segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Dois milhões elegem rival de Chávez

Numa votação que superou as expectativas da oposição venezuelana, mais de dois milhões de pessoas foram às urnas ontem escolher o candidato único que vai enfrentar o presidente Hugo Chávez nas eleições de 7 de outubro. O governador Henrique Capriles Radonsky aparecia como franco favorito. Chávez permaneceu calado durante o dia e até cancelou seu "Alô Presidente" na TV.

Chávez já tem rival

Em votação surpreendente, oposição venezuelana elege Capriles candidato presidencial

Numa votação inédita no país e com comparecimento recorde às urnas, os venezuelanos elegeram ontem o governador de Miranda, Henrique Capriles Radonsky, de 39 anos, como o rival de Hugo Chávez nas eleições presidenciais de 7 de outubro. Cerca de 2,9 milhões de opositores participaram das primárias; e Capriles obteve 1,8 milhão de votos, contra os cerca de 867 mil do segundo colocado, o governador do estado de Zulia, Pablo Pérez, informou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE). A Mesa de Unidade Democrática (MUD), coalizão que reúne os partidos de oposição e organizou as primárias, comemorou a quantidade de votantes — quase o triplo das melhores previsões da oposição. Durante o pleito, os oposicionistas denunciaram que funcionários públicos haviam sido pressionados por aliados do atual governo a não votarem. Mas mais de 100 observadores internacionais garantiram a legitimidade do evento.

Já era tarde da noite na Venezuela, madrugada no Brasil, quando Capriles — ao lado dos outros quatro derrotados — faria seu discurso de vitória. Partidários de Hugo Chávez dizem que o governador representa uma elite política antiquada e desacreditada, que nunca deu atenção às camadas menos favorecidas da população no passado e que nunca conseguirá derrotar o presidente nas eleições de outubro. Segundo analistas, no entanto, as chances da oposição nunca foram tão boas. Com todos os 18 milhões de eleitores registrados no país — além daqueles no exterior — tendo o direito de participar da votação multipartidária, foi a força da oposição que esteve em jogo. Até outubro, Capriles tentará impedir a terceira reeleição de Hugo Chávez e pôr fim aos seus13 anos de governo.

Chávez cancela "Alô Presidente"

Além de Capriles e Pérez, disputaram ontem as primárias a deputada María Corina Machado, o ex-diplomata Diego Arria e o ex-líder sindicalista Pablo Medina.

Agora, ainda mais com quase três milhões de pessoas tendo manifestado o seu descontentamento com o governo, espera-se uma campanha acirrada. Segundo fonte ouvida pelo GLOBO, o presidente da Venezuela já conta com a ajuda do marqueteiro brasileiro João Santana, responsável pelas campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e de Dilma Rousseff, em 2010. Uma equipe do brasileiro já estaria trabalhando em Caracas.

A ideia é que o vencedor do pleito de ontem tenha o apoio de todos os partidos da oposição que, matematicamente ao menos, seriam capazes de derrotar Chávez, mas nunca estiveram unidos em uma eleição presidencial. Nas eleições legislativas de 2010, a coalizão bateu o partido governamental por uma pequena margem mas, por regras eleitorais internas, conquistou 67 dos 165 assentos do Congresso.

— Matematicamente, Chávez foi derrotado muitas vezes — afirma o editor do jornal "TalCual" e um dos mais ferrenhos opositores do governo, Teodoro Petkoff. — O problema é transformar essa possibilidade matemática em uma possibilidade política.

Para Petkoff, tal pessoa capaz de derrotar Chávez teria que ser um socialdemocrata com habilidade de enfrentar o atual presidente, eventualmente com "palavrões", se preciso.

— Neste domingo seremos protagonistas — afirmou Capriles. — Estamos frente a um processo inédito em nosso país que nos fortalece como sociedade.

De fato, o normalmente loquaz Chávez chegou a cancelar o seu programa dominical "Alô, presidente".

Ele visitou o estado de Arágua para celebrar o 198, aniversário da Batalha da Vitória contra as forças espanholas e limitou- se a dizer que a "Venezuela deve manter sua independência".

Há alguns dias, no entanto, o presidente, que afirmou haver superado o câncer diagnosticado no ano passado, procurou minimizar o processo eleitoral da oposição ao sugerir que a abstenção poderia ser histórica.

Por temor de que poderia haver represálias contra os eleitores por parte do governo — o maior empregador do país —, a oposição já havia prometido apagar os registros dos votantes. Ainda assim, o secretário geral da Confederação dos Trabalhadores da Venezuela, Manuel Cova, denunciou ontem que funcionários públicos teriam sido pressionados a não participar do pleito convocado pela oposição.

As ameças , no entanto, não surtiram efeito, e as longas filas para votar fizeram a MUD prorrogar em pelo menos uma hora o prazo de votação.

Venezuelanos que vivem no exterior também participaram da votação. Em Miami, onde se concentra a maior população fora da Venezuela, estima-se que cerca de 20 mil pessoas tenham comparecido às urnas. "Quem disse que não pode haver uma primavera venezuelana?", escreveu, em artigo, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura e crítico ferrenho do chavismo.

FONTE: O GLOBO

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