quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Yoani diz que se sente como Dilma

A blogueira Yoani Sánchez comparou sua atual situação em Cuba à vivida pela presidente Dilma Rousseff durante a ditadura: "Vi a foto de Dilma jovem sentada no banco dos acusados, e eu me sinto assim mesmo, agora." Ela não consegue permissão do governo cubano para viajar

Yoani Sánchez: "Eu me sinto como Dilma"

Blogueira cubana compara foto de presidente durante a ditadura militar com seu atual impedimento de deixar o país

Chico de Gois

BRASÍLIA. A blogueira Yoani Sánchez, uma das mais conhecidas vozes dissidentes em Cuba, comparou sua situação à da presidente Dilma Rousseff quando esta estava presa no início da década de 70. Em seu Twitter, Yoani lembrou da foto na qual Dilma aparece altiva, com um ar rebelde, aos 22 anos, durante depoimento na Primeira Auditoria Militar do Rio, em novembro de 1970. Ao fundo, os militares responsáveis pelo julgamento cobrem o rosto para não serem identificados. A imagem foi tornada pública no ano passado, no livro "A vida quer é coragem", do jornalista Ricardo Batista Amaral, que conta a trajetória da "terrorista" que chegou à Presidência.

"Vi foto de Dilma jovem sentada no banco dos acusados e julgada por homens com a cara tapada. Eu me sinto assim mesmo agora", escreveu a blogueira, que na sexta-feira passada entregou oficialmente uma carta na Embaixada do Brasil em Havana pedindo para que a presidente interceda a seu favor para que ela possa viajar ao Brasil para participar da exibição do documentário "Conexão Cuba-Honduras", na Bahia, no mês que vem. O filme, dirigido por Dado Galvão, trata da liberdade de imprensa em Cuba e no Brasil. Yoani é uma das entrevistadas.

A blogueira também fez outro protesto no Twitter ontem. "Cada dia que me impedem de viajar trato de fazer mais pela informação e pelos direitos humanos em Cuba. Pior para os que não me permitem sair", escreveu. Ela já tentou obter autorização para deixar a ilha em outras 20 ocasiões, mas sempre teve a permissão negada.

Ontem, por telefone, de Havana, Yoani disse que a embaixada brasileira informou que sua carta foi enviada ao Brasil - fato confirmado pelo Itamaraty. Porém, não lhe disseram que posição o governo brasileiro adotará.

- Continuo esperando - afirmou ela.

Ontem, a União Progresso e Democracia (UPD, partido centrista), da Espanha, enviou carta ao comitê norueguês do Prêmio Nobel indicando Yoani e Oswaldo Payá para o prêmio Nobel da Paz deste ano. Na avaliação da UPD, se os dois obtiverem a distinção, significaria um reconhecimento "extraordinário" de todos os que não têm voz por conta de regimes autoritários. Payá é um militante católico cubano, que já foi recebido pelo então papa João Paulo II no Vaticano.

Presidência ainda não decidiu sobre encontro

Yoani disse que, desde a morte de Wilman Villar Mendoza, na semana passada, depois de uma greve de fome de 50 dias, a polícia tem intensificado a repressão contra os dissidentes.

- Ontem (segunda-feira), meu marido (o jornalista Reinaldo Escobar) foi detido. Mas depois foi liberado - informou.

Além da solicitação de Yoani, a presidente Dilma terá de lidar com outra situação constrangedora do ponto de vista diplomático. Representantes de organizações de direitos humanos querem encontrá-la para falar da situação vivida na ilha sob o regime dos Castro. Elizardo Sánchez, da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, disse ao GLOBO, por telefone, que as entidades também apresentaram um pedido formal, na embaixada brasileira, com essa finalidade.

- Queremos conversar com Dilma ou alguém da comitiva - disse Sánchez.

No Palácio do Planalto, o assunto da visita de Dilma a Cuba está sendo tratado com cuidado. Um assessor próximo à presidente disse que a questão do encontro de Yoani e dos dissidentes está sendo discutida, mas, por ora, ainda não há uma definição sobre o que fazer.

FONTE: O GLOBO

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