quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Alianças dividem petistas

Apesar da rejeição por parte dos militantes, legenda deve priorizar projeto nacional para impor acordos durante as eleições municipais em estados como o Rio de Janeiro e o Paraná

Karla Correia

A costura de coligações com ex-adversários políticos tem causado "pesadelos" em petistas não só na capital paulista, onde a senadora Marta Suplicy (PT-SP) já declarou que teme um dia "acordar num palanque de mãos dadas" com o prefeito Gilberto Kassab (PSD). Ex-DEM, opositor de Marta no pleito pela Prefeitura de São Paulo em 2008, Kassab é tratado pela cúpula do partido como peça-chave na disputa pelo Palácio do Anhangabaú. E execrado pela militância petista – vide as sonoras vaias dedicadas ao pessedista na solenidade de aniversário de 32 anos do PT, comemorado no dia 10.

O modelo "adorado pela cúpula e odiado pela militância" se repete em Curitiba, onde caciques do partido articulam o apoio petista à candidatura de Gustavo Fruet (PDT) para a prefeitura da capital paranaense. A coligação tem defensores de peso, como os ministros da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e das Comunicações, Paulo Bernardo. Mas está longe de representar um consenso. A vice-presidente do diretório municipal do PT em Curitiba, Miriam Gonçalves, renunciou ao cargo como protesto contra a aliança pró-Fruet. "Lá, o partido está dividido entre fruetistas e antifruetistas", reconhece o deputado Zeca Dirceu (PT-PR).

Para os antifruetistas, o eleitorado não assimila bem esse tipo de coligação entre ex-adversários políticos. "Mas já há uma maioria favorável à aliança, hoje", minimiza Dirceu, que atribui ao empenho do deputado estadual Tadeu Veneri (PT) em lançar sua candidatura o principal fator de rejeição da militância petista a Fruet. "As divisões do partido no estado são históricas, mas a militância é disciplinada, não vai comprometer uma eleição", avalia.

Caso semelhante se desenrola no Rio de Janeiro, onde o deputado Alessandro Molon (PT) lançou o movimento "Coragem para Mudar", em repúdio à aliança que dará suporte à reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB). "Discordo frontalmente da aliança e vou batalhar até o último minuto pela candidatura própria do PT", diz o deputado. Assim como em São Paulo, a coligação tem como seus padrinhos o ex-presidente Lula.

Pressão Em situação próxima à de Curitiba, Paes tem um histórico de oposição e também foi algoz do PT durante a CPI dos Correios, quando ocupou a relatoria-adjunta. Mas a crise entre PT e PMDB no estado estourou quando o presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani, comunicou que seu partido não apoiaria candidaturas petistas em cidades estratégicas no estado, como Petrópolis e Niterói. Ato contínuo, parte do PT-RJ passou a defender a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) à sucessão estadual, em 2014.

A dissonância entre os interesses nacionais da legenda e os regionais é ponto em comum na maior parte dos problemas que o PT enfrenta na formação de alianças. Vice-presidente do diretório nacional do PT, o deputado José Guimarães (CE) aponta, entre os objetivos das coligações nas eleições municipais, a consolidação da base de sustentação política do governo de Dilma Rousseff e a prevenção de uma retomada de fôlego do PSDB e do DEM em regiões que o PT obteve crescimento em 2010, como o Nordeste. Os aliados preferenciais do partido vêm do PMDB e do PSB. "As candidaturas próprias são importantes para fortalecer o partido, mas as alianças são fundamentais na lógica nacional. Elas são uma forma de reforçar a rede de apoio ao governo e de isolar a oposição", avalia Guimarães.

Enquanto isso...

...Em belo horizonte

Se em algumas capitais, como São Paulo, alianças apoiadas pela cúpula nacional do PT despertam ódio na militância, o sentimento das bases em Belo Horizonte sobre possível reedição da união com o PSB e o arquirrival PSDB será conhecido no próximo mês. Por ora, a legenda segue dividida sobre o participação na reeleição de Marcio Lacerda (PSB). Se de um lado o presidente nacional do PT, Rui Falcão, já declarou apoio à aliança, inclusive com os tucanos, do outro, o vice-prefeito Roberto Carvalho garante ter conseguido 3.730 assinaturas de militantes em rejeição à união. Em março, os filiados elegem delegados para os representarem na decisão sobre a candidatura própria ou o repeteco da aliança.

FONTE: ESTADO DE MINAS

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