quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Faleceu Seixas Dória, último governador cassado em 1964

Último remanescente do grupo de governadores cassados em 1964 faleceu na última terça-feira, em Sergipe, aos 94 anos

Sérgio Montenegro Filho

Foi sepultado no final da tarde de ontem, no Cemitério Colina da Saudade, em Aracaju (SE), o corpo do ex-governador de Sergipe João de Seixas Dória. Último remanescente do grupo de governadores cassados em 1964, após o golpe militar, Dória tinha 94 anos e enfrentava sérios problemas de saúde desde o início do ano passado, quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Ele estava internado há 20 dias na UTI do Hospital São Lucas, em Aracaju, e na última segunda-feira passou por uma intervenção cirúrgica para colocação de uma sonda intracraniana, mas não suportou o pós-operatório e faleceu no início da noite da terça-feira. Seu corpo foi velado no Palácio Museu Olímpio Campos.

Seixas Dória – que deixa esposa, dois filhos e quatro netos – era bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e membro da Academia Sergipana de Letras. Ele iniciou sua vida pública na década de 40, como secretário da Prefeitura de Aracaju. Em seguida, filiou-se à UDN e, com o fim do Estado Novo, em 1947, foi eleito deputado estadual. Em 1954 e 1958 foi deputado federal por Sergipe, integrando a Frente Parlamentar Nacionalista. Em 1960, apoiou a candidatura presidencial de Jânio Quadros, de quem se tornaria vice-líder na Câmara dos Deputados. Com a renúncia de Jânio, Dória se juntou à chamada “bossa nova” da UDN, ao lado de figuras como o atual senador José Sarney, e passou a respaldar o governo João Goulart.

Em 1962, eleito governador de Sergipe, assinou o Manifesto dos Governadores Democratas, uma iniciativa do colega paulista Ademar de Barros, e empunhou a bandeira das reformas de base propostas por João Goulart. Em março de 64, foi às rádios sergipanas colocar-se contra o golpe militar que depôs Goulart, o que lhe custou a cassação do próprio mandato. Preso no Arquipélago de Fernando de Noronha, foi companheiro de cela do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, também cassado, de quem se tornaria amigo pessoal.

Em entrevista à série Na trilha do golpe, publicada pelo JC em 2004, em alusão aos 40 anos do golpe militar, Seixas Dória classificou como “desastroso” o fim do governo João Goulart, com uma crise sem precedentes, inflação e greves. “Jango estava acuado e pressionado, não tinha condições de continuar o governo”, contou, na entrevista. Sobre a ditadura e o alto preço pago pelo seu apoio a Goulart, declarou: “Achei mais digno ser preso. Não me senti diminuído, mas engrandecido, porque não queria compactuar com aquele sistema”.

Libertado de Noronha quatro meses depois de ter sido preso, Seixas Dória perdeu os direitos políticos por dez anos, mas não optou pelo exílio, preferindo ficar em Sergipe para cuidar de negócios pessoais e escrever seus livros. Somente em 1978, filiado ao MDB, retomou a atividade, atuando em defesa da anistia e da redemocratização. Em 1982, candidatou-se a deputado federal, ficou na suplência, mas terminou efetivado no cargo no lugar de Jackson Barreto, que foi eleito prefeito de Aracaju em 1985. Um ano depois tentou, sem sucesso, um mandato de senador, desistindo de vez das disputas eleitorais.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

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