sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Aliados e oposição querem ouvir Mantega

Partidos cobram explicações do ministro da Fazenda, que ontem abriu sindicância para investigar denúncias contra Denucci

Adriana Vasconcelos e Regina Alvarez

BRASÍLIA. A oposição e até integrantes do PMDB defenderam ontem a convocação no Congresso do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para explicar os motivos da demissão de Luiz Felipe Denucci Martins da presidência da Casa da Moeda. O presidente nacional do PTB, o deputado cassado Roberto Jefferson (RJ), também cobrou explicações do ministro, que, depois de quase uma semana de silêncio, soltou nota informando que abrirá sindicância para apurar as denúncias contra Denucci.

Reportagem do jornal "Folha de S. Paulo" diz que o economista recebeu propina de fornecedores da Casa da Moeda, por meio de depósitos em contas no exterior. A comissão de sindicância é formada por três funcionários do Ministério da Fazenda e terá 30 dias para concluir a investigação.

Segundo interlocutores do ministro Mantega, a exoneração de Denucci já vinha sendo discutida no governo desde o ano passado, e o ministério teria, inclusive, encaminhado à Casa Civil em dezembro nomes para substituí-lo.

As razões seriam técnicas e de gestão.

O presidente do PTB cobrou explicações de Mantega. O partido foi quem indicou Denucci para a Casa da Moeda, em 2008, mas pouco depois retirou o apoio: — Fomos fazer um favor e levamos na cabeça. Quem tem que explicar é o Mantega e o Nelson Barbosa (secretárioexecutivo do Ministério da Fazenda).

O ministro pediu ao líder Jovair (Arantes) que chancelasse a indicação do Denucci.
Ele (Mantega) é o pai da criatura.

Por lealdade deveria vir ao Congresso explicar as atitudes de seu afilhado.

A notícia surpreendeu a ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Relações Institucionais, que aproveitou a cerimônia de abertura do ano legislativo para sondar os líderes aliados sobre a real intenção do PTB de convocar Mantega. O líder do partido no Senado, Gim Argello (DF), desconversou: — Eu sou da paz.

Segundo reportagem da "Folha de S.Paulo", o ministro da Fazenda teria sido alertado oficialmente em agosto passado sobre as suspeitas envolvendo Denucci.

Nos bastidores, interlocutores de Mantega informam que nenhuma denúncia formal foi apresentada ao ministro, nem protocolada no Ministério Público. Os líderes do PTB teriam apresentado apenas notícias publicadas na imprensa, reivindicando a saída de Denucci para indicar um outro apadrinhado.

Insatisfeitos com as demissões no Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) ocorridas na semana passada, alguns peemedebistas decidiram engrossar o coro de Jefferson.

— Como qualquer homem público, o ministro precisa dar explicações, seja por nota ou entrevista, ele decide. O melhor é que não pairem dúvidas sobre o comportamento do principal ministro do governo, que é o da Fazenda — defendeu o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

— Ele precisa dar uma satisfação à sociedade. Ainda não há clima para convocá-lo, mas vamos sentir a profundidade desse problema na próxima semana — emendou o deputado Danilo Forte (PMDB-CE).

Já os líderes do PMDB minimizaram.

— Não tem e não terá requerimento por parte do PMDB.

O ministro Mantega tem vindo à Casa, faz uma gestão transparente. Certamente dará as explicações sobre isso sem precisar de um gesto radical como este — disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), o que mais lutou contra as demissões no Dnocs.

— Todas as providências em relação ao ex-presidente da Casa da Moeda já foram tomadas, não permitiremos a politização desse caso — acrescentou o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).

Já o PPS vai propor a convocação de Mantega na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara.

— Essa é uma área (Casa Moeda) delicadíssima e que não pode permanecer sob suspeita. O governo precisa tratar o tema não sob viés político, mas de forma técnica e responsável. As explicações ao Congresso são necessárias — justificou o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).

A iniciativa do PPS deverá contar com o respaldo do DEM e do PSDB.

Na curta nota divulgada à noite, o Ministério da Fazenda disse apenas que, "em face de reportagens publicadas na imprensa nos últimos dias relacionadas à Casa da Moeda, o Ministério da Fazenda decidiu instaurar comissão de sindicância investigativa para apurar as informações mencionadas".

FONTE: O GLOBO

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