O governo brasileiro existe em duas dimensões, duas frequências diferentes.
Em uma delas, corre a retórica; na outra, os fatos. As duas programações pouco ou nada têm em comum, mas cada uma serve a um propósito específico. Tomem-se os direitos humanos, que, a presidente anunciou, seriam uma prioridade nas relações internacionais.
O discurso continua ali, chiando como um disco velho, mas, na prática, nada mudou em relação ao período pré-Dilma. Na recente visita presidencial a Cuba, não houve um só gesto, uma só manifestação, que revelasse alguma preocupação do governo brasileiro com relação às violações dos direitos humanos na ilha. Violação simbolizada pela morte recente de um prisioneiro político em greve de fome.
Nosso governo diz que a cooperação econômica é o melhor caminho para promover mudanças democráticas naquele país. Cooperação que, na prática, tem por objetivo dar sobrevida à ditadura que o PT reverencia e que muitos dos seus integrantes lamentam não poder implantar por aqui. Dizia-se que a ditadura em Cuba era apenas um instrumento necessário para evitar a volta do capitalismo. Curiosamente, hoje é a volta do capitalismo que entra na equação para ajudar a manter a ditadura do partido único, que os amigos cubanos do PT defendem e justificam.
Além da alegação sobre as mudanças democráticas e da intenção de dar sobrevida à ditadura, outro fator que explicaria a "cooperação" seriam os bons negócios para as empresas brasileiras que venderão bens e serviços para Cuba.
Tudo coberto, obviamente, pelos empréstimos do BNDES ao governo cubano, que não costuma ser bom pagador em razão da pobreza fiscal e cambial da ilha. Ou seja, tais empréstimos são candidatos a virar doação dos contribuintes brasileiros, que, se fossem indagados a respeito, provavelmente prefeririam destinar esses recursos a fundo meio perdido para alavancar o desenvolvimento das regiões mais pobres do nosso país, criando também demanda para nossas empresas.
Não é demais lembrar que temos o 84, IDH e a 77+ renda per capita do mundo. Na Síria, o Brasil é cúmplice da barbárie praticada contra o povo pelo ditador Bashar al-Assad, que, anos atrás, assinou um acordo de cooperação com o PT. Não se sabe no que exatamente Assad está cooperando com o partido (seus dirigentes deveriam explicar), mas os petistas vêm honrando o compromisso, pois cooperam com Assad para tentar aliviar a pressão internacional contra o tirano. O governo do PT coopera também com o Irã para que o regime dos aiatolás ganhe tempo e se aproxime do objetivo de construir uma bomba atômica.
A presidente da República corteja a comunidade judaica com discursos, mas, na diplomacia, ajuda quem sonha promover um novo Holocausto do povo judeu.
O PT é muito sensível nos direitos humanos quando lhe convém.
Sempre que pode, promove um circo, com a ajuda do governo federal, contra adversários políticos que procuram cumprir a lei.
Mas a violência policial nos governos do PT e de aliados do PT é como se não existisse.
Quando um governador é aliado do PT, pode mandar a polícia bater à vontade, ferir, lesionar, quem sabe matar...
Mas, se é de um partido adversário e tem responsabilidades na segurança pública e na defesa da ordem, saiba que os aparatos petistas irão persegui-lo implacavelmente, ainda que faça tudo certo.
As duas dimensões e duas frequências diferentes do governo brasileiro não se restringem aos direitos humanos. Em relação à economia, por exemplo, no chiado do disco velho, o PT continua pregando contra o "neoliberalismo".
Mas, diante da própria incapacidade de resolver o problema aeroportuário, vai privatizar os aeroportos e oferecer o dinheiro subsidiado do BNDES para as concessionárias fazerem os investimentos.
Financia calúnias contra o processo de privatização dos anos 90, mas inaugura outra modalidade: a privatização do dinheiro público, como nunca antes na história deste país...
Talvez seja esse o tal socialismo para o século 21. Ainda na economia, o governo continua falando em "PAC", o programa que, na teoria, se destinava a coordenar e acelerar o crescimento.
Mas o Brasil tem crescido menos que todos os principais emergentes. O que deveria ser coordenado ficou cada vez mais enrolado, e o que deveria ser acelerado parou ou andou em marcha lenta. Acelerada mesmo, só a propaganda da suposta aceleração.
São dois mundos distintos, o da retórica e o dos fatos, mas que caminham paralelamente, cada um com sua função.
José Serra foi deputado federal, senador, prefeito e governador de São Paulo, pelo PSDB.
FONTE: O GLOBO
Aqui o texto um pouco mais revisado:
ResponderExcluirhttp://www.facebook.com/profile.php?id=100001405543133
Abraços,
Georgina
mgalbuquerq@yahoo.com.br
Olá, Gilvan!
ResponderExcluirNo post saiu a página inteira do face. poderia substituí-la elo texto abaixo?
A nossa visita a Cuba (infelizmente tenho que admitir que, por representatividade, foi minha também), me violentou profundamente. Não pela imprevisibilidade, mas levou-me a rever questões antes mal definidas. Dominâncias de 64...É inegável que o povo iludido e os militares estabeleceram uma contestável relação de “amor”. A demanda pela tutela militar existiu, embora com fortalecimento sorrateiro. Estaria muito mal comparada à do civilizado mundo europeu quando lhe interessou a perda do poder econômico judaico, ainda que às custas de atrocidades. Mas hoje é domingo, dia de permissões, e me permito a tal.
Era pequena, mas recordo-me dos dias que antecederam a renúncia de João Goulart. As freiras do colégio e as mães brasileiras faziam correntes de orações, terços nas mãos, exorcizando o comunismo que, segundo as dominâncias conservadoras, renderia o Brasil. E, num ato de profundo respeito ao povo, o que elimina as afirmações de que Jango (assassinado em 1976) seria um totalitarista, o presidente renunciou. Evitou, assim, o derramamento de sangue. Há quem diga que os militares aproveitaram-se de uma "natural passividade do brasileiro", estendendo o que seria apenas uma necessária intervenção, à esfera do seu gozo. E repudiam a violação dos direitos humanos que aqui ocorreu. Menos mal. Os mais velhos (no sentido amplo de bagagem) eram, em geral, tão reativos à militância que os mais jovens fomos consumidos por outras mentiras. Primeira: a de que todas as reações seriam de cunho comunista. Isso não era absolutamente verdade, pois até uma criança como eu, percebia que havia "mutretagem" no ar e não se deixava levar. Coibia-se assim a valorização inata da liberdade, com o auxílio de cassetetes e arrogantes "carteiradas" nas ruas. Segunda: a de que nem todas as ideologias mereceriam respeito, ainda que, na prática, não coibissem a liberdade individual. Terceira: esta, da qual se apropriava a juventude da época, julgando-se rebelde apenas por escutar, peito inflado, as músicas do Chico, seria a de que todos os militantes perseguiam uma ideologia internamente bem construída.
Posso estar enganada, mas começo a pensar que a Presidente Dilma pertencia a essa última hipótese. Eram válidos o seu ímpeto corajoso e o seu bom convívio com a adrenalina. Mas carece do suporte político-filosófico de uma Ruth Cardoso, por exemplo. A nossa visita, assim como a complacência perante a ditadura cubana, teria se dado em bases menos fantasiosas, como se a resistência antiimperialista dos anos 60 ainda estivesse em voga. Hegel afirmava que, sem filosofia, não há história. Segundo a Convenção Americana dos Direitos Humanos: "Os direitos essenciais da pessoa humana não derivam do fato de ser ela nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana." É revoltante, entre outros, o desprezo ao anseio de liberdade da Yoani, que recebe um olhar tão distinto àquele dirigido ao Batisti pelo governo petista. Hegel afirmava que, sem filosofia, não há história. Se a Dilma nutre gratidão e endeusamento por Fidel, que o presenteie com os seus chocolates. Não com a representatividade que, como cidadãos brasileiros, lhe concedemos. O discurso de Dilma avança pela seara das imposições. D. Ruth...saudades, viu?
Georgina Albuquerque
Gilvan,
ResponderExcluirJá que saiu a página inteira do meu face, talves assim fique mais fácil de copiar o comentário:
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=63498&cat=Artigos&vinda=S
Obrigada e um abraço!
Georgina Albuquerque