segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Quadro chocante :: Paulo Brossard

Quem semanalmente pelo jornal se dirige a pessoas que não vê e por elas não é visto, em regra, se ocupa com temas atuais; digo em regra porque pode haver assuntos antigos que, por um motivo ou outro, terão atualidade; dolorosa atualidade é o que não falta ao sucedido no coração do Rio, a alguns metros da Avenida Rio Branco, nas imediações do Theatro Municipal, onde três edifícios, um deles de vários andares, ruíram em minutos, virando destroços; ainda bem que, pela hora, pouco depois das 20h, eram poucas as pessoas que neles ainda se encontravam; foi a razão pela qual o número de vítimas não foi o que seria esperável se a triste ocorrência se desse três ou quatro horas antes.

Não falando nas mortes e nos danos de toda ordem envolvendo alto número de pessoas, o que ressalta é o grau de insegurança que acompanha os que vivem no centro de uma metrópole; se se tratasse de uma calamidade natural, como ocorreu na região serrana do Rio, seria explicável, na medida em que o fenômeno transcendia forças humanas, mas o ruir de prédios em uma noite estival, sem deixar de ser superiores à providência comum dos homens, surgiu de repente como se fosse um fenômeno da natureza e o concreto armado transformou-se em pó.

Nem se diga que os prédios que se desfizeram em minutos fossem cortiços escapados da ação do prefeito Pereira Passos, faz mais de século. Enfim, todas as considerações são inócuas diante das dimensões humanas e sociais tristemente acumuladas e basta notar as repercussões internacionais da incrível e penosa catástrofe. Em verdade, os fatos estão a indicar que a presumida segurança pode converter-se em insegurança onde menos se espera.

Outro fato, de natureza distinta, mas de efeitos envolventes de significativa população, vem atingindo expressiva faixa do Rio Grande do Sul. Culturas permanentes, pastagens, lavouras diversas foram destruídas pela seca. Basta dizer que tamanhos prejuízos já consumados nessas regiões do sul do Estado fazem com que o Rio Grande de 2012 venha a ser diferente do vivido em 2011. Investimentos perdidos, trabalho perdido. É verdade que, semana finda, choveu na área 20 minutos em média. Ou seja, boa, mas obviamente insuficiente em relação à sua carência. Segundo informações de oitiva, teria chovido entre 18 e 22 milímetros. Se voltar a chover tempestivamente, o que ainda não foi efetivamente perdido pode ser parcialmente recuperado. Em poucas palavras, e com base em dados empíricos, este o panorama.

Por falar em tempo, Assis Brasil dizia que o clima do Rio Grande era anárquico. Mas, voltando à seca atual, que já causou danos irreparáveis, repito, é de ser registrado que as secas no nosso chão são cíclicas, umas mais ou menos danosas que nos flagelam no rigor do verão chegando às vezes à boca do inverno. A maior que vi foi a que, tendo começado em outubro de 1942, só terminou no outono de 1943, abril ou maio. Quer dizer, finda a seca desmedida, o inverno estava a chegar. Quem viu, não esquece, ainda que decorridos 70 anos. Talvez por isso desde muito adquiri verdadeira ideia fixa referente a aguadas, açudes onde seja possível fazê-los. Convenhamos, porém, que isso já não interessa ao leitor. Apenas para encerrar, a seca atual não se compara à de 42-43, não só pela maior extensão espacial desta, como de sua duração, dado que não chega a ser consolo para ninguém.

*Jurista, ministro aposentado do STF

FONTE: ZERO HORA (RS)

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