terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Dores dos cortes:: Valdo Cruz

Divulgado estrategicamente dias antes do Carnaval, o corte de R$ 55 bilhões no Orçamento atingiu em cheio as famosas emendas parlamentares -dinheiro que deputados e senadores mandam para suas bases eleitorais.

Amortecidos pela véspera do período momesco, os protestos devem reinar na volta dos trabalhos do Congresso pós-Carnaval.

Mas não é só ali, no Legislativo, que os cortes geraram queixas e farão Dilma administrar tensões. Dentro da própria equipe econômica o tema divide opiniões.

Guido Mantega defendeu o corte de R$ 55 bilhões. Seu secretário-executivo, Nelson Barbosa, preferia uma tesourada um pouco mais suave para vitaminar os investimentos públicos federais.

As divergências entre os dois, num momento em que o ministro da Fazenda se tornou alvo de tiroteios, azedaram ainda mais o clima dentro do ministério.

Ciente dos atritos, o recado presidencial resume-se a três itens. Primeiro: Guido Mantega e Nelson Barbosa ficam onde estão e precisam se acertar. Os dois contam com seu apoio e admiração. Se o secretário-executivo da Fazenda decidir sair do seu posto, será chamado a assumir outro -mas não acredita que isso aconteça.

Segundo: não acha ruim que eles divirjam, faz bem para o debate "interno" do governo. Detesta, porém, que divergências em sua equipe ganhem as páginas dos jornais.

Terceiro: o corte de R$ 55 bilhões no Orçamento não é decisão desse ou daquele assessor, mas dela. Dilma segue adepta de sua nova visão de rigor fiscal, de olho na redução da taxa de juros para um dígito.

Afinal, ela sabe que o Banco Central só terá condições de seguir reduzindo os juros se o ajuste fiscal prometido for cumprido.

Ou seja, quem esperava mudar a opinião presidencial, aparentemente, pode desistir. A vida da base aliada, principalmente, será dura.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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