de desemprego de apenas 4,7% da força de trabalho indica situação de pleno emprego na economia, ainda que técnicos do governo federal se esforcem em escondê-la, com o objetivo aparente de viabilizar números ainda mais expressivos.

Toda política econômica em regimes democráticos persegue situação de pleno emprego - que é, ao mesmo tempo, garantia de paz social e de bom retorno eleitoral. Desse ponto de vista, nada melhor do que forte crescimento dos postos de trabalho. Mas isso também cobra seu preço.

Um mercado de trabalho aquecido como o de agora é fator que puxa para cima a renda das famílias. Conjugado com o aumento do crédito e do salário mínimo (que subiu 14,13% em janeiro), tende a impulsionar o consumo em níveis superiores à própria atividade produtiva. Pode-se dizer que favorece a expansão da chamada inflação de demanda (que se dá quando o consumo cresce mais do que a produção) sobretudo no segmento dos serviços (transportes, assistência técnica, academia, refeições fora de casa, etc.) que não podem ser supridos por importações.

Embora reconheça em parte essa pressão em direção contrária à desejada, proveniente do "vigor do mercado de trabalho", a Ata do Copom divulgada ontem aposta na ampla compensação desse efeito negativo pela atuação em sentido oposto de outros fatores: desinflação no mercado internacional; garantia de que haverá cumprimento da meta de superávit primário equivalente a 3,1% do PIB (que o Banco Central avalia em R$ 139,8 bilhões); desaceleração da atividade econômica; e, mais que tudo, a ocorrência de "mudanças estruturais significativas na economia brasileira". Entre essas mudanças, o Banco Central cita conquistas que já têm algum tempo: "O cumprimento da meta de inflação pelo oitavo ano consecutivo, a estabilidade macroeconômica e avanços institucionais".

Os pressupostos da inflação sob controle são os mesmos que foram fixados em agosto, quando começou a atual política de redução dos juros básicos (Selic). E, no entanto, algumas dessas condições esperadas não vêm se confirmando. Não houve a grande catástrofe na economia mundial, hipótese que parece afastada. E também não aconteceu a forte derrubada dos preços das commodities, principalmente do petróleo e dos alimentos.

Poucas vezes como agora o Banco Central pareceu tão determinado a derrubar juros, mesmo que a trajetória interna da inflação possa não ser a ideal.

Tornou-se relativamente fácil chegar aos juros de um dígito. Mais difícil será mantê-los aí. Ficou a impressão de que esta é agora questão de honra. Se um fator qualquer atrapalhar esse objetivo, o Banco Central perderá credibilidade.

Aí está a evolução do desemprego nos últimos 38 meses. Não há registro de nível de desocupação mais baixo no País.

‘Taxa neutra’. Uma velha discussão entre especialistas procura definir a chamada “taxa neutra de desemprego”. É o nível de desocupação abaixo do qual passa a haver pressão sobre a inflação. Até recentemente, esse patamar era considerado o desemprego de 7,0%. Se houve – também aí – as tais mudanças estruturais de que fala o Banco Central, os especialistas terão de encontrar outro número.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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